Capítulo 45 – Conluio

Capítulo 45 – Conluio

 

– Eu não quero confusão! Me deixem em paz! – Sam gritava sendo presa contra a parede, mas parecia haver um conluio maior para que a gangue fizesse o que bem entendesse dentro daquela cela.

– Soube que você gosta de comer mulher. – Irina estava à sua frente, duas garotas seguravam os braços e ombros de Sam contra a parede.

– É mentira. – Sam rugiu.

– Não foi isso que um passarinho fardado me contou. Trocou um major por uma buceta qualquer, não foi? Eu já sei de tudo. – Disse rindo.

– Eu não vou dar em cima de ninguém aqui, por favor me larguem.

– Não vai mesmo, porque será fiel à sua namoradinha. Svet! Venha aqui.

– Namoradinha?

Pela primeira vez Sam percebeu a presença de uma garota de menos de vinte anos, tinha um belo rosto anguloso, cabelos castanhos claros compridos, era uns dez centímetros menor que Sam.

Irina pousou a mão em seu ombro e apontou para Sam.

– Svetlana, arranjamos carne nova para você, o que acha? É essa mesmo que você quer?

– Essa serve. – Disse displicentemente.

– Até que enfim! Você recusou duas carnes de primeira, achei que nunca encontraria um par para você aqui dentro. Então essa militar agora é toda sua, e se ela se recusar a fazer qualquer coisa, pode me chamar, ok? Você é minha protegida aqui, devo muito ao seu pai, o grande Slavo.

– Você consegue autorização para que ela durma na minha cela?

– Claro! Consigo tudo.

– Eu já tenho namorada. – Sam ousou se manifestar.

– Aqui dentro?

– Não, lá fora.

Irina deu uma gargalhada.

– Não tem mais, agora você é a escrava da Svetlana.

– Eu não vou fazer nada com essa menina.

Irina moveu a cabeça novamente, e Sam recebeu uma série de socos no rosto e no estômago da morena de tranças. Seu nariz começou a sangrar.

– É isso que vai acontecer se negar qualquer coisa para ela. – Irina se aproximou, ficando com o rosto próximo ao de Sam. – Se não for com ela, será com toda nossa gangue. E depois dou carta branca para as nazis acabarem com você.

A líder enfiou a mão dentro da calcinha de Sam, a molestando e a deixando em pânico.

– Me solta!

– Você vai implorar para que a pirralha te coma. – Irina riu e tirou sua mão.

Sam não respondeu, sentia uma dor aguda no seu abdome, visível em seu semblante.

– Estamos entendidas, cyka? – Irina insistiu.

– Como queira. – Sam disse sem fôlego.

Foi solta e caiu no chão, de quatro. Irina chutou seu rosto, a derrubando de lado, e todas abandonaram a cela.

Se contorceu ainda por algum tempo no chão frio de concreto, agora seu lábio inferior também sangrava. Recuperava o ar, estava com dificuldade para respirar.

– Eu sabia, eu sabia que elas aprontariam com você. – Sophia disse ao entrar na cela trazendo Nira, que empurrava sua cadeira.

– Sophia… – Sam virou-se na direção delas.

– Nira, ela está caída próximo a parede, a ajude. – As duas ajudaram a colocar Sam sentada em sua cama.

– Obrigada. – Sam enxugou o rosto abaixo do nariz e na boca com a própria mão.

– Quebrou alguma coisa? – Nira perguntou, tateando as costas e ombros de Sam, sentada ao seu lado.

– Não, está tudo bem. – Sam já respirava normalmente. Fez uma careta de dor quando Sophia deslizou seus dedos abaixo do seu olho esquerdo, estava vermelho no local.

– Quando for jantar peça gelo para a Carla da cozinha e coloque aqui. – Sophia a instruía.

– O que eu faço agora? Não quero uma namorada forçada aqui dentro, mas não sei como impedir isso.

– Te deram para a Svet?

– Sim, agora sou namoradinha daquela menina. Eu não posso fazer isso, Sophia, eu não posso, eu… Ai. – Sentiu o lábio doer. – Eu não vou trair Theo.

– Você não tem escolha, querida.

– Não sei se surtiria efeito, mas você pode tentar conversar com a Svetlana, fazer algum acordo, ela não é má pessoa. – Nira disse.

– É verdade, Svet joga baralho conosco às vezes, e quando está longe daquele grupo se torna uma pessoa mais agradável. – Sophia concordou.

– Quantos anos essa menina tem? Já tem idade para estar presa? – Sam perguntou.

– Tem 19, se meteu nos negócios do pai e acabou presa. Faz algum tempo que Irina procura uma namoradinha para ela aqui dentro. – Sophia explicou.

– Justo eu… – Sam corria o dedo pelo lábio machucado.

– Pense pelo lado bom, a Bratva agora te protege, as nazis não encostarão em você.

– Protege? Me batendo desse jeito? E pelo que percebi o Coronel Phillips está mancomunado com a Irina, ele vai usá-las para infernizar minha vida.

– Então torça para que o General Turner vá com a sua cara, ele é sua melhor chance de se manter viva aqui, todo mundo sabe que esses dois não se dão. – Sophia falou, atraindo a atenção de Sam.

– Esse General Turner trabalha aqui?

– É o diretor, é quem refreia as besteiras do Coronel Phillips. – Sophia respondeu.

– Peça para seu advogado tentar conversar com o General, alertá-lo da ameaça. – Nira completou.

– Eu tenho direito a conversar com meu advogado?

– Sim, um dia durante a semana, mas seu advogado precisa fazer a requisição.

– E a visitação? Eu tenho que aguardar alguma coisa?

– A visita comum? Acontece aos domingos, em horários escalonados. – Sophia disse. – Mas isso é tão enrolado… Eles podem cancelar sua visita sem sequer dar alguma explicação.

– E costumam demorar para aceitar as requisições. – Nira lembrou.

– Então… Quais as chances de receber alguma visita depois de amanhã?

Sophia lançou um olhar pessimista.

– É mais provável que eles consigam algo na próxima semana.

A maré de azar de Sam parecia interminável.

***

No sábado Letícia retornou para o Brasil, à noite Stefan reservou um carro para pegarem o rumo de Krasnoyarsk na manhã seguinte, mesmo sem a permissão de visita.

Stefan entrou no quarto de Theo sem bater e acendeu a luz, como já havia feito outras vezes naquela semana.

– Porra, Stef, que tal bater na porta? – Theo resmungou e colocou um travesseiro em cima da cabeça.

– Temos que sair em vinte minutos, o café está feito, se apresse. – Ele respondeu e deixou o quarto.

Saíram antes das quatro da madrugada. Horas depois com o sol já alto Stefan acordou Theo que cochilava no banco do passageiro.

– Você vai querer ver isto, acorde. – A sacudiu.

– Hum? Ãhn?

– Veja. – Stefan arrastou com os dedos a imagem da tela para o centro do carro.

– A permissão foi concedida. – Theo leu já abrindo um largo sorriso.

– Acabei de receber. Nosso horário foi marcado para as 14:10.

– E se Mike também for?

– Não sei, na Nova Capital costumam dividir o horário com todos os visitantes requerentes, então dariam 25 minutos para nós e 25 para Mike. Mas pelo que ele disse, parece que tem alguma prioridade provavelmente concedida pelo papai.

– Se aquele canalha estiver lá eu não respondo por mim.

– Se você fizer alguma besteira e for presa, tenha certeza que a última prisão que mandarão você será a mesma de Sam.

– Mas essa permissão é um bom sinal, não é?

– Acredito que as chances de você encontrar Sam hoje são grandes.

Theo voltou a abrir um sorriso amplo, tamborilou rapidamente as mãos em suas pernas, comemorando.

– Eu vou falar com ela! Isso é demais! – Dizia eufórica.

***

Pouco depois do meio-dia Sam voltou para a cela, havia almoçado com as meninas americanas, que nunca recebiam visitas. Sentou-se em sua cama recostando-se na parede, puxou com desânimo seu cobertor cinza para cima das pernas. Sua colega de cela parecia animada com uma iminente visita, ajeitava as tranças nos cabelos cuidadosamente.

– Meu marido vem hoje. – Pela primeira vez a mulher puxava assunto.

– Que bom. – Sam tentava não soar tão sóbria. – Ele sempre vem?

– Uma vez por mês, porque mora em Omsk. E você, vem alguém?

– Não, hoje não.

– Nem marido, namorado…

– Por enquanto não. – Sam lhe deu um sorriso amarelo.

– Amalia Garjova, visita! – Uma carcereira veio buscar a companheira de cela de Sam, e assim também descobriu finalmente seu nome.

Sam abraçou suas pernas, tentava afastar o frio, tentava afastar a tristeza. Passou mais de uma hora fitando o beliche em frente, até receber alguém na cela.

– Hey soldado, vai passar o domingo com a cabeça enfiada nas pernas aí na cama? – Era Svetlana, indo na direção dela.

– Pelo visto…

– Samantha Cooper, visita! – A carcereira bradou na porta.

– Pelo visto não. – Sam saltou da cama rapidamente, sorrindo como uma criança presenteada.

Após colocarem correntes unindo suas mãos e seus pés, Sam acompanhou a guarda até um outro pavilhão, repleto de salões de visitas. Quando passou pela porta de um deles encontrou uma área cheia de detentas e familiares conversando, uns de forma animada, outros como se cumprindo obrigações, haviam dez mesas numeradas, cada uma com uma cadeira de um lado, e duas cadeiras de outro.

Procurou algum rosto conhecido, e finalmente encontrou.

– Pode sentar-se na mesa oito, a visita tem a duração de 50 minutos e não permite contato físico. – A guarda orientou e a deixou em sua mesa.

– Mike? – Disse decepcionada, ainda de pé. – Por que você veio?

– Querida, eu viajei da Nova Capital até aqui apenas para te ver, não podemos ter uma conversa civilizada?

– Não, eu não quero falar com você.

– Por favor, sente-se. – Mike também estava de pé, a sua frente.

– Se não se sentar terei que te levar de volta para a cela. – A guarda os abordou.

Sam sentou-se mesmo contrariada, para felicidade de Mike, que estava bem vestido com um sobretudo negro.

– Então você pediu ao seu pai e ele deixou que você entrasse aqui. – Sam zombou, com as mãos e correntes em cima da mesa.

– Tenho alguns privilégios aqui por ser militar.

– Ex-militar, como eu.

– Isso não importa, eu só quero saber como você está, me preocupo com você. – Mike apontou para seu rosto, havia um hematoma abaixo do olho esquerdo e um corte em seu lábio. – O que aconteceu, brigou com alguém?

– Estou ótima, seu pai está cuidando muito bem de mim.

– Encare isso aqui como uma oportunidade de recomeço, um voto de humildade. Eu tenho meios de tirar você da prisão em breve, mas preciso que confie em mim, que fique do meu lado.

– Você está envolvido nisso, não está? Você me enfiou aqui para poder barganhar? É assim que na sua cabeça doentia você imaginou que eu iria morrer de amores por você? Eu nunca vou te perdoar por todas as merdas que fez comigo e com Theo! – Sam subiu o tom de voz, atraindo a atenção de outras pessoas que estavam no recinto.

– Alguns meses na prisão irão mudar sua cabeça. – Mike rebateu.

Sam o encarou raivosamente por alguns segundos. Levantou e se dirigiu até a carcereira.

– Moça, já terminamos, posso voltar para a cela?

– Não, precisa aguardar que ele saia.

– Então tirem ele daqui!

– Acalme-se.

Mike foi até ela e se despediu.

– Você tem tempo de sobra aqui para pensar na vida, colocar a mão na consciência. Voltaremos a nos encontrar, tudo bem, querida? – Tentou um beijo em seu rosto, sem sucesso.

Assim que ele saiu pela porta, novamente Sam abordou a guarda.

– Me leve para a cela.

– Ainda não posso levá-la, aguarde um instante. – A guarda saiu e voltou três minutos depois, acompanhada de duas pessoas.

– Sam! – Theo correu como pode para abraçá-la assim que a avistou.

A soldado apenas conseguia abrir as mãos junto ao corpo, devido às limitações da corrente que a algemava. Sorria incrédula quando foi apartada pela guarda.

– Sem contato físico, por favor. – Tirou Theo de perto dela a puxando pelos ombros.

– Oi, amor. – Sam sorria e não cabia em si.

– Sentem-se na mesa oito, por gentileza. – Novamente a guarda intercedeu.

Stefan e Theo sentaram-se à frente de Sam, restava 35 minutos de visita.

– Eu achei que Mike nunca ia sair dessa sala. – Theo falava com alegria. – Como é bom te ver, e falar com você, e… O que aconteceu com você? – Reparava os ferimentos em seu rosto, mudando de semblante.

– Não foi nada, só um aviso. – Sam respondeu tentando não se prolongar.

– Estão batendo em você? Foi o demônio pai que fez isso?

– Não, foi o pessoal de uma gangue, mas está tudo sob controle, não se preocupe comigo, ok?

– Meu amor, o que estão fazendo com você aqui?

– Eu estou me virando, mas escute, preciso falar antes que nosso tempo acabe. – Sam falava nervosamente. – Me desculpe por tudo isso, eu fui ingênua, fui burra demais, por minha culpa você perdeu tudo, eu nos coloquei nessa situação, e mesmo que te peça desculpas pelo resto da vida sei que não seria suficiente, mas nada foi proposital, ok? Por favor, me perdoe, se você puder…

– Sam, pare com isso. – Theo a interrompeu, projetando-se para frente. – Você não teve culpa, pare com isso.

– A culpa é toda minha.

– Não é. – Theo olhou ao redor, correu devagar sua mão para cima da mesa, encontrando a mão de Sam.

– É proibido. – Sam sussurrou.

– Tem outras pessoas fazendo.

Sam aceitou o afago e segurou firmemente a mão da namorada.

– É tão bom poder tocar em você. – Sam disse baixinho, com os olhos molhados.

– Promete que vai parar de se culpar?

– Theo, você está nessa situação crítica graças a mim.

– Eu estou viva graças a você, eu encontrei o amor da minha vida graças a você, eu me sinto um ser humano novamente graças a você. Estamos nessa situação porque aquele monstro de saias chamado Claire nos colocou, a culpa é unicamente dela. – Theo dizia de forma contundente, enquanto Sam desmoronava à sua frente.

– Eu falhei com você… – Sam chorava enquanto fitava as mãos unidas sobre a mesa. – Eu passarei o resto da minha vida aqui, eu prometi ficar do seu lado para sempre, mas não…

– Nós vamos tirar você daqui. – Theo segurou ainda mais firmemente sua mão. – Aguente firme até o julgamento, tente se manter segura, faça aliados, o resto deixe conosco, estamos trabalhando a todo vapor na sua defesa.

– Estão? – Sam a fitou.

– Precisaremos conversar bastante, Samantha. – Stefan entrou na conversa. – Nomes, dados, informações relevantes, seu histórico, missões que deram certo, que deram errado, possíveis testemunhas, vá pensando em tudo isso, teremos uma hora por semana para conversar.

– Ok, eu vou… Eu vou me organizar, vou anotar tudo que lembrar. – Enxugou o rosto.

– Tente não bater de frente com o Coronel Phillips, quanto menos você chamar a atenção melhor. – Stefan disse.

– General Paul Turner, eu descobri hoje que ele pode ser um aliado nosso.

– Quem é esse General? – Theo perguntou.

– O diretor da prisão, pelo visto a única pessoa que pode neutralizar o pai de Mike, me disseram que eles não se dão muito bem.

– Essa é uma ótima informação, não é, Stef?

– Temos que falar com esse General, nos apresentar a ele, assim ele saberá que você tem representação aqui fora, talvez interceda por você quando precisar. – Stefan respondeu.

– Vamos tentar marcar um horário o mais breve. – Theo disse.

– Vocês continuarão a me visitar?

– Todos os domingos, amor.

– Exceto quando precisarmos nos ausentar para investigar algo.

– Será que minha família sabe que estou aqui?

– Mandei uma mensagem para Lindsay quando estava viajando para cá, no dia seguinte da sua prisão. Ela respondeu dizendo que já sabia, e que tentaria te visitar quando fosse possível.

Sam balançou a cabeça assimilando.

– E o pessoal?

– Estamos trabalhando em prol da sua defesa e da nossa permanência na Sibéria, todos estão ajudando.

– Quem?

– Letícia foi embora ontem, ela estava aqui. Mas tem outras pessoas ajudando, Dani, John, Maritza, Michelle.

– Michelle também?

– Ela é influente, Sam.

– Como vocês vão se sustentar?

– Estamos nos virando, não tenha essa preocupação, vamos dar um jeito.

– Seus remédios. – Sam disse se dando conta. – Você está tomando tudo no horário certo?

– Ãhn… Sim, estou sim.

– E as terapias? Você não pode parar, principalmente a fisioterapia.

– Não estou pensando nisso agora, mas verei isso quando as coisas acalmarem, ok?

– Sam, você e Mike chegaram a conversar hoje? – Stefan indagou.

– Quase nada, eu não consigo ficar na mesma sala que aquele homem.

– Ele uniu-se a Claire nessa empreitada, e achamos que estão armando mais coisas, ele esteve em nosso apartamento fazendo ameaças.

– Claire e Mike? Eles estão juntos?

– Se você está perguntando se eles estão tendo um caso ou algo do tipo, melhor perguntar pessoalmente a ele no próximo domingo. – Theo rebateu. – Mas acho que sim.

– Por que estão ameaçando vocês?

– Claire quer uma informação sobre o Beta-E, mas ainda não sei as motivações dela. – Theo falou num tom baixo.

– Qual informação?

– Ela quer a localização da sexta matriz do Beta-E, você tem essa informação? – Stefan questionou Sam.

– Então Claire não sabe que você é a sexta matriz? – Sam perguntou a Theo.

Theo apenas arregalou seus olhos assustados na direção da namorada, atônita.

– O que?? – Stefan trovejou. – Como assim Theo é a sexta matriz??

– Não, Claire não sabe, bem como Stefan, mas agora Stefan sabe. – Theo ironizou.

– Ele não sabia? – Sam apavorou-se. – Desculpe, eu não fazia ideia, achei que vocês já haviam conversado sobre isso. Droga, me desculpe.

– Como você pode ser a matriz de uma substância? – Stefan arguiu.

– Stef, eu te explico no carro, é uma história longa e inverossímil.

– É bom mesmo que me explique.

– O tempo está no fim. – Theo voltou a segurar com firmeza e carinho a mão dela. – Você está precisando de algo aqui dentro? Está precisando de alguma ajuda? Que que a gente fale com alguém? Ou precisando de coisas?

A manga do casaco de lã vermelha de Theo subiu e as pulseiras ficaram à mostra.

– A pulseira… A pulseira está com você. – Sam se emocionava novamente.

– Sim, você perdeu no nosso jardim quando te prenderam.

Sam correu seus dedos sobre as duas pulseiras prateadas, aquilo parecia ter sido a gota d’água, já chorava as fitando.

– Está tudo bem, manteiga derretida? – Theo brincou com seus dedos. – Te devolvo quando você sair, ok?

– Eu achei que tinha perdido…

– Está fazendo companhia temporária para a minha. – Tentou animá-la.

Uma sirene tocou, a um guarda bradou para todos na sala.

– Horário das 14 horas finalizado, visitantes saiam por aquela porta, internas permaneçam sentadas aguardando a condução.

– Amor, eu mandarei algumas coisas para você, ok? Coisas para você ficar mais confortável aqui dentro, depois você me repassa o que mais precisar. – Theo disse já de pé.

Sam apenas balançou a cabeça concordando. Não queria que Theo fosse embora.

– Eu volto, a semana passará rapidamente e domingo estaremos juntas novamente. – Theo continuou, adivinhando o que se passava com ela.

Um guarda os abordou pedindo que se retirassem.

– Amanhã estarei aqui para conversar com você. – Stefan disse.

Já próximos da porta, Theo virou-se e seu coração despedaçou-se ainda mais com o olhar assustado e sofrível que Sam lançava.

Theo apontou com o indicador em seu peito, e apontou para Sam, como fazia no hospital, lhe arrancando um sorriso bobo. O gesto foi repetido pela soldado.

***

No estacionamento, uma nevasca cobria parcialmente os veículos. Theo aguardava recostada no carro, Stefan retornava da recepção, onde tentara marcar uma visita ao diretor.

– Por que esperou do lado de fora do carro? – Stefan indagou ao se aproximar.

– Porque você deixou o carro trancado! – Theo tremia, apesar de dois casacos, gorro de couro e lã, e luvas grossas.

– Entre logo.

Acomodaram-se no carro, Stefan tirou as luvas e esfregava as mãos próximo à boca, as aquecendo.

– Jesus, que frio infernal. – Reclamou.

– Eu quase morri congelada. – Theo bufou. – Conseguiu marcar?

– Sim, ele vai me receber amanhã à tarde, mas deixou claro que só falará com o advogado, então…

– Não poderei ir.

– Não.

Stefan deu partida com o carro e Theo tirou lentamente suas luvas, com desânimo.

– Vou te deixar na rodoviária, pegue o próximo trollbus para Novo. – Stefan disse.

Theo não respondeu, estava com as mãos cobrindo o rosto baixo.

– Você está bem? – Stefan perguntou.

Ela apenas balançou a cabeça positivamente.

– Está tendo algum ataque? Convulsão?

– Se fosse uma convulsão você perceberia. – Resmungou com a voz embargada ao baixar as mãos.

– Se quiser chorar, fique à vontade.

– Foi tão difícil não demonstrar o quanto eu estava apavorada e transtornada lá dentro… A vendo tão abatida, machucada, assustada… Mas não posso fraquejar, ela precisa me ver forte.

– Ela está fragilizada, é normal quando se é atirada numa prisão, mas se continuar assim será engolida.

– Sam é uma sobrevivente, já lutou batalhas que você não faz a menor ideia, você não sabe o quanto ela é corajosa e guerreira, Stefan.

– É aí que mora meu receio, que no meio dessas batalhas ela tenha escorregado algumas vezes. Não adianta ter sido uma heroína por anos se tem meia dúzia de crimes nas costas.

– Se mostrarmos no tribunal quem Samantha realmente é, venceremos. – Theo disse confiante.

– E você? Quem realmente é você, sexta matriz?

 

Conluio: s.m.: cumplicidade para prejudicar terceiro(s); colusão, trama.

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