Capítulo 52 – Mea culpa

Capítulo 52 – Mea culpa

 

Na semana seguinte Sam completou dois meses de encarceramento. Após a visita de domingo, Sam passava a noite na cama de sua companheira de cela.

– Eu conheci sua garota. – Svetlana disse de forma despretensiosa, com a cabeça pousada sobre o braço de Sam, que estava sonolenta.

– O que? – Sam disse acordando.

– Hoje, na sala de visitas.

– Você estava lá?

– Sim, meu horário foi no mesmo que o seu. Eu estava lá ouvindo minha avó dando seu sermão infinito, e vi vocês na mesa mais ao fundo.

– Em qual mesa vocês estavam?

– Perto das janelas. Ela estava de frente para mim, com um cara engravatado ao lado.

– Stef. Eu não vi você.

– Eu vi como você fica animadinha quando está com ela.

– Claro que fico, eu espero por aqueles 50 minutos a semana inteira.

– Bonitinha, eu pegaria.

– Mais respeito com ela. – Sam rosnou.

– Relaxa, estou brincando. – Svetlana disse ao risos, se virando para fitar Sam.

– Não gosto quando você zomba dela.

– Não estou zombando, eu boto fé no relacionamento de vocês. Você sabe que apesar de ter forçado essa situação, eu te respeito pacas.

– Mais ou menos. – Sam disse a encarando.

Svet lhe deu um beijo no rosto e voltou a se deitar encarando o colchão acima de suas cabeças.

– Respeito sim, eu curto você.

Após alguns segundos de silêncio, a pequena mafiosa voltou a falar.

– Eu quero algo assim, tipo o de vocês. Poder ficar assim como estamos agora, só na preguiça, papeando. A gente nem fez nada essa noite, só ficou aqui jogando conversa fora, eu gosto disso.

– Por que está perdendo tempo comigo? Se você estivesse aberta a conhecer outras garotas poderia encontrar alguém que queira ter algo legal com você.

– Eu estou aberta, amorzinho. Estou sempre aberta. – Zombou.

– Mas essa coisa da gente ter algo aqui, isso afasta suas pretendentes.

– Que nada, elas sabem que estou disponível.

– E você está? Você gostaria de conhecer alguém aqui?

– Sim, mas é tão difícil achar gente legal como você nesse lugar.

– Tem meninas legais por aqui, eu conheço algumas.

– Sam, não basta ser legal, tem que ser gostosa, como você. É um combo, saca?

– Você não vale nada. – Sam riu.

– Me apresente as legais e gostosas, quem sabe eu goste de alguma.

– Se você gostar de alguém, estarei livre?

– Querendo se livrar de mim, querida?

– Svet, você sabe que não me sinto bem traindo minha garota, não tem nada a ver com quem estou, é uma questão de culpa, e uma culpa bem grande, eu estou quase pirando com essa situação, toda noite tenho pesadelos com isso.

– Ah é? Me conte os pesadelos.

– Geralmente eu sonho que Theo entra na sala de visitas ou aqui na cela e diz que descobriu tudo, e termina comigo.

– Só isso? Não rola uma violência?

– Bom, em um deles ela me bateu com a muleta. Em outro sonho ela atirou uma bola de basquete na minha cabeça.

– Achei que eram pesadelos sangrentos.

– Theo é pacífica, ela não me bateria. Talvez me matasse, mas não me bateria.

– Com aquela carinha de colegial líder de torcida? Duvido.

– Theo é brava às vezes.

– Ela deve ser do tipo de pessoa que alguém pisa no pé e ela que pede desculpas.

– Não queira ficar no caminho dela, aquela carinha meiga é só um disfarce, ela não deixa barato.

– Tudo bem, já estou morrendo de medo dela. Veja. – Svetlana balançou as mãos imitando tremores.

– É bom ter mesmo, se ela descobrir isso não sei do que seria capaz.

– Provavelmente passaria uma semana chorando e depois te aceitaria de volta de braços abertos.

– Ela já perdoou uma traição minha, e não foi do jeito que você narrou. Theo é uma pessoa dura por dentro, mas não rancorosa, ela sempre tenta tomar decisões racionais.

– Então ela não vai te matar.

– Não, claro que não, eu estava brincando. Mas acho que a perderia.

***

Na quarta Virginia viajou até a Zona Morta, onde passaria alguns dias, depois ficaria mais um par de dias no Rio, resolvendo assuntos pessoais e do seu escritório.

Na quinta-feira à tarde Theo recebeu uma mensagem anônima em seu comunicador enquanto voltava do café com Meg. Apesar da ausência de remetente e assinatura, não era difícil deduzir a origem.

“Não iremos desistir, seremos cada vez mais radicais. Entrarei em seu apartamento e farei um estrago. De nada adiantará trancar a porta. Que tal evitar isso?”

Theo sentiu aquele arrepio frio e intenso subindo a espinha com uma ameaça tão concisa por parte do casal. Mostrou a mensagem para Meg.

– Quem saiba devêssemos reforçar aquela porta. Ou as trancas. – Meg disse temerosa.

– Não acho que uma porta bem fechada impeça Mike de entrar.

– Você tem alguma arma?

Theo a fitou lateralmente, estavam lado a lado andando pela calçada coberta de neve.

– Não, eu não encontrei a arma de Sam.

– O que acha de termos uma?

– Se Mike entrar na minha casa e eu estiver armada saiba que irei atirar sem titubear.

– Seria legítima defesa, confirmado com meu testemunho.

– Ok, e onde vou achar uma arma?

– Vamos subir, deixo você em casa e saio à procura de alguma.

– Vou ligar para Dimitri te ajudar.

– Tudo bem. Precisamos estar preparadas para revidar, você sabe atirar?

– Sei atirar até de olhos fechados.

Ainda naquela tarde Theo já tinha uma pistola de segunda mão, comprada por Meg e Dimitri

No início da noite, Stefan preparava algo para o trio jantar, em companhia de Theo. A ameaça de Mike e Claire havia deixado todos na casa em estado de alerta, mas tentavam disfarçar.

– Onde você acha que devo guardar a arma? – Theo perguntou, fitava a pistola negra em cima da mesa, a sua frente.

– Sempre perto de você, porque você é o alvo dele.

– Vou acabar esquecendo onde deixei, não confio na minha memória.

– Então escolha um lugar de fácil acesso e deixe sempre lá.

– No sofá?

– Alguém pode acabar levando um tiro acidental.

– Na bunda. – Theo riu.

– Desde que não seja a minha.

– Vou deixar embaixo do sofá.

– Ok.

Theo ficou um tempo pensativa.

– Tem baratas aqui? Elas conseguiriam carregar uma arma?

– Baratas mutantes talvez. Terminei aqui, vá chamar Meg para jantar.

Mais tarde naquela noite restava apenas Theo e Meg na sala, assistiam TV no sofá, enquanto Stefan já dormia em seu quarto.

– Acorde, é hora dos remédios. – Meg tocou em seu ombro e levantou-se.

– Já? – Theo acordou ainda sonolenta.

– Onze em ponto, e esse injetável não deve ser atrasado. – Meg falava já preparando os remédios num aparador em frente à janela.

– Não precisa me acordar para dar os remédios.

– Ah é? Você engoliria algo dormindo?

– Claro, com meu lado sonâmbulo.

– E não acordaria nem quando eu enfiasse a agulha em você?

– Talvez eu acordasse.

– Sempre fazendo dengo, não é, querida? – Meg disse com bom humor.

– Ainda bem que você já se acostumou com minhas manhas.

– Eu…

A frase da enfermeira foi interrompida por um barulho alto de vidro estilhaçando. Theo baixou instintivamente a cabeça com o estrondo, olhou na direção da janela e viu Meg tombando ao chão, com a mão sobre o peito.

Correu na direção dela mas outro barulho zuniu na sala, um projétil passou próximo de sua cabeça, acertando o sofá. Deu mais um passo na direção de Meg, já caída no chão, e sentiu uma ferroada intensa no braço. Ignorou e atirou-se de joelhos ao lado dela, ouviu mais um tiro passando perto da sua cabeça, mas naquele momento os tiros eram algo secundário.

Meg estava caída desacordada, por baixo da sua mão o sangue tingia rapidamente sua camisa florida.

– Meg! Meg! Acorde! – Theo desesperava-se com a cena diante de seus olhos, o sangue vertia com vigor sobre o peito de Meg.

– Stefan! – Gritou o chamando. – Stefan, me ajude!

Tirou a mão dela do peito e abriu a camisa de Meg, arrebentando os botões. Era possível enxergar o orifício do projétil, por onde o sangue jorrava.

– Acorde! Meg! Reaja, por favor! – Colocou sua mão sobre o ferimento.

Stefan abriu a porta atordoado, viu as duas mulheres próximo a janela e correu até elas, ajoelhando-se também ao lado de Meg.

– O que foi isso? Mike está aqui?

– Não, veio pela janela, os tiros vieram pela janela! Me ajude, Stef, ela não está respondendo!

O advogado olhou aquela cena violenta paralisado, sem ação.

– Vamos, pegue algo para fazer pressão no ferimento dela. – Theo pediu.

Stefan a olhou apavorado e tirou a própria camisa cinza de pijama, enrolando e colocando sobre o peito de Meg.

– Segure firme aqui, vou checar seus sinais. – Theo disse.

A jovem não conseguiu encontrar batimentos nem pulso, a deixando ensandecida.

– Meg, não vá, por favor, fique com a gente. – Theo disse com a mão em seu rosto.

– Não está respirando?

– Não, ela está parada. – Theo apertou a mão de Stefan abaixo da dela, sobre o peito. – Meg, querida, reaja, reaja por favor.

– Precisamos levá-la ao hospital.

– Não dá tempo! Saia, tire a mão. – Theo tirou a mão de Stefan e iniciou uma série de massagem cardíaca.

Stefan pegou o comunicador de Theo sobre o sofá e encaixou na mão de Meg, com o monitoramento de seus sinais vitais na tela, estava tudo zerado, apenas um bip contínuo se ouvia.

– Continue, Theo, continue. – Stefan dizia com pânico na voz.

A ex-estudante de medicina seguiu fazendo séries de massagens em seu peito, de onde já não vertia mais sangue.

– Apareceu algo na tela? – Theo perguntou, suas mãos estavam banhadas de sangue e suava.

– Não, nada. Continue, vamos lá!

Seus braços já ardiam de exaustão, mas insistia em trazer sua amiga de volta.

– Vamos, Meg… Vamos… Vamos… – Theo murmurava aflita, aos poucos se dava conta que a situação era irreversível.

Stefan pousou sua mão sobre as mãos de Theo, que estavam cruzadas sobre o peito de Meg.

– Ela se foi. – Stefan disse com um pesar assombroso.

– Meg… Não, ela não pode morrer. – Theo tentou iniciar outra sequência, mas foi impedida por seu colega.

– Ela levou um tiro certeiro no peito, não há mais o que fazer. – Stefan se esforçava para que suas palavras saíssem de forma serena.

Theo ergueu a cabeça entregando um olhar devastado para Stefan, ainda sem conseguir acreditar no que se seguia. Olhou para o comunicador na mão dela, permanecia incólume, o tirou de lá e abaixou-se na direção de Meg.

– Não… Não, Meg… – Agora chorava copiosamente, lágrimas envoltas de desespero e dor.

Stefan sentou-se no chão, lançando um olhar desolado e perturbado na direção delas, trajava apenas uma calça negra.

– O que eu fiz, meu Deus, veja o que eu fiz… – Theo crescia seu choro angustiado. – Me perdoe, Meg, eu sou a culpada disso, olhe o que aconteceu…

– Isso é… Inaceitável. – Stefan murmurou com a voz embargada.

– Querida, me perdoe…

– Eles foram longe demais.

Theo saiu de cima dela num rompante, ficando de joelhos de frente para Stefan, agora com feições raivosas.

– Não, Stef, não, eles não. – Dizia com ira. – Eu fui longe demais! Eu! Nada disso teria acontecido se eu tivesse me entregue para eles, se tivesse dado o que pedem!

– Você estaria morta agora, Theodora, não fale besteira.

– E ela viva!

– Ninguém imaginava que eles poderiam fazer isso, você sempre foi o alvo deles.

– Todos vocês correm risco estando perto de mim, não vê? Eu matei Meg! Olhe.. – Theo ergueu a mão na direção do corpo ao lado. Olhe o que eu fiz… – Voltou a chorar intensamente.

– É isso que você quer? Tirar a culpa deles? Eximi-los da responsabilidade dessa busca absurda que eles travaram com você? É assim que você vai lidar? Eles vão nos matar um por um se você assumir essa postura de mea culpa!

– Já começaram. – Sentou-se devagar no chão, recostando-se no sofá, e diminuindo o discurso inflamado. – Eles já começaram…

Stefan e Theo observavam o corpo ensanguentado que havia entre eles, nenhum dos dois conseguia pensar no que fazer a seguir.

– Pobre Meg… – Stefan disse em voz diminuída.

– Ela veio cuidar de mim, e agora… – Theo dizia entre soluços. – Todo mundo morre. Eles sempre morrem. Por que ela?

– Poderia ter sido qualquer um de nós, qualquer um que se aproximasse da janela.

Um silêncio sepulcral cortava aquele ambiente frio, a janela quebrada trazia um ar gélido, além de deixar as cortinas balançando.

– Eu sei que você espera que eu saiba como proceder agora, mas eu nem sei por onde começar a pedir ajuda. – Stefan disse de forma sincera.

Theo ergueu a cabeça assimilando as palavras do advogado, o olhando de forma desolada.

– Eu também não. – Por fim disse.

– Você levou um tiro aí ou isso não é seu sangue? – Apontou para o braço direito dela, onde sua camisa de malha estava ensanguentada.

Theo olhou por alguns segundos para seu braço, ergueu a gola da camisa olhando por baixo do pano.

– Foi superficial.

– Precisa ir ao hospital.

– Não.

– Você tem problema de coagulação.

– Eu faço um curativo depois, ou tento dar uns pontos.

– Não está doendo?

– Está, e é melhor assim.

– Posso olhar?

Theo suspirou pesadamente e ergueu-se do chão da sala. Tomou as muletas e foi até o quarto buscar um lençol. Stefan a ajudou a cobrir o corpo, havia uma poça de sangue que se estendia para o centro da sala.

Ao fim, sentou-se no braço do sofá, encarando agora o lençol sujo de sangue, com os braços e a cabeça apoiados nas muletas.

– Ligue para a polícia. – Pediu.

– Eles irão te fazer milhares de perguntas e não chegarão sequer perto de Mike.

– Eu sei, mas eles darão início aos procedimentos legais, para que eu possa levar o corpo para a Nova Capital.

– Você vai?

– Sim, eu estava aqui, eu preciso contar para a família dela o que aconteceu. – Theo disse.

– Você vai ter que pedir dinheiro para a senadora de novo, não temos quase nada.

Theo fechou os olhos enquanto suspirava contrariada.

– Eu pedirei. Mas será a última vez.

– Ok, eu vou chamar a polícia.

Theo voltou a sentar no chão, puxou as pernas para si e segurou a mão já fria de Meg.

– Eu não lembro de nenhuma prece. – Disse baixinho, enquanto Stefan andava pela sala falando no comunicador. – Que falta Sam me faz…

– Eles estão vindo. – Stefan avisou.

– Desculpe meus acessos de manha, meus momentos de irritação e impaciência, os copos e canecas derrubados, desculpe por não ter agradecido o suficiente. Eu devo grande parte da minha recuperação a você. Suas broncas e conselhos me colocavam nos trilhos, seus sermões me fizeram enxergar que eu podia muito mais do que imaginava. E eu posso. Obrigada por todo o cuidado e atenção, era mais que alguém tomando conta de um paciente, era carinho, você me encheu de carinho nos momentos em que merecia uns tapas.

– Vou me vestir. – Stefan disse e saiu para o quarto.

– Sentirei eternamente sua falta. – Theo enxugou afoitamente os olhos e o rosto. – Vá em paz, minha amiga, espero que você tenha partido sabendo o quanto gosto de você, e o quanto sou grata por tudo.

Voltou a chorar profusamente.

– Saiba que quem fez isso irá pagar caro, e será através das minhas mãos.

***

O sepultamento ocorreu no final de uma bela tarde de verão, em uma cidade próxima a San Paolo, com o sol baixo e uma brisa morna que movia preguiçosamente as folhas das árvores do cemitério.

Theo não se sentiu à vontade de estar ao lado da família no momento final daquele dia ritualístico, estava sentada num banco de pedra alguns metros distante, observando. Letícia estava sentada ao seu lado.

– Quer ajuda para ir até lá? – A médica perguntou.

– Não, prefiro ficar por aqui, acho que minha presença pode ser incômoda.

– Incômoda? Todo mundo sabe que Meg adorava você.

– Mas a culpa disso é minha, eles sabem, não sabem tudo, mas sabem que não foi acidente.

– A culpa não foi sua, pare de falar isso.

– Não? – Sacudiu a cabeça. – O rastro de morte continua, e não acho que vá parar tão cedo. – Theo falava de forma sombria, desolada.

– Alguém precisa deter Claire, e tudo se resolve.

– Claire é apenas uma peça do quebra-cabeças.

– Ninguém mais vai morrer, entendeu? – Letícia disse firmemente, a fitando.

Theo ajeitou as muletas ao lado no banco.

– Sabe o que eu me dei conta dia desses? Eu estou viva porque uma criança morreu. Eu existo porque uma criança morreu e precisou ser substituída.

– É uma forma muito macabra de encarar a origem da sua vida.

– Meu rastro de morte iniciou com meu nascimento. Ou antes. Depois minha mãe morreu de forma tão cruel, e me protegendo.

Letícia ouvia respeitosamente o desabafo da sua amiga, em silêncio.

– No Circus eu vi colegas sendo mortas, ou tirando a própria vida. Eu vi a minha morte algumas vezes também. Desejei em alguns momentos. Minha melhor amiga, Sierra, a única pessoa que realmente se importava comigo lá dentro, eu estava lá quando a mataram. E matei quem fez isso. Vi Simone se enforcando com minhas cordas, vi uma menina, uma criança, se enforcando com cadarços. Matei um homem para fugir de lá. No caminho para casa matei um desgraçado com bengaladas, você consegue imaginar o tamanho da minha ira? Com uma bengala! Um homem levou um tiro na testa porque nos ajudou, Odín. Igor foi morto enquanto nos ajudava. Igor era um grande cara. Gostaria de ter navegado com ele. Lembra da Evelyn?

– Aquela sua namorada que trabalhava no RH da Archer? Morreu ajudando você?

– Não, eu a matei, ela me traiu por um carro. Depois prestei um serviço à humanidade e eliminei meu pai, meu estimado pai. O que eu fiz depois? Eu mesma busquei a morte, mas ela me rejeitou. Me cuspiu de volta para o mundo. Agora Meg morreu por estar ao meu lado, por abandonar tudo aqui e ir para aquele mundo gelado cuidar de mim. O futuro é promissor, Lê. Claire e Mike continuarão agindo, continuarão matando. Elias está por aí. Sam foi jurada de morte pelo ex-sogro. O vento não está a favor, eu sei que a trilha não terminou.

– Esse seu amigo marinheiro não te ensinou que o vento pode mudar de repente?

Theo balançou a cabeça devagar, concordando.

– E Meg me ensinou a mudar as velas quando necessário.

– Ela sabia do que você era capaz. E você sabe?

Theo lhe entregou uma olhadela sorridente.

– Sabe o que Sam estaria dizendo se estivesse aqui? – Theo perguntou abrindo os braços sobre o encosto do banco.

– O que?

– Que perdemos apenas uma batalha, mas a guerra prossegue para os que continuam de pé.

– E você tem quatro pernas, inclusive.

Theo pode ver Michelle vindo em sua direção.

– Você não se importa de eu estar dormindo na casa da senadora, se importa? – Theo perguntou para Letícia.

– Claro que não, tenho certeza que a cama do quarto de visitas dela é muito melhor que aquele sofazinho da minha sala.

– Eu nunca dormi naquele seu sofá sóbria. – Theo riu.

– Como estão, meninas? Podemos ir quando quiserem. – Michelle disse já de pé a frente delas, trajava uma camisa pérola de botões.

Theo a olhou com uma sobrancelha baixada.

– Você estava com essa camisa na noite em que nos conhecemos, não?

Michelle olhou para si mesma, se dando conta.

– Que memória, hein? Mas era uma semelhante a esta.

– Memória seletiva.

– Maritza avisou no nosso grupo que acabaram de chegar em Novosibirsk, e que sairão amanhã cedinho para visitar Sam. – Michelle disse olhando de relance seu comunicador.

– Chegaram bem em Novo?

– John disse que está resfriado e que nunca espirrou tanto em sua vida, mas acho que estão bem. – Michelle respondeu.

– Viviane estava aqui no cemitério conosco? Não me recordo se ela veio.

– Virginia? Ela está lá, próximo aos carros, com Daniela. – Letícia disse.

– Vou pedir que ela volte para Novo, não gosto da ideia de Stefan sozinho naquele lugar tenebroso. – Theo falou.

– Ela disse que vai amanhã à tarde. Você vai com ela? – Letícia perguntou.

– Fique uns dias aqui. – Michelle se antecipou.

– Vou passar a semana aqui, tomar um pouco de sol para descongelar, eu juro que nunca mais vou reclamar de calor em minha vida.

– Será bom para espairecer um pouco, sair daquele clima tenso e frio. – Michelle falou. – E aqui você está cercada dos seus amigos, vai te fazer bem uns dias quentes. Stefan e Virginia manterão você informada através do grupo.

– Sabe quem finalmente respondeu uma das minhas inúmeras mensagens?

– Quem?

– Meu querido sogro. Me mandou ontem uma mensagem quilométrica me xingando por ter contado sobre a pousada para Lindsay. – Quase riu.

– Ele está embolsando os lucros sozinho e em segredo?

– Estava, agora Lindsay exigiu uma parte. A coitada tem dois empregos e três filhos.

– Sam vai estranhar sua ausência amanhã.

– Eu sei, mas vai ficar contente em rever Ritz e John.

– O que vocês decidiram? Eles irão contar para ela?

– Eu pedi para contarem, mas que fizessem isso no final da visita.

– Mas a primeira coisa que ela vai perguntar é por que você não veio. – Letícia disse.

– Eles vão dar uma enrolada e mudar de assunto.

– Como você seleciona qual merda vai contar e qual não vai contar para Sam? – Letícia perguntou.

– Eu escolho contar aquelas que estão remediadas. Não posso acumular as notícias ruins, tem coisas que prefiro que ela saiba logo. Eles irão contar da morte de Meg, mas não contarão do tiro no meu braço. Uma coisa por vez.

 

Mea culpa: Latim: Minha culpa. Ação ou atitude de reconhecer a própria culpa.

Um comentário Adicione o seu
  1. Oiee,Cris!
    Pôxa,Meg era tão boa!!
    A culpa é um dos piores sentimentos na minha opinião.As duas sentem culpa por situações diferentes com pessoas diferentes..que será que Theo fará quando descobrir?Perdoará?
    Já que Sam ta com essas mafiosas,poderia pedir ajuda pra tratar de claire e Mike, n?! kkkk
    Beijoss

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