Capítulo 35 – Enleio
Sam e Theo arrumavam suas bolsas em cima da cama na modesta pensão bege e marrom, em silêncio, passava do meio-dia. Sam estava extasiada com a notícia da localização dos laboratórios secretos do grupo Archer, parecia eufórica.
– Achei que você ficaria feliz. – Sam resmungou, interrompendo o silêncio, e o que Theo fazia.
– Eu estou feliz.
– Comemorando em silêncio? – Sam zombou, fechando o zíper da sua bolsa.
– Só ficarei tranquila quando o coração estiver dentro de você, até lá não conseguirei comemorar.
– Já sabemos onde as matrizes estão, se fizermos tudo certo o coração está garantido, deixe de ser pessimista.
Theo esfregou o rosto e voltou a guardar suas coisas, ajeitando dentro da bolsa marrom, apesar da boa notícia, ela continuava parecendo angustiada.
– É aqui que tem duas garotas partindo para o Rio? – Igor surgiu na janela do quarto, sorridente.
– É sim. – Sam respondeu também sorridente.
– Posso entrar?
– Claro. – Sam abriu a porta, e Igor sentou-se na borda da cama.
Theo colocou sua bolsa no chão, próximo a porta, e sentou em cima da mesa.
– Esqueceu de nos dar alguma informação? – Theo perguntou.
– Não, eu quero ir com vocês.
– Para a Ilha das Peças? – Sam indagou, confusa.
– Sim, tem lugar no carro para mais um?
– Por que você quer ir com a gente? – Theo disse.
– Quero ajudá-las a conseguir as matrizes, e por tabela destruir a fabricação do Beta-E por parte da Archer.
– Mas você sabe que darei essas matrizes para outro laboratório, não sabe? Talvez eu esteja entregando essa tecnologia para a Europa ou o Grande Oriente.
– Rastrearemos, saberemos para onde as matrizes irão. Quando você estiver sã e salva com seu coração novo, iremos atrás dos novos proprietários do Beta-E.
– Rastrearemos? Então você envolveu outras pessoas nisso? – Theo perguntou, com desconfiança.
– Sim, conversei com um colega de resistência, ele achou uma ótima ideia. Fiquem tranquilas, não farei nada para sabotar sua conquista do novo coração, só agiremos depois. E se você quiser, podemos te dar um lugar seguro para ficar, até a poeira baixar. Depois você volta para a Europa.
– Onde?
– Temos um local seguro, em MT, numa fazenda no interior.
– Você me ajudará a conseguir as matrizes? Sem envolver outras pessoas? – Sam questionou, em dúvida.
– Sim, até você fazer o transplante não envolverei ninguém, apenas acompanharei de perto. Dou minha palavra.
Sam sentou-se na cama também, ao seu lado, pensativa.
– E então, posso seguir com vocês? – Igor insistiu.
Sam ergueu a cabeça, fitando Theo.
– Tudo bem por você, Theo?
Theo moveu a cabeça, contrariada.
– O carro é seu.
– E então? Poderemos revezar no volante, são vinte horas até o Rio. – Igor olhou animado para Sam.
– Bem-vindo a bordo. – Sam disse após mais alguns segundos analíticos.
Igor estendeu sua mão, para um cumprimento.
– Para o Rio. – Sam disse.
– Para o Rio. Espero que seja o destino final.
Igor foi arrumar suas coisas, enquanto a dupla o aguardava no quarto da pensão, novamente em silêncio. Theo permaneceu sentada sobre a mesa, Sam fazia pesquisas em seu comunicador, sentada na cama, recostada na cabeceira.
– Por que não vem deitar e descansar enquanto Igor não chega? – Sam a convidou.
Theo não respondeu, apenas baixou a cabeça, com semblante sério.
– Ele só volta as duas da tarde, venha descansar antes de pegarmos a estrada. – Sam insistia com uma voz apaziguante. – Vem, Theo.
Ela desceu da mesa e deitou-se ao lado de Sam, que a fitou por algum tempo.
– Posso ver sua mão?
– Não.
Sam inclinou-se para o lado, tentou acariciar o rosto de Theo, que fez um movimento brusco com a cabeça, se desvencilhando.
– Podemos fazer uma trégua? – Sam perguntou.
– Eu não estou em guerra com você, só quero ficar no meu canto.
Sam aproximou-se novamente, desta vez ficando por cima dela, tocando seu rosto. Theo saiu possessa da cama.
– Que droga, Sam!
– Você não acha que está na hora de parar com isso?
– Talvez eu pare no dia que você começar a me respeitar. – Theo parecia mais transtornada que o normal.
– Estamos quase lá, deixe o que aconteceu para trás, eu já me arrependi do que fiz e já pedi desculpas.
– Você nunca vai entender…
– Volte para a cama, não encostarei em você, prometo.
Theo esfregou o rosto com sofreguidão.
– Cansei. – Theo disse e saiu tateando o quarto, em busca da porta.
– Onde você vai?
– Cansei… Cansei… – Achou finalmente a porta.
– Não se perca, e cuidado, tem uma escada logo ao lado.
Theo saiu tateando o corredor da velha pensão, encontrou a escadaria azul e desceu alguns degraus, sentando-se. Apoiou os cotovelos nos joelhos, cobrindo os olhos com as mãos.
– Agora não… Ainda não… – Murmurava baixinho para si, em desespero.
Minutos depois Sam sentou-se ao seu lado.
– Desculpe fazer você se sentir assim. – Sam começou, numa voz branda.
Theo ergueu a cabeça, mas não respondeu.
– Fique tranquila, não irei encostar em você. – Sam continuou.
– Se eu ganhasse um dólar para cada vez que você pede desculpas…
– Eu sou assim, eu falo sem pensar, eu explodo, mas não é por mal. Não te quero mal.
– Sam, essa conversa não vai a lugar algum, foque na sua busca.
– E se eu ganhasse um dólar por toda vez que você fala isso… – Sam riu.
– Eu só não quero mais discutir com você, se as coisas continuarem assim talvez eu fraqueje, e eu não posso fraquejar, por isso preciso que você me deixe quieta.
– Eu sei que errei, mas você também errou, você sabe que também pisou na bola.
– Eu tive meus motivos, mas cansei de tentar explicá-los a você, cansei de tentar explicar qualquer coisa para você. – Theo dizia com desânimo.
Sam fitou o chão de tinta azul descascada, pensativa.
– Você está desistindo de mim?
– Eu só quero que você consiga esse coração e tudo acabe logo.
– Tudo?
– Essa é minha comitiva de recepção? – Igor surgiu na base da escadaria, e brincou com elas, não arrancando sorrisos.
– Pronto para partir? – Sam perguntou.
– Com certeza! E animado com a possibilidade de fazer algo útil e grande.
Pouco depois já estavam na estrada, descendo no mapa, ia dar três da tarde.
– Vocês têm bastante coisas aqui atrás. – Igor disse, colocando cobertores no chão, para ter mais espaço no banco de trás.
– Bem-vindo à nossa casa. – Sam respondeu.
– Vocês dormem no carro?
– Não, é apertado, dormimos em lugares abandonados ou hospedarias baratas.
– Lugares abandonados?
– Qualquer lugar com um teto e um mínimo de segurança.
– Casas?
– Também.
– Quais os planos para essa noite?
– Parar para dormir por volta das dez, nas proximidades do extremo sul da Baia.
– Em algum lugar abandonado?
– Se encontrarmos algum bom lugar sim, vá se acostumando com a ideia. E no final da tarde você assumirá o volante, vou aí para trás cochilar. – Sam sorriu.
– Sim, senhora.
– Senhorita.
Igor riu, e deu uma olhada em Theo.
– Mocinha tatuada, você não é de falar muito, não é?
– Eu falo o necessário. – Bocejou em seguida.
– Ela já foi mais falante, mas está com dor na mão. – Sam completou.
– O que aconteceu com sua mão? Trancou na porta? – Igor brincou.
– Também. – Theo respondeu.
– É uma longa história. Theo, está com sono? – Sam desconversou. – Não conseguiu dormir mesmo com a hidrometa?
– Dormi, mas quando uso hidro tenho pesadelos que te acordam. – Theo falou com sarcasmo.
– Você anda muito rancorosa. – Sam disse em voz baixa.
– Não, só de saco cheio mesmo.
– Eu não sei mais o que fazer ou falar para você se sentir melhor. – Sam falava quase sussurrando.
– Sinceramente não espero que você descubra algum dia.
– Depois conversamos sobre isso. – Sam tentou colocar sua mão por cima da dela, mas Theo tirou sua mão.
Sam e Igor passaram o restante da tarde planejando a invasão ao laboratório na ilha carioca, Theo perdeu aos poucos a resistência em falar e participou da discussão, contribuindo principalmente com informações sobre os protocolos de segurança do grupo Archer. No final da tarde pararam o carro para recarregá-lo e Igor assumiu o volante, Sam colocou algumas coisas na parte traseira da caminhonete e deitou no banco de trás.
– Dirija com prudência, não quero morrer antes da hora. – Sam falou e colocou os pés no vidro lateral.
– Você viu a belezinha que eu dirijo diariamente, com duzentas pessoas a bordo, acha que não sou um motorista prudente?
– Deixe a velocidade no automático quando estiver nas super vias.
– Você que manda.
A viagem prosseguiu e Theo permanecia em silêncio ao lado de Igor.
– Quer ligar o som? – Igor disse, meia hora depois.
– Não, ela está dormindo.
– Está? – Igor relanceou os olhos para o banco traseiro.
– Espera.
Theo inclinou para trás, tateou Sam até e encontrar seu rosto.
– Está. – Theo confirmou, enxugando a mão em sua calça.
– Como sabe?
– Baba. – Theo mostrou sua mão aberta a ele, que riu.
– Então, há quanto tempo estão na estrada?
– Cinco semanas. Quer dizer, eu estou há cinco semanas, Sam está a mais tempo, sete semanas, eu acho.
– Estão vindo de onde?
– Zona Morta.
– Nossa, cruzaram o continente de carro?
– Basicamente.
– O que a filha do magnata Benjamin Archer estava fazendo na Zona Morta?
– Fugindo.
– Do seu pai?
– É, de certa forma.
– Ele sabe seu paradeiro?
– Espero que não.
– Saquei, você é tipo a ovelha negra da família, não é?
– Tudo indica que sim.
– Você também quer acabar com o negócio das vacinas, do seu pai?
– Tanto quanto você.
– Então você está nessa empreitada com essa finalidade, acabar com os negócios do papai?
– Não, eu quero um coração novo para ela, o resto é consequência.
– Vocês duas já se conheciam?
– Não, a conheço há cinco semanas.
– Ela estava passando pela Zona Morta e te deu uma carona?
– Ela me ajudou a fugir, estava descendo para o México e me levou com ela.
– Que nobre. Ninguém ajudou vocês? Namorados?
– Não.
– Sam é casada?
– Noiva.
– Onde está o noivo? Ou noiva.
– Espero que ele esteja bem longe daqui.
– Hum, você não simpatiza muito com ele, pelo visto… – Igor riu. – Você o conhece então.
– Tive o grande prazer de conhecer o honrado major.
– Ele também serve no exército? Com Sam?
– Sim.
– E por que ele não está com vocês, ajudando?
– Acho que ele tinha coisas mais importantes para fazer.
– Como o quê?
– Não sei, lustrar seu coturno talvez. – Theo sorriu, pela primeira vez nos últimos dias, Igor também riu.
– Ok, ok, entendi seus sentimentos não muito lisonjeiros com o major. Esse pessoal acha que tem o rei na barriga, eu entendo você, fui cabo na marinha por seis anos, lidei com muitos oficiais arrogantes, o poder sobe à cabeça de alguns.
– Por que abandonou a marinha?
– Por invalidez, sofri um acidente no quartel.
– E você está bem agora?
– Sim, mas não permitem que uma pessoa com oito placas na coluna continue servindo.
– Foi um acidente feio pelo visto.
– Uma explosão de caldeira, fui arremessado uns vinte metros.
– Sinto muito. Mas pelo menos pode voltar ao trabalho, mesmo que não seja mais na marinha.
– É, não consigo ficar longe do mar, e de certa forma graças a minha aposentadoria compulsória pude entrar na resistência, estou podendo fazer mais pelo país do que na marinha.
– E está seguindo os passos do seu pai.
– Finalmente, ele sempre foi uma inspiração para mim, mas nunca me pressionou para entrar para a resistência também, ele sabia do meu sonho de ir para a marinha e me respeitou, me apoiou. E me apoiou também quando sofri o acidente, esteve do meu lado o tempo todo, e por fim foi meu guia quando iniciei na célula vermelha.
– E então ele sumiu.
– Sumiu.
– Que pena ele ter sumido, mas esse é o risco que corremos, a polícia do governo é implacável, somos vigiados em todos os lugares, e alguns somem.
– O que me consola é saber que ele morreu defendendo seus ideais, e teve tempo de repassá-los.
– E você repassará aos seus filhos. – Theo disse com um sorriso de canto.
– Quem sabe.
– Você é casado?
– Não, fui noivo, mas ela me deixou após o acidente.
– Não foi uma atitude legal da parte dela, mas é melhor eu não julgar ninguém.
– Tudo bem, já a perdoei, tentei entendê-la. A vida precisa seguir, não é mesmo?
– Melhor assim, algumas perdas nos fortalecem.
Igor deu uma olhada em Theo, a analisando.
– Você não enxerga nada?
– Eu percebia a claridade, agora nem isso.
– Então está piorando?
– Está. Não conte isso a ela, ok?
– Não contarei. É reversível?
– Não sei.
– Nunca foi no médico ver isso?
– Não tive tempo ainda.
– Há quanto tempo não enxerga?
– Ãhn… Uns dois meses.
– É recente, você ainda está se adaptando, deve ser uma fase difícil, essa adaptação.
– Já tive dias piores.
– Tem se virado bem?
– Sim, Sam me ajuda.
– Você não faz ideia como sou, então?
– Sei vagamente, você é um cara alto, com andar firme, agora entendo porque anda desse jeito, deve ser por causa das placas na coluna. Tem uma atitude de certa forma carismática quando lhe convém, deve ser um cara charmoso, bonito, e seu sorriso deve ser aberto, acolhedor com um toque de deboche. E a barba está por fazer.
– Sacou tudo isso sozinha? – Igor disse, surpreso.
– Sim.
– Então, acha que sou um cara bonito? – Igor perguntou, com ar bem-humorado.
– Sam está impressionada com você, e não acho que seja apenas por suas informações úteis.
– Você sabe como Sam é?
– Também tenho uma ideia.
– Como você acha que ela é?
Theo, já relaxada, pensou antes de responder.
– Talvez ela seja bonita para as outras pessoas, mas para mim ela é a garota mais linda que já conheci.
– Ela é uma mulher e tanto.
– Eu sei. – Theo disse sem jeito.
– Se ela estivesse livre eu tentaria conquistá-la.
– É, eu imagino que sim. – Theo falou de semblante fechado.
– Mas ela gosta de você, e eu espero que vocês façam as pazes.
– O que?
Igor riu.
– Eu sei que vocês têm algo, e também percebi que estão meio atravessadas, eu espero que vocês se resolvam, vocês formam um belo casal.
– Você percebeu tudo isso?
– Uhum. E se eu estiver fazendo algo que esteja atrapalhando, me avise.
– Não, não está… – Theo respondeu pensativa.
– Qual foi o motivo da briga? Ciúmes?
– Não, é que… é complicado explicar. – Theo dizia incomodada.
– Pelo que percebi foi ela quem pisou na bola.
Theo moveu a cabeça, procurando as palavras.
– Sam é um pouco instável.
– Mais um motivo para tentar relevar algumas coisas.
– Não é tão simples assim, Igor, quando alguns limites são cruzados, um pedido de desculpas não conserta o que quebrou.
– A menina está numa situação complicada, lutando para conseguir um coração novo, imagine a pressão? Tenha paciência com ela.
– É, eu costumo ter paciência…
Por volta das nove da noite, Sam acordou, reclamando de dor nas costas.
– É um carro em movimento, esperava ter horas reconfortantes de sono? – Igor brincou.
– Quantas horas eu dormi? – Sam disse, com a mão nas costas.
– Umas três.
– Nossa. – Sam coçou os olhos, ainda sonolenta.
– Daqui a pouco devo ficar alerta a procura de um lugar para passarmos a noite, certo tenente?
– Sim, já pode procurar. – Sam deu uma olhada em Theo. – Você está bem? – Perguntou com a mão em seu ombro.
Theo apenas afirmou balançando a cabeça.
– Vou pegar aqui seus remédios, tem água aí na frente?
– Tenho.
– Igor, você torrou a paciência dela? – Sam perguntou num tom leve, mexia na caixa médica.
– De forma alguma, tivemos três horas agradáveis de conversa.
– Sério? Vocês dois conversaram?
– Ela é uma ótima companheira de viagem.
– Eu sei, a melhor de todas. – Sam sorriu.
Por volta das nove pararam numa grande rede de postos e restaurantes de beira de estrada, com lojas de recordações e quinquilharias. Estavam todos visivelmente cansados e não demoraram muito no jantar modesto, que Igor fez questão de pagar ao perceber o problema financeiro em que as garotas se encontravam.
– Vou ao banheiro, quer ir, Theo?
– Não, já fui quando cheguei.
– Eu também, mas é sempre bom encontrar um banheiro limpo. – Sam sorriu, sozinha.
Sam já saia do banheiro por um estreito corredor quando sentiu uma pancada na base das costas, contorcendo-se por reflexo.
– Não grite, não faça movimentos bruscos, não peça ajuda. – Uma voz masculina disse próximo ao seu ouvido, um homem alto e forte havia enfiado o cano de uma pistola de eletrochoque em suas costas.
– Ok. – Sam ergueu um pouco as mãos, lentamente.
– Não pretendo lhe fazer mal, apenas me acompanhe de forma discreta. – Ele disse confiscando a pistola do coldre na perna de Sam e a revistando rapidamente.
Sam balançou a cabeça concordando, caminhou sob a escolta do grandalhão até uma porta próxima, onde eram guardados os produtos de limpeza do local. Lá dentro havia outro homem, mais baixo, de sobrancelhas grossas e rosto rechonchudo, e ao lado dele um grandalhão de terno com as mãos cruzadas a frente, em posição protetiva ao homem mais baixo.
– Pegou a arma dela? – O homem mais baixo, com semblante sério, perguntou.
– Peguei sim.
– Samantha, seu nome, correto?
– Se isso é um assalto saibam que estão perdendo tempo, tenho menos de quinhentas pratas e nada de valor.
– Esse é seu nome, minha amiga? – Ele insistiu, no mesmo tom monocórdico, ajeitando sua gravata borboleta de quatro pontas.
– É sim.
– Não somos assaltantes, nem temos a intenção de lhe causar algum dano. Nem à garota que viaja com você.
– Então vá direto ao assunto.
– Queremos a garota. De forma pacífica, totalmente pacífica, sem impasses nem confusão. Porque eu odeio confusão. Você também não odeia confusão, Morris?
– Odeio sim, chefe. – O grandalhão respondeu respeitosamente.
– A garota está comigo, não vai a lugar algum com vocês.
– Ela estará melhor conosco, há alguém muito preocupado com seu paradeiro, queremos garantir que ela fique bem, somos os garantidores do bem estar desta garota.
Sam permaneceu em silêncio.
– Minha amiga Samantha, não somos pessoas más, somos benevolentes. Não somos benevolentes, Morris?
– Totalmente, chefe.
– Quem contratou vocês? – Sam perguntou.
– Uma pessoa também benevolente. E para mostrar suas boas intenções, ele mandou um presentinho para você. – O baixinho estalou os dedos para o segurança ao lado.
O homem de terno abriu uma maleta metálica em cima de um tonel plástico, dentro haviam seis blocos de dinheiro magnético, bem arrumados.
– Para que isso? – Sam olhou para o interior da maleta, com as sobrancelhas franzidas.
– Para você, minha amiga Samantha. Tudo para você, cem mil, em notas não rastreáveis, com chip sem rastreio.
Sam encarou o baixinho com confusão, ainda sentia o cano da arma em suas costas.
– Você está comprando Theo de mim, é isso?
– Não, não, e essa foi uma forma mal educada de se referir ao presentinho. O que você precisa fazer é simples, muito simples, você nem vai acreditar de tão simples.
– O que devo fazer?
– Siga sua jornada, sua viagem pela costa brasileira, com todo o conforto que esse dinheiro pode proporcionar e ah, a melhor parte: sem a garota como peso desnecessário.
– Só isso, seguir viagem sozinha, com essa mala de dinheiro?
– Apenas isso, e somente isso. – Ele falava sempre com a mesma voz debochada, que lhe parecia natural.
– Não farei isso.
– Morris, qual a potência da sua arma elétrica?
– Quinze mil volts.
– Quinze mil volts. Sabe o que quinze mil volts podem fazer com a carne humana? Churrasco. Ah, e você pode comer um bom churrasco todos os dias com esse dinheiro. Qual churrasco prefere?
– Esqueça, não farei isso.
– Minha amiga Samantha, está pronta para ouvir o que você irá fazer dentro de noventa segundos?
– Não seguirei viagem sem Theo.
– Você irá sair desse quarto desagradável e voltará para sua mesa, onde a garota e seu amigo a esperam. Irá dizer à garota que precisa de ajuda no banheiro, coisa de mulher, ela entenderá. Você a conduzirá a este mesmo quarto, ela não enxerga, não perceberá a diferença entre banheiro e quarto de coisas estranhas. Me entregará pacificamente, percebeu o pacificamente na frase? Pacificamente você me entregará a garota. E eu farei questão de lhe entregar, com um grande sorriso, essa maleta da felicidade, para você prosseguir com seu amiguinho. Lembrando que se você trouxer seu amigo para cá, vocês dois irão virar estrelinha no céu dos bem aventurados, Morris ficará no corredor de olho em vocês.
– Não, eu não irei entregar Theo a vocês. – Sam falava com irritação.
O baixinho olhou em seu relógio no pulso, batendo com um dedo na tela.
– Quarenta segundos, você tem quarenta segundos para sair e fazer o que pedi. Franklin e Alberto estão ao lado do seu carro azul no estacionamento, eles os deixarão irem embora se a garota não estiver com vocês. Não é simples, Morris?
– Mais simples impossível.
Sam balançou a cabeça, em desespero.
– Não, não…
– Quinze segundos, Morris apertará o gatilho, e meus ajudantes levarão a garota da mesa. Viu como a primeira opção é melhor? Você come churrasco, e não vira churrasco. Nas duas hipóteses a garota estará comigo dentro de trezentos segundos.
Sam olhou para os lados, procurando alguma forma de mudar sua situação desfavorável, mas não enxergou nenhuma possibilidade.
– Quatro segundos, minha amiga.
– Ok, ok. – Sam empurrou a mão do grandalhão, tirando a arma de suas costas. – Eu irei.
– Sábia decisão, minha amiga.
Sam saiu do pequeno quarto e caminhou nervosamente até sua mesa, na lateral do largo restaurante.
– Que demora, Sam, levou esse tempo todo para ajeitar a maquiagem? – Igor brincou.
– Por que demorou? – Theo a inquiriu também.
Sam continuava de pé ao lado da mesa, com a respiração rápida, inquieta.
– Theo, preciso que me acompanhe até o banheiro.
– Por que?
– Coisa de mulher.
– Ok. – Theo levantou-se, Sam colocou a mão na base de suas costas e a conduziu pelo longo corredor.
Enleio: s.m.: Situação confusa; emaranhamento; hesitação; dúvida.
Tô morrendo com o final desse capítulo viu! E pior é saber que tb tá acabando a história e agora deve ficar só na base da adrenalina a mil por hora!
Mas tá bonito isso aí viu!
Ah não confio muito nesse Igor, aliás não confio em ninguém que se aproxima deles!
Bjão
Ah, esqueci de dizer, que mesmo que Sam entregue Théo, ela só vai estar fazendo isso na tentativa de ganhar tempo pra trazer ela de volta. Pois acredito que mesmo do jeito torto dela ela goste da Théo!
Ah, eu acredito no amor delas! #prontofalei
Sam faz as merdas dela, mas é apaixonada pela mocinha tatuada.
[eu também acredito 😉 ]
Ainda bem que você sabe que de agora em diante será assim, tensão após tensão, capítulos terminando de forma sacana, bem no meio da ação, e muito em breve o final digamos, chocante. Mas teremos segunda parte.
Não acredito que sam fara isso…
E adivinha só o que ela fez?
sei não viu a Cristiane ainda vai nos matar do coração, mas acho que Sam planeja algo muito louco para salvar a Theo…
Eu já quase matei vocês (e a Jenny) do coração uma vez, minha meta de vida e provocar mini infartos em vocês.
Sam às vezes é bad ass e consegue resolver as coisas 😉
Eu tb acredito no amor das duas depois de tudo a Sam não iria tomar uma atitude covarde dessa só espero que o plano dela não termine machucando ou magoando Theo mais ainda
Ok, eu entendo que Sam pisou na bola, mas vocês estão um pouco desacreditadas na moça, não acham? rs
Vamos dar um voto de confiança, prometo não decepcionar.
Beijos!
Ansiosa pela continuação D:
Quando ler o 36 apareça aqui, me diga se Sam agiu como vocês esperava 😉
Pois é, não saiu.Na verdade eu sempre espero o pior de Sam, apenas estava disposta a entender dessa vez. Me surpreendeu a atitude dela.
que bom 😉
Pelo que espero do próximo acho que vai ser a primeira vez que não termino de ler um capítulo indignada, porque metade dos capítulos dessa história eu terminei assim, pela arrogância e truculência de Mike, a covardia e falta de caráter do pai de Theo e daquele tio asqueroso, o comportamento de Sam que ama e fere na mesma proporção (mesmo sabendo que ela é fruto do meio, passa dos limites,aquela da mão foi demais). O pior de tudo na minha opinião até ler o 31era a apatia de Theo em relação ao comportamento da tenente. Acho que Sam vai sim entregar Theo e isso vai machucar bastante a moça porque vai voltar para o inferno pelas mãos da mulher por quem tinha tanto amor e gratidão, mas nesse momento crucial vai prevalecer a busca pelo coração.
Acho que esses caras nao sao da parte do tio dela…
Deve ter algo a ver com os outros misterios da Theo.
Lembra-se que da vez que ela levou o tiro ela acordou e disse pra Sam que achava que o Theodore nao tava a mando do Elias?
Pois é… Mas nunca se sabe…
Na verdade eu pensei no pai dela que é tão cruel a ponto de jogar a filha num lugar daqueles, sabe-se lá porquê. Como vc disse: mistérios da Theo.
Provavelmente não foi Elias, vc tem razão 😉
Surpreendi positivamente? rs
Não posso prometer que você nunca mais terá raiva do comportamento de Sam, tem coisas que nem o tempo consertam, mas ela vai tentar fazer o certo daqui pra frente. Prometo.
Aiai…
Theo so se fode. E nao sei mais o que pensar a respeito da Sam… Ela é imprevisivel… Tipo, quando achei que ela deixaria o noivo espancar a cega… ela surpreende terminando tudo com e se pondo no meio dos dois.
Ai quando achei que ela conversaria com Theo sobre a foto ela vai la e fode a mao da garota…
Eu decidi (em nome da minha sabidade) que nao pensarei mais em nada, so esperarei (com o cu na mao) os proximos acontecimentos.
Sanidade*
Diin, espere de Sam sempre as duas possibilidades, uma boa e uma ruim, assim você não se surpreenderá tanto… rs
Aproveite a viagem 😉
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Ana Sofia Gomes, por uma falha do blog seu comentário se perdeu num limbo não muito distante (onde eu consigo visualizar, mas não consigo responder nem fazer aparecer aqui).
Quero que saibas que não me apetece esta sua fase caladinha, mesmo que estejas indignada ou incomodada com algo, venha conversar, gosto de ouvir suas ponderações. 😉
Maria Clara Batista, assim como o comentário da Ana Sofia, o seu também foi para este limbo dos comentários aprisionados, mas consigo ler (e posso responder aqui, te mencionando).
Sam não curtiu que você a chamou de porta, no capítulo 36 ela quis mostrar que não é tão porta assim.
Sobre sua úlcera, prepare leite de magnésia.