Capítulo 76 – Asséptico

Capítulo 76 – Asséptico

 

– Vou pedir para um helicóptero te levar para casa. – Stefan disse em seu escritório, após Theo queixar-se de dores de cabeça.

– Não precisa, Sam vai passar aqui mais tarde para me levar para casa. E eu evito voar nessas coisas.

– Desenvolveu fobia? Você não tinha medo. – Stefan argumentou.

– Deve ter sido o acidente que sofri com um ultracóptero, não confio mais nessas coisas.

– Eu já estava indo embora, posso te levar de carro. – Virginia se ofereceu, estava sentada sobre a mesa de Stefan.

– Você vai ter que se desviar do caminho de sua casa.

– Não é muito. Vamos, só vou pegar meu casaco e bolsa.

– Meninas, cuidado na rua, Mike continua foragido. – Stefan as advertiu.

– Meu carro é seguro, querido. – Virginia o beijou rapidamente.

Theo ergueu-se devagar do sofá. Empertigou-se em sua moderna muleta branca e seguiu Virginia.

No trajeto já no carro, conversavam distraidamente sobre amenidades, quando Theo percebeu que ela não estava fazendo o caminho para a mansão de vidro. Apesar do estranhamento, julgou ser apenas algum caminho alternativo, não comentando nada.

Após o veículo embrenhar-se por uma estrada estreita feita apenas de subidas, Theo finalmente a questionou.

– Vi, para onde estamos indo? Estamos subindo algum morro?

– Estamos indo para um lugar tranquilo.

Theo olhava já com certa tensão pelas janelas do carro, tentando reconhecer o local.

– Mas você disse que me levaria para casa. Que lugar é esse?

– Só quero conversar a sós com você. – Respondeu tranquilamente, contrastando com o nervosismo da herdeira.

– Podemos conversar na minha casa, a sós, ninguém vai se intrometer.

– Não, prefiro outro lugar.

Theo enfiou a mão dentro de seu casaco, Virginia segurou seu punho.

– Me empresta seu comunicador? – A advogada pediu após soltar seu braço. – Não quero machucar você.

– Por que você me machucaria? Eu fiz algo a você?

Virginia estendeu a mão.

– Seu comunicador.

Theo lhe entregou o aparelho. Virginia colocou o carro no piloto automático e pediu que ela desbloqueasse o aparelho.

– Você vai ligar para alguém? – Theo perguntou já em pânico.

– Não. – Com o toque dos dedos deu alguns comandos na tela. – Apenas desliguei o rastreamento.

– O que você vai fazer?

– Aqui, chegamos.

Estacionou o carro no alto de um mirante abandonado, com densa vegetação em ambos os lados. Era inverno e o sol começava a baixar.

– E agora? – Theo perguntou temerosa.

Virginia não respondeu, guardou o comunicador na porta ao seu lado e travou as portas do carro, o clique das travas aumentou a tensão.

– Por que você está fazendo isso?

– Eu esperei por essa conversa por muitos anos.

– Vi, escute. Eu não sei quem você é, juro que sequer faço ideia. Se te fiz algo no passado, me perdoe, eu curtia umas noitadas de vez em quando e não me recordo de um monte de coisas.

Virginia a encarou com um sorriso.

– Você está achando que fui algum casinho do seu passado?

– Ãhn… Sei lá, eu sempre gostei de mulheres mais maduras.

– Não, nosso contato é mais antigo.

– Só me responda uma coisa, antes que eu tenha uma convulsão.

– O que?

– Mike vai entrar nesse carro a qualquer momento?

– Espero que não. Você vai ter uma convulsão? Me deixe ver suas mãos.

Theo lhe estendeu as mãos abertas, tremiam um pouco.

– Acalme-se, eu só quero conversar com você.

– Sou toda ouvidos. – Theo respirou fundo várias vezes, tentando dissipar os tremores e nervosismo.

– Eu não sei o que Benjamin disse a você, mas eu acho que sou sua mãe.

– Que?

– É mais do que uma suspeita, eu simplesmente sei disso.

– Minha mãe? Não, minha mãe se chama Imogen, ela é a mãe da Theodora original, então consequentemente ela também é a minha.

– Eu sei disso, eu sei que Imogen é a mãe biológica de todas as clones, mas eu dei a luz a você.

– Não deu não.

– Eu fui uma das barrigas de aluguel.

– Foi? – Theo a fitou espantada e boquiaberta. – É por isso que você já sabia de tudo?

– Sim, eu fui uma das quatorze mães, e foi você que eu carreguei no meu ventre. – Virginia havia abandonado a postura calma e fria, falava agora emocionada.

Theo a encarava ainda mais confusa, parte pelo cérebro disfuncional, parte pela confusão de informações que se desenrolava à sua frente.

– Virginia… Acho que você está equivocada.

– Eu esperei por esse momento por anos. – Ajeitou-se no banco, ficando de frente para Theo. – Seu parto foi complicado, não consegui engravidar de novo depois de dar à luz, e por todo esse tempo mantive a esperança de te reencontrar e me aproximar. Quando aconteceu toda essa reviravolta, com você ressurgindo dois anos depois de ter sido dada como morta, minha esperança se reacendeu, e quando soube que você estava sem sua fortuna e vulnerável, enxerguei a oportunidade perfeita de entrar na sua vida.

– Você deu à luz a outra clone, não foi a mim. – Theo falava com cuidado para não ferir os sentimentos dela.

– Theo, eu sei que é você, eu sinto isso há muito tempo. Você é minha filha, eu tive você dentro de mim por nove meses, criamos um vínculo maternal, eu sinto esse vínculo. – Dizia com olhos marejados.

– Minha barriga foi minha própria mãe, é tudo que sei.

– Essa informação deve estar errada.

– Meu pai me contou isso, e obviamente não confio nele, mas depois encontramos aquele flash drive com informações sobre o projeto de clonagem, e haviam planilhas ali, detalhando tudo, com números e nomes.

– Meu nome deve estar lá, mas com o sobrenome da minha mãe.

– Deve estar, eu não prestei atenção aos nomes das outras mães. Mas está tudo claro ali, no relatório final. Eu sou a treze, minha mãe foi a treze.

– Como tem certeza?

– A treze foi a única clone que saiu daquele laboratório com condições de ter uma vida normal. Você deve ser outro número, você sabe seu número?

– Não, mas essa numeração pode ser para outros fins.

– Foi o único sistema de identificação durante todo o processo, os clones e as barrigas receberam o mesmo número. Imogen era a treze, e a criança treze foi levada para casa, para ocupar o lugar da criança falecida, foi o único clone que vingou.

Virginia a encarou em silêncio por um instante, a emoção dava lugar à decepção agora.

– Então minha filha está morta?

– Ou dentro de um tubo.

– Você herdou essa frieza de Benjamin?

– Me desculpe. – Theo respondeu constrangida. – Sei que você alimentou essa esperança por anos e estou jogando um balde de água fria… Eu sinto muito.

Virginia endireitou-se no banco, fitando o volante.

– Então esse vínculo era ilusão minha. Que tolice… – Virginia disse enxugando rapidamente os olhos.

– Mas nós criamos um vínculo. – Theo disse pousando sua mão sobre a dela. – Passamos os últimos seis meses convivendo quase diariamente, você me ajudou tanto, largou tudo para ficar com a gente na Sibéria, se preocupando comigo, cuidando de mim. Eu me afeiçoei a você, não da forma que você esperava talvez, mas criamos outro tipo de vínculo.

– Foi uma mentira que me levou até você.

– A essa altura, acho que isso não importa. Você conseguiu a aproximação que queria, ganhou minha confiança, e eu ganhei você.

– Eu também me afeiçoei a você. – Estendeu os braços sobre o volante. – Eu queria que você fosse minha filha, desejei tanto isso… Eu segurei o bebê nos meus braços quando nasceu, apesar da ordem de não permitir o contato. Eu pude senti-la no meu colo por alguns instantes antes de a levarem…

– Eu adoraria ter sido sua filha. – Theo lhe afagou as costas, Virginia voltou a sentar-se normalmente.

– Foi tão difícil… Ficou um vazio na minha vida depois disso.

– Você se tornou infértil?

– Os médicos dizem que não tenho problema algum, mas nunca engravidei.

– Stefan está louco para ter um filho, por que vocês não procuram um médico?

Virginia a encarou com desânimo.

– Acho que não daria certo.

– Você tem apenas 42 anos, e de qualquer forma, tem tantas crianças esperando para serem adotadas.

– Não sei…

– Você vai se afastar de mim? – Theo perguntou.

– Prefere que eu me afaste?

– Não, eu gostaria que você permanecesse na minha vida. – Foi a vez de Theo baixar a cabeça entristecida. – Minha mãe se foi há tanto tempo, eu já tinha esquecido como é bom ter esse cuidado maternal que você tem por mim.

– Nada mudará, prometo.

Theo esboçou um sorriso, e teve uma ideia.

– Quer saber qual seu número?

– Você tem como conseguir isso agora?

– Eu tenho como acessar os arquivos.

– Quero.

– Você pode devolver meu comunicador?

Virginia balançou a cabeça concordando, e devolveu o aparelho. Minutos depois Theo encontrara a informação.

– Três. Você foi a três.

– A clone três está no tubo ou morta?

– Não sei, no relatório final diz que todas as outras clones foram colocadas nos cilindros de biopreservação, mas eu sei que algumas morreram depois, porque só tem cinco no laboratório.

– Tem certeza que as outras morreram?

– O que você quer dizer?

– Você leu em algum lugar que elas morreram?

– Não, mas elas morreram, elas não estão nos tubos.

– E se foram tiradas dos tubos porque tinham condições de vida?

Theo lhe fitou abismada com a possibilidade, sentiu um arrepio gelado.

– Eu nunca pensei nessa possibilidade, Vi.

– Existe alguma chance de ser verdade?

– Meu Deus… Existe. – Theo disse ainda em choque. – Talvez outras sete clones estejam por aí.

– Quem teria essa informação?

– Meu pai, mas ele já bateu as botas.

– Talvez outras pessoas que participaram do projeto.

– Eu não faço ideia. – Esfregou o rosto e enfiou as mãos por baixo dos cabelos. – Eu tinha certeza que era a única em atividade, mas você acabou de plantar essa dúvida na minha cabeça.

– Theo, eu preciso saber se a três está nos tubos, preciso que você me leve ao laboratório.

– Mas fica numa ilha no Paraná.

– Você tem acesso?

– Tenho.

– Então vamos.

– Agora?

– É.

Theo hesitou antes de respondê-la.

– Só se eu puder levar Samantha.

***

Duas horas depois o quarteto caminhava já dentro das instalações do laboratório na Ilha das Peças, não havia mais funcionários por ali. Stefan e Samantha acompanhavam a dupla inicial, dois seguranças seguiam logo atrás.

– Que dejavu. – Sam resmungou, caminhava segurando firmemente a mão da esposa.

– Mas da outra vez você estava mancando, não eu.

– Virginia, porque você inventou de levar Theo para a Serra da Cantareira? – Sam trovejou.

– Para conversar.

– Nunca mais faça isso, ok?

– Já nos entendemos. – Theo colocou panos quentes.

– É nessa porta? – Stefan perguntou ao ver uma porta cheia de travas eletrônicas.

– Sim, mas é numa sala dentro desta sala. – Sam respondeu e pediu que os seguranças ficassem ali.

Entraram no primeiro ambiente, e continuava sendo um laboratório comum, Sam apontou a porta com uma grande trava redonda.

– É ali. – Sam indicou. – Amor, deixe eles entrarem, você fica aqui fora comigo.

– Não, eu vou entrar também.

– Acho melhor você não ver os tubos.

– Eu quero ver, não vou convulsionar, prometo.

Stefan girou a trava e todos entraram naquele ambiente ainda mais frio que o anterior. Nada havia mudado desde a visita 18 meses antes, os cinco tubos envidraçados continuavam mantendo cinco cópias nuas de Theo em seu interior.

Theo parou o passo, olhando de forma curiosa e perplexa para suas iguais. Sob o olhar atento de Sam, aproximou-se da primeira, pousando a mão no vidro como se tentasse se comunicar ou estabelecer uma ligação.

– Que maldade fizeram com vocês… – Disse baixinho, a encarando. – Com todas nós.

Sam emparelhou-se com ela, colocou a mão em sua cintura e deu um longo beijo em seu ombro descoberto.

– Está na hora delas descansaram, Sam. – Theo disse, ainda lançando um olhar sofrido para a mulher inconsciente no cilindro.

– Sim.

– Poderia ser eu ali dentro. Não faria diferença alguma. – Disse com os olhos molhados, tentando não chorar.

– E privar o mundo da sua existência? Você está aqui por algum propósito.

– Meu pai não nos via como pessoas, éramos números em um projeto monstruoso, ele nunca me viu como filha. Sou apenas mais um rato de laboratório, assim como elas.

– Você está dizendo que casei com um rato de laboratório? Não é o que me parece. – Sam argumentou.

Theo a fitou por um instante, voltando a olhar para o tubo.

– Um dia vão acabar descobrindo que sou um clone.

– Se este dia chegar, você estará cercada por pessoas que irão te proteger e te defender.

A herdeira virou-se na direção de Sam.

– Eu sou uma delas.

– Eu sei, mas você é a única do lado de cá, e isso faz toda a diferença. Não adianta você ficar falando que não é alguém, que não é uma pessoa, isso não tira a responsabilidade de suas costas.

– Qual responsabilidade?

– De ser a pessoa mais importante da minha vida.

Uma lágrima furtiva terminou por cair em seu rosto, abraçou Sam, deitando a cabeça em seu pescoço.

– Queria poder ter feito algo, elas não deveriam ter passado por isso.

– Vamos fazer a coisa certa, vamos dar um final respeitoso a elas.

Theo a encarou.

– Vou trazer uma equipe médica para a eutanásia, e quero que sejam cremadas como qualquer outra pessoa, darei pessoalmente um fim digno aos restos mortais delas.

– Vai jogar no mar da Baía, como fizemos com Igor?

– Não, elas não tiveram a mesma oportunidade que eu tive, elas nunca foram para a mansão de vidro, elas descansarão lá.

– É justo.

Virginia as abordou, sua decepção era perceptível.

– Está tudo bem, Theo?

– Sim, eu precisava passar por isso. E você? Encontrou a número três?

– Não, ela não é uma das cinco. Eu e Stef procuramos por registros, flash drives, documentos, mas não tem nada aqui.

– Eu sinto muito, Vi. – Sam lamentou.

– Ela não deve ter resistido, de certa forma acho até que teve sorte, não precisou passar por isso. – A advogada disse apontando para os cilindros.

– Essa teoria de que talvez as outras sete sobreviveram é absurda. – Sam comentou.

– Absurda, mas não impossível. – Theo retrucou.

– Elas devem ter morrido logo nos primeiros dias, os relatórios são claros, elas tinham muitos problemas.

– Eu também, quase me jogaram no lixo.

– Você já nasceu lutando, você é especial.

– Isso foi fofo, obrigada. Bom, não vou correr atrás disso agora, meu foco agora é finalizar esse projeto do meu pai.

– Eu também acho que as outras sete morreram já no início, preciso me acostumar com a ideia de que a filha que idealizei não existe, e tocar minha vida. – Virginia disse com sobriedade.

– Podemos tentar ter um filho. – Stefan se aproximou dela, falando com carinho e trazendo sorrisos.

– Podemos sim.

– Eu já pesquisei algumas clínicas, posso passar os contatos para vocês. – Theo disse.

– Pesquisou? – Sam perguntou curiosa.

– Pesquisei. – Theo sorriu arteiramente. – Os planos continuam de pé.

– Acho que não temos mais nada para ver aqui. – Stefan disse.

– Já podemos ir. – Theo concordou. – Mas voltarei com os médicos, quero acompanhar tudo.

– Médicos? – Virginia indagou.

– Para a eutanásia.

– Tem certeza?

– Tenho sim, é hora do descanso.

– Theo, já que elas são idênticas a você, porque não faz um transplante de mão? – Sam sugeriu.

***

Quatro dias depois Theo passara o dia no laboratório na Ilha das Peças, acompanhando uma equipe médica. Sam atendeu seu pedido e não a acompanhou, a encontrou à noite já em um hospital em San Paolo, aguardava ao lado da cama hospitalar que Theo finalmente acordasse.

Próximo da meia-noite o efeito dos sedativos e anestesia dissipavam-se, e Theo acordou, chamando por Sam, que cochilava no sofá.

– Oi, amor. – Sam aproximou-se. – Acordou agora?

– Não, estou olhando você dormir há duas horas. – Disse com a voz grogue.

– Sério?

– Não, acordei agora.

– Está tudo bem? Sente algo? – Sam disse acariciando seus cabelos.

– Sede. Deu tudo certo?

Sam buscou água e um copo, respondeu enquanto o enchia.

– Deu sim, agora é só torcer para seu corpo não rejeitar a mão.

Theo olhou para sua mão esquerda, além de enfaixada haviam aparatos metálicos mantendo a união das partes e ossos.

– A água. – Sam lhe estendeu o copo.

Bebeu a água e voltou a deitar com sonolência.

– Me convença que eu fiz a coisa certa. – Theo pediu, de olhos fechados.

Sam sentou na cadeira ao lado do leito, tomou a mão dela e levou até seu rosto.

– Você interrompeu um abuso que elas sofriam há 23 anos, finalmente elas estão livres, suas almas podem descansar agora.

– Eu estava errada toda vez que falei que eu não era uma pessoa. Eu sou, elas também são pessoas. – Theo abriu os olhos e virou o rosto na direção de Sam.

– Tentaram tirar a humanidade de vocês, mas não conseguiram.

– Meu Deus… Foi um dia horrível… – Theo voltou a olhar para cima, com um suspiro triste. – Foi uma das coisas mais tristes que já vi.

– Se arrepende de ter ido?

– Não, eu precisava estar lá. Eu estive ao lado delas no momento final, acompanhei cada uma, cada morte. – Theo parou de falar ao sentir um nó na garganta.

– Descanse, amor.

– Eu segurei a mão delas, uma por uma. Elas não morreram sozinhas num laboratório frio e asséptico, eu estava com elas quando aplicavam o sedativo, estava quando aplicavam a substância que causava a parada cardíaca, e segurava sua mão até o monitor cardíaco se calar. – Theo dizia emocionada.

Sam apenas a ouvia, respeitando seu momento.

– Parecia que eu estava acompanhando tudo num espelho, eu me vi morrer cinco vezes hoje. A última, a onze, ela agonizou. Foi apenas um suspiro, mas era alguém morrendo, alguém igual a mim.

Sam ergueu-se da cadeira, tirou o tênis e o casaco, levantou o cobertor e deitou ao lado de Theo, a abraçando.

– E tomei a mão de uma delas para mim. – Terminou, correspondendo ao abraço da esposa.

– A jornada delas terminou, mas a sua ainda não. Sua qualidade de vida vai aumentar com esse transplante, sua prótese estava cada vez mais disfuncional.

– Sam, eu decidi uma coisa. Eu voltarei a participar da Resistência, voltarei para a célula azul.

– Por que?

– Quero erradicar o Beta-E e qualquer coisa semelhante, e quero criar um antídoto para o Beta-E, para quem foi vacinado com essa coisa.

Sam levou alguns segundos assimilando os novos planos de Theo, e concordou.

– A Archer é sua novamente, você tem meios para isso. Eu apenas peço que não coloque sua cabeça a prêmio, porque a Falange deve estar trabalhando no projeto de Beta-E que Elias estava envolvido.

– Ficarei no anonimato, apenas darei todo o apoio necessário à Resistência.

– Por favor, se mantenha viva.

– Não posso me virar por causa da mão, suba em mim, oficial.

Sam se ajeitou com cuidado projetando-se sobre Theo.

– Teremos uma longa vida juntas, fique tranquila. – Theo disse correndo seus dedos pelo rosto da soldado.

***

– Adeus, comunicador. – Theo exibia para Stefan e Virginia sua nova mão. Na palma da mão, por baixo da pele, havia um implante eletrônico, que projetava uma tela acima de sua mão.

– Isso foi implantado aí antes ou depois de transplantar? – Virginia perguntou, ambas estavam sentadas num sofá na sala de Stefan na Archer, dias após a cirurgia.

– Antes. Veja, eu posso ampliar a tela, ou colocar em outro lugar. – Theo disse com a mão aberta, jogando a imagem ampliada para que todos vissem.

– Como você carrega?

– Basta eu repousar a mão sobre um painel recarregador por cinco minutos, e pronto, tenho dez dias de autonomia.

– Sam tem algo parecido, não?

– Mais ou menos, ela só consegue projetar sua insígnia militar, isso fez parte do update que fizeram nela.

– Por falar em Sam, ela já não deveria estar aqui? – Stefan perguntou.

– E verdade. – Theo consultou as horas. – Ela já deveria ter passado aqui para me buscar.

– Ela não avisou que se atrasaria? – Virginia perguntou.

– Não está atendendo nem vendo as mensagens. – Theo constatou após tentar contato.

– Onde ela se enfiou?

 

Asséptico: adj.: É a designação dada aos processos destinados a evitar a contaminação de microorganismos. Estéril.

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