Capítulo 41 – Golpe

Capítulo 41 – Golpe

 

– Era só o que me faltava… – Theo resmungou impaciente.

– Bom dia, Theodora. – Stefan a cumprimentou ajeitando a gravata verde.

– Claire pediu para você vir aqui tripudiar mais um pouco? Ou você veio por prazer próprio?

– Precisamos conversar, posso me sentar?

– Não, não pode. Que raios você quer? – Theo estava de olhos vermelhos e fungando.

– Claire já falou com você?

– Se você está perguntando se ela já apareceu aqui para informar que me roubou tudo, sim, ela já me contou as novas, você chegou tarde.

– Ela lhe tirou tudo que estava em seu nome, ou apenas a Archer?

– Tudo? Bom, meu cachorro é um vira lata, não tem registro em meu nome, então talvez eu possa levar meu cachorro comigo. Sério, que prazer doentio é esse que vocês…

– Ela também me roubou tudo. – Stefan a interrompeu.

Theo paralisou, e agora entendia ainda menos a visita de Stefan.

– Você perdeu sua parte na Archer?

– Perdi, e meus bens também, ela vinha engendrando isso há meses.

– Você sabia?

– Não, mas desconfiávamos, acho que nós estávamos perto de descobrir.

– Nós quem?

– Eu e Sandro. Na verdade acho que Sandro descobriu algo grande ontem, ele me mandou uma mensagem à tarde dizendo que precisava conversar comigo, que tinha encontrado algo.

– E o que ele havia descoberto?

– Não sei, marquei de encontrá-lo hoje pela manhã, provavelmente algo relacionado a esse golpe de Claire.

– Talvez ele tenha provas de que ela tenha cometido coisas ilícitas, temos que encontrá-lo agora. – Theo animou-se.

– Impossível, Sandro está morto. Ele foi assassinado essa madrugada.

– Morto? Por Claire? – Theo perguntou com perplexidade.

– Estão tratando como latrocínio, foi abordado na saída do prédio onde morava, levaram seus pertences. Mas sim, eu acredito que tenha sido obra dela.

– Queima de arquivo…

– Exatamente.

Theo foi até um dos sofás negros e sentou-se, largando a muleta ao lado. Stefan a seguiu, sentando no sofá em frente.

– Eu e você fomos roubados, ela nos usurpou tudo. – Stefan ia dizendo, estava sério como sempre, mas dando sinais de que tentava conter o nervosismo. – Ela começou esse plano assim que seu pai morreu.

– Por que? Por pura ganância?

– Ela me odiava, acho que foi mais que ganância, ela queria nos destruir.

– Bom, nunca percebi nenhum ódio dela por mim, desde o meu acidente que ela tem me ajudado muito, e sempre foi cordial.

– Não seja ingênua, provavelmente ela também te odeia.

– Mas por que?

– Eu não faço ideia, e não perderei meu tempo pensando nisso.

Theo fechou o semblante, endireitou a postura.

– Por que raios você veio aqui?

– Precisamos encontrar uma forma de reverter isso, acredito que você também tenha esse objetivo no momento.

– Tenho esse objetivo, mas não no momento.

– Não se importa de ter perdido tudo?

– Eu quero saber onde Sam está, Claire fez com que ela fosse presa pelo exército europeu. – Theo voltou a sentir a garganta queimando, apertada.

– Quando?

– Essa madrugada, a levaram daqui como um animal.

– Claire disse que foi obra dela?

– Disse.

– Então é mais do que dinheiro, enxerga? Ela quer nos atingir.

– Parabéns, ela está conseguindo me atingir de forma extraordinária, ela tirou Sam de mim, ela me tirou a única coisa que eu não vivo sem.

– Ela fez com que Samantha assinasse coisas sem ler?

– Sim… Sam não tem culpa, ela estava tentando ajudar, estava fazendo o melhor possível na Archer. – Theo franziu o cenho. – Claire também fez você assinar coisas?

– Não, não sou tão tonto, eu não cairia nessa. Ela roubou minha identificação de acesso ao sistema, e como também sou sócio minoritário toda a minha vida estava disponível lá. Samantha foi bem inocente, hein?

– Não foi culpa dela, Claire é a única responsável por tudo isso. – Deu um murro no encosto do sofá. – Aquela sonsa!

– Ok, não adianta lamentar agora, está feito. Precisamos de algo que a incrimine, qualquer coisa que eu possa usar contra ela, é aí que você entra.

– Eu? Eu não tenho nada, o que você acha que eu tenho? Algum documento falsificado? Alguma declaração incriminadora? Não tenho nada aqui, Stef.

– Algo que Sam tenha te mostrado, ou trazido para casa, você precisa lembrar de alguma coisa. E meu nome é Stefan.

– Pois sua viagem foi em vão, Stef. – Disse com sarcasmo. – Sam evitava trazer coisas do trabalho para casa, era um acordo que tínhamos, as coisas da Archer ficavam na Archer. E eu nem tenho mais como entrar naquela merda de prédio, Claire bloqueou meu acesso.

– Também bloqueou o meu. E os funcionários estão proibidos de manter contato conosco.

Theo inclinou para frente no sofá, esfregando as mãos no rosto.

– Escute, eu sinto muito por você ter perdido suas coisas, eu também estou no olho da rua, tenho que sair dessa casa amanhã, mas eu não quero tentar reaver nada agora, é melhor você ir embora e tentar se virar sozinho, eu não posso te ajudar.

– Mas eu posso.

– Vai fazer o que? Me dar um abraço caloroso e dizer que tudo vai ficar bem enquanto dá um tapinha nas minhas costas? Desculpe, estou dispensando solidariedade, eu preciso achar alguém que saiba por onde começar a procurar a Sam.

– Você vai precisar de um advogado.

– E vou pagar como? Me prostituindo?

– Eu sou advogado, eu posso te ajudar.

Theo lembrou que realmente Stefan era advogado, apesar de não atuar no direito há algum tempo.

– Você ainda é advogado?

– Sou, comecei como criminalista e fui depois para o direito empresarial, foi assim que entrei na Archer. Acho que posso ajudar, eu conheço o caminho das pedras, e tenho amigos que ainda advogam.

Num primeiro momento Theo ficou deslumbrada com a possibilidade de Stefan a ajudá-la, mas desconfiada logo em seguida.

– Em troca do que você está sendo bonzinho agora? Você nunca me suportou.

– Ok, se você não precisa de ajuda, eu vou me virar sozinho, como você mandou. – Disse e levantou do sofá.

– Não! Eu preciso da sua ajuda. – Theo também levantou do sofá. – Desculpe, eu não sei mais em quem confiar, nem sei o que fazer.

– Eu nunca odiei você, Theodora. Só não tinha paciência para suas criancices, você jogava aquela maldita bola de basquete pela minha sala e quebrava tudo. Ao contrário dos outros funcionários, que puxavam seu saco porque você era filha do dono, eu não tinha paciência para essas coisas, sempre foquei no trabalho.

– Para Claire aparecer e roubar tudo…

– Não é justo. Nem o que aconteceu com você, nem o que aconteceu comigo.

– Claire se acha no direito de ficar com a Archer, por que?

– Por ter dedicado um terço da vida à empresa? Não sei, outras pessoas também se dedicaram e não se acham donas da Archer. – Stefan respondeu.

– Você vai me ajudar com a Sam? Você estava falando sério?

– Vou fazer o que posso, mas você precisa prometer que depois vai me ajudar com a recuperação de nossos bens.

– Eu prometo, eu juro em nome da minha mãe, eu vou tocar fogo na empresa se for preciso, mas eu farei tudo que tiver ao meu alcance.

Stefan a fitou sério e pensativo.

– Certo, me passe as informações básicas, vou até em casa investigar isso, e fazer umas ligações.

– Você ainda tem casa?

– Até amanhã à noite sim, depois terei que dormir num quartinho na casa do meu irmão. Eu ligo para você mais tarde.

– Não, espera!

– O que foi?

– Fique aqui, use o escritório lá em cima, vamos trabalhar juntos.

– Agora sou útil, não é?

– Não me deixe sozinha, por favor.

– Certo.

Stefan alargou no colarinho a gravata de seda verde que usava, e subiram para o escritório.

Duas horas depois, já próximo do meio-dia, Stefan trabalhava em silêncio na escrivaninha, já sem o paletó e com o colete cinza aberto. Theo, deitada no sofá, atirava uma bolinha de tênis contra a parede a sua frente, ansiosa.

– Se você não parar com essa bola terei que fazê-la engolir. – Stefan disse solenemente.

– Desculpe. – Theo sentou-se. – Como estamos?

– Eu estou com fome, com sono, irritado e pobre.

– Eu também, mas me refiro ao progresso.

– Estou aguardando a resposta de um colega que trabalha com direito internacional, ele já localizou o processo dela no sistema, mas precisa de uma chave de acesso para ler o conteúdo, deve demorar um pouco.

– Então vou aproveitar minhas últimas horas de regalia, vou descer para tomar meus remédios e pedir para Marcy preparar algo para nós.

– Onde está sua babá?

– Meg? Está passando o réveillon com os filhos. Eu não faço ideia do que preciso tomar, espero que tenha anotações lá embaixo, senão terei overdose de alguma coisa. Se eu não subir em meia hora vá me buscar, se eu estiver espumando me vire de lado.

– Você está falando sério?

– Infelizmente sim. Já volto. – Tomou a muleta e saiu.

Voltou quarenta minutos depois, com Marcy, que trazia uma bandeja cheia.

– Só entregue a bandeja se ele tiver alguma informação que valha a pena. – Theo disse a Marcy.

– A localização da sua namorada, é o suficiente?

Theo mudou para um semblante apreensivo, caminhou afoitamente até a mesa.

– Onde ela está?

– Na Sibéria.

– Que? Sibéria, na Rússia?

– Ela está na prisão de Krasnoyarsk, uma prisão de segurança média, administrada pelos militares.

– Mas por que mandaram ela para esse fim de mundo?

– Não sei, talvez por ser uma prisão feminina militar, mas não tenho maiores detalhes.

– Você descobriu as acusações?

– Não, as acusações serão lidas no tribunal, na audiência preliminar.

– E quando será isso?

– Aqui só diz que acontecerá nos próximos dias, e que ela tem direito a um advogado presente durante a audiência.

– Ela pode ser solta se o juiz não acatar as denúncias?

– Mais ou menos, o juiz não pode simplesmente não aceitar as acusações, mas pode fixar uma fiança para que ela responda em liberdade.

– Ou?

– Ou não fixar fiança alguma, e ela aguardará o julgamento na prisão.

– Eu preciso ir para lá, preciso ir na audiência. – Theo dizia com agitação, em frente à mesa onde Stefan trabalhava e comia.

– O que você vai fazer lá? Você não é advogada.

– Eu posso conseguir um defensor público?

Stefan terminou de mastigar, limpou calmamente os lábios com o guardanapo, e a fitou de forma analítica.

– Eu posso ser o advogado dela.

– Você iria até a Sibéria defendê-la? – Theo perguntou incrédula.

– Não temos uma parceria?

– Temos?

– Eu te ajudo, você me ajuda, lembra?

– Stef, você não gosta da gente.

– Se você não parar com essa criancice quem sabe possamos trabalhar juntos e conseguir avanços. Você não percebe que Claire fez com que vocês acreditassem que eu e Sandro odiávamos vocês? Ou que nós dois escondíamos coisas escusas? Isso fez parte do plano, ela precisava nos afastar de vocês duas.

Theo balançou a cabeça lentamente tomando decisões.

– Ok, mas eu vou com você.

– Certo, então vamos para a Rússia, vamos resolver o caso dela.

– Hoje?

– Não, hoje não, eu preciso correr atrás do prejuízo, tenho que dar entrada num processo contra a Claire.

– Vamos amanhã então?

– Acho melhor depois do réveillon.

– Ok, mas eu vou amanhã.

– Você vai sozinha para a Sibéria? Você não poderá visitá-la, vai fazer o que lá?

– E se a audiência for no dia primeiro? Ela não pode estar sozinha, ela precisa de alguém por perto tentando resolver as coisas.

– Está bem, eu vou escrever o processo hoje, e dar entrada amanhã. Depois eu viajo com você para a Europa.

– Com que dinheiro? Estamos na miséria. – Theo lembrou.

– Você tem até amanhã ao meio-dia para vender algo dessa casa e conseguir dinheiro para as passagens e para nos mantermos por alguns dias por lá.

– Mas o que vou vender? As joias ficam num cofre na Archer, aqui em casa não tem dinheiro vivo, nem nada. Quanto precisamos?

– Muito. Venda sua coleção de bonés.

– Nãããão.

– Então arranje algo para vender, ou alguém que possa arcar com nossas despesas.

– Como vou pedir dinheiro emprestado se não terei como devolver?

– Se vire, Theodora. Eu já trabalhei no seu interesse, agora preciso trabalhar no meu. Que também é seu.

Theo espalmou as mãos sobre o tampo da mesa, fitando um ponto vazio qualquer. Precisava tomar decisões rapidamente, ao mesmo tempo em que tinha que se adaptar à nova realidade, seus planos agora precisavam contar com as limitações financeiras como no tempo de estrada. Sozinha, desta vez tudo seria mais frio e doloroso, porque não havia Sam lhe dando o que não tinha preço, o conforto da sua presença.

– Eu vou me virar. – Assentou-se sobre a muleta, de forma decidida. – Sam diz que eu sempre dou um jeitinho, não vou decepcioná-la.

– Ótimo, continuarei trabalhando em seu escritório, se não se importa.

Theo ficou muda.

– O que foi? – Stefan perguntou.

– Ela deve estar com frio. – Disse com tristeza.

– Deve estar dentro de alguma cela quentinha e bem agasalhada, não pense nisso agora.

– Está no auge do inverno no hemisfério norte. – Theo consultou seu comunicador. – Está fazendo -21ºC neste momento em Krasnoyarsk!

– Ela não deve estar na rua, Theodora, foque no importante.

– Mas deve estar com frio… E assustada.

Stefan laceou um pouco mais sua gravata.

– Pegue essa sua muleta e vá procurar algo para vender. Peça também para Marcy me trazer um café.

– Algo mais?

– Preciso incluir seu depoimento neste documento que estou começando, então mais tarde você vai me detalhar tudo que indique a manipulação de Claire, tudo que agora faça sentido, que fez parte do golpe e que vocês não haviam se dado conta porque estavam ocupadas demais namorando.

– Você namora?

– Não, e é a última coisa que pensarei nos próximos tempos.

– Se você tivesse uma namorada ou namorado poderia ir para a casa da pessoa, e não ter que depender de quartinho na casa do irmão.

Theo tomou a muleta e desceu para seu quarto. Retornou vinte minutos depois, chegando esbaforida na escrivaninha de Stefan.

– O que foi agora?

– A pousada!

– Que pousada?

– Eu dei uma pousada de presente para a Sam, na Baia, podemos usá-la para conseguir o dinheiro, quem sabe o lucro nos baste.

– Está no nome dela?

– Está sim, você tem como verificar isso? Se posso assumir a pousada?

– Posso, vou consultar o ID dela, só um instante.

Cinco minutos angustiantes depois, Stefan fitou Theo no sofá, com um olhar confuso.

– Elliot Cooper, esse nome te diz alguma coisa?

– É o pai da Samantha, o que tem ele?

– A pousada está temporariamente no nome dele, até Sam obter novamente a liberdade.

– Mas como?

– Pelas leias europeias, os bens dos cidadãos aprisionados ficam sob responsabilidade do familiar mais próximo, então a pousada neste momento pertence a ele.

– Ah não… – Theo esfregou a testa. – Já era.

– Converse com seu sogro, solicite os lucros da pousada.

Theo riu.

– Meu sogro que me ver morta, Stef.

– Não há nenhuma chance dele ajudar você?

– Ajudar a me mandar para o inferno talvez. Mas com a pousada, esqueça. – Levantou do sofá com dificuldade. – Eu vou continuar minha busca.

***

A noitinha finalmente Theo conseguira sucesso em alguma empreitada, dois quadros da coleção de seu pai foram vendidos, o comprador havia acabado de deixar a mansão.

– Vendi dois! – Theo chegou no escritório animada.

– Dois o que?

– Dois quadros.

– Achei que os quadros aqui fossem apenas réplicas, e que os originais estivessem no cofre.

– São todos réplicas, exceto esses dois que estavam no meu quarto, porque não eram assim tão famosos e caros.

– Vá direto ao que interessa, conseguiu quanto?

– Doze mil.

– Você sabe quanto custa uma passagem para a Sibéria? – Stefan disse abrindo as mãos espalmadas no ar.

– Não sei.

– Tente vender mais alguma coisa.

– Não vou vender minha coleção de bonés.

– Claire vai incendiar sua coleção de bonés depois de amanhã.

– Será que posso penhorar?

Stefan suspirou longamente, a encarando.

– Eu vou pedir um pouco de dinheiro emprestado para minha ex-esposa, depois pensamos novamente nesse assunto. Agora você vai sentar aqui e contar tudo sobre como Claire aplicou essa armação e você não percebeu.

– E depois eu vou esconder meus bonés na garagem.

Stefan dormiu no sofá do escritório, já passando das duas da madrugada. Theo relutou em dormir, mas por insistência do colega acabou tomando um sedativo e dormiu logo em seguida.

Era o último dia de 2121, a manhã estava nublada e silenciosa, boa parte dos funcionários estavam de folga por conta do feriado, havia um vazio atípico, era notadamente um dia estranho.

Quando acordou, assustada e se esforçando para lembrar o que havia acontecido no dia anterior, o sol era um convidado recém chegado. Theo, já sentada, olhou para o lado fitando o lençol bagunçado, porém vazio.

– Eu vou te buscar. – Disse baixinho.

Já no banheiro, ouviu a porta do quarto abrindo, tomou um susto com Stefan a abordando enquanto escovava os dentes.

– Vou para casa tomar um banho…

– Finalmente, você está precisando. – Theo o interrompeu com espuma nos lábios.

– Como eu ia dizendo, vou para casa agora, depois sigo para o fórum. Retorno assim que finalizar por lá, esteja com a mala pronta, as passagens são para uma da tarde. E não esqueça de colocar alguns casacos na mala.

– Uma da tarde?

– Só tem um voo para a Sibéria por dia, e é para a cidade de Novosibirsk, porque o aeroporto de Krasnoyarsk é de uso restrito militar.

– Onde fica isso? É perto?

– 700 quilômetros de distância.

– É longe.

– É o mais perto que você conseguirá ficar de Sam por enquanto, a seis horas de carro.

Theo sacudiu a cabeça, foi até a pia e cuspiu a espuma.

– Você vai arrumar a mala? – Stefan insistiu, enquanto ela enxugava o rosto.

– Estará pronta antes do meio-dia, meu caro Stef.

– Certo. Não sabemos quanto tempo ficaremos por lá, leve tudo que possa precisar para uma longa permanência, pegue todos os seus remédios. Lembre-se que você não terá mais babá, cuidará da automedicação sozinha, então é bom se organizar, não sei cuidar de epiléticos.

– Não tenho epilepsia.

– Mas você tem umas… umas coisas.

– Convulsões.

– Que seja.

– Tentarei não ter.

Após encher duas malas enormes, não esquecendo de tomar o coração azul no cofre, os dois partiram para a Europa, onde apenas um horizonte obscuro e pouco definido podia ser contemplado.

Na ala econômica, Theo cochilava com a cabeça recostada no assento, foi acordada abruptamente por seu vizinho de poltrona.

– Dia 3. – Stefan apontava para a projeção holográfica da tela do seu comunicador, à sua frente.

– Que?

– Veja, recebi um alerta de alteração de status do processo da Samantha, a audiência preliminar será no dia 3. Não precisávamos ter viajado hoje.

– Dia 3? Isso é certo?

– Sim, está nos autos.

– Que bom. – Esfregou os olhos.

– Vamos ficar esperando até o dia 3 num fim do mundo gelado.

– Melhor assim, já vamos nos acostumando com o frio. Sabe fazer bonecos de neve?

***

Em San Paolo

– Eles já foram para a Rússia. – Claire disse, ocupava agora a sala presidencial da Archer, sentada de forma majestosa na grande cadeira negra. – Você sabe que isso significa que você também precisa viajar para lá, eu quero que eles sejam vigiados o tempo todo, e preciso que você coloque pressão para que Theo me dê a informação que preciso.

– Vou depois do ano novo, quero aproveitar sua festa de réveillon hoje, vai ter um gostinho especial voltar para aquela mansão de vidro. – Mike respondeu sorrindo, se levantando do sofá marrom.

– Vou pedir para que comprem sua passagem para o dia 2, descubra onde eles estão hospedados e se hospede no mesmo hotel. Não faça contato com eles nos primeiros dias, apenas observe. E me mantenha informada.

– Como queira, gatinha. – Mike se aproximou devagar e a beijou.

 

Golpe: s.m.: 1. Movimento técnico de uma arte marcial, usado geralmente para derrubar, imobilizar ou atingir o adversário. 2. Operação, geralmente armada, para tomar o poder (ex.: golpe militar). 3. Desgraça ou adversidade; sucesso infausto.

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