Capítulo 15 – Lapso

Capítulo 15 – Lapso

 

Sam, com ajuda dos seguranças, expulsou do restaurante do hotel três jornalistas que abordaram Theo, todos queriam saber o que ela tinha a dizer sobre as declarações que Mike havia feito minutos antes na maior rede de mídia do país.

Não finalizaram o café da manhã, embarcaram rapidamente no helicóptero e seguiram de volta para casa.

– Eu vou cuidar disso, não se preocupe com nada. – Sam disse de forma firme a Theo em seu quarto, e saiu, puxando Meg pelo braço.

– Sedativos? – Meg perguntou, já do lado de fora.

– Sim, de leve. Tire o comunicador de perto, e evite ligar a tela.

– Algo mais?

– Dê um café da manhã decente para ela, eu vou para o escritório lá em cima tentar mensurar a dimensão da merda que Mike fez.

Sam entrou no escritório no segundo pavimento, sentou-se e tocou na tela a sua frente, a ligando, e as notícias iniciais já dava o tom do alarde.

“Confira detalhes íntimos da vida de prostituição que a herdeira do grupo Archer levava na Zona Morta”

“Assista na íntegra a entrevista com o militar que ajudou a resgatar Theodora Archer do prostíbulo, com detalhes picantes!”

Sam desligou a tela por alguns segundos, fechou os olhos reunindo coragem para voltar a lidar com aquilo.

– Seja o que Deus quiser. – Resmungou, ligou a tela e assistiu toda a entrevista com Mike.

Ainda tomada de raiva, ligou para Letícia.

– Finalmente retornou minhas ligações e mensagens. – Letícia atendeu num tom bravo.

– Estávamos fora, eu precisava colocar Theo em segurança dentro de casa primeiro. – Sam respondeu também de forma dura.

– Já assistiu?

– Já, eu esperava algo deprimente, mas foi pior.

– Mike não vale a cueca suja que usa.

– Ele distorceu várias coisas que contei a ele, aumentou outras.

– Você nunca deveria ter contado nada àquele verme.

– Ele era meu noivo na época, e várias coisas que ele sabe descobriu através de Lindsay.

– Sua adorável irmã, que adora Theo, assim como seu pai.

– Lê, preciso tomar algumas medidas, depois discutimos sobre a nobreza da minha família.

– Eu não sei o que sugerir, apenas afaste Theo dessa sujeira toda.

– Ela está afastada, está sedada no quarto, sem comunicador nem telas.

– Jura? E ela me ligou há cinco minutos de onde? Telepatia?

Sam exasperou.

– Droga, ela conseguiu algum comunicador. O que ela disse?

– Que ia implementar lâminas na mão mecânica para cortar as bolas de Mike pessoalmente.

– Eu vou lá tirar o comunicador dela.

– Não, espere. Ela está lidando bem, apenas não deixe que a mídia se aproxime dela, nem que entre em contato diretamente.

– Ela deve estar arrasada, revivendo o pesadelo.

– Nem tanto, Sam. Ela xingou Mike, mas depois me contou que você a pediu em namoro num hotel, ela está feliz com isso.

– Ela te contou? – Sam abriu um sorrisinho.

– Sim, contou em detalhes, e isso está tendo um peso maior, está toda alegre por ser sua namorada agora. Fofocas na imprensa marrom ela lida desde que nasceu, já não a afetam tanto.

– Nada como conversar com alguém que a conhece melhor. – Sam disse, mais aliviada.

– Ligue para a Archer, fale com o conselho, peça que lidem com as questões legais e de segurança, Claire talvez possa ajudar com isso. Mas não passe o dia sumida cuidando desse assunto, fique com ela, é tudo que ela quer agora, ter você por perto.

– Vou ligar para Claire. Você vem para cá?

– Prepare uma janta e um bom vinho, eu e Dani vamos jantar aí hoje, celebrar o início do namoro de vocês.

Em instantes Sam já resolvia todas as questões acerca do escândalo com Claire.

– Posso dar um pulo aí a tarde? Estou com saudades de Theo. – Claire pediu.

– Claro, você é sempre bem-vinda aqui.

Sam desceu, entrou no quarto onde Theo ouvia um filme barulhento na tela na parede em frente, estava sonolenta e o comunicador repousava na mesinha ao lado. Sentou ao seu lado na cama, tomou seu pulso beijando onde estava a nova pulseira.

– Verificando se ainda está no lugar? – Theo brincou.

– Feliz por estar no lugar.

– Não quero que você passe os próximos dias tentando limpar a sujeira que Mike fez.

– Já tomei algumas providências, mas vou ficar com você, nada vai nos atingir aqui, está tudo sob controle.

– Daqui a pouco surge outro escândalo e o meu será esquecido.

– Eu sei, hoje é um dia especial para nós, eu quero curtir essa boa fase nossa. – Sam a beijou.

***

– Sabe o que vou fazer para você agora? – Sam perguntou, sentada no sofá ao lado da poltrona, no quarto UTI, alguns dias haviam se passado, o escândalo já havia perdido força.

– Uma massagem? – Theo ouvia a programação na tela.

– Você quer uma massagem?

– Não é uma massagem?

– Não, eu ia fazer um pão.

– Eu não posso comer pão.

– Pode, o médico liberou.

– Eu posso comer pão? – Um sorriso crescia em Theo.

– Com algumas substituições, mas pode sim. – Levantou, lhe dando um beijo nos lábios. – Volto daqui a pouco.

Alguns minutos depois, Theo chamou Meg.

– Tia Meg, me ajude com o exoesqueleto.

– Você tem abusado disso, o médico disse para não usar tanto.

– É por um bom motivo, venha, me ajude.

Theo chegou de mansinho na cozinha, com suas passadas pesadas e lentas.

– Ainda não deu tempo de fazer. – Sam disse, ao vê-la entrando.

– Eu vim ajudar.

– Ah, você veio fazer pão também?

– Sim, me dê alguma coisa que eu tenha condições de fazer.

– Me contento com apoio moral.

– Sério, eu tenho mãos e todos os outros sentidos.

– Amor, sente-se e me faça companhia, não quero que se canse ou force as pernas nesse exo.

– Eu quero me sentir normal um pouquinho.

– Quer trabalhar? Vou te dar trabalho então.

Sam foi até ela, a conduziu até um balcão da cozinha.

– Aqui está a tigela, viu? – Sam colocou a mão dela em contato com o alumínio da tigela.

– Sim. – Theo tateou cuidadosamente.

– Aqui tem três ovos, quebre e coloque aí dentro. Quando terminar pegue a farinha de trigo, aqui, sentiu?

– Sim, aqui.

– Despeje duas xícaras cheias dessa farinha na tigela, a xícara está bem ao lado, veja. – Sam conduzia sua mão de objeto em objeto. – Consegue?

– Moleza. – Theo respondeu confiante.

– Eu vou terminar de moer os grãos aqui ao lado, quando terminar me chame, te darei novas instruções.

Sam selecionava os grãos atentamente, moendo cada especialidade, mas de olho em Theo. Um tempo depois a percebeu estática, com uma xícara vazia na mão.

– Não encontrou a farinha? – Sam perguntou.

– Eu estou na cozinha? – Theo perguntou confusa, e um tanto envergonhada.

– Está sim, você veio me ajudar a fazer pão.

– Eu deveria fazer algo com essa xícara, não é?

– Sim, encher de farinha de trigo, mas tudo bem, eu te ajudo.

– Desculpe, eu apaguei.

– Não peça desculpas, você não tem culpa. – Sam a envolveu pelas costas, a abraçando. – Ainda bem que não mandei você descascar batatas, imagina você com uma faca na mão sem saber o que fazer?

– Eu sou uma péssima ajudante. – Theo riu sem jeito.

– É a melhor de todas.

Sam beijou seu pescoço, Theo colocou os dedos dentro da farinha, virou-se, e deslizou seus dedos pelo rosto dela, a sujando enquanto ostentava um sorrisinho arteiro.

– Você sabe que não vou deixar barato, não sabe?

Sam também sujou dois dedos e correu delicadamente por sua testa, nariz, bochechas e queixo.

– Como ficou minha maquiagem? – Theo perguntou.

– Espera, faltou um retoque. – Sam a beijou.

Sam parecia não ter intenção de parar o beijo, pelo contrário. Ergueu Theo pelas coxas, a sentando sobre o tampo do balcão com agilidade, e sem desprender seus lábios dos dela, causando um barulho metálico do contato do exoesqueleto com o mármore.

Ela vinha se esforçando, se contendo, mas bastava uma fagulha como aquela para esquecer as reservas e limites impostos por Theo silenciosamente.

Suas mãos vagavam afoitas pelas costas de Theo, por baixo de sua camiseta branca, até a evolução ser abruptamente interrompida.

– Sam? Ah, me desculpe. – Meg disse, sem jeito, ao entrar na cozinha. – Volto depois.

– Não, entre. – Sam ajeitou a camisa de Theo, que estava ofegante e um tanto perdida, sobre o balcão.

– Eu trouxe seu comunicador, ele não parava de tocar, achei que poderia ser importante. – Entregou o aparelho a ela, já saindo.

– Obrigada, Meg.

– Quem está ligando? Letícia? – Theo perguntou.

– Não. – Sam olhava a tela com o cenho franzido. – Maritza. Vou retornar.

– Me desce daqui e me coloca numa cadeira?

Sam a colocou na cadeira e sentou em outra ao seu lado.

– Olá Ritz, como está? Aconteceu algo? – Sam disse, foi prontamente atendida.

– Graças a Deus estou falando com você! Sam, eu preciso de ajuda, eu não sei mais o que fazer, por favor me ajude.

– Hey, acalme-se, me explique o que está acontecendo, e tente falar devagar.

– Fizeram comigo! É tudo verdade, aquilo que você estava especulando, é verdade, está acontecendo!

– Do que você está falando?

– Me transformaram em alguma coisa, eu vou morrer, colocaram um coração que pode se desligar a qualquer momento, eu estou desesperada, eu não quero morrer.

Sam balançou a cabeça com tristeza, dando um suspiro.

– Ah não… Também te transformaram numa Borg?

– Isso, esse é o nome que eu descobri, fizeram depois daquele acidente que sofri, lembra que contei a você?

– Sim, faz uns três meses, não é?

– Isso, um pouco mais. Sam, você também está com um coração artificial? Como está se mantendo viva? Meu Deus, o que eu faço?? – Maritza falava com desespero, Theo acompanhava a conversa atentamente.

– Eu consegui um coração novo, um de verdade.

– Então tem como trocar? Eu preciso tirar isso de dentro de mim!

– Foi por isso que fugi do exército, para procurar um coração novo, acabei conseguindo horas antes do artificial se desligar.

– Você sabia quando o seu se desligaria? Como descubro meu prazo?

– O prazo de todos é de três anos, então acalme-se, você tem tempo, precisa manter a cabeça fria e planejar a busca por um outro coração.

– Como vou sair daqui? Eu não tenho como buscar outro, me ajude, Sam!

– Peça sua exoneração.

– Eu já pedi, me negaram, disseram que só posso pedir afastamento ou licença três anos após minha promoção, e eu fui promovida a primeira tenente mês passado. Eu não tenho como sair, o que faço? Eu vou morrer aqui dentro.

– Então você vai precisar desertar, assim como fiz. Planeje uma fuga, posso te dar instruções.

– Fugir para onde?

– Venha para cá, ajudo você aqui.

– San Paolo? Como vou fugir de um quartel isolado na Zona Morta e chegar até aí? Eu não tenho dinheiro, você sabe que meu rendimento é repassado diretamente a minha família, eu não tenho como conseguir dinheiro, apoio, nada!

– Não tem como conseguir algo emprestado aí?

– Sam, como vou entrar na Nova Capital? Serei foragida, sem documentos, sem grana, nem sei para onde ir quando sair daqui, estamos no meio do nada.

– Você precisa arranjar documentação fria para atravessar a fronteira.

Theo gesticulou, chamando sua atenção.

– Só um instante, Maritza. O que foi, amor?

– Vá buscá-la. – Theo disse.

Sam foi pega de surpresa, precisou de alguns segundos para ordenar os pensamentos.

– Está aí? – Maritza perguntou.

– Escute com atenção. Eu vou buscar você, preciso que você organize sua fuga para domingo de manhã, na hora da missa, eu estarei te esperando na cidade vizinha ao quartel, porque não é seguro me aproximar.

– Você vem me buscar, Sam? Você está falando sério? – Maritza parecia radiante agora.

– Hoje é quarta-feira, eu vou planejar as coisas aqui, tenho que pesquisar algum lugar aí perto para conseguir seus documentos falsos. Provavelmente irei para Quebec um dia antes, alugo um carro e busco você no domingo. Te levo para Quebec, fazemos os documentos, e de lá voltamos para San Paolo, em segurança. Aqui teremos tempo e calma para conseguir um coração novo para você, não se preocupe com isso.

– Você vai fazer tudo isso por mim?

– Vou, você vai ficar bem, como estou agora.

– Por que?

Sam deu um sorrisinho.

– Porque você é minha amiga, eu gosto de você.

– Eu não morrerei até domingo, morrerei?

– Não, fique tranquila, temos tempo. Mas não dê bandeira aí no quartel, tente não transparecer nada, e não converse sobre isso com ninguém.

– Ok, vou tentar ficar calma. Vamos nos falar outras vezes antes de domingo?

– Me ligue sábado, no horário que você puder.

– Combinado, preciso desligar antes que me interceptem.

A ligação finalizou e Sam ainda fitava a tela a frente.

– Mais uma Borg? – Theo disse.

– Fizeram com ela também, coitada. Estava desesperada.

– Pelo menos ela tem tempo, vamos conseguir um coração para ela aqui, com tranquilidade.

– Sem correria, sem dois meses de aventura na estrada.

– Não é porque você comeu o pão que o diabo amassou que ela precisa passar pelo mesmo.

– Sim, ela vai ficar bem logo.

– Diga para ela que ela pode ficar aqui em casa o tempo que quiser, mas se quiser voltar para a Inglaterra depois de tudo, nós a ajudaremos.

– Ela é irlandesa, mas eu falarei isso para ela sim.

– As irlandesas são bonitas. – Theo brincou.

Sam fitou Theo por algum tempo, com um semblante alegre.

– Eu deveria pedir você em namoro todos os dias, sabia?

– Renovar os votos? – Theo sacudiu sua pulseira.

– E dizer o quanto você é uma mulher incrível, e o quanto sou sortuda por ter você na minha vida.

– Eu ia responder que você é uma boba, mas é bom ser um pouco mimada. – Theo respondeu, procurando a mão de Sam sobre a mesa.

Sam tomou sua mão, beijando sua palma. Sempre que lembrava onde Theo havia passado seus últimos anos, tinha vontade de doar-se a ela, compensar de alguma forma o estrago feito, dar o conforto e carinho que lhe foi negado naquele lugar sórdido.

Levantou e entregou um beijo em sua testa.

– Você também me mima.

– É divertido amolecer seu coraçãozinho. – Theo riu.

– Vai continuar me ajudando com o pão?

– Não, você pode me fazer um favor? Quero voltar para o quarto, mas estou cansada demais para ir andando com essa coisa pesada.

– Quer que carregue você?

– Não, quero a cadeira de rodas. Mas quero o pão também.

***

Nos dias seguintes, Sam elaborou o plano de resgate de Maritza, que conforme combinado, fez sua ligação no sábado pela manhã.

– Você está em segurança? – Sam indagou a Maritza.

– Sim, estou num lugar seguro, e não dei bandeira durante a semana. Você vai vir, não vai? Por favor, não me diga que mudou de ideia. – Ia falando de forma afobada.

– Viajo hoje para Quebec, o plano continua o mesmo. Está com tudo preparado para a fuga amanhã? – Sam estava despojada na poltrona do quarto térreo, tomando café com Theo, que estava na cama e acompanhava a conversa.

– Tudo planejado, mas preciso de mais orientações, eu não faço ideia por onde fugir.

– Prepare uma mochila pequena com suas coisas, vista uma roupa civil, espere a missa ter começado. Por volta das 8:10h você segue pelos fundos dos barracões de treinamentos, ultrapassa o primeiro muro, que não é muito alto, segue pela direita até encontrar a área dos campos de exercício, tem uma parte que é isolada por tela aramada. Leve um bom alicate ou algo parecido, corte a tela, e siga no sentido noroeste por aproximadamente três quilômetros, na direção de Saint Fabien, eu estarei nessa cidade, próximo à margem do rio, na entrada do parque nacional, num carro alugado, de modelo simples, cinza escuro.

– E se perceberem a fuga? E se me interceptarem no caminho? Serão três quilômetros correndo pela minha vida!

– Maritza, deixe de drama. Você é uma soldado muito bem treinada, se vire.

– Você estará lá esperando?

– A partir das oito estarei lá, então seguiremos viagem de volta para Quebec.

– O que faremos em Quebec? E os documentos?

– Vamos fazer os documentos no período da tarde, já marquei com um pessoal que providencia isso, criarão uma nova identidade para você.

– Depois vou com você para San Paolo?

– Não, você vai ficar quietinha no hotel, eu vou alugar um helicóptero para Winnipeg, retorno no dia seguinte.

Theo franziu a testa.

– Por que? Vai me deixar sozinha no hotel? Para que essa viagem? – Maritza se segurava para não se desesperar.

– Tenho algo a resolver por lá, você estará com nova identidade e armada, apenas fique no hotel me esperando.

– Ok, apenas me tire daqui, me leve logo para onde eu possa trocar de coração.

– Algo mais?

– Não me abandone, Sam, só posso contar com você.

– Descanse hoje, siga o planejado, te vejo amanhã.

Após desligar a ligação, Theo foi logo perguntando.

– Winnipeg?

– Eu não quis conversar sobre isso antes para não te agitar.

– O que você vai fazer em Winnipeg? – Theo já pressentia a resposta, tensa.

– Procurar o Circus.

– Por favor, não vá, contrate pessoas para fazer isso.

– Irei apenas procurar, ok?

– Você não pode fazer isso sozinha.

– Theo, eu não farei nada, eu juro.

– Você vai procurar apenas?

– Sim, eu lembro bem onde encontrei você, vou varrer aquela região. Depois que conseguir a localização daí sim vou planejar algo. – Sam levantou, sentando ao seu lado na cama.

– Não entre lá.

– Não entrarei, até porque não quero colocar a vida das meninas em risco, será tudo muito bem arquitetado, e com uma boa equipe. – Sam afagava seu rosto.

– E se não encontrar?

– Volto para casa no dia seguinte, com Maritza. Depois vamos pensar em mais possibilidades, alguém tem que saber a localização desse lugar.

– Você volta para casa segunda-feira então?

– Segunda à noite estarei aqui, te dando um beijo de boa noite.

***

Sam bocejava preguiçosamente dentro de um carro cinza escuro, passavam alguns minutos das oito da manhã daquele domingo. Estava estacionada entre algumas árvores, atrás de si havia um rio, ao seu lado, a entrada de um pequeno parque ecológico.

Meia hora depois tamborilava seus dedos no volante, apreensivamente. Não havia sinal de Maritza, nem mensagens. As nove saiu do carro, deus alguns passos nas proximidades, voltou ao carro, recostando-se na lateral. Ajeitou o gorro e esfregou as mãos com frio, varria os olhos pelo local, procurando por algum sinal de Maritza, até finalmente avistá-la.

– Achei você, graças a Deus. – Maritza abriu um sorriso ao se aproximar de Sam, que lhe deu um demorado abraço.

– Você já foi mais veloz, cabo. – Sam brincou.

– Agora sou primeira tenente, ok?

– Estava com saudades de você. – Sam riu. – Você está bem? Correu tudo bem?

– Sim, deu certo, suas dicas estavam certas. Eu consegui, estou fora do quartel, nem posso acreditar nisso. – Maritza sorria animada.

– Ótimo, agora entre no carro, cara de salsicha.

– Ah Sam, por favor, você ainda lembra desse apelido?

– Entra logo, posso lembrar de outros.

Deram a partida, iniciando a viagem de aproximadamente duas horas até a capital Quebec.

– Se aqueça. – Sam jogou uma pequena garrafa térmica metálica no colo de Maritza.

– Café?

– Com rum.

– Como nas madrugadas de treinamento no Alasca?

– Isso aí. – Sam deu um risinho.

– Eu preciso muito disso. – Maritza abriu afoitamente, dando um longo gole.

– Deixe algo para mim, também estou com frio.

Maritza deu lançou seus grandes olhos verdes na direção de Sam, antes de voltar a falar.

– Você está com boas roupas, boa aparência, com tem conseguido se manter?

– Não são roupas caras. – Sam desconversou, sem jeito.

– Como arranjou dinheiro para me buscar? Passagens são caras, e esse carro não é nada simples.

– Tem uma pessoa patrocinando tudo isso, e inclusive preciso ligar para ela agora.

– Theo?

– Sam? Deu tudo certo? – Theo perguntava do outro lado.

– Deu sim, Maritza cara de salsicha está aqui ao meu lado, no carro. Já estamos voltando para Quebec.

– Que alívio… – Theo suspirou. – Eu só vou ficar tranquila quando vocês duas estiverem aqui, em segurança.

– Está correndo tudo dentro do planejado, não se preocupe, não se agite, combinado?

Theo não seguiu as orientações, e continuava agitada. Meg percebeu que algo mais acontecia, e a examinou minunciosamente.

– Você está com febre, não urinou nada hoje, seus leucócitos estão altos. Vamos lá estudante de medicina, diga seu provável diagnóstico. – Meg a estimulou.

– Uma infecção urinária na hora errada. – Theo bufou, chateada.

– Não tem hora certa para ter isso, você pode piorar rapidamente com qualquer coisa.

– Me dê mais remédios.

– Não, vou levar você ao hospital, para fazer exames mais detalhados.

– Nãããããão… Eu não quero ficar internada.

– Você não vai, serão só exames, você volta para a casa logo em seguida.

– Ok, agora que você descobriu, saiba que ontem eu consegui ir ao banheiro.

– E ontem estava normal?

– Digamos que tinha a cor vermelha.

 

Lapso: s.m.: Espaço ou intervalo de tempo; decurso de tempo, falha causada, provavelmente, por falta de atenção: lapso de memória.

12 comentários Adicione o seu
  1. Estou feliz por ter dado tudo certo com a Maritza. Não sei pq, mas gosto dessa cara de salsicha. kkkkk E gente, essa Theo é um sonho! Linda por demais essa menina. rsrs Minha única e exclusiva preocupação no momento é sobre a saúde dela. Quando acho que as coisas vão melhorar, lá vem algo e desestabiliza tudo de novo. Complicado! E essa versão romântica e super protetora da Sam é ímpar. Adoro! Já nem lembro mais algumas cagadas que ela fez ao longo do caminho. rsrs

    1. Maritza é a Sam de ontem, e isso vai evidenciar o quanto Sam evoluiu, eu gostei bastante da interação entre elas.
      É, nova infecção pra enfrentar, ela tá sempre com algum abacaxi pra descascar…
      Sam é uma boa garota 😉

  2. Ah, esqueci de comentar… Será uma piadinha da Theo ou nossa menina voltou a enxergar? Caraca, eu anseio o dia que a Theo verdadeiramente vai ‘conhecer’ a Sam. Será um dia esplendoroso!

  3. Olha Cris eu nunca odiei nem nas piores momentos dela rsrsrs quanto ao capitulo fiquei tensa o tempo inteiro prevendo uma armadilha para Sam e que algo poderia dá errado ainda estou e loucamente ansiosa pelo 16 principalmente pelo final e verdade mesmo a Theo voltou a enxergar

    1. Eu confesso que tenho grande carinho ao desenvolver a Sam, talvez eu projete minhas inseguranças nela, por isso me apego à ela.
      E sim, essa missão resgate vai se complicar bastante.
      Theo não voltou a enxergar, ela explica no próximo capítulo quem contou a ela a cor do xixi… rs
      Bjos e obrigada!

      1. KKK Essa sua resposta ao meu comentário foi para me deixar mais ansiosa ainda pelo próximo capitulo rsrs bjs bom final de semana

  4. Que isso da Theo sabendo da cor do xixi? Nem me toquei de início!

    Cris, você me mata.

    A Sam não vai estar la pra ver a Theo enxergando. To com um pressentimento péssimo.

    Não quero mais ler. Parei!

    😡

    1. Ela não tá enxergando não, mulher hahahahah
      É pegadinha do mallandro, alguém contou a cor pra ela.
      Mas a Sam não estará lá enquanto ela estiver com infecção no hospital.

  5. Isso precisa virar filme!!!!!!!
    Cris, não sei lidar.
    Não sei descrever o que eu sinto toda vez que leio um capítulo.
    Eu amo as suas histórias. Você é incrível como escritora.
    Leitora a 2 anos. Primeiro comentário.
    Obrigada por nos proporcionar essa leitura maravilhosa. 🙂

    1. Se virar filme, chamo todas as leitoras pra estreia em Hollywood.
      Mariana, você fez uma autora muito feliz com seu comentário carinhoso, e por ter surgido após dois anos, espero que não suma, viu?
      Eu que agradeço <3

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