Capítulo 58 – Expiação
Naquela pequena praia do Rio, amparada por Tábata e um outro colega, Theo foi até o mar e teve alguns minutos de alegria genuína, caindo na água várias vezes. Pouco depois a dupla entrava no albergue, molhadas e sujas de areia.
Quando entraram no quarto de Theo tomaram um susto com aquela presença sentada na cama.
– Onde você estava, Theodora? – Virginia vociferou.
– Ãhn… Oi Virginia.
– É sua noiva? – Tábata perguntou num sussurro em seu ouvido.
– Não. Virginia, essa é a Tábata. Tábata, essa é a Virginia, uma amiga minha.
– Você quer nos matar do coração? – Virginia dizia já de pé. – Eu vim correndo de Volta Redonda para te procurar, Michelle passou a noite em claro, Stefan está com a pressão nas alturas. Você não atende mais o comunicador, some, e quando chego aqui encontro suas coisas espalhadas pelo quarto.
– Alguém esteve aqui me procurando… – Theo se dava conta olhando o quarto revirado.
– Por que você está molhada e cheia de areia? – Virginia perguntou incisivamente, olhando seus pés descalços.
– É… Eu estava na praia, eu fugi daqui porque tinha dois homens armados me procurando.
– Eu vi os caras. – Tábata completou.
– Enquanto estávamos achando que você estava morta, na verdade você estava numa festa na praia tomando banho de mar?
– Já que eu estava lá… Desculpe, eu não quis preocupar vocês. – Theo dizia cabisbaixa. – Eu sinto muito.
– Quem eram esses caras? Do governo? De Claire?
– Não sei, não faço ideia. Tábata me ajudou a fugir, me tirou daqui com a moto.
– Você não pode se comportar como uma adolescente irresponsável, Theo! Você não pode se dar a esse luxo, eu vou te levar de volta para a Sibéria ainda hoje, entendeu?
– Virginia, eu só passei uma noite na rua, eu não fiz nada de errado! E você não é minha mãe para me dar sermões!
– Mas poderia ser, tenho idade para isso!
– Não vou discutir com você. Eu vou arrumar minha mochila agora e voltar para San Paolo, lá resolvo o que ainda está pendente com a imprensa e viajo para a Sibéria em seguida.
Virginia bufou, acalmando-se.
– Você está bem? Se machucou?
– Estou bem.
– Você dormiu?
– Ainda não.
– Vou te levar para minha casa, você vai tomar um banho e dormir. À noite nós duas vamos para San Paolo, ok? – Disse já sacando o comunicador e ligando para Stefan.
– Tá bom. – Theo disse e se pôs a juntar suas coisas pelo chão.
– Deixa comigo, senta aí. – Tábata disse, a colocando na cama.
– Stef? Ela apareceu, está tudo bem, vou levá-la para minha casa. Repasse aos outros.
Antes de deixar o albergue, Theo despediu-se da nova amiga lhe dando seu número pessoal de ID.
– Poderei te chamar para outras festas? – Tábata disse.
– Sim, quando voltar a morar aqui eu vou querer ir em todas essas festas que estou perdendo, e levarei Sam, tenho certeza que ela vai curtir.
Já no apartamento de Virginia, Theo saiu do banho num roupão azul claro e foi até a sala, onde a advogada se debruçava sobre uma tela projetada em seu colo, no sofá.
– Posso pegar algo para comer na cozinha? – Theo perguntou de mansinho, a assustando.
– Claro, deixei algumas coisas sobre a mesa, para você.
Theo ia no sentido da cozinha, quando hesitou e voltou a falar.
– Desculpe mais uma vez pela preocupação.
Virginia tirou os olhos da tela e a fitou.
– Às vezes eu esqueço que você é uma garota de 22 anos.
– Eu também esqueço, porque me sinto com cinquenta o tempo todo. Com pernas de noventa. – Riu.
Três dias depois Theo já esquecia do calor do Brasil ao andar pelas ruas de Novosibirsk com dois casacos espessos, luvas e um gorro negro que cobria as orelhas. Entrou confiante no café já conhecido, com desenvoltura em suas muletas, e seguiu até o caixa, onde um homem calvo e bochechudo conferia algo de forma compenetrada.
– Sergei, correto? – Theo o abordou.
– Sim, vai querer o café de sempre?
– Não, hoje não. Hoje vim pedir essa vaga de garçonete que está o cartaz da vitrine. – Disse tirando as luvas e o gorro.
Sergei endireitou-se atrás do vidro do caixa e a fitou dos pés à cabeça.
– Garçonete com duas muletas? Vai equilibrar os copos na cabeça?
– Eu posso abandonar uma das muletas, sem problemas.
– Ainda assim não serviria para a função.
– Então me coloque em outra função. – Theo insistia com determinação.
– Acho que você deveria procurar emprego em outro lugar.
– Eu sei mexer nessas máquinas de café.
– Eu também sei, por isso que eu que faço isso.
– Você teria mais tempo livre se delegasse essa função para outra pessoa além da Lieze, às vezes se forma uma fila aqui no caixa porque você está ocupado preparando cafés e ela não dá conta.
– Então você já trabalhou em cafeterias?
– Não, apenas consumo café. Mas sei mexer nas máquinas, tinha algumas dessas na minha casa.
– Você tem essas máquinas que custam milhares de dólares na sua casa?
– Tinha, não tenho mais.
– As máquinas?
– A casa. As máquinas também. – Theo debruçou-se sobre o balcão. – Escute, eu realmente preciso de um emprego, estou almoçando macarrão congelado há três dias, o aluguel está vencido, e não terei dinheiro para ir até Krasnoyarsk no próximo final de semana visitar minha namorada na prisão.
– Por que sua namorada está na prisão?
– É uma longa história, mas posso te garantir que ela é inocente.
– Não tenho verba para contratar duas pessoas.
– Você pode pedir um desconto nos impostos por contratar uma pessoa com deficiência física. – Theo disse sorridente.
– Ainda assim ficaria pesado.
– Eu me comprometo a levar copos nas mesas de vez em quando, você não precisará contratar outra pessoa. Ou então deixe que as pessoas peguem seus copos aqui no balcão mesmo, elas andam muito preguiçosas.
– Você é insistente.
– Eu preciso da grana.
No dia seguinte Theo enchia alguns copos nas máquinas robustas da cafeteria, com um avental vinho com o nome da cafeteria. Dimitri apareceu no balcão e a fitou confuso.
– Por que você está do outro lado?
– Olá, Dima! Eu agora trabalho aqui.
– Trabalha de verdade?
– Sim, eu preparo os cafés, chás, sucos…
– Você pode tomar café quando quer?
– Não, mas às vezes posso.
– Que horas você sai?
– As sete, mas tenho intervalo, posso continuar te fazendo companhia.
– Pode agora?
– Sergei, posso fazer meu intervalo agora? – Theo abordou seu chefe no caixa.
– Aquela parada de vinte minutos não foi seu intervalo?
– Não, aquilo foi um lapso que tive.
– Ok, vai lá.
Naquele domingo Theo pode finalmente visitar sua namorada na prisão, com o adiantamento do seu salário, renovando suas energias para as últimas quatro semanas antes do julgamento. Na segunda-feira Stefan e Virginia estavam ainda em Krasnoyarsk, chegariam apenas na terça, mas Theo trabalhara a tarde inteira na cafeteria, esquecendo alguns copos e tendo lapsos rápidos. Estava determinada a continuar em suas funções, que dividia com alguns momentos falando com a imprensa, que a procurava presencialmente ou pelos canais remotos.
As sete da noite a escuridão já era completa nas ruas de Novosibirsk. Após encerrar seu turno Theo vestia seu casaco pesado e recolocava sua arma para dentro dele. Vestia as luvas e o gorro e tomava o rumo do seu apartamento, prestando atenção ao redor e com cuidado para que a muleta não escorregasse na neve.
Logo na primeira quadra percebeu que estava sendo seguida por pelo menos duas pessoas, olhando discretamente para trás via os vultos. Poderia ser apenas fotógrafos, curiosos, ou alguém da imprensa querendo mais algum depoimento para atiçar o fogo da crise na Nova Capital. Theo não recusava falar com quase ninguém, pois estava usando essa abertura para panfletar em causa própria. Ou melhor, pela causa de Sam.
Atravessou a rua para verificar se realmente a seguiam, e os dois homens atravessaram também. Quebrou a esquerda para ir até a rua onde morava, atravessou a quadra, tomou sua rua, não os via mais.
A poucos metros da entrada do seu prédio, sentiu uma mão lhe cobrindo a boca com violência, e uma agulha penetrando em seu pescoço, não viu mais nada.
Os olhos abriram pesadamente, como se âncoras os puxassem para baixo, estava de bruços, meio desajeitada num colchão de solteiro novo, sem capa. O corpo não respondia, não conseguia mover sequer a mão, os olhos abertos era tudo que conseguia comandar. Apesar da visão desfocada, Theo percebeu que estava no chão de algum galpão de madeira, o pé direito alto e inúmeras ferramentas, cordas, correntes, coisas metálicas que não sabia para o que servia. Ao seu lado uma cadeira e uma garrafa de água.
Além do frio que sentia, haviam lhe tirado o casaco, sentia um cheiro de canais ou de alguma baía, e escutava um vento uivando no telhado e nas madeiras. Provavelmente estava próximo a algum porto ou docas, mas não fazia ideia de onde estava e quantas horas haviam se passado, nem sabia se ainda estava na Sibéria.
Usava apenas um suéter cinza por cima de uma camisa xadrez azul, lhe causando um tremor com o frio e o medo, não entendia ainda o que estava acontecendo, não avistou ninguém, não ouvia nada. Tentou se mover, mas apenas conseguiu mexer a cabeça e olhar na direção do pé, onde uma corrente a prendia firmemente.
– Calma… – Fechou os olhos e tentou lembrar de como havia chegado até ali, talvez estivesse tendo algum lapso e esquecendo alguma parte importante.
Passou a hora seguinte engolindo o terror que teimava em queimar suas entranhas, como uma azia infernal. Já conseguia mover seus membros, virou-se para cima e arrastou-se até o canto do colchão, ficando em posição de alerta.
Uma grande porta de madeira no início do galpão se abriu e alguns homens entraram, ouviu as passadas vindo em sua direção. A luz ambiente vinha da iluminação artificial da rua, pelas frestas e aberturas no alto.
– Que bom que está acordada. – Elias disse ao parar ao lado do colchão, a fitando com seu sorriso sarcástico que Theo conhecia tão bem.
Não teve força ou coragem de responder, o pânico a calou.
– Vocês dois podem sair, eu quero ficar a sós com minha sobrinha. – Elias instruiu os dois seguranças, sendo um deles o homem de bigode com um braço apenas.
– O que você quer? Não sirvo mais para seu projeto. – Theo disse de forma trêmula, sentada retraída no canto entre as duas paredes.
– Eu sei que não, você estragou tudo, destruiu minhas chances de ter o monopólio das vacinas, por isso resolvi te parabenizar pessoalmente. – Elias abriu seu sobretudo e afrouxou o cachecol também negro.
– Vai me matar aqui?
– Não, vou te levar para a Zona Morta. Já que você não me deu o lucro com o Beta-E, vai me dar lucro no novo Circus.
– Apenas viva poderei dar lucro, eu me matarei antes de chegar ao Circus.
– Não, eu conheço você desde criança, você não faria isso. Sua namoradinha está aqui fora e você se preocupa com ela, não a abandonaria.
– Eu não voltarei ao Circus. – Theo disse com a voz falhando, sumindo.
Elias lhe entregou um sorriso complacente, buscou e sentou-se numa cadeira próximo dela.
– Você vai me pegar pelo prejuízo, eu estou irritado com você, decepcionado. Você é minha propriedade, sobrinha, você me pertence. Trancada dentro do meu estabelecimento sei que não fará mais nenhuma besteira, e você vai adorar o novo Circus, é maior que o anterior, tem mais de vinte profissionais e centenas de clientes. Ah, sabe qual a novidade? Quartos temáticos, como num motel de luxo, quartos com decoração, acessórios, aparelhos… Deixarei que você escolha em qual deseja trabalhar.
– Que bonzinho… – Theo ironizou, o que tiver que tenha sido injetado ainda fazia efeito e a derrubava completamente.
– Está com saudades?
– Confesso que nesse ano longe de você me peguei pensando algumas vezes em como seria maravilhoso receber a notícia da sua morte, ou em provocá-la.
– Não sentiu falta de nossas tardes? Você voltará a ser a minha preferida, e como agora eu moro no local onde o Circus funciona, isso significa que você irá me servir também à noite, no meu quarto.
– Você levará um cadáver para a cama, tio.
– Vou tratar de garantir pessoalmente que você chegue viva e bem na Zona Morta, farei a viagem de navio com você, meus dois amiguinhos também irão conosco.
– Navio?
– Não tenho como tirar você daqui via aérea, já aluguei um compartimento num navio cargueiro que parte amanhã à noite. – Elias levantou da cadeira, suspirou antes de voltar a falar. – Aproveite o dia de amanhã para descansar, a viagem será longa, mais de trinta horas.
– Eu não embarcarei.
Elias tirou uma caixinha do bolso do sobretudo, a abriu e tirou uma seringa cheia.
– Isso é para garantir mais oito horas de paz. – Elias pressionou o rosto de Theo contra a parede, o virando e expondo o pescoço. – Não vai te apagar, mas você ficará dócil.
Aplicou o líquido da seringa e soltou seu rosto. Theo debateu-se fracamente, batendo em suas mãos.
– Ninguém pode te ouvir aqui, ninguém virá te ajudar. Comporte-se e amanhã lhe trarei comida.
A visão de Theo embaralhou um pouco, a voz de Elias se tornou distante, uma sensação quente subia pela coluna.
– Antes de ir vou me vingar um pouco das merdas que você me fez. – Elias disse prensando o solado de sua bota na garganta de Theo, enquanto tirava seu sobretudo.
***
– Yulia, leva minha bandeja? – Sam pediu já levantando da mesa comprida do refeitório, o horário de almoço chegava ao fim.
– Amanhã você leva a minha.
– Vai tirar um cochilo? – Sophia, a matriarca do grupo, lhe perguntou.
– Não, vou lá assistir à tela.
– Essa tela só passa coisas ruins, notícias ruins, prefiro ficar aqui no nosso mundinho que já é cinza o suficiente.
– Mas antes de passar o noticiário passa um pouco de desenho animado, eu gosto, distrai um pouso, sabe. – Sam justificava.
– Vamos? – Yulia abordou Sam, levando também Nira, a garota cega, e Carmen, a muda.
Num salão não muito grande, algumas cadeiras plásticas estavam dispostas de forma bagunçada, em frente à uma tela onde já exibia um desenho animado. Apesar de estar em russo, Sam assistia com atenção, suas amigas traduziam alguns termos de vez em quando.
– Posso sentar aqui? – Svetlana disse já sentando ao lado de Sam, colocando uma cadeira ao seu lado, próximo à parede.
– Claro, cadê Flávia?
– Foi dormir. Preciso te contar o final do livro, eu sei que você não vai ler mesmo, o final foi incrível, preciso dividir com alguém.
– Aquele romance água com açúcar que você estava lendo?
– Sim, e não fale assim de Cachoeiras do amor, a história é linda. – Svet a censurava.
– Deixe adivinhar: no final ele conquistou os pais dela e casou coma mocinha?
– Claro! O amor venceu, oras.
– Que engraçado, ela tem o mesmo nome que sua namorada. – Yulia disse olhando para a tela.
– O que?
– Essa menina também se chama Theodora.
Sam olhou para a tela e viu imagens de Theo num noticiário, onde uma repórter falava em frente a um prédio antigo, não mais em russo.
– Theo… – Sam levantou-se da cadeira e se aproximou.
…a herdeira do polêmico Grupo Archer foi sequestrada na noite de ontem, mas o consulado da nova Capital aqui em Novosibirsk ainda não se manifestou. – A repórter apontou para o prédio atrás de si. – A polícia local emitiu um comunicado agora há pouco informando que está fazendo buscas na região e que está investigando o caso com afinco, mas que ainda é cedo para apontar suspeitas.
– Meu Deus. – Sam assistia vidrada.
…alguns grupos já acusam o presidente da Nova Capital, John Hover, de ser o mandante do sequestro. – Cenas de câmeras de vigilância passaram a ser exibidas, mostrando ao longe dois homens abordando Theo na rua. – As identidades destes dois homens ainda são desconhecidas, bem como a propriedade da van em que Theodora foi jogada e levada, como pode ser vista nas filmagens.
A tela passou a exibir cenas antigas de Stefan e Virginia falando com a imprensa.
…os advogados de Theodora Archer chegaram hoje cedo a Novosibirsk e estão colaborando com as investigações, eles estiveram na embaixada pedindo providências e não quiseram falar com a imprensa, apenas emitiram uma nota pública dizendo que ainda estão abalados com o crime e que também estão sem pistas. – Entraram cenas de arquivo do presidente. – A assessoria do governo da Nova Capital ainda não se manifestou contra as acusações, o presidente não foi visto no Capitólio hoje, e como nos dias anteriores, não divulgou sua agenda. A bolsa teve uma forte queda pela manhã após a divulgação do sequestro, especialistas dizem que o mercado está prestes a ruir e um colapso econômico pressionará ainda mais a renúncia do presidente. – A tela voltou aos apresentadores do telejornal. – A polícia local repassou um canal direto para denúncias sobre o paradeiro ou alguma informação que leve aos sequestradores.
A notícia findou-se e Sam sentiu as pernas fraquejarem, ainda olhando boquiaberta para a tela.
– Eu sinto muito… – Svetlana disse, com a mão em suas costas.
– Levaram ela, levaram Theo, eu preciso fazer algo.
Sam saiu em disparada pela sala correndo até o portão de ferro que encerrava o corredor.
– Eu preciso falar com meu advogado! – Sam gritava batendo na porta, que tinha uma abertura com grades.
– Volte para sua cela, interna. – Sirkis a repreendeu, do outro lado da porta.
– Sequestraram minha namorada, eu preciso fazer algo! Eu preciso dos meus advogados! Por favor, chame me advogado, o nome dele é Stefan Morris!
– Se você não sair dessa porta agora eu vou abrir e vou bater tanto em você que você vai mijar nas calças por uma semana. – Ele rosnou.
– Eu preciso de acesso à rede, preciso de mais notícias, por favor me ajude.
– Eu vou contar até três.
– Me deixe falar com algum supervisor.
– Saia. Agora. – Sirkis disse e bateu com o cassetete na porta.
Sam o encarou por alguns segundos, sem saber o que fazer. Acabou por voltar para o pavilhão interior, onde Sophia vinha em sua direção na cadeira de rodas.
– Eu soube o que aconteceu, as meninas me disseram. – Sophia a abraçou.
– Ela já deve estar morta a essa altura. – Sam disse com os olhos cheios de lágrimas.
– Não, depois de tudo que você me contou que ela passou, eu duvido que ela tenha sido derrotada. – Sophia lhe disse de forma firme, lhe segurando os ombros.
– Isso é queima de arquivo, levaram… Eles a levaram… – Sam ergueu-se e se pôs a chorar, Nira a abraçou.
– As coisas não ficarão mais fáceis se você perder as esperanças. – Sophia lhe censurou. – Até o momento não sabemos quase nada sobre o que aconteceu, talvez ela até já tenha se libertado.
– Ela não deveria andar sozinha… – Sam já soluçava. – Meu Deus, não consigo respirar.
– Svet, a leve para a cela. Carmen, leve água.
– Não, eu tenho que fazer algo. – Sam desvencilhou dos braços que a acudiam e saiu na direção do portão de saída novamente.
– Sirkis vai ficar puto. – Svetlana a segurou pela cintura, apesar dos protestos.
– Eu preciso falar com alguém!
– Samantha, não tem o que fazer, aceite isso, não há o que fazer aqui dentro. – Sophia disse.
– Se ela estiver morta… Minha vida acabou…
– Ela está viva, pare com isso.
– Se estiver num cativeiro? Se estiver machucada? Eu preciso fugir daqui!
– Vamos aguardar o noticiário de amanhã, você vai se acalmar e vai pensar com mais frieza.
– Eu vou falar com os chefes, vou sondar se a Bratva sabe de algo. – Svetlana disse.
– Seja forte, por ela. – Sophia finalizou.
***
– Não estou com cabeça para falar com a imprensa, Virginia. – Stefan andava transtornado pela sala do pequeno apartamento.
– Então vamos divulgar alguma nota, eles não param de nos encher o saco. – Virginia estava sentada numa poltrona em frente a tela que exibia notícias, sem áudio.
– Eu quero que eles se explodam, precisamos pressionar a polícia e o consulado, eles precisam fazer mais.
– Estão analisando a van, mas o chefe de polícia acabou de falar que não acharam nada até agora. Stef, sente-se um pouco, sua pressão está alta de novo.
– 24 horas e nada? Isso está errado! Um dia inteiro de nada? Onde ela se enfiou? Eu não aguento mais ficar trancado aqui dentro.
– Para piorar o governo não está colaborando com nada, eles querem ver Theo morta, devem estar adorando esse sequestro.
– Ou estão por trás desse sequestro.
– Michelle chega amanhã, será bom, ela fará pressão no consulado. – Virginia disse.
O comunicador de Virginia tocou e era da delegacia.
– Precisamos que alguém venha aqui reconhecer uma peça de roupa que encontramos. – O chefe de polícia disse do outro lado da linha.
Expiação: s.f.: Cumprimento da pena ou castigo; sacrifício expiatório; penitência.