Capítulo 40 – Apreensão

As batidas na porta fizeram Sam saltar da cama, da mesma forma que Theo também levantou-se com o coração acelerado e um pressentimento ruim que apertava o peito.

– O que eles querem, Marcy? – Sam perguntou aos berros.

Antes que Marcy respondesse, a porta abriu-se violentamente, um homem grisalho e de terno preto adentrou o quarto, acompanhando de quatro soldados.

– Vocês não podem entrar assim! – Sam vociferou para cima do homem de meia idade.

Ele estendeu na direção dela um fino tablete flexível, exibindo um documento.

– Senhora Samantha Cooper, queira nos acompanhar, temos um mandado.

– Do que??

– A senhora está presa, em nome do exército da Europa. Se resistir a prisão, isso será testemunhado e registrado, e usado como agravante da sua acusação.

Sam tomou o tablet da mão dele, lendo rapidamente.

– Aqui não diz nada, porque estou sendo presa? Eu não cometi nenhum crime.

– Do que estão a acusando? – Theo também perguntou.

– As acusações serão informadas na base.

– Que base?

– Seguindo as normas de apreensão do nosso exército, a senhora tem direito a trocar de roupas antes de seguir conosco, o tempo limite é de três minutos, sob vigilância de pelo menos um soldado.

– Que? Eu não vou a lugar algum! Que circo é esse? Do que me acusam? Eu fui anistiada! Eu não devo nada ao exército da Europa!

– A senhora abre mão do seu direito de trocar de roupas?

– Que roupas o caramba! Eu quero falar com alguém que saiba o que está acontecendo, eu estou num país livre, eu fui anistiada!

– Senhor, no início desse ano foi concedida a anistia para ela. – Theo tentava se manter calma. – Com certeza há um engano aqui, Sam não é mais considerada desertora, por favor, façam alguma ligação, falem com alguém, isto não faz nenhum sentido.

– As denúncias são recentes, essa anistia não serve de nada.

– Denúncias?? – Sam quase explodiu ao falar.

– As denúncias serão informadas assim que a senhora chegar à nossa base. Abre mão dos três minutos?

Sam encarou Theo com desespero, sem saber o que fazer.

– Vista-se, eu vou logo atrás de você, e vou contatar os advogados da Archer. – Theo a orientou.

Sam hesitou, mas acatou balançando a cabeça para os homens, que saíram do quarto.

– Estaremos aguardando lá embaixo, um guarda permanecerá no quarto, na porta.

Sam trocou-se rapidamente, desceram o elevador e Theo chamou o motorista, Lucian.

– Onde fica a base para onde a estão levando? – Theo perguntou ao homem de terno preto.

– Na Europa, não podemos revelar a localização.

– Espera aí, ela está indo agora para a Europa? Sem advogado?? – Theo apavorava-se.

– Vocês não podem me levar! – Sam foi para cima dele, assustada.

– Algemem, mãos e pés. – Ele ordenou, sendo prontamente obedecido.

– Não façam isso! – Theo bradou. – Soltem!

– Isso é permitido quando necessário. – O homem respondeu. – Vamos.

Após colocar correntes nos pés e mãos de Sam, dois soldados a seguraram pelos braços e a levaram para fora da casa, sendo seguidos por uma Theo exaltada e trôpega.

– Para onde estão a levando? Por favor, me digam para onde! – Theo tentava acompanhar, mas sem a muleta se esforçava para não cair.

– É sigiloso.

– Eu exijo um advogado! – Sam pedia se debatendo.

– Isso está errado! – Theo conseguiu se aproximar dos soldados. – Para onde estão indo?? Me respondam!

Um dos soldados desferiu um empurrão com violência usando a mão espalmada em seu peito. Theo caiu de costas no chão, fazendo com que Sam se agitasse com ainda mais desespero, tentando soltar-se.

– Não encostem nela!! – Sam gritava. – Não toquem nela, seus desgraçados!

Theo ergueu-se com dificuldade, novamente os seguiu até o grande jipe luxuoso onde enfiavam Sam.

– O que vocês vão fazer com ela? Para onde vão? – Theo insistia, nervosamente.

– Theo, ligue para Claire, peça para acionar o jurídico da empresa.

– Sam! Para onde você vai?! – Theo dava tapas na janela lateral do carro, com as portas já fechadas.

Numa manobra brusca, o grande carro arrancou partindo do jardim da mansão de vidro, deixando Theo para trás, de pés descalços e sem chão sob eles.

– Sam… – Uma agonia apertava sua garganta, enquanto via o carro saindo de sua propriedade.

Avistou algo reluzente sobre o piso do jardim, deu alguns passos inseguros até lá e se agachou. Era a pulseira prateada de Sam, aquela com seu nome gravado no interior, caíra durante a condução violenta pelos soldados.

Levantou-se ainda fitando a pulseira organizando os pensamentos, tudo fora brusco demais, rápido demais. Como ousam lhe arrancar Sam dessa forma?

George, o chefe de segurança foi até ela, a despertando daquela celeuma de pensamentos.

– Desculpe, senhorita, eles nos mostraram as credencias e confirmamos a autenticidade. Disseram para que não interferíssemos em nada, o mandato dava plenos poderes para conduzir a senhorita Samantha mesmo contra a vontade dela.

Theo o encarou silenciosamente, ainda boquiaberta e atordoada, processando o que ele havia falado.

– Eles a levaram…

– Sim, senhorita, a levaram. Gostaria que eu chamasse alguém para lhe auxiliar?

– Claire, eu preciso falar com Claire. – Theo saiu andando com pressa mas acabou caindo de joelhos. George a ergueu, e a ajudou a chegar até sua suíte.

Ligou afoitamente para ela, que demorou para atender, era quase cinco da madrugada.

– Claire? Que bom que atendeu. Escute, levaram a Sam, os militares a levaram, eu preciso de você agora.

– Calma, calma, que história é essa de militares levando a Sam? Levaram para onde?

– Não sei! Eles disseram que a levariam para uma base na Europa, mas sequer disseram qual país, eu quero todos os advogados da Archer trabalhando nisso, vamos revirar o mundo a procurando! Você pode vir aqui?

– Claro, posso sim, mas o que está acontecendo? Sam cometeu algum crime? Não estou entendendo ainda a situação, deve ser o horário, não sei.

– Ela não cometeu nenhum crime! – Theo andava pelo quarto falando com o viva voz da tela, já com a muleta. – Falaram algo relativo a denúncias, mas que denúncias? E ela ganhou a anistia juntamente do novo coração, eu não faço ideia dos motivos dessa prisão, talvez apenas queiram algum tipo de vingança, ou a façam sumir do mapa, precisamos fazer algo com urgência, Claire.

– Também não faço ideia do que estejam fazendo, mas fique tranquila, eu vou acionar o jurídico e dentro de uns… uns quarenta minutos no máximo estarei aí.

– Venha o mais rápido que puder, por favor. – Theo implorava.

– Vou me trocar, enquanto isso tente se acalmar, e vá pensando nas possibilidades, talvez algo que Sam tenha lhe contado e você mão tenha prestado atenção, sei lá, algo que ela tenha feito.

– Ela é inocente, Claire, ela não fez nada. Venha logo, apenas venha… – Theo tentava não chorar.

– Ok, ok, estou indo.

Theo encarou a tela apagar-se a sua frente com o fim da ligação. Ainda sentia-se dormente com o ocorrido, como se um membro, uma perna ou um braço, tivesse sido arrancado abruptamente e a dor ainda não estivesse latejando, devido ao estado de choque.

Pensou em ligar para Letícia ou Daniela, mas lembrou que elas estavam na lua de mel na Austrália, nada poderiam fazer de tão longe. Desceu e perambulou pela sala até finalmente Claire aparecer quase uma hora depois, o sol nascia.

– E então, conseguiu falar com os advogados? Eles vão para a Archer? Ou eles vêm para cá? – Theo a fulminou assim que adentrou a sala.

– Ok, acalme-se, essa situação pede que você se mantenha calma.

– Eu não sei para onde a estão levando! – Theo gesticulava nervosamente. – Os advogados devem saber como conseguir essa informação, talvez a gente consiga evitar que ela embarque para a Europa.

– Quais os crimes dela?

– Eles não disseram, apenas falam em denúncias. Mas ela não cometeu crime algum, a deserção foi anulada pela anistia. Claire, você precisa evitar que ela embarque! – Theo disse dando alguns passos na direção dela.

– E por que eu faria isso? – Claire disse sisudamente.

– Por que você precisa me ajudar!

– Ajudar você? – Claire abriu um sorriso malicioso. – Por que eu devo ajudar você?

Theo ficou sem palavras por alguns segundos, a fitando com o cenho franzido.

– Por que Sam pode estar correndo perigo na mão desses militares, cada minuto conta, preciso que você chame o maior número de advogados possível nesse momento.

– Você acha que sou sua empregada? Sua funcionária?

– Claire, do que você está falando? Se você não vai com a minha cara tudo bem, mas faça algo pela Sam, eu sei que você gosta dela.

– Outro engano seu. – Claire sorriu novamente.

– Você pode nos ajudar ou não?

– A esta altura, acredito que não.

– Então eu vou até a Archer e vou chamar os advogados, obrigada pela boa vontade! – Theo disse e virou as costas, indo para o elevador. – Vou me trocar e resolver isso de uma vez.

– Onde você vai?

– Para a porcaria da minha empresa!

– Sua? – Claire riu. – Desculpe, é que não sei como dar a notícia.

Theo parou o passo, e voltou a ficar frente a frente com a membro do conselho.

– Que notícia, Claire? Que porra está acontecendo aqui?

Claire limpou a garganta, e lançou um olhar superior.

– A Archer agora pertence a quem sempre mereceu, quem realmente se importa com o grupo, e que deu seu sangue e suor por quase quinze anos.

– Quem?

– Eu, obviamente.

– Que??

– A Archer agora é minha, eu sou sócia majoritária, os seus 75% agora são meus.

– Que asneira é essa?

– Theo, você e a Sam formam um belo casal, ingênuas e arrogantes. – Claire disse olhando seu comunicador. – Ótimo, Samantha já está num avião para a Europa, acabei de receber a confirmação.

– Você sabe onde ela está? O que está acontecendo aqui??

– Minha cara pirralha mimada, você acha mesmo que eu sentia algo por sua namoradinha sem classe? Era um jogo muito bem arquitetado, e convencer vocês de que eu sentia algo por ela fazia parte do jogo. Enquanto vocês torravam um dinheiro que não lhes pertencia, eu fazia Sam assinar documentos sem ler, e pouco a pouco ela transferiu tudo para o meu nome. Tudo, entendeu? Tudo.

– Tudo? A Archer é sua agora?

– Tudo, querida. A Archer e todos os seus bens. Fim de jogo, você perdeu tudo, inclusive essa casa, então saiba que você tem até a noite do dia 31 para sair daqui.

– Você enlouqueceu, não foi? – Theo sentia tonturas, mas se esforçava para se equilibrar sobre a muleta no braço esquerdo.

– Um dia e meio, é o tempo que você tem para arranjar outro lugar para morar. Ficou claro? Senão você será retirada daqui pela polícia, por invasão de domicílio.

– Você está blefando, Sam nunca assinaria nada desse tipo.

– Meu Deus, como você é estúpida, continua não enxergando um palmo a frente do nariz! Onde você estava com a cabeça colocando uma pessoa ignorante para responder em seu nome? Você entregou a Archer de bandeja para mim deixando com que ela assinasse por você, foi tão fácil tapeá-la, ela acreditava piamente em tudo que eu dizia, e fazia tudo que eu orientava. Da próxima vez coloque alguém menos idiota no seu lugar.

– Não fale assim dela! – Theo foi para cima de Claire, mas dois seguranças dela surgiram e a seguraram.

– Agora você resolveu bancar a ofendida? Onde estava essa bravura durante todo esse tempo? Você nunca deu a mínima para a Archer, seu pai trabalhava doze horas por dia para fazer o grupo crescer, e você ia até lá apenas para irritar todo mundo. Nunca se interessou pelos negócios, nem depois da morte do Benjamin você se mostrou interessada, largou tudo na mão da namorada que não fazia ideia do que estava fazendo lá, você nunca mereceu um centavo dessa empresa!

– E você merece por que? Porque trabalha de verdade? Então todos os funcionários merecem ser donos da Archer?

– A Archer é minha por direito. E agora é minha legalmente.

Theo apertou a testa com os dedos, a cabeça doía, era difícil acreditar em tudo que ouvia. Voltou a falar num tom comedido.

– Você também está por trás da prisão da Sam?

– Estou, mas para isso tive ajuda de terceiros.

– De quem?

– Pessoas que também não gostam de você. Theo, querida, você tem mais inimigos do que imagina.

– Para onde ela foi?

– Sinceramente? Não tenho o menor interesse. Agora ela está sob a guarda do governo da Europa, espero que apodreça na cadeia.

– Por favor, apenas me diga para onde a levaram.

– Eu já disse, sua pirralha surda, não é da sua conta!

– Por que tudo isso, Claire? – Theo beirava o desespero, gesticulando impaciente.

– Porque estava ao meu alcance. Quem sabe assim você aprenda a ser menos ingrata, talvez dessa vez você cresça.

– Eu nunca te fiz mal algum.

– Sua existência me faz muito mal. – Claire segurou o riso. – Bom, recado dado, eu quero me mudar para cá no primeiro dia do ano, então espero que você já esteja longe daqui, de preferência vivendo na miséria para você dar valor ao que tinha.

– Essa casa é minha, é da minha família.

– Não, agora é minha, assim como tudo que estava em seu nome. – Claire deu uma olhada ao redor, estampando um sorrisinho soberbo. – Será divertido redecorar esse lugar.

– Por mim você pode enfiar essa casa no rabo, eu só quero saber para onde levaram a Sam, é tudo que eu quero.

– Então podemos negociar, eu tenho uma informação que você quer, e você tem uma que eu quero.

– Qual?

– Eu sei que temos cinco matrizes num laboratório no Paraná, mas ao todo são seis. Um pássaro azul me disse que você sabe o paradeiro dessa sexta matriz, se você me contar onde está, eu digo onde a Sam estará dentro de algumas horas.

– Sexta matriz? Do que você está falando? Matriz de que?

– Poupe a encenação, é sabido que você e Sam sabem sobre as vacinas e o Beta-E, Sam já esteve inclusive nesse laboratório.

– Sim, nós sabemos que a Archer fornece esse tal Beta-E para o governo enfiar em vacinas, mas não faço ideia do que você está falando.

– São seis matrizes, e eu preciso de todas para manter a produção e venda ao governo. É simples, Theo, me diga onde essa matriz está armazenada e eu irei até lá. Caso confirme, eu dou o paradeiro da sua namorada.

– Como eu vou te dar a localização de uma merda que nem sei o que é? Pergunte para o pessoal que trabalha no laboratório, ou então para os outros membros do conselho, sei lá, mas eu não tenho essa informação.

– Tudo bem, quando sua memória melhorar quem sabe você mude de ideia e me conte o que sabe.

– Claire, me diga para onde ela está indo, por favor. – Theo se aproximou.

– Nós voltaremos a nos falar, quando você estiver mais calma.

– Não! volte aqui.

– Da próxima vez que nos encontrarmos eu quero a informação sobre essa sexta amostra, e se eu não a obtiver saiba que não serei tão paciente, você ainda não viu do que eu sou capaz. – Claire engrossou o tom.

– Eu não tenho essa informação!

– Até breve, Theo. E não esqueça de sair daqui até amanhã à noite, leve seus trapos e nunca mais apareça.

***

Sua vida estava perfeita demais, tranquila demais, indolor demais. Algo aconteceria, Theo sabia. Eram mais que pressentimentos, ela custava a acreditar que era merecedora de tamanha paz. Uma doença, uma traição, um acidente talvez, algo viria perturbar a hegemonia dos bons tempos, mas ela não podia vislumbrar tamanha desgraça. Num fatídico final de madrugada Theo havia perdido tudo, a Archer, seus bens, e quem mais amava.

Era Sam quem costumava paralisar diante da tragédia, mas naquela manhã, véspera de réveillon, Theo perdera os sentidos por alguns instantes. Sentada no banco do piano acrílico ela fitava o centro da sala, segurando silenciosamente sua muleta com ambas as mãos. O olhar sem vida era reflexo da tentativa dificultosa em organizar os pensamentos, processar o que estava acontecendo, como um labirinto escuro, onde a saída significava sua primeira atitude. Ela não sabia por onde começar.

Estava novamente sozinha, talvez isso tenha ativado seu modo de sobrevivência onde lutava pela racionalidade em detrimento de qualquer emoção que a derrubasse. E eram muitas.

– Marcy, peça para Lucian preparar o helicóptero, sairei em 15 minutos. – Theo ordenou da porta da cozinha.

Subiu para a suíte onde tomou um banho rápido e vestiu-se para sair. Em pouco tempo já aterrissava na Archer, entrou apressada no prédio e quase tombou para frente quando a cancela travou a sua frente, bloqueando sua entrada na recepção.

– Alguém pode me ajudar, por gentileza? – Vociferou.

– Dê dois passos para trás e tente novamente. – O segurança a orientou.

De forma afobada fez o solicitado, mas continuava com a passagem bloqueada.

– Libere essa porcaria logo!

– Só um instante, vou verificar. – O segurança passou rapidamente à frente do rosto dela um scanner, acendendo em vermelho.

– E?

– Senhora, eu sinto muito, aqui diz que seu acesso foi bloqueado ontem.

– Pois essa merda está errada, me deixe passar.

– Não posso, senhora.

Theo o fitou sem saber o que fazer, olhou ao redor e encontrou vários olhares curiosos. Claire estava lhe impedindo de entrar na empresa que levava seu nome, sua cabeça voltou a doer, não entendia de onde surgira tanta cobiça e desejo de vingança por parte daquela mulher, seria Claire megalomaníaca?

Não tinha mais o que fazer naquele lugar, na verdade agora não tinha ideia do que fazer, mas retornou para casa. Casa que deixaria de ser seu lar no dia seguinte.

Subiu com determinação para o escritório, como se lá encontrasse alguma pista do que poderia ser feito. Mas não havia, documentos não ajudariam agora, o nervosismo crescente muito menos. Pensou em todas as possibilidades de contato, apenas um nome perdurou nas opções, apenas uma pessoa poderia ajudar agora: Michelle. Ligou mas não foi atendida, ligou de novo, e de novo. Deixou uma mensagem um tanto desesperada, depois deixou outra menos nervosa. Ligou para Fibi.

– Michelle está no Havaí, foi passar o réveillon com a família.

– E você está com ela?

– Não, estou de férias não programadas. – Riu.

– Que?

– Eu quebrei o tornozelo e tirei uns dias de folga. Você está bem?

– Não, Fibi, não estou nada bem, tudo de pior resolveu acontecer ao mesmo tempo, pelo visto. – Theo respirava rápido, tentava conter uma explosão. – Não consigo falar com Michelle, quando você tiver contato com ela por favor diga que preciso falar com ela com urgência, ok?

Desceu para o centro da sala, voltando ao local do crime, quem sabe ali uma boa ideia lhe surgisse. Mas nada surgia, o desespero engolido voltava como uma golfada de vômito quente, irritando a garganta e o esôfago.

Fitava de olhos molhados a grande porta que dava para o jardim, por onde Sam havia sido tomada dela. O sangue esfriava, agora corria queimando as veias, os membros arrancados já doíam, latejavam.

Theo temia colapsar e piorar ainda mais a situação, se equilibrava com dificuldade no amparo artificial da muleta, precisava sentar.

Foi até a sala de mídia, sentando no centro do sofá. Viu no chão os morangos derrubados na noite anterior. “Temos todo tempo do mundo”. Não o tinham mais.

Chorou de forma inconsolável por algum tempo, talvez muito tratando-se de Theo.

– O que eu faço? Meu Deus, o que eu faço agora? – Lamentava entre soluços com as mãos na cabeça.

Usava a própria camiseta para enxugar o rosto, não conseguia pensar de forma ordenada e havia desistido de tal por enquanto.

Marcy surgiu contidamente na porta da sala de estar, lhe chamando.

– Criança, tem um moço da Archer aqui, ele quer falar com você.

– Da Archer? – Enxugou afoitamente o rosto.

– Peço para ir embora?

– Não, eu vou falar com ele.

Caminhou com a muleta fazendo um barulho forte contra o piso, destampou na sala encontrando aquele homem de meia idade vestido de forma impecável. Era Stefan, um dos conselheiros.

 

Apreensão: s.f.: 1. .Ato de se apoderar do que outrem não deve ter. 2. Receio vago, preocupação. 3. Assimilação ou compreensão do que é cognoscível; percepção.

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  1. É, tava tudo tão bom, tudo tão lindo e colorido, que até era estranho…E em 1 capítulo você monta a desgraça toda!!.. Puxa vida, deu pra sentir o desespero junto…..Desgraça atrás de desgraça.. :/

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