8 dicas para criar descrições

Descrição na medida certa. É o que almeja todo escritor que pretende colocar o leitor dentro da história, sem fazê-lo bocejar.

Trago minha tradução para este artigo sobre o assunto, o link para o original se encontra no final:

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Quando for descrever, mais não necessariamente é melhor.
Quando for descrever, mais não necessariamente é melhor.

Seu personagem adentra uma sala, e você quer que seu público consiga ver cada detalhe, bem do jeito que está na sua cabeça. Leitores querem isso, certo? Você costuma ouvir as pessoas falando em como elas amam ler porque sentem como se estivessem dentro da história.

A tentação é de colocar seu personagem andando numa cena e notando todos os detalhes. As cortinas douradas. O telefone de discar. O cesto de lixo transbordando. O tapete felpudo. O sofá cor-de-rosa com um cadáver em cima.
Descrever é ótimo, mas grandes porções disso vão deixar sua história arrastada. Mesmo que você não esteja escrevendo uma trama acelerada, pausar para descrever cada novo detalhe cansará seu leitor.

Então como um escritor pode prover detalhes suficientes ao leitor, para fazê-lo sentir-se lá? Sem que ele sinta como se tivesse pressionado o botão de pausar da sua história?

  1. O fator POV do personagem. (POV: point of view, ponto de vista)

Quem é essa pessoa? É um homem ou uma mulher? Quais seus interesses?

Diferentes pessoas notam diferentes detalhes. Se um grupo caminhar na minha sala de estar, um pode notar os brinquedos dos gatos pelo chão, outro notaria a grande quantidade de filmes em cima do rack, e ainda um outro pode primeiramente perceber a grande TV.

Outra forma divertida de descrever é pensar através do ponto de vista das inseguranças do personagem. Vamos voltar à minha sala de estar. Um casal que acabou de sofrer a perda de um animal de estimação, pode primeiramente perceber os pratinhos dos meus gatos, os brinquedos, o bebedouro. Já uma pessoa que também tem gatos pode nem perceber estes itens, porque sua casa é similar.

  1. Comece com um ou dois detalhes únicos, ou uma impressão geral.

Quando você anda por uma sala, você não absorve todos os detalhes de uma vez. Ao invés disso, alguns detalhes irão saltar aos olhos. A cor das paredes, o grande piano, ou o tapete tão branco que você tem até medo de pisar nele.

Outra técnica que você pode usar (por si só ou com alguns detalhes específicos) é uma impressão geral. Lembro de um livro em que o personagem caminhava pela casa em que havia crescido e a descrevia como ‘acidentalmente retrô’. Com apenas estas duas palavras, minha imaginação conjecturou um monte de vasos e potes cor de abacate com flores laranja estampadas. O que nos leva à próxima sugestão:

  1. Não seja mandão.

Dê ao seu leitor um pouco de liberdade para imaginar as coisas do jeito que ele quiser. Talvez quando aquela autora descreveu a decoração da casa como acidentalmente retrô, ela estava pensando em um tapete dourado pendurado por hastes metálicas na parede. Mas isso precisa ser assim tão particular? A imagem em minha mente precisa ser igual à dela? Não.

Se você quer descrever um campo de flores, a sua variedade de flores não precisa necessariamente combinar com a do leitor. Leitores apreciam uma boa descrição, mas também adoram a liberdade de usar sua imaginação. (Nota: minha avó tem 88 anos e é uma leitora inveterada, uma vez ela me disse “Eu não gosto quando colocam a foto do homem nas capas dos livros. Eles são muito melhores dentro da minha mente.”)

  1. Não perca tempo com um monte de detalhes que não importam.

Se essa será a única vez que o leitor estará nesta locação, não o chateie com todos os detalhes de como este lugar é. A mesma coisa para os outros personagens. Não precisamos de quatro linhas sobre como a secretária se parece se ela nunca mais será vista após essa cena. Agora, se depois na história ela aparecer novamente, de forma substancial, então essas linhas descritivas serão úteis.

Quando você repassa um monte de detalhes sobre alguma coisa, você está dizendo ao leitor, “isto é importante, eu estou me dedicando em descrever para você por algum motivo.” Então tenha certeza que você só dará descrições detalhadas quando for importante.

 

  1. Use descrição para plantar o vaso.

A certa altura você diz numa cena que um personagem vai pegar um vaso e atirar na parede. Então o vaso precisa ser mencionado quando você descrever a sala.

Ou num momento da sua história a personagem será atirada num buraco mas irá escapar porque ela tem um pedaço de corda em sua bolsa. Então mais cedo naquele dia, eu sugiro que seu personagem tenha notado que sua bolsa estava uma bagunça. Chicletes antigos, caixas de fósforos, e inclusive a corda que ela usou para amarrar sua mala semana passada, quando a trava quebrou. Caso contrário ficará muito conveniente e artificial para seu leitor.

 

  1. Use a combinação de ação com substantivos específicos.

Não faça seu personagem apenas sentar num sofá. Ao invés disso, o faça se atirar numa chase vermelha de couro.

Não os faça apenas escalar uma cerca. Os faça pular por uma cerca branca de madeira.

Ou não os mande simplesmente correr pelos quintais da vizinhança. Faça-os atropelar os lírios premiados do Sr. Hemsworth.

Quando você emparelha ação com descrição, você é capaz de descrever um detalhe único do mundo da sua história sem ter que pausá-la.

 

  1. Use opiniões para fazer descrições importantes de cabelos/olhos e roupas.

Ao invés de dizer “Jenna usava uma camisa de gola alta marrom e jeans, os cabelos eram vermelhos e os brincos grandes.”

Você pode usar: “Jenna, como sempre, fazia sua própria moda peculiar, com um jeans escuro demais e aquela blusa marrom de gola alta estranha. Prendia os cabelos vermelhos num rabo de cavalo, quando seus olhos verdes encontraram com os meus através da sala.

 

  1. Se é seu primeiro rascunho, não fique obcecado em fazer a descrição perfeita.

Descrição é algo mais fácil de acertar durante a edição, então não se preocupe tanto em fazer descrições elaboradas e perfeitas enquanto monta sua obra, isso pode ser adicionado depois.

Link para o texto original, em inglês.

10 comentários Adicione o seu
  1. Hum… Interessante ler isso e pensar nas descrições lidas ao longo da minha vida de leitora e perceber como as mais sutis (incluídas na narrativa, quase "invisíveis") foram as mais interessantes!

  2. Oieeee,
    saudades desse cantinho!
    Adorei as dicas!!Realmente detalhar o texto inteiro deixa o memso poluido demais e nao deixe o leitor livre pra imaginar,fantasear.E bom dar uma ideia da cena..
    N gosto qndo descrevem o personagem parecendo texto de 4 serie..rsrs.Prefiro q faca e mondo indireto.
    Imaginar e o melhor,pq se for pra o escritor dizer como tenho q ver,entao eu vejo tv e n vou ler um livro,ne??
    Show de bola,como sempre!E repito qamo sua dedicacao a escrita,sempre buscando melhorar e aplicar o que aprende!:)
    Beijooooo grande!!

    1. O que seria de mim sem seu apoio moral? Falo sério, tá pra nascer alguém que me dê o gás que você me dá.
      Eu não poderia concordar mais quando vc fala que se for para o escritor ditar como o leitor deve imaginar, então melhor ver TV. Eu já havia mencionado isso aqui no blog antes, o leitor não quer ser tratado como um tapado, ele quer ter liberdade para imaginar e deduzir.
      Ponto para a Lai.

  3. Exato, essas dicas servem para todo tipo de escrita, inclusive as não-ficção, e tem umas dicas que servem até mesmo para um e-mail que vc responde ao cliente ou ao chefe. É dica de escrita de forma geral, somos todos escritores de uma forma ou de outra.

  4. Cara, essas técnicas são espetaculares e me ajudaram bastante na correção do meu livro que sairá em breve! Filhos da alva a origem da guerra, aguardem…

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