Capítulo 6 – Anagapesis

Capítulo 6 – Anagapesis

 

– Está acordada? – Mike perguntou, colocando a cabeça para dentro do quarto de Sam.

– Sim, ando com insônia.

– Assistindo algo bom?

– Um filme sangrento.

– Quer companhia? Adoro filmes sangrentos.

Sam hesitou antes de responder.

– Ok, venha.

Mike deitou na cama, ao lado de Sam, recostado na cabeceira.

– Você nunca teve dificuldades para dormir. – Mike comentou.

– Eu sei, mas tem sido assim todas as noites, desde o acidente de Theo, vou procurar algo para ajudar a dormir, algum remédio, sei lá.

O imenso quarto de Theo agora já tinha alguns móveis de volta, uma tela móvel em frente a cama, uma cômoda branca abaixo, e a cama de última geração, larga.

– Por que você chama de acidente? Ela atirou na cabeça porque quis.

– Eu prefiro chamar assim, ela não queria de fato se matar.

– Mas não foi um acidente. – Mike insistia.

– Eu fui um acidente na vida dela.

– Você a tirou daquele bordel, ela deve muito a você.

– Minha dívida é maior.

– É por isso que você não quer abandoná-la? Por gratidão?

– Eu sou grata sim, mas o que me leva àquele hospital todos os dias é muito mais que gratidão.

– Ok, eu só estou tentando entender o que se passa aí dentro. Theo tem suas qualidades e prometo não a julgar mais, em respeito a você.

– Fico feliz em ver você a chamando pelo nome. – Sam sorriu.

Mike desceu um pouco, deitando.

– Admito que fui intolerante com ela, quero ficar em paz com você, ela acordando ou não, estarei sempre com você, Sam. – Mike tomou sua mão, com delicadeza.

– Também quero ficar em paz com todos. – Sam fez menção de tirar a mão, mas desistiu.

Ambos adormeceram, lado a lado, e acordaram assim. O clima de paz estava instaurado, não apenas de paz.

Na manhã seguinte, assim que Sam chegou ao hospital, foi chamada no consultório de Dr. Franco.

– Aconteceu alguma coisa?

– Sente-se, vamos conversar.

Havia um outro médico já sentado à frente da mesa.

– Samantha, minha equipe tem alguns padrões de procedimentos, e alguns deles são pertinentes ao quadro atual de Theo.

– O que isso quer dizer?

– Amanhã Theo completa um mês de coma, e como você sabe, não houve evolução alguma, as atividades cerebrais continuam praticamente nulas.

– Espera aí… – Sam parecia assombrada. – Vocês não estão pensando em desligar os aparelhos, estão? Eu não dou permissão, ela ainda está viva, ela está lutando.

– Não, não pretendemos desligar os aparelhos, os procedimentos que me refiro dizem respeito ao bem-estar dela. – O segundo médico respondeu.

– Sam, após um mês nesse estado de coma, começamos a ter preocupações de longo prazo, iremos fazer algumas mudanças em procedimentos e tratamentos, para garantir um estado vegetativo confortável para ela, nosso foco agora é em deixá-la confortável para um provável coma prolongado. – Doutor Franco ajeitou os óculos redondos.

– Vocês perderam as esperanças? É isso?

– Não trabalhamos com esperança, trabalhamos em cima de fatos e dados, e no momento os dados que temos nos levam a crer que ela tende a continuar neste estado.

– Deixamos as esperanças para os familiares e entes queridos. – O segundo médico completou.

– E no que isso implica?

– A principal mudança é relacionada ao respirador, e sempre gostamos de ouvir a opinião dos responsáveis pelo paciente. Queremos tirar o respirador via oral e colocar via traqueostomia.

– Isso a deixaria mais confortável?

– A longo prazo é a melhor opção, apesar dos possíveis danos.

– Que danos?

– Nos casos de coma com dano cerebral existe a possibilidade de atingir as cordas vocais, e ela perderia a voz.

– Que droga… – Sam corria as mãos pela cabeça.

– Mudaremos a fisioterapia também, e a medicação.

– Não podemos esperar um pouco? Com a traqueostomia.

– Bom, podemos. Como falei, são medidas visando conforto a longo prazo.

– Ela já não enxerga, se perder a voz também, será um pesadelo. – Sam falava com angústia.

– Tomaremos as outras medidas por enquanto.

***

Sam entrou no quarto e Letícia estava no sofá, fitando Theo de forma pesarosa.

– Querem fazer uma traqueostomia. – Sam disse com desânimo, sentando ao seu lado.

– É, eu soube.

– Acho que eles perderam as esperanças.

– Não importa, nós não perdemos.

Sam não respondeu.

– Não perdemos, certo? – Letícia a inquiriu.

– Não, não perdemos.

– Essa dorminhoca… Já dormiu demais, está na hora de acordar.

– Talvez ela tenha resolvido dormir para não sentir medo. – Sam devaneava.

– Medo?

– Uma vez ela me disse que só não sentia medo quando dormia. E que não enxergar é como ter a sensação de ter um monstro embaixo da cama o tempo todo.

– Você irá matar todos os monstros quando ela acordar, não vai?

– Não sei se conseguirei matar os que vivem dentro dela.

– Eu sei que você vai conseguir, mate os seus primeiro.

***

Mais uma semana se passou, sem maiores novidades. Sam se dividia entre o hospital e a mansão, e passou a ver TV com Mike em sua cama todas as noites.

– Theo vai fazer a traqueostomia? – Mike perguntou, estava na cama com Sam.

– Semana que vem, eu autorizei.

– Dizem que isso evita infecções.

– Sim, vai ser melhor para ela.

– Talvez ela consiga recuperar a voz depois, com ajuda de nanobots.

– Tomara. – Sam estava feliz com a aceitação de Mike com relação à Theo, ele estava cada vez mais amigável e parecia agora se importar com a saúde dela.

– Ela é jovem, vai ficar bem.

Sam virou-se na direção de Mike, o fitando.

– Que bom que sua birra com ela passou.

– Eu agora enxergo seus motivos, Theo agiu de boa-fé com você, é uma boa garota.

– Talvez ela nunca acorde.

– É cedo para pensar em nunca.

– Sabe, às vezes eu penso no que estou fazendo com minha vida, eu não tenho mais vida própria, não sei se Theo estaria satisfeita com tudo isso, ela queria que eu corresse atrás dos meus sonhos, mas me sinto num limbo.

– Então talvez seja hora de tocar sua vida. – Mike virou-se também para Sam.

E a beijou.

Sam foi pega de surpresa, não entendia o que estava sentindo, mas não era ruim. Era confortável. Sentia falta de ter alguém ao seu lado, afetiva e fisicamente, sentia-se carente nos últimos dias. Permitiu seguir em frente, e em alguns minutos Mike já estava sobre ela, tirando suas roupas.

Sua consciência gritava em culpa, mas naquele momento ela queria continuar, em instantes já estavam unidos praticando o que tanto fizeram nos últimos anos, fazendo sexo com tamanha volúpia, e Mike parecia mais atencioso do que nunca. Mas enquanto era invadida por Mike, Sam sabia lá no fundo que tinha algo errado ali, aquela mesma sensação de deslocamento que sempre tivera na cama com ele, definitivamente não era aquilo que lhe dava prazer.

Ao fim, Mike respirou cansado deitando ao lado de Sam, que ainda tentava assimilar o que havia feito, cobrindo-se com o lençol branco.

O lençol branco da cama de Theo.

Essa informação foi o suficiente para trazer Sam para a realidade. Instantes depois, Mike virou-se na direção de Sam, lhe afagando o rosto.

– Eu estava morrendo de saudades de você. – Mike disse com uma voz satisfeita.

– Não deveríamos ter feito isso. – Sam disse, sentindo-se mal.

– Por que não? Não tem nada nos impedindo, você sabe que precisa tocar sua vida.

Mike tentou beijá-la, mas Sam desviou o rosto, e se cobriu ainda mais.

– Desculpe se dei falsas esperanças, mas isso foi um erro, e não vai mais acontecer.

– Não quero discutir agora, tivemos um bom momento, e sei que você sabe disso. Meu amor, permita-se. – Mike afagou seus cabelos.

– Mike, vá para seu quarto. – Sam tirou sua mão.

– Não posso dormir aqui? Eu tenho dormido aqui há dias, eu sei que você gosta da companhia.

– Você não vai mais dormir aqui. – Sam dizia, transtornada.

Mike levantou-se e se vestiu, lançou um olhar carente na direção de Sam antes de falar.

– O que fizemos foi o certo, sua vida está voltando ao normal, aceite e tente ser feliz.

– Me deixe sozinha, por favor.

Sam não dormiu naquela noite, foi uma longa madrugada dividida entre a sacada e sua cama, tudo havia ficado ainda mais estranho em sua vida. Os primeiros raios de sol bateram em seu rosto, enquanto contemplava a piscina abaixo de si, que fazia um L. Pela primeira vez percebeu que a lateral da sacada era na verdade um portão, e que havia uma plataforma estreita ao lado.

Se deu conta da função daquilo, e sem pestanejar, abriu o pequeno portão, foi até a extremidade da plataforma, encarou o azul da piscina à sua frente, e mergulhou, ainda vestida.

Apesar de estar ali há mais de um mês, ainda não conhecia a piscina. Demorou-se por lá tempo o suficiente para lavar o corpo e a alma, por quase uma hora.

Saiu da piscina e caminhou até a entrada da casa, seguiu molhando todo o piso até seu quarto, foi abordada no caminho por Marcy.

– Criança, o que aconteceu?

– A piscina pareceu irresistível hoje. – Sam disse com um quase sorriso.

– Não me diga que se atirou da sacada daquela maluquinha?

– Só hoje percebi a função daquele portão na sacada.

– Vocês ainda vão quebrar um pescoço pulando de lá.

– Prometo mergulhar com cuidado, ok?

– Vem tomar café agora?

– Não, estou sem fome, obrigada.

Após um banho demorado, vestiu-se e saiu dirigindo em alta velocidade, chegando por volta das oito ao hospital.

Assim que adentrou o quarto viu Angelo, o fisioterapeuta, exercitando as pernas de Theo. Parou um pouco depois da porta, surpresa.

– A vestiram? – Sam questionou.

Theo estava com uma blusa branca de malha, com três botões, e mangas compridas.

– Eu ia te fazer a mesma pergunta, já que Theo não me respondeu quando perguntei onde ela havia conseguido roupas novas. – Angelo respondeu.

– Eu trouxe estas roupas há algumas semanas, resolveram usar hoje, pelo visto. – Sam caminhou até a cama, observando os movimentos finais da fisioterapia.

Sam havia esquecido o mal-estar e a sensação de culpa, gostou de ter visto Theo usando suas próprias roupas.

– Theo, vou te deixar deitada de lado hoje, ok? Amanhã eu volto para te virar novamente. – Angelo falou, cuidadosamente colocando Theo virada de lado, com os joelhos recolhidos.

Sam sentou-se no sofá cinza, abrindo os braços sobre o encosto.

– Angelo, há quanto tempo você trabalha com pessoas em coma?

– Bastante tempo, mas restritamente com pessoas em coma, uns seis anos, por que?

– Você já viu alguém acordando? – Sam mantinha os braços abertos espojados na parte de cima do sofá.

– Sim, vários.

– E tem os que nunca acordam, não é?

– Infelizmente, sim. Meio que sabemos quem vai acordar e quem não vai.

– Sério? Como? – Sam interessou-se mais, se inclinando para frente.

– Ah, uma série de fatores, convivendo com os pacientes, conversando com seus médicos, você acaba percebendo quem tem chance e quem não tem. – Angelo respondeu, cobrindo Theo até a cintura com um cobertor leve, azul.

– E Theo? O que você acha? Por favor, seja sincero.

Angelo hesitou, observou Theo com a cabeça de lado, suspirou antes de falar, ainda olhando para o leito.

– Não sei, ela é jovem, as chances são bem maiores nesses casos, mas os médicos já me disseram que a lesão dela é extensa.

– Não sabe ou não quer me falar?

– Realmente não tenho ainda um parecer sobre essa garota. – Falou de forma afetada.

Sam levantou-se, colocou os cabelos para trás da orelha, emparelhou-se com Angelo, ao lado da cama.

– Ela vai acordar. Só não sei ainda em quais condições. – Sam decretou.

– Reclamando com você, por não ter trazido roupas mais moderninhas.

Sam riu.

– Acho que ela não liga muito para essas coisas, mas eu adoraria vê-la reclamando de algo.

Angelo deu uma risada fungada, e tirou as luvas de látex.

– Ok Theo, por hoje a tortura terminou, nos vemos amanhã. Até mais, Sam. – Falou com a mão no ombro de Sam.

– Até amanhã.

Sam trouxe a cadeira de rodinhas até o lado da cama, sentando-se e observando Theo por algum tempo, que estava virada para seu lado. Deslizou sua mão pelo braço dela, por cima da blusa.

– Parece que você está dormindo, numa manhã qualquer onde eu preparava o café antes de te acordar. – Falou baixinho, nostálgica.

– Ok, tirando todos esses tubos e fios, até que parece. Quantas vezes eu te olhei dormindo, antes de te chamar, e você estava assim, dormindo de lado, com uma paz invejável, a paz que eu desejava para nós de forma permanente.

Sentia agora a garganta se fechando, uma onda de mal-estar que a derrubava, estava genuinamente triste.

– E você acordava, eu te chamava e você acordava. – Mexeu em seu cabelo, os olhos já começavam a brilhar.

– Mesmo que você tivesse dormido apenas três ou quatro horas, você acordava e me dava bom dia com um sorriso, o melhor bom dia que eu poderia receber. E você nem me via, você acordava de bom humor, sem sequer enxergar.

O choro finalmente a dominou, como se algo extremamente dolorido a acometesse.

– Por favor, acorde. Acorde Theo, eu preciso de você. – Um soluço a interrompera.

Pegou suavemente sua mão inerte, porém quente, baixou a cabeça até recostar em seu braço, e colocou a mão dela aberta em seu rosto, a beijando, e por fim a repousando em sua bochecha.

– Não está certo isso, você também precisa continuar sua vida, você tem tanta coisa pela frente… Eu vou te levar para conhecer tantas coisas, nós vamos conhecer lugares, pessoas… Eu quero ver TV contigo, eu quero ver TV com seus comentários, quero assistir filmes ao seu lado, quero ver o mundo ao seu lado.

Era doloroso falar com Theo e receber um silêncio cheio de bips como resposta, Sam sentia seu peito doendo, uma confusão que chegava ao limite. Algo aconteceria com ela, decisões estavam sendo tomadas.

– Eu errei essa noite, novamente errei com você. Quando você acordar e conseguir conversar, contarei a verdade, eu assumo as consequências do que fiz.  – Sam enxugou o rosto, falava sério agora. – Mas a partir de hoje eu prometo que farei você se orgulhar de mim, eu não quero que você acorde e se decepcione.

Sam passou toda a manhã no hospital, cochilou próximo ao meio-dia. No início da tarde foi para casa e vestiu-se de forma social, em seguida foi para a Archer.

– Que bom tê-la de volta aqui! – Claire a cumprimentou com um amplo sorriso em sua sala.

– Claire, você vai me ensinar tudo referente à essa empresa, eu quero ter conhecimento suficiente para participar das reuniões do conselho, eu vou assumir o espaço que Theo me deu aqui dentro. Posso contar com você?

– Seja bem-vinda ao conselho. – Claire lhe estendeu a mão.

– Quero também que você dê nome aos bois, quem é confiável e quem não é, quem é útil e quem está apenas ocupando espaço aqui. Eu já percebi que você é a única que tem paciência comigo nessa empresa.

– E também era a única que tinha paciência com Theo, os conselheiros viviam a enxotando de suas salas, principalmente Stefan e Sandro.

– Ótimo, é isso que eu quero, nomes e atitudes.

Sam chegou em casa à noite, encontrando Mike na sala, sentado na banqueta do piano translúcido.

– Boa noite, Sam. – Mike irrompeu, a assustando, Sam derrubou o comunicador no chão. – Te assustei?

– O que faz no piano?

– Estou aprendendo a tocar.

– Você não gosta de piano.

– Os gostos mudam. Podemos conversar?

Sam recolheu seu comunicador do chão e sentou-se no sofá branco próximo ao piano.

– Podemos.

– Aquela última noite…

– Deve ser esquecida. – Sam o interrompeu.

– Ou deve ser analisada. Já se perguntou porque você quis fazer sexo comigo?

– Naquele momento eu quis, mas foi um impulso completamente errado, e eu percebi que estava errado durante o sexo, e não depois.

– Desculpe Sam, mas não consigo acreditar em você, para mim é inconcebível que se sinta melhor na cama com uma mulher do que com um homem.

– Por que inconcebível? Tem mulheres que preferem estar com mulheres, e não tem nada errado nisso.

– O que uma mulher pode fazer na cama que seja melhor que o homem? – Mike subia o tom. – Você está se contentando com preliminares?

– Se você estivesse dentro da minha mente por um minuto enquanto faço sexo com Theo, você não faria essas perguntas idiotas. – Sam respondeu no mesmo tom.

– Você não se envergonha em falar essas coisas em voz alta?

– Nem um pouco. Mike, desculpe por ter alimentado algo em você, foi um erro, e pretendo me manter fiel, não vai acontecer mais nada entre nós.

– Tudo bem, você terá bastante tempo para repensar isso, até porque ninguém consegue se manter fiel à uma pessoa vegetando por muito tempo.

– Terminou? Estou cansada, quero comer algo e dormir.

– Eu sei que teremos outras noites como aquela.

– E eu sei que não. – Sam levantou e subiu para o quarto.

Foi uma exceção, naquela noite Sam dormiu por longas oito horas, sem dificuldades em adormecer. Acordou na manhã seguinte com disposição, foi até o carro azul, pegando alguns objetos. Na ida para o hospital parou numa loja, comprando alguns aparatos.

Quando entrou na UTI, largou tudo no sofá e deu um beijo demorado na testa de Theo, que já estava virada para cima. Afagou seus cabelos com um sorriso satisfeito, e voltou ao sofá.

– Bom dia, recruta, hoje é um bom dia para começar a fazer arte, não acha?

Armou um fino tripé metálico, colocou o bloco de folhas do kit de desenho, e preparou os pincéis.

– Vamos começar pelo primeiro, certo? – Sam conversava com Theo. – Que provavelmente é o seu preferido. Você deve ter adorado aquele piano velho, quase me matou do coração.

Sam passou a manhã pintando, tempo suficiente para imprimir naquela tela parte do teatro abandonado, de pomposas cortinas vermelhas puídas, onde haviam passado a primeira noite.

Almoçou no hospital com Letícia e Daniela, e seguiu para a Archer, passando a tarde se inteirando dos processos do setor financeiro.

À noite, sua velha companheira retornou, a insônia. A madrugava iniciava e continuava rolando pela cama que parecia infinita.

Uma ideia, a princípio estúpida, fez-se constante e cada vez mais atraente. Sam saltou da cama e foi de pés descalços para a garagem da mansão. Entrou no carro azul e tomou a caixa médica metálica, levando para o quarto.

Colocou sobre a cama e abriu, como quem abre um baú misterioso. Observou por alguns segundos uma reluzente ampola de hidrometa. Com uma seringa, absorveu um ml do frasco, fechou a caixa, e deitou-se confortavelmente.

– Vamos ver se isso funciona. – Murmurou.

Verificou ambos os braços, e injetou o líquido no braço esquerdo. Em poucos segundos sentiu uma onda que era quente e fria ao mesmo tempo percorrendo seu corpo. Era forte e nauseante.

Adormeceu em poucos minutos, mas não foi um sono tranquilo.

– Por que estou no hospital? Outro transplante? – Sam olhava para seus braços repletos de fios e agulhas, num leito de hospital. Theo estava sentada num sofá cinza ao lado.

– Acho que invertemos. – Theo disse de forma arteira.

– Você acordou?? – Sam a olhava com espanto.

– Não, isso não é real. Achei que você perceberia, não tem teto, não reparou?

– O que está acontecendo?

– Eu estava com saudades, achei que seria uma boa forma de encontrar você. – Theo ajeitou um boné branco na cabeça.

– Mas eu não estou aqui, nem você.

– E que diferença isso faz? Amanhã você achará que realmente falou comigo, isso que importa.

– Eu lembrarei disso?

– Sim, porque parece real.

– É um sonho ou pesadelo?

– Nenhum dos dois. – Theo olhou para cima. – Desculpe, chegou minha carona, tenho que ir.

– Já?

Na manhã seguinte Sam acordou encharcada de suor, e lembrava de cada detalhe do sonho que tivera, com um sorrisinho bobo no canto dos lábios.

– Isso realmente funciona. – Murmurou, olhando para a seringa vazia em cima da cama.

Uma rotina estava criada, uma manhã com pintura e música na UTI, uma tarde aplicada na Archer, e uma noite com hidrometa e sonhos estranhos. O que moveu Sam a comprar mais hidrometa e manter o uso noturno não foi a cura da insônia, encontrar com Theo nos sonhos era um alento ansiosamente aguardado.

Uma semana de sonhos estranhos depois, e desta vez Sam a encontrou dentro do pequeno banheiro da pousada que ficaram em Salvador.

– Que bom que você me deixou entrar dessa vez. – Sam resmungou, sentada no piso bege do banheiro simples.

– Só por que você deixou de ser chata. – Theo estava sentada sobre a tampa do vaso, mexia em sua mão mecânica.

– Por que você escolheu esse banheiro minúsculo para me encontrar hoje?

– Porque foi aqui que você disse que me amava pela primeira vez.

Sam sorriu, olhando ao redor, os azulejos eram bege, a porta marrom.

– Foi de uma forma nada convencional. – Sam respondeu.

– Você não faz ideia do que eu senti quando você disse aquilo, me senti a mulher mais sortuda do mundo.

– Mas você estava brava comigo.

– Sam, tem algo nesse mundo que o amor não dissolva? Eu tive vontade de sair por essa porta marrom, te atirar na cama, e fazer amor com você até o dia seguinte.

– Por que não fez isso?

– Eu esperei você falar de novo. Mas você não disse nada.

Sam baixou a cabeça, envergonhada.

– Eu fui covarde.

– Tudo bem, você se redimiu depois. – Theo ergueu-se, e levantou a tampa do vaso.

– Onde você vai?

– Embora.

– Bem que você poderia ficar mais tempo.

– Eu não posso, meu anjo. – Colocou um pé dentro do vaso, depois outro, e sumiu.

Mais uma manhã em que Sam acordava com as roupas úmidas de suor, dor de cabeça, e um leve sorriso satisfeito. Resolveu contar para Letícia sobre os sonhos que andava tendo.

– Se você pode conversar com Theo, então pergunte a ela onde guardou meus brincos de pérola, emprestei e nunca devolveu.

– Ok, perguntarei. – Sam respondeu, rindo.

Na noite daquele mesmo dia, Marcy subiu até o quarto de Sam, trazendo um pacote nas mãos.

– Sam?

– Oi?

– Eu estava limpando a despensa hoje e encontrei esse pacote, não sabia o que era e estava quase jogando fora, mas resolvi perguntar para Sonia antes, ela disse que Mike trouxe do hospital no dia que veio morar aqui.

– E o que é?

– Não sei, mas tem o nome de Theo, achei que você gostaria de ver antes de jogar fora.

– Sam tomou o pacote plástico de suas mãos, levando para cima da cama, após se despedir de Marcy.

Sam rasgou o plástico branco, e tirou as peças de roupas que haviam dentro.

– Eu conheço isso… – Disse com um sorriso bobo.

Eram as roupas que Theo usava quando deu entrada no hospital. A calça jeans surrada, a camisa preta com respingos solidificados de sangue.

– O tiro… – Sam traspassou o dedo pelo furo na lateral, do tiro que Theo havia levado de Theodore.

Sentou-se na cama, olhou demoradamente a camisa embolada em suas mãos. Um nó surgiu vagarosamente em seu esôfago, se alojando na garganta.

Fechou os olhos e encostou a camisa no rosto, pode sentir o cheiro de Theo.

– Não me abandone… Por favor, não me deixe sozinha aqui…

Adormeceu mais tarde, em companhia das duas peças de roupas, e de dois ml de hidrometa.

– Você tinha razão.

– Sobre o que? – Sam perguntou, debruçada sobre o parapeito de madeira do mirante.

– A cor dessas águas, é semelhante a cor dos meus olhos. – Theo disse, ao lado de Sam, fitando o mar com um quase sorriso.

– Que bom que você está comprovando isso com seus próprios olhos. A propósito, você voltou a enxergar.

– Sim, é bom enxergar novamente.

– E também está falando.

– Percebeu agora? Tenho falado tanto nos últimos dias. – Theo riu, olhando de lado para Sam.

– Eu gostaria que você estivesse ao meu lado. Eu sinto sua falta.

– Estou aqui agora.

– Mas não estará amanhã. Nem depois de amanhã. Você só está nos sonhos – Sam respondia com pesar.

– Eu não posso.

– Eu sei… É difícil acreditar que você foi embora.

– Eu não fui embora.

– Theo, é apenas seu corpo que está naquele quarto.

Theo deslizou silenciosamente sua mão pelo fino tronco do parapeito, e pousou sobre a mão de Sam, a pegando de surpresa.

– Sente isso?

– Sinto. – Sam respondeu olhando para suas mãos.

– Eu ainda estou aqui. Mas só por hoje.

– Essa conversa é uma despedida?

– Todas as conversas são despedidas em potencial. – Theo sorriu de lado. – Nunca se sabe o que nos espera na próxima esquina, você pode ter acabado de discutir com alguém por causa de um troco errado na cafeteria, e bum, tem um ataque fulminante na calçada. Aquela conversa patética sobre dezoito centavos foi sua conversa de despedida. Quem diria?

Sam ainda a fitou com alguns segundos, assimilando o que acontecia, e voltou a encarar o mar azul.

– Espero que não seja. – Sam arrematou.

– Você acha que irei para o inferno ou para o céu? – Theo perguntou de forma atrevida.

– Você não vai a lugar algum, você vai ficar aqui, na terra, com os dois pés firmes na terra.

– Aqui faz frio, meus pés estão congelando.

– Você não gosta de dormir de meias.

– Não, não gosto.

Sam ficou em silêncio por um instante, pensativa.

– Você ficará comigo essa noite? – Sam perguntou, com a voz comedida.

– Não, estou de saída.

– Já?

– Eu nem deveria estar aqui.

– Não pode ficar mais um pouco?

– Por que?

– Sinto saudades de nossas conversas.

Theo balançou a cabeça, como se decidindo algo.

– Ok, uma pergunta.

– O que?

– Você pode fazer uma pergunta, e então terei que ir.

Sam virou-se, olhando na sua direção, elaborando sua pergunta.

– Por que?

– Essa não é uma pergunta válida. – Theo rebateu.

– Por que você fez aquilo?

Theo desfez o leve sorriso, antes de respondê-la.

– Achei que minha carta fosse clara o suficiente.

– Temos como inverter?

– Não, nós somos o resultado de nossas decisões. Eu estou pagando pela minha decisão.

– Posso fazer outra pergunta?

– Pode.

– Onde estão os brincos de pérola de Letícia?

– Em cima da cômoda.

– Tem certeza? Acho que não tem nada lá.

Sam olhou para o lado e Theo havia sumido. Bem como seu sonho.

No dia seguinte, Sam verificou toda a cômoda que ficava em frente à cama, mas não encontrou nenhum brinco. Desceu e foi falar com Marcy.

– Marcy, você faz ideia se o que tinha na cômoda de Theo foi jogado fora?

– Quase tudo, mas Lucian me contou que tem algumas coisas guardadas na garagem da casa de visitas, ele ficou com pena de jogar fora, talvez as coisas miúdas estejam lá.

– Você sabe o que havia em cima da cômoda?

– Tranqueiras.

Sam foi até a garagem da outra casa, bagunçando e revirando tudo que encontrava pela frente. Até encontrar uma caixa com tranqueiras, e uma caixinha de joias.

Em seguida foi para o hospital, e prontamente pediu outro cobertor.

– Ela está com frio, preciso de outro cobertor.

– Ela não sente frio, ela não sente nada. – A enfermeira rebateu.

– Theo está com frio, eu sei que está.

Um outro cobertor foi trazido, Letícia permanecia sentada no sofá, acompanhando tudo.

– Agora você não sentirá mais frio. – Sam sussurrou para Theo, enquanto a cobria.

– Por que você acha que Theo está com frio? – Letícia perguntou, curiosa.

– Ela me disse. – Sam respondeu de bate pronto, com naturalidade.

– Disse?

– Sim, ontem à noite. – Sam sentou-se na poltrona ao lado do leito.

– Você anda tomando algo para dormir? Tem tomado hidrometa?

– Tenho.

– Ela disse que estava com frio?

– Ela me contou ontem, parecia um sonho, mas sei que era mais que um sonho, ela realmente estava ali comigo, eu senti o toque da mão dela na minha mão.

– E no sonho ela disse que estava com frio?

– Disse. Eu prometi providenciar outro cobertor, porque ela não gosta de meias.

Letícia riu.

– É, ela odeia meias.

– Letícia, Theo me disse que seus brincos estavam sobre a cômoda, mas não havia nada sobre a cômoda.

– Provavelmente Theo perdeu esses brincos e não teve coragem de me contar.

Sam estendeu a mão, mostrando um par de brincos de pérolas.

– Você achou? – Letícia olhou surpresa, os tomando.

– Estava na caixinha de joias que ficava em cima da cômoda, estava guardada na garagem.

– Ok, agora me assustou. Theo, se você estiver por aí, apareça no meu sonho essa noite, quero perguntar aquela receita de sopa de mexilhões que você disse que ia me ensinar.

– Acho que ela não vai, ela deu a entender que não viria mais.

– Bom, não custa tentar. – Letícia riu.

Mais dois ml de hidrometa naquela noite, e mais uma noite de sono rápido e agitado, porém sem sonhos.

O comunicador de Sam tocou no meio da madrugada, ela acordou zonza, tateando o criado mudo em busca do aparelho, olhou o visor, era do hospital.

– Senhora Samantha? – Disse a voz educada do outro lado.

– Sim, aconteceu algo?

– Aconteceu, a senhora deixou avisado que gostaria de ser comunicada caso acontecesse algo com a paciente…

– O que houve com Theo? – Ela o interrompeu, abruptamente.

– Ela acordou.

Anagapesis: s.f.: Não manter quaisquer sentimentos por algo ou alguém que já amou.

21 comentários Adicione o seu
      1. cris pelo amor de deus o que isso acabei de socar a parede quando li aquela sena de sam e mike . mas por outro lado to tao feliz theo acordou ! si puder passa a historia completa de a lince e a raposa para eu ler. sou novata aqui e mim encantei por suas historia . beijos obrigado

  1. Qdo penso que Sam tomou jeito, ela faz uma safadeza dessa.aff Não dar para confiar por muito tempo nela. Tive muito ódio. O título do capítulo me assustou, pensei que A Theodora ira acordar e rechaçar a Sam com a desculpa de uma amnesia. Espero que essa besteira que Sam de lhe traga a certeza que Mike é realmente passado. Agora estou ansiosa para saber como as coisas ficarão, estou torcendo para que a primeira atitude da Theo seja expulsa Mike de sua casa.bjs

  2. Foram cinco capítulos angustiantes por causa da situação de Theo mas finalmente ela acordou! Olha que eu já tinha ficado triste mais uma vez enquanto lia esse capítulo por causa da possibilidade de Theo perder a voz e pela idiotice que Sam cometeu ao dormir com Mike. Por falar em Sam e Mike, eu já desconfiava que alguma coisa fosse acontecer entre eles de novo porque é nítido que Mike não aceitou o fim do relacionamento e que ele iria tentar de alguma forma uma reaproximação. Ele viu que quanto mais ele implicasse com Sam, mais ela iria se afastar dele então o que ele fez foi buscar preencher a carência afetiva de Sam na esperança de reatar o relacionamento. Se parar pra analisar a história, Sam já errou várias vezes com Theo enquanto que Theo, pelo que eu me lembre, nunca errou com Sam. Eu estou curiosa pra saber como ela vai lidar com isso.

    Obrigada por mais um capítulo!

    1. Foi por isso que eu postei o sexto capítulo antes da hora, porque eu sabia que vocês estariam angustiadas com esse coma sem fim, precisava acordar logo essa menina, agora sim alguém vai botar ordem nessa casa.
      Mike estava preparando o caminho para isso, fazendo de conta que tava preocupado e interessado em Theo, todo querido suprindo a carência afetiva de Sam, e claro que Sam foi na onda e fez mais uma samzice.
      Sobre o placar de pisadas na bola, acho que Sam tá ganhando esse jogo por uns 10×1. A pisada na bola de Theo foi ter omitido informações importantes sobre quem ela era.
      Sobre como Theo vai lidar com essa pulada de cerca? bom, Theo é boazinha, mas quando ela fica p*, ela realmente fica p*.
      Eu que agradeço sua leitura e comentários tão carinhosos.

      1. Kkkk eu tava sem palavras.. em choque.
        Eu tinha me preparado pra esculachar a Samantha e na mesma pisada Theodora acorda e eu fiquei sem saber como agir.. so veio isso. Foi mal. Jaja eu faço um comentario decente do cap..

  3. Porque tem sempre que acabar o capitulo na melhor parte? Vou chorar, juro! Ao menos ela acordou. Estou ansiosa pelo próximo capitulo, Cris, por favor não demore a postar.

  4. Da pra matar o Mike? Com um tiro de doze nos joelhos, braços e depois na cara? Não culpo total.e te a Sam por ter dormido com ele, ela ta fragilizada e o babaca tem se fingido de santinho pra ganhar terreno. A Theo acordou finalmente uhulll mas algo me do que não vai lembrar de nada ne? Não tem problema… A Sam conquista ela de novo!!!

  5. “Arrimaria”, que capítulo ! Cris, “puro amor de deuzo”! Tava reconstruindo meu coração e meu cérebro, já conformada, aí…………..paah !!!!!!!!!!!!! Esse capítulo!!!!!! Criatura de Jesus, A THEO ACORDOU !!!!!
    Ainda sem fôlego!
    Enquanto aguardo a próxima postagem , vou confabulando comigo mesma sobre o que virá por aí……………mas, sei que nem adianta, vc tem o dom de botar tudo de cabeça para baixo! kkkkkkkkkkkkk
    Parabéns e obrigada !!!
    Beijos no coração! 😉

  6. Caraca, que capítulo foda… amei, amei e amei mais um pouco. Ansiedade aumentou muuuuito kkk
    Tava orfã de uma boa história, agora que a saga retornou a minha mente capciosa começará criar conspirações em breve.

  7. Ai meu coração!
    Aquele momento que você não sabe se estapeia a Sam ou comemora quem nem uma louca, o fato de Theo ter acordado.
    Nem preciso dizer que estou adorando né? A.M.A.N.D.O!
    Bjos, Cris! Até a próxima.

  8. Ninguém vai entender se me ver aqui em lagrimas com o celular na mão, se me perguntarem vou falar que é culpa da Schwinden. Olha o retorno de 2121 mexeu com minhas estruturas.
    Chorei com a dor da Sam, com suas conversa com a Theo, com seu desespero. Ela não é fraca, e seu amor por Theo fez ela mudar muito. Não fiquei chateada com a Sam dormir com Mike, mas eu também FUI ENGANADA! (pensei que ele estava mudando no ultimo cap.) Me deixou muito triste os comentários pelo ocorrido, no Lettera só dava Mike nos comentários. Ele faz parte da historia, são 8 anos juntos com ele, foi 8 anos sendo submissa e só conhecendo isso. Sam estava carente e precisava de uma certeza física, mas foi a certeza errada rs. Ela percebeu isso logo.

    Sam, seja forte. Estão todos contra você! 😀 (Vi um comentário falando p/ Theo ficar com a Letícia. OI?!?!? )

    Parabéns Schwinden pelo Tri! Vc é foda.

    Olha achei desnecessário amputar a mão da Theo. (Mas foi coerente). Está baixando em você as maldades da Shonda Rhimes e George Martin? Em coma, sem mão, sem visão, e possivelmente sem fala? Theo é a nova Josef Climber!!!!!!!!!!!

    Sam, linda. Força!!
    Theo, linda. Bem vinda de volta. Força garota.
    Schwinden, linda. Parabéns!! Pega leve, não me faz chorar. Cuidado com a Theo. Ensina a Sam virar a super mulher que ela é. E eu sei que a Theo é seu Xodó..

  9. Eu tava bem mordida pelo fato de Samantha transar com o cornão na casa da Theodora e pior: na cama da mesma.
    Mais do que “fraqueza”, achei falta de respeito da parte dela. Ok.
    Ai, quando me preparei pra digitar uma biblia de xingamentos, Theodora acorda do coma. E eu nao tive outra saida… Minha “biblia” se resumiu a uma unica palavra .. rs’
    Mas a raiva continuava… ate que fui no Lettera e vi a quantidade de gente xingando e dando sermao em Samantha. Ri mt.. e lembrei o quanto Cris gosta disso.. entao to mais relaxada. Kkkl
    Entao.. que venha o 7.

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