PH Poem A Day – Dia 5 – O sabiá

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Dia 5 – O sabiá

Ele não falhava: sempre na hora do café da manhã e à noite, o sabiá aparecia na janela da casa de Noelle e Edcarlos, já se tornara praticamente o terceiro membro da família Medeiros.

Noelle só o percebia quando começava seu canto desengonçado, mas que lhe agradava. Edcarlos sempre o percebia.

– Por que esse passarinho escolheu justamente nossa casa, com tantas outras na vizinhança? – Edcarlos questionou, enquanto passava lentamente margarina em sua torrada, fitando a janela.

– Sei lá, vai ver ele gosta das árvores do nosso quintal, ou fez ninho no mamoeiro. Me passa a caixa de suco.

– Ele mora na mangueira.

A noite era a mesma coisa, o pássaro de peito laranja aparecia na janela do cômodo onde o casal estivesse, parecia querer dar seu espetáculo para alguma plateia. Nem sempre cantava, às vezes apenas ficava ali, de um lado para o outro, movendo a cabeça de forma engraçada.

Voava e retornava minutos depois, talvez fosse para outras casas, outras árvores, a pracinha do bairro, mas nunca deixava de fazer suas visitas àquela casa.

– Não, não, ele só voa daqui para as árvores do nosso quintal. – Edcarlos comentou, ao terminar a janta.

– Sorte nossa, que temos um passarinho bonitinho nos fazendo companhia por vontade própria. – Noelle entregava os pratos para Edcarlos, que os levava à pia.

Numa noite em que foram dormir mais cedo, o sabiá estava de prontidão na janela do quarto, ora cantarolava, ora dava seus passinhos pelo batente.

– Ele está me olhando. – Edcarlos reclamou.

– Pelo amor de Deus, deixa esse passarinho em paz e continua fazendo o que você parou.

– Ãhn?

– Sexo, Edcarlos.

O casal voltou à sua atividade libidinosa e Edcarlos finalmente ignorou o sabiá em sua janela.

Em seguida, o pássaro voou de volta para a mangueira, onde passava suas noites.

O sabiá entrou no pequeno buraco no tronco da árvore, num espaço oco. Colocou seus óculos, puxou a cadeira para perto da escrivaninha, e acendeu um cigarro.

Pigarreou antes de começar a datilografar em sua máquina de escrever:

“Capítulo 28 – A vida sexual dos Medeiros”

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