Capítulo 71 – Bon vivant

Capítulo 71 – Bon vivant

 

A bon-vivant Theodora Archer era o clássico exemplo da herdeira que queria curtir a vida. Se dedicava à faculdade, ao basquete e aos amigos, mas não se importava em torrar pequenas fortunas em sua diversão, nem media consequências quando se envolvia com as mulheres. Depois de um primeiro namoro pouco ortodoxo e repleto de extravagâncias, com uma também herdeira vinte anos mais velha, passou a lidar com a vida amorosa do mesmo jeito que lidava com sua vida financeira: excessos desmedidos.

Nunca mais teve um relacionamento monogâmico, nunca estava com uma pessoa apenas, mesmo quando namorava Letícia. Declarava aos quatro ventos que não nascera para essa vida careta, ficava com várias e não se importava que suas parceiras fizessem o mesmo, ciúmes era verbete inexistente em seu vocabulário.

Até conhecer Samantha.

Antes de entrar no quarto as imagens vistas nas fotos rondaram mais uma vez sua mente, lhe trazendo um sentimento intenso de tristeza, daqueles que latejam na alma. Raramente demonstrava algum ciúme de sua namorada, mas sempre lhe doía profundamente imaginá-la com outra pessoa.

– Até que enfim, amor! Estava preocupada, você demorou. – Sam disse já na direção de Theo, a abraçando após um beijo.

– Desculpe o atraso. – Theo disse num tom monocórdico, correspondeu sem animação ao abraço.

– Está tudo bem? – Sam percebeu algo de errado.

– Sim, eu perdi meu ponto, tive que andar um bocado para chegar aqui.

Largou a mochila numa poltrona e tirou o casaco vermelho, evitava olhar para Sam.

– Por que não me ligou? Eu daria um jeito de te buscar, a filha de Michelle me emprestou o carro para sairmos para jantar hoje.

– Já cheguei.

– Eu estava entrando no banho quando você chegou, vou tomar um banho rapidinho, tá bom?

– Tá.

Theo ficou de pé em frente a cama pensando no que faria a seguir, com um olhar desolado para a mochila. Tomou as fotos de dentro, tirou o tênis e sentou-se na cama, recostando-se na cabeceira.

Assim que Sam saiu do banho num roupão, questionou novamente seu semblante abatido.

– O que você tem, meu anjo?

– Cansaço.

Sam vestiu uma calça jeans e o sutiã negro, procurava em sua mala por uma camisa, Theo acompanhava tudo.

– Sam?

– Oi?

– Você gostaria de me contar algo?

– Que eu saiba não, do que você está falando?

– Não tem nada que eu deveria saber e você não me contou?

Sam ergueu-se a fitando, com a camisa verde musgo em mãos.

– Eu não sei do que você está falando, amor. É alguma dúvida sobre o quartel?

Theo respirou devagar, tentando se manter calma.

– Tem alguma coisa que aconteceu na prisão que você talvez tenha esquecido de me contar?

Sam ainda não percebera o que estava acontecendo, vestiu a camisa e fechava os botões pensativa.

– Acho que não.

– Talvez uma namorada russa.

– Ah não, esse boato de novo? Você tem que parar de dar ouvidos para essa imprensa marrom.

– Não precisa mais mentir, eu descobri.

Sam sentiu um tremor subir em seu corpo, finalmente se dava conta que estava encrencada.

Hesitou antes de falar algo, ainda temia ser algum blefe.

– O que disseram a você? – Sam perguntou.

– O que você deveria ter me contado há muito tempo. Você realmente tinha uma namorada dentro da prisão? Namorada de verdade?

– Foi isso que contaram a você?

– Teve ou não teve, Samantha?? – Theo subiu a voz, perdendo a paciência.

Sam sentiu a garganta se fechar e precisou de um esforço para pronunciar as palavras.

– Sim, mas não do jeito que você está imaginando.

– Eu não estou imaginando nada, nem precisei exercitar minha criatividade. – Theo disse e jogou as fotos sobre o edredom da cama, as espalhando.

Sam tateou as fotos afoitamente, mal acreditando no que estava vendo e com uma expressão apavorada.

– Vai negar que é você nas fotos? Ou quem sabe um clone seu? – Theo disse com sarcasmo, continuava sentada na cama controlando os sintomas negativos que teimavam em surgir.

– Sim, sou eu. Mas não é o que parece, me deixe explicar, por favor. – Sam implorava já às lágrimas.

– Não estou te impedindo de explicar. Inclusive estou curiosa para saber como aconteceu esse belo beijo apaixonado. – Theo disse erguendo uma das fotos.

– Não tem nada de paixão ali, eu fui obrigada a me relacionar com essa garota, era questão de vida ou morte, eu juro, Theo, eu juro por tudo que é sagrado!

– Quem foi a pessoa malvada que forçou você a namorar alguém?

– O grupo da máfia russa, tinha um grupo enorme lá do pessoal da Bratva, essa garota é filha de um dos chefes, ela me escolheu como namorada e não pude fugir, elas me matariam. – Sam falava de pé ao lado da cama, inquieta e chorando.

– Você quer que eu acredite que a máfia obrigou você a se divertir com essa menina?

– Divertir? Pelo amor de Deus, Theo! Você já foi obrigada a fazer o que não queria, você sabe que não tem nada de diversão nisso!

– Você não parece estar sendo violentada nessas fotos.

Sam respirou fundo, passou as mãos pelo rosto e cabelos, sabia que precisava se recompor, precisava fazer Theo acreditar nela.

– Escute, eu fui coagida a participar disso, eu tentei evitar o máximo que pude, apanhei várias vezes, me ameaçaram de morte, diziam que me jogariam para o grupo das nazistas para que elas me matassem, elas sabiam que o Coronel Phillips faria vista grossa se eu morresse. – Sam apontou para as fotos. – Isso não é real, eu estava cumprindo um acordo de sobrevivência, eu nunca senti absolutamente nada por essa menina, eu não quis nada disso.

Theo nada disse, apenas fitava tristemente as fotos sobre a cama.

– Por favor, acredita em mim, eu nunca te trairia. – Sam insistiu.

– Não de novo, não é?

– Eu não seria estúpida de arruinar tudo por conta própria, você sabe que eu te amo, sabe que é a razão da minha vida. – Sam voltou a chorar. – Eu nunca te desrespeitaria dessa forma.

– Então… Enquanto eu estava me fodendo para te tirar da prisão, você estava se dividindo entre transar com uma garotinha russa e jogar basquete.

– Eu não queria… Eu disse não tantas vezes… Mas do jeito que você falou parece que eu estava de férias, e não era nada disso. Minha vida lá dentro foi um inferno do início ao fim, foram os piores dias da minha vida, e eu achei que você entenderia isso.

Theo finalmente ergueu os olhos para fitar sua namorada desesperada.

– Eu acredito em você, eu acredito que você tenha sido forçada a fazer isso, mas sabe o que dói? Você mentiu para mim, e mentiu várias vezes.

Sam suspirou com sofrimento, procurou as palavras, mas não as encontrou.

– Por que nunca me contou? Por que eu tive que ficar sabendo através daquele homem nojento? – Theo dizia com mágoa.

– Que homem nojento?

– Mike, ele me entregou essas fotos. Por que me escondeu isso, Sam?

– Eu queria te proteger disso tudo, você já estava numa situação tão delicada, cheia de problemas, eu sabia que isso te faria mal.

– Mentiras para me proteger?

– Sim, para te poupar.

– E depois que saiu da prisão? Resolveu continuar me poupando?

– Eu só queria esquecer aquilo… – Sam sentou-se na beira da cama, juntou todas as fotos num monte. – Você acha que me sinto bem olhando isso? Eu quis enterrar tudo, tentar esquecer o que eu sentia fazendo aquelas coisas.

– O tempo todo você estava mantendo duas namoradas… E eu nem desconfiava, nunca acreditei em nenhum boato.

– Não foi o tempo todo, durou apenas dois meses, eu consegui me livrar do acordo.

– Como?

– Arranjei uma garota para a Svetlana, uma que gostava dela.

– Svetlana… Agora entendo porque essa garota ficava olhando para mim no salão de visitas… Estava rindo de mim.

– Não, era só curiosidade, eu sei que é difícil de acreditar, mas ela não queria estragar nosso namoro, ela queria que eu fosse feliz com você.

– Trepando com você?

– Era só isso, sexo e demonstração de poder. Ela queria mostrar na prisão que poderia fazer o que quisesse.

– Como vou confiar em você, Sam? – Theo falava com os olhos molhados. – Eu não consigo mais confiar em você.

Sam deslizou um pouco para frente, para mais próximo de Theo.

– Eu menti para não piorar sua situação, e eu estava morrendo de medo de te perder.

– E agora? Como eu vou conviver com alguém que me esconde coisas, que mente? Porra, isso foi uma tremenda falta de respeito… – Theo já chorava, esfregava os olhos. – Por que todo mundo tem que me sacanear? Achei que você fosse diferente.

– Eu não fiz por mal, por favor me perdoe. – Sam tentou tomar sua mão, Theo não permitiu.

– Que droga, Sam! Você sempre faz merda!

– Desculpe. – Sam pedia perdão de cabeça baixa, envergonhada, o que irritava ainda mais Theo.

– Me faça um favor, saia da minha frente, eu vou acabar falando coisas que não quero.

– Pode me xingar.

– Não, eu não quero! Me deixa em paz!

– Eu não quis trair você, por favor me entenda.

– E a porra da mentira?? Tá bom, você não quer sair, eu saio.

Theo levantou da cama, tomou a muleta e um travesseiro ortopédico que Michelle havia lhe comprado, e foi na direção da porta.

– Não, fique aqui, eu saio. – Sam a impediu, segurando seu braço.

– Não toca em mim!

– Fique aqui, eu vou para outro quarto, ou outro lugar.

– Me faça esse favor. E leve suas fotos.

– Você não está bem, deveria tomar o anticonvulsionante.

– Não vou tomar nada, pare de me tratar como criança.

– Então me deixa ficar aqui com você até se acalmar.

– Eu não vou me acalmar olhando para a sua cara, eu estou muito puta da vida com você.

Sam enxugou o rosto e a fitou com uma hesitação sofrida, não queria deixá-la ali sozinha, naquele estado.

– Eu não quis te fazer mal, amor. Tudo que eu fiz foi para te poupar, eu te amo tanto, eu não quero perder você. – Sam chorava aos soluços.

– Me deixa sozinha, por favor. Pegue o que você precisa e me deixa quieta aqui.

– Theo…

– Me deixe assimilar isso, por favor.

Sam tomou seu comunicador e uma muda de roupas. Theo tomou as fotos e entregou para ela.

– Não se preocupe comigo, não vou morrer essa noite nem nada do tipo. – Theo disse.

– Eu viajo amanhã à noitinha, podemos conversar antes?

– Eu não quero conversar com você.

– Posso pelo menos me despedir de você amanhã?

– Não, eu não quero ver sua cara.

– Tudo bem. Quando eu voltar espero que você esteja de cabeça fria e aceite conversar, e que nestes dias em que eu estiver distante você consiga entender o que aconteceu, que fiz tudo isso porque te amo e quero te proteger de tudo e todos. Eu não vou desistir de você, isso não pode separar a gente.

Theo não conseguiu responder, a mágoa atravancou em sua garganta.

– Se precisar de algo, por favor me chame. – Sam disse.

– Eu chamarei.

– Mesmo?

– Eu prometo, só me deixe quieta por um tempo.

Sam subiu as escadas para um cômodo meio escritório, meio quarto. Desabou sobre o sofá cama e permitiu que as lágrimas molhassem travesseiro e edredom. Theo lidou de forma mais prática, tomou alguns remédios, sedativos e anticonvulsionantes, e só depois se permitiu extravasar o que sentia.

Atacou violenta e seguidamente a cômoda com sua muleta, até perder o ar. Quando não pode mais segurar o pranto, sentou-se no chão e chorou. Depois de alguns minutos se deu conta da péssima ideia, parecia uma barata desorientada, tentando se erguer do chão, até finalmente conseguir, após alguns tombos.

Lavou o rosto e se atirou na cama. Pelo sistema de mídia do quarto, ligou para Letícia.

– Você sabia da traição? – Theo foi logo perguntando.

– Theo? Oi? De quem?

– Sam. E a namorada que tinha na prisão.

– Ela te contou?

– Ótimo, você sabia. – Bufou.

– Sim. Eu sinto muito, mas não brigue com a Samantha, ela foi obrigada a fazer aquelas coisas.

– Foi obrigada a mentir?

Silêncio.

– Sinceramente? Eu não sei o que faria na situação dela. Talvez eu também mentisse. – Letícia confessou.

– O caramba que você mentiria!

– Brigou com ela, não foi?

– Briguei.

– Ela está aí agora?

– Não, acho que foi para outro quarto.

– Não pega pesado com ela, tenho certeza que ser obrigada a trair você já foi um belo castigo por tudo.

– Lê, você só consegue enxergar o lado dela? Você gostaria que a Dani mentisse para você, e ainda por cima um assunto sério desses?

– Eu também ficaria bem irada, mas sei lá, é uma situação complicada essa aí de vocês.

– Ela mentiu várias vezes, durante a prisão, e depois também. Ela teve várias chances, mas preferiu manter o teatrinho. Sabe o que isso me faz pensar? Que ela pode ter mentido sobre outras coisas também.

– Não, não coloque minhocas na cabeça, foque nesse problema.

– Quem mais sabe?

– O grupo.

– Que grupo?

– Esse nosso grupinho de apoio.

– Todo mundo??

– É, nós conversávamos sobre tudo.

– Dani, Stef, Virginia, John, Maritza e Michelle. Esqueci alguém?

– Não. Me ouça, ela teve fortes motivos para te esconder, sua saúde estava uma merda, todo dia alguém te juntava do chão babando, saber disso te faria desmoronar mais um pouquinho.

– Eu tinha o direito de saber. – Theo falava num tom magoado, novamente os olhos molhados.

– Foi uma decisão deles, nós achamos que foi o mais prudente.

– Deles quem?

– Sam e Stefan, eu acho.

– Stef… – Riu com deboche. – Me jurou vinte vezes que eram apenas boatos e que eu deveria deixar isso pra lá.

– Eu também fiz isso, Theo. Eu também falei que eram apenas boatos maldosos. Todos nós participamos.

– Que belos amigos confiáveis eu tenho…

– Para você ter uma ideia do quanto isso já deveria ter sido esquecido e enterrado, eu nem lembrava mais. Acho que Sam também não pensava mais nisso. Todos nós enterramos esse assunto, e estava tudo indo bem. A propósito, como descobriu? Sam te contou?

– Mike me contou. E me entregou fotos das duas pombinhas juntas.

– Transando?

– Argh, não.

– Ah bom.

– Eu estou tão puta com tudo isso, Lê. E ainda por cima ter que encarar Mike, aturar aquele desgraçado…

– Por que Mike ainda está vivo? Por que uma bomba não caiu ainda na cabeça dele? Os rebeldes andam fazendo tantos ataques pela cidade, poderiam limpar esse lixo daqui.

– Que lixo? – Theo perguntou confusa.

– Mike.

– O que Mike tem a ver com lixo? Ele se tornou um gari?

– Acho que você teve um apagão. Respire fundo, feche os olhos, tente se recordar dos últimos minutos.

Silêncio.

– Ok, lembrei. Eu estou com tanta vontade de falar umas merdas para a Samantha.

– Então vai lá conversar com ela.

– Não, nada de conversa, eu quero distância dela agora. E tomei umas coisas aqui, já estou tonta, se eu parar de falar é porque capotei.

– Quer que eu vá praí?

– Não, você também mentiu para mim. Todos mentiram.

– Foi por uma boa causa, Theo. Esfrie a cabeça e pense direitinho nisso tudo, não tome decisões agora. – Letícia falava num tom sério. – Não esqueça que nós te amamos, principalmente Sam.

Theo sentiu a garganta fechando, e resolveu encerrar.

– A gente se fala amanhã.

***

Theo acordou um tanto assustada logo cedo, não encontrou Sam na cama e não entendeu o que estava acontecendo. Após uma ligação constrangedora para ela, resolveu sair dali. Tomou um banho e o rumo da casa de Stefan, faltando seus compromissos médicos.

Entre reclamações, resmungos e lapsos, passou a manhã na companhia de seus dois amigos, seguindo depois para o trabalho. Virginia tomou o carro emprestado de Letícia e a levou para o laboratório universitário.

Sam teve uma manhã solitária e angustiante, trancafiada no quarto repleto de estantes. Tivera uma noite péssima, com menos de duas horas de sono, acordara com o telefonema ‘por engano’ de Theo. Não aguentando mais a situação e as recusas de Theo em conversar, à tarde foi para o apartamento que John dividia com Maritza, que estava no trabalho. Ali pelo menos poderia conversar um pouco com seu ex-cunhado.

Um pouco antes de embarcar para a Zona Morta, tentou novamente contato com Theo, que ignorou. Ligou para Letícia.

– Não, não estou com ela, já estou trabalhando. – Letícia ia dizendo. – Sam, enfie a cabeça no trabalho e torça para que esses dez dias passem rápido, e que a mágoa dela também passe.

– Ela está muito brava comigo?

– Magoada. Um pouco brava também.

– Ela está bem?

– Está tendo mais lapsos do que o normal, mas está bem.

– Está na sua casa?

– Não, já voltou para a casa de Michelle.

Sam suspirou com irritação.

– Espero que Michelle não fique sabendo dessa briga.

– Vai acabar descobrindo, mais cedo ou mais tarde.

– Você acha que Theo vai terminar comigo?

– Eu duvido, ela é louca por você. Mas vai ficar um bom tempo chateada.

– Michelle pode se aproveitar desse momento.

– Você confia em Theo?

– Confio.

– Ótimo, continue confiando.

– Eu preciso embarcar agora, posso ligar para você todos os dias para saber de Theo? Ela me bloqueou em tudo.

– Bloqueou? Ela está brava mesmo. Pode, pode me ligar sim.

– Então é mais grave do que você imaginava?

– Eu nunca vi ela bloquear ninguém, acho que ela está mais magoada do que eu imaginava.

– O que eu faço, Lê? – Sam dizia com desespero.

– Embarque logo, cuide da sua vida e do seu trabalho, deixe Theo quieta. Depois você pensa na melhor forma de abordá-la quando voltar.

– Eu vou perdê-la.

– Vai perder o avião, isso sim.

***

– Você chegou cedo, não foi levar Sam no aeroporto? – Michelle perguntou a uma Theo quieta, jantavam juntas.

– Não, não fui.

– Está tudo bem entre vocês? – Michelle ouvira toda a briga pelo sistema interno de monitoramento.

Theo perdeu a fome, largando os talheres na mesa com desânimo.

– Todos vocês sabiam que Sam tinha uma namorada na prisão, e ninguém me contou. Nem você.

– Então finalmente você descobriu… Sim, nós sabíamos, mas pediram que eu não contasse nada, eu apenas segui as orientações. Por mim, eu teria contado.

– Eu fiquei sabendo através de Mike… Ele estava tão feliz com a minha desgraça.

– As coisas não deveriam ter chegado a esse ponto, eu entendo que estavam poupando você, mas Sam deveria ter contado assim que deixou a prisão.

– Eu também acho.

– Era uma decisão que cabia apenas a ela, por isso escolhi não me meter, mas fui contra esconder tudo de você.

– Quem mais foi contra?

– Apenas eu. Querida, coma mais, você mal tocou no prato.

– Estou sem fome.

– E está com uma carinha péssima.

– Estou chateada com isso tudo… Sam pisou na bola. – Theo disse fitando o garfo com o qual brincava sobre a mesa.

– Nada que uma boa conversa não resolva, ligue para ela.

– Não estou a fim.

– Isso vai prejudicar sua saúde, você foi na hidroterapia hoje? E no psicólogo?

– Não.

– Você não parece muito bem, dorme no meu quarto hoje, te faço companhia. – Michelle convidou num tom envolvente.

– Obrigada pela preocupação, mas só quero ficar quieta no meu quarto mesmo. – Theo disse levantando, levou seu prato para a pia e despediu-se.

***

Na noite seguinte Theo teve uma convulsão em seu quarto, logo após sair do banho. Acabou batendo com a cabeça no batente da porta durante a queda. Em segundos, Michelle entrou correndo no quarto e a socorreu, aplicou a injeção em sua perna e a levou para o hospital, preocupada com a pancada logo acima da testa. Apesar do pequeno sangramento, não foi necessário suturar, e ainda naquela noite Theo já estava de volta à casa da senadora.

– Você não deve ficar sozinha hoje, está grogue, mal anda. – Michelle dizia sentada na cama em que Theo lutava para se manter acordada, por conta dos remédios.

– Estou bem, senadora.

– Não parece muito bem. Posso dormir aqui?

 

Bon vivant: francês: Indivíduo jovial e apreciador das coisas boas da vida, que ou aquele que gosta de se divertir acima de tudo.

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