Capítulo 68 – Alteridade
– Muito bonito seu hotel, senadora. – Sam contemplava a antecssala do salão de convenções do hotel onde Michelle estava hospedada, a coletiva aconteceria no salão principal.
– A melhor parte é que me emprestaram o salão de convenções de graça, em troca da marca deles estampada na mesa da coletiva.
– Por que você não deixa meu cabelo em paz? – Ali perto, Theo reclamava com Fibi, que a preparava.
– Só estou tentando ajudar. – A assessora disse já se afastando.
– Eu pareço despenteada?
– Não.
– Ok, desculpe, não quis ser grossa, mas eu estou irritada, então é melhor não encostar em mim.
– O que está irritando você?
– Tudo isso. – Theo respondeu estendendo as mãos espalmada. – Eu odeio esse circo, odeio lidar com esse pessoal. Mas vou me policiar para não descontar em quem não tem nada a ver.
– Por que não toma algo para se acalmar?
– Já tomei, essas coisinhas deixam de me fazer efeito com o tempo.
– Posso ver se Michelle tem algo diferente.
– Não preci… ok. – Antes de terminar a frase, Fibi foi até a senadora.
– Qual medicamento você quer, Theo? – Michelle e Sam se aproximaram dela.
– É melhor que você não tome mais nada por enquanto. – Sam ressalvou.
– Mas eu tenho um bastante eficaz aqui, não muito forte. – Michelle ofereceu.
– Na verdade não preciso de remédios, só quero sair desse polo norte de uma vez e voltar para minha casa. Quer dizer, para sua casa.
– Como assim? – Sam indagou, sem entender.
– Desculpe, eu esqueci de te contar, nós vamos morar na casa da senadora por uns tempos.
– Vamos? Você não conversou nada comigo. – Sam disse com chateação.
Theo fitou Sam e suspirou com pesar.
– Esqueci de falar para você. – Theo disse e desabou numa cadeira que estava próxima. – É temporário.
– Samantha, eu mandei preparar um bom quarto para vocês, lá vocês terão conforto e tranquilidade nestes primeiros dias depois da tormenta. – Michelle explicava, com calma.
Sam a ignorou, e perguntou a Theo.
– Só tínhamos essa opção?
– É nossa melhor opção.
– E a mais segura também. – Michelle completou.
– Talvez eu tenha que trabalhar na Zona Morta, você vai ficar sozinha naquela casa?
– E qual o problema nisso? – Theo respondeu irritada.
– Você poderia ter conversado comigo antes de decidir.
– E você tiraria uma casa do bolso?
– Agora que eu saí da prisão vou reaver a pousada na Baia, teremos de volta o lucro dela.
– Sua irmãzinha não te contou?
– O que?
– Seu pai vendeu sua pousada.
– Ele vendeu?? Ele podia fazer isso?
– Ele tinha uma procuração de plenos poderes. Vendeu e comprou um pequeno prédio em Kent, no nome dele, com metade da grana. A outra metade ele perdeu em apostas de cavalos.
Sam a olhava incrédula, estava contando com essa fonte de renda para se manter com Theo em San Paolo.
– Isso é inacreditável… – Sam se movia com agitação.
– Paciência, a gente vai se virar, ninguém vai morrer de fome.
– Meninas, temos que entrar. – Virginia chegou com uns papeis nas mãos. – Já estão nos aguardando.
– Depois a gente continua esse assunto. – Theo ergueu-se da cadeira com ajuda da muleta. – Vi, por favor me diga que não tem quase ninguém lá.
– Fique tranquila, são poucos, uns dez jornalistas, e um pessoal de audiovisual.
Um entregador uniformizado adentrou a antessala, perguntando por Theo, e lhe entregou uma caixa branca.
– O que tem aí? – Sam perguntou.
– Já te mostro.
Fibi já os esperava no salão, onde um trilho de mesas enfileiradas com cadeiras havia sido arrumado numa espécie de palco baixo. Ela fez a apresentação após todos estarem devidamente sentados.
– Bom dia, meu nome é Fibi e farei a mediação da coletiva. – A ágil assistente de cabelos negros presos dizia de pé ao lado da mesa principal. – Antes de iniciar, gostaria de informar algumas coisas: essa sessão durará no máximo uma hora, vocês poderão fazer qualquer pergunta mencionando inicialmente para quem é direcionada. Apresentem-se quando perguntarem pela primeira vez. Assuntos relacionados a vida privada dos integrantes da bancada não serão respondidas. Eu irei fazer a triagem de todas as perguntas. Alguma dúvida?
Como não houve nenhuma manifestação, ela prosseguiu.
– Aqui na mesa contamos com a senadora Michelle Martin, Theodora Archer, a primeira-tenente Samantha Cooper, e os advogados Stefan Morris e Virginia O’Toole. Gostariam de dizer algo?
Michelle agradeceu a Fibi e apresentou-se rapidamente, citando é claro as eleições e o nome do candidato de seu partido.
– Eu queria falar uma coisa também. – Theo disse em seguida.
– Pois não. – Fibi respondeu.
Ela abriu a caixa branca e tirou um donut de lá. Deu uma mordida, e quando terminou de mastigar, voltou a falar.
– Eu darei uma dessas rosquinhas, com cobertura de chocolate e tudo, para quem fizer a pergunta menos óbvia. E atirarei uma rosquinha na cabeça de quem perguntar algo sobre aquele maldito boato da namorada mafiosa da prisão. – Os jornalistas riram, e ela continuou, séria. – Minhas pernas podem ter perdido a força, mas meu braço direito continua bem forte, então se eu fosse vocês eu não estaria rindo.
Após algumas perguntas óbvias, um repórter fez uma pergunta que irritou a senadora, porém não tirando a diplomacia e simpatia em sua resposta.
– É verdade que você estava bancando todas essas pessoas aqui na Sibéria com dinheiro público?
– Eu espero que isso seja um boato que você tenha acabado de inventar. Mas respondendo seu questionamento, em primeiro lugar, eu não banquei ninguém. Ajudei financeiramente por diversas vezes, paguei os remédios de Theo por todo esse tempo, mas eles não dependeram de meu dinheiro em nenhum momento, eles tinham outros auxílios e rendas. Em segundo lugar: tudo que disponibilizei a eles saiu do meu próprio bolso. Não foi dinheiro público nem dinheiro de campanha eleitoral, foi da minha conta pessoal, cada centavo.
– Por que?
– Por que eu os ajudei?
– Sim.
– Se eu tenho condições de ajudar alguns amigos, então por que não ajudar?
– Theodora irá trabalhar na sua campanha para reeleição a partir de agora?
– É claro que não.
– Irei fazer campanha para ela de graça, se era essa sua dúvida. – Theo completou. – Inclusive já comecei. – Cobriu o microfone e se inclinou para o lado. – Qual seu número mesmo?
– 981. – Michelle respondeu.
– Para senadora na Nova Capital votem 981.
O jornalista sentou-se, um outro então levantou-se.
– Minha pergunta é para Theodora…
– A estrela do dia é a Samantha, que tal fazer umas perguntinhas para ela? – Theo o interrompeu.
– Bom, essa é para você. Eu sei que o grupo Archer quase faliu, mas continua firme em outros segmentos menores. Se você não recuperar a Archer, como vai sobreviver? Você sabe fazer alguma coisa? Pretende trabalhar na Nova Capital?
– Eu sei fazer coisas que deixaria você abismado. Próxima pergunta.
– Pergunta para Samantha. Se você fosse condenada a pelo menos trinta anos de prisão, sem direito a condicional, manteria seu relacionamento mesmo assim?
– Não.
– Por que não?
– Porque seria uma baita atitude egoísta da minha parte, eu não pediria para ela esperar ou estacionar sua vida por minha causa.
– Nós conversamos sobre isso. – Theo se meteu, ambas comiam rosquinhas no momento. – Foi uma decisão tomada em conjunto.
– Pergunta para Samantha, e para os advogados também. Quem de fato esteve por trás das acusações que levaram Samantha a prisão?
– Claire e Mike. – Sam respondeu. – Eles planejaram isso com bastante antecedência, me prender fazia parte do golpe que eles armaram.
– Mas quem mexeu todos os pauzinhos no exército, quem deu entrada no processo, quem juntou todas as acusações, foi o ex-sogrinho dela. – Theo apontou para Sam. – Pai de Mike, o Coronel Phillips, que também infernizou a vida dela dentro da prisão. Por isso que o juiz ordenou que o exército da Europa dê uma perninha mecânica nova e que a reintegrasse ao seu quartel, ele sabia que o exército havia feito merda com ela.
Fibi lançou um olhar assustado para Theo, que o ignorou.
– Minha pergunta é para o casal. Vocês continuam noivas? Pretendem se casar?
– Não. – Theo respondeu.
– Sim. – Sam respondeu ao mesmo tempo, e se entreolharam.
– Não?? – Sam a indagou.
– Sim, continuamos noivas. Não, não acho que seja o momento para pensar em casamento, temos coisas mais urgentes para lidar agora.
– Como o que? – Inflamou o jornalista.
– Arranjar um teto para chamar de nosso, por exemplo.
– Vocês não têm onde ficar?
– Vamos ficar na casa da senadora por enquanto, depois a gente vê.
– Por pouco tempo. – Sam foi logo completando.
A coletiva se estendeu um pouco além do previsto, Theo não atirou nenhuma rosquinha, entregando por fim as restantes para os jornalistas, mas recusou todos os pedidos deles para uma demonstração de afeto ou um beijo na namorada, ela odiava essa exposição da vida íntima.
Um pouco antes da entrevista exclusiva para o canal de Janet, no meio da tarde, Theo estava sentada sobre uma cômoda, no quarto de hotel onde seria realizado o programa. Falava no comunicador com a ex-namorada, negociando as regras e pautas, enquanto Sam conversava de pé com Virginia e Letícia. Michelle e Stefan conversavam sentados nas poltronas vermelhas onde o casal sentaria mais tarde.
– Ela está de mau humor, melhor deixá-la quieta. – Sam disse em voz baixa.
– Com quem ela está discutindo no comunicador?
– Janet.
– Será que é fome? – Virginia perguntou.
– Não, é porque ela odeia lidar com a imprensa. – Letícia disse.
– Por falar em fome. – Sam ia dizendo. – Ela emagreceu, vocês não estavam comendo direito? Faltava comida?
– Não, nunca faltou comida, mas não dava para termos uma alimentação saudável nestas condições. – Virginia esclareceu. – E você sabe que a saúde dela não anda nada bem, não sabe? O último médico que ela visitou quis interná-la, mas ela não aceitou.
– Vocês estão falando de mim? – Theo bradou do alto da sua cômoda.
– Não, de uma outra garota teimosa. – Sam respondeu.
Theo a puxou para perto de si com a muleta.
– O que foi? – Sam perguntou.
– Nada.
– Nada?
– Eu preciso muito de um abraço seu, me dá? – Theo disse estendendo os braços.
Sam lhe atendeu, dando um longo abraço forte e correndo suas mãos pelas costas dela.
– Te dou todos os abraços do mundo, minha vida. – Sam a prendeu carinhosamente.
Theo quis ficar em silêncio por um tempo, com o rosto deitado em seu ombro, apenas sentindo o corpo de Sam respirar no seu. Aquilo a acalmava.
– O mundo está enlouquecendo com tanta tecnologia a serviço da especulação da vida alheia. – Theo resmungou, erguendo a cabeça e fitando a montagem de duas câmeras e microfones na ampla suíte.
– A vida alheia vende bem.
– Não entendo esse desejo fetichista.
– Eu também não. – Sam tocava a conversa despretensiosa. – Mas desconfio que as vidas destas pessoas sejam tão chatas que elas precisem da vida dos outros.
– Se não fosse por essas obrigações poderíamos estar ainda na cama. – Theo sorriu e a beijou de leve.
– Era tudo que eu queria. E é o que mais quero agora, me enfiar debaixo daquelas cobertas com você.
– Mas temos uma longa e cansativa tarde pela frente.
– Sua blusa está furada. – Sam constatou.
– Onde?
– Aqui atrás, na verdade tem um rasgo aqui embaixo.
Theo olhou para si própria, reconheceu o cardigã cinza que trajava.
– Esqueci disso.
– Sabia que estava furada?
– Sim, mas havia esquecido, minha memória me prega peças de mau gosto.
– Sabe como rasgou?
Theo apenas balançou a cabeça de forma afirmativa, a fitou de perto, observando os detalhes do rosto da namorada.
– Você está tão bonita.
Sam riu.
– Fibi me emprestou esse lenço.
– Não falo da roupa, você está ficando cada vez mais bonita.
– Acho que você tem culpa nisso. – Sam respondeu corada.
– Você ficou chateada com o que eu falei sobre casamento?
– Não, inicialmente fiquei surpresa porque não havia entendido direito, achei que você havia cancelado o noivado e esquecido de me avisar, porque você sabe como é… Você esquece coisas.
– Enviarei um memorando a você quando nosso status mudar.
Sam riu e a abraçou, correndo suas mãos por baixo de suas blusas.
– Só me importa ter você comigo, com qualquer status. – Sam disse e sentiu a cicatriz na base das costas de Theo, deslizando mais algumas vezes seus dedos por ali. – Achei sua nova cicatriz.
– Que bom, agora não preciso mais explicar o rasgo na blusa.
***
Theo falou pouco durante a entrevista concedida para o canal de Janet, passou a maior parte do tempo olhando para os lados enquanto segurava a mão de Sam. Mais tarde participaram do último compromisso do dia, uma entrada ao vivo num programa também da rede WCK. Ali percebeu que a agenda com a imprensa na Nova Capital seria ainda maior.
Todos jantaram ali perto, Theo sugeriu que Sam passasse parte do dia seguinte em companhia da irmã, que voltaria para casa em Kent. Pediu apenas que Sam aparecesse no café no final da tarde, para conhecer Dimitri.
Já de volta ao pequeno apartamento, Theo se dava conta que aquela seria a última noite por ali, sentiu alívio. Quando entrou no quarto encontrou Sam sentada no final da cama, estava com o comunicador nas mãos, mas não o utilizava, apenas fitava o chão.
– Está triste, gatinha? – Theo perguntou de pé ao seu lado, mexendo nos cabelos da soldado e se apoiando na muleta.
– Não, só pensando na vida.
– É um bom momento para voltar a pensar nos seus sonhos.
– Eu não quero voltar para a Zona Morta, quero recomeçar em San Paolo, com você.
– Vamos dar um jeito, não se preocupe.
Sam baixou a cabeça num longo suspiro.
– Algo mais a incomoda? – Theo conhecia bem a namorada, sabia que havia mais.
– Minha perna está doendo.
– A amputada?
– Sim.
– É por causa dessa prótese provisória? Será que encaixaram mal?
– Ela não foi feita sob medida para mim, está machucando. – Sam dizia num fio de voz. Theo largou a muleta na cama e se ajoelhou na frente de Sam, com as mãos sobre suas pernas.
– Amor, tire a prótese.
Sam a encarou com semblante sofrido.
– Eu não quero tirar.
– Por que?
– Não quero que você me veja assim. – Respondeu timidamente.
– Samantha, você sabe que não ligo, não sabe? Deixe de besteira.
A soldado hesitou, afagava afoitamente a mão de Theo sobre seu joelho.
– Você acha que devo tirar?
– Acho. Nunca tirou?
– Uma vez apenas.
– Ela está te causando dor, te machucando, você não precisa passar por isso.
– Vou pular numa perna só?
– Use minhas muletas, amanhã eu saio e compro outras.
Hesitou novamente, mas por fim concordou.
Theo subiu a calça jeans dela até acima do joelho. Viu de perto a prótese simples, com uma haste e um encaixe.
– Como tira? – Theo perguntou.
– Aqui, soltando essas travas.
Theo fez como orientado, e removeu devagar a perna artificial.
– Tem sangue aqui, a prótese estava ferindo sua pele. – Theo constatou, mostrando as marcas de sangue.
– Disseram que me darão outra perna Borg, você acha que é verdade? Eu não queria ficar andando num pé só para sempre.
– Foi determinação do juiz, eles têm que cumprir. E se não te derem a perna ultramoderna, a gente arranja uma que não te machuque. – Theo reparava e tocava nos terminais metálicos em sua perna.
– São os conectores. – Sam explicava.
Theo a encarou curiosa.
– Você tem circuitos por todo o corpo?
– Algumas partes, principalmente tórax, espinha e cérebro.
– Você é quase um robô. – Theo riu, continuava sentada no chão, entre as pernas de Sam.
– Só um pouquinho. – Sorriu levemente. – Minha perna direita não tem quase nada.
– Se eu pagar para os militares, eles me transformam em Borg também?
– E você quer virar um ciborgue por que?
– Para ver se resolve meus problemas de saúde.
– Não se preocupe com isso, Michelle vai cuidar muito bem da sua saúde. – Sam ironizou.
Com dificuldade, Theo ergueu-se do chão e tomou a muleta de cima da cama.
– Realmente Michelle é um monstro terrível. – Theo zombou e foi na direção do armário.
– Onde você vai? – Sam perguntou.
– Pegar a outra muleta, você vai precisar de duas.
– Ficou chateada com o que eu disse?
– Não, estou feliz demais para me chatear com isso.
– Me desculpe, eu ainda estou digerindo a ideia de morar com Michelle.
Theo ficou de pé a sua frente, e lhe estendeu as duas muletas.
– Quer tentar?
Sam levantou da cama e deu alguns passos pelo quarto, sem maior desenvoltura.
– Daqui a pouco você pega o ritmo certo.
– Me empresta para ir tomar banho?
– Fique à vontade, eu consigo andar devagar sem elas.
Quando Theo saiu do banho, com seus passos lentos, encontrou Sam aprendendo a se equilibrar nas muletas, já de banho tomado e trajando um short de dormir.
– Não quis uma calça?
– Eu não soube o que fazer com o restante dela, troquei pelo short. Está ruim?
– Não, mas talvez você sinta frio. – Theo respondeu fitando a perna amputada.
– Você está estranhando, não é?
– Estou me acostumando, provavelmente dentro de alguns minutos já estarei acostumada.
– Eu me sinto uma aberração…
– Não diga isso, meu amor. – Theo aproximou-se, pousando as mãos em seus ombros. – Para mim não faz a menor diferença, você é incrivelmente linda de qualquer forma.
– Seja sincera, me ver assim não abala seu desejo?
– De jeito nenhum. – Theo correu os braços para suas costas, a enlaçando. – Meu tesão por você continua em alta… – Disse em seu ouvido.
– Você é louca. – Sam disse.
– Eu estou louca para comer você. – Disse e riu.
Antes que Sam respondesse, apoderou-se de seus lábios e de lá resistiu a deixá-los.
Subiu sorrateiramente sua mão por baixo da camiseta branca de sua oficial, alcançando seu seio e um gemido. O interminável beijo fora interrompido.
– Eu estou morrendo de vontade de fazer amor com você… – Sam balbuciou nos lábios dela.
– Mas?
– Mas não sei se consigo assim.
Theo fechou os olhos e uniu sua testa a de Sam, procurava uma solução, não era a primeira vez que lidava com os bloqueios da namorada.
Separou-se o suficiente para pode encará-la.
– Me diz uma coisa… Você passou o dia inteiro com vontade de fazer o que? – Theo perguntou de forma marota.
– Sexo?
– Ok, além de sexo.
– Hmmm… Não sei.
– Você não estava doida para voltar para debaixo das cobertas comigo?
– Sim.
– Então vamos unir o útil ao agradável.
– Como?
– Vem deitar comigo.
Sam apenas continuou a encarando.
– A gente se enfia debaixo do cobertor e namora um pouquinho.
Ela entendeu suas intenções, mas continuava em dúvida.
– Ou só dorme, quem decide é você. – Theo completou.
– Se eu pudesse, te atirava na cama agora. – Sam finalmente perdeu o semblante sério.
– Deixe comigo.
Theo andou até a cama e se atirou nela, causando um pequeno estrondo.
– Quebrou?? – Theo perguntou aflita.
– Acho que não, mas vou me certificar.
Sam foi até a cama, largou as muletas, e também se atirou no colchão.
– Acho que está tudo bem. – Riu.
Conforme o combinado, as duas passavam o tempo entre beijos e mãos bobas, com edredom e cobertor as cobrindo até os ombros.
Quando Sam montou em seu quadril, Theo sabia que era um caminho sem volta, não hesitou em tirar a camiseta da soldado. Contemplou seus seios, os tomou com suas mãos ávidas, fazia meses que não via sua namorada nua.
– Meu… Tudo meu. – Murmurou com um sorrisinho sacana.
– Eu sou toda sua.
– Você está tão gostosa.
Sam reagiu com um riso tímido.
– É sua vez. – Sam disse.
– De que?
– Tirar a roupa.
– Eu sou boa nisso. – Theo inverteu a posição, ficando por cima dela. Tirou o moletom e enfiou-se debaixo da coberta. Lá embaixo tirou sua calça e o short de Sam, voltando a superfície com um sorriso que denunciava sua volúpia e segundas intenções.
Se no início Sam parecia preocupada, agora já não se importava por estarem cobertas apenas da cintura para baixo, soltava-se cada vez mais, para deleite de Theo.
A jovem de olhos de anis preparava o terreno deslizando seus dedos pelo sexo de Sam, mas na verdade queria ter certeza que ela estava excitada o suficiente para ir além.
Com o passar dos meses, Sam também aprendera a ler os sinais de sua parceira, sabia o que Theo queria fazer.
– Quero você dentro de mim. – Sam sussurrou após morder sua orelha. – Agora.
Theo tomou sua boca num beijo carregado de tesão, penetrou logo dois dedos e sentiu o gemido alto de Sam em sua boca. Fazia isso de propósito, a beijava nos momentos em que sabia que Sam não conseguiria corresponder plenamente.
O ritmo de sua mão era seguido levemente pelo movimento do seu próprio corpo coberto, o edredom não escondia o sobe e desce que aumentava de ritmo aos poucos. Próximo do auge, Sam puxou Theo pela nuca, que cravava agora lábios e dentes pelo seu pescoço e ombro.
– Mais… Continua… – Sam pediu.
– Vem… Quero sentir você gozando na minha mão…
E assim se fez, os gemidos trêmulos de Sam ecoaram como música em seus ouvidos, lhe despertando ainda mais desejo.
Sam a abraçou com força, Theo largou seu corpo em cima do dela.
– Você continua uma delícia… – Theo disse com o rosto em seu pescoço.
– Nossa… – Ela ainda recuperava-se.
Theo sentiu uma vertigem, talvez pela posição que estava anteriormente, saiu de cima dela e deitou-se ao seu lado.
– Você está bem?
– Sim, só preciso de dois minutos.
Sam virou-se, empoleirando-se ao seu lado.
– Quer que eu busque algo?
– Na verdade tudo o que eu preciso está em cima dessa cama. – Sorriu ao abrir olhos.
– Tenho autorização?
Theo tomou a mão dela e guiou para entre suas pernas.
– Você vai ter que dar um jeito nisso, oficial.
– Um só? Eu quero dar jeito em você a noite inteira.
Ao ouvir isso, Theo virou-se recostando seu corpo ao corpo dela, a puxando para ainda mais perto e unindo seus corpos. A beijou com suavidade, daqueles beijos que dizem ‘eu te amo’ aos pedaços.
As primeiras 24 horas de liberdade de Sam haviam sido corridas e um tanto estranhas para elas. Nesse momento de união carnal, Theo se dava conta de fato que sua namorada havia voltado. Sua vida havia voltado.
Sam finalmente provou dos gostos que tanto desejara e sonhara. Após trilhar com sua boca todos os caminhos nos seios de Theo, encontrou por fim o sexo ainda mais molhado, ainda mais sedento.
A predileção de Theo por receber sexo oral já havia sido notada por Sam há algum tempo, portanto não quis correr o risco de deixá-la desconfortável nesse seu retorno, temia que Theo voltasse a se fechar devido ao ocorrido em seu sequestro, por isso estava exultante com a liberdade total que lhe fora concedida. Em alguns minutos, Theo já tocava as paredes do paraíso com a namorada mergulhada entre suas pernas.
Sam subiu devagar, como se receosa de tirar Theo do seu êxtase. Com ela, puxou o edredom para cobrir os corpos despudoradamente desnudos. Entregou um beijo carinhoso naquele cantinho entre o rosto e o pescoço, deitou em seu ombro e observou por alguns segundos seu peito ainda ofegante.
– Theo?
– Hum?
Sam ergueu-se um pouco, encarou o rosto ainda avermelhado dela, e a beijou.
– Feliz aniversário, meu amor.
Alteridade: s.f.: É a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal. A alteridade implica colocar-se no lugar ou na pele desse “outro”, alternando a perspectiva própria com a alheia.