Capítulo 54 – Megalomania
– Maritza e John já foram? – Theo perguntava numa vídeo ligação para Stefan, na quarta-feira.
– Sim, à tarde. Me mate de inveja, me diga quantos graus está fazendo aí agora.
– 28. Morreu?
– Não vejo a hora de sair daqui. Já tirou os pontos do braço?
– Vou tirar amanhã, se encontrar alguma pinça. O que você está fazendo? Estou ouvindo barulho de gente falando aí.
Stefan virou o comunicador, apontando para a tela, onde passava um filme.
– Você não gosta muito de ver filmes, que milagre.
– É bom tirar um tempo para espairecer. – Stefan disse.
– Eu sei, consegui descansar um pouco aqui em San Paolo, o sol brasileiro me fez bem, meu humor melhorou. As boas companhias também. E amanhã verei o casal que acabou de sair daí, estou com saudade deles.
– Traga este sol, por gentileza.
– Você poderia ter convidado Virginia para assistir ao filme com você, seu antissocial.
Stefan baixou o comunicador, mostrando seu colo.
– De quem você acha que são essas pernas? – Ele perguntou.
– Ah bom, bem melhor assim.
Stefan virou a tela para Virginia, que estava deitada com as pernas por cima da pernas de Stefan. Ela sorriu e ergueu o balde de pipoca.
– Quer pipoca, Theo?
– Não, obrigada, já jantei. Michelle está me mimando, me enchendo de comidas.
– Não fique mal acostumada, meu repertório na cozinha é pequeno. – Virginia disse.
– Eu adoro seu repertório, querida. – Theo respondeu.
– Eu também. – Stefan completou.
– E aquela lasanha que você reclamou que estava salgada demais? – Theo disse.
– Você está sendo desnecessária, Theodora. – Stefan a repreendeu.
Theo riu e voltou a falar agora num tom mais sério.
– Escute, eu tomei uma decisão, mas não farei nada antes do seu aval.
– Que decisão?
– Vou chutar o balde, de muletas e tudo. Conversaremos pessoalmente, sábado à tarde estarei aí.
Após o término da ligação, Virginia atirou algumas pipocas em Stefan.
– Hey!
– Então você fica reclamando da minha comida pelas minhas costas?
– Foi só um comentário.
– Eu como seu omelete de sal recheado com sal e não reclamo.
– Então é unânime, nós dois vamos diminuir a quantidade de sal. Mais alguma reclamação, doutora?
– Tente fazer menos barulho de manhã cedo quando você prepara o café, eu durmo na sala, lembra?
– Por que não dorme no meu quarto?
Virginia foi pega de surpresa, ficando sem palavras. Stefan percebeu em seguida a dubiedade do que falara, e tentou se corrigir.
– Não me refiro a dormir comigo, você pode colocar o sofá cama no quarto.
– Não cabe.
– E a minha cama? A cama é grande, você pode ocupar metade dela, tem pouco risco de contato físico não intencional.
– E intencional?
***
Theo chegou em Novo no sábado pela manhã, ao entrar no apartamento, já de janela consertada, estranhou não encontrar ninguém. O sofá cama onde Virginia dormia estava desarmado, seu quarto estava vazio. Bateu na porta do quarto de Stefan e não houve resposta.
– Onde esses dois se enfiaram?
Ligou no comunicador deles, ninguém atendeu.
Bateu novamente na porta de Stefan, com vigor. A porta se abriu instantes depois, com Stefan abrindo a porta com sono.
– Seja bem-vinda de volta ao inferno gelado, agora me deixe dormir. – Ele resmungou e já ia fechando a porta, Theo segurou.
– Espere, onde está Virginia? Ela voltou para o Brasil?
– Não, ela está dormindo.
– Não, eu já a procu… – Theo pode enxergar Virginia dormindo na cama logo atrás de Stefan, e arregalou os olhos com surpresa, olhando de Stefan para Virginia várias vezes. – Stef??
– Eu posso explicar.
Ainda surpresa, Theo apenas ergueu a mão, e saiu para a cozinha.
– Que danados… – Ria enquanto preparava o café.
Meia hora depois Theo fazia algumas pesquisas na mesinha onde Stefan costumava trabalhar, o advogado saiu do quarto já de banho tomado e sua camisa branca impecável sem o menor vinco, como sempre trajava. Já não usava mais gravata dentro de casa, nem colete.
– Fez boa viagem? – Ele disse com a mão em seu ombro.
– A viagem para cá sempre tem gosto amargo.
– Eu também não gosto daqui.
– Precisamos conversar, meu caro amigo.
– Em primeiro lugar, minha vida pessoal não interfere no meu trabalho.
– Cale a boca, Stef, não me refiro a essa orgia na minha ausência. É aquele outro assunto que comentei essa semana. Mas quero estar a sós com você, é um troço bem sério.
– Você fez alguma besteira na Nova Capital.
– Não, pelo contrário, estar longe desse ambiente pesado e frio da Sibéria iluminou meus pensamentos, tive uma semana atípica, até fui trabalhar com Michelle um dia. Mas usei o tempo livre para repensar algumas coisas.
– Vem bomba?
– Vem bomba. Vá tomar seu café, Don Juan.
– Nada de gracinhas, respeite Virginia.
Theo o fitou com um sorriso arteiro.
– Stef, se eu fosse heterossexual com certeza já teria te levado para cama, você sabe que tenho uma queda por coroas, e você é um partidão, deve ser maravilhoso entre quatro paredes.
– É exatamente a esse tipo de coisas que me refiro quando digo que não quero gracinhas. – Stefan, já vermelho, disse e seguiu para a cozinha, deixando Theo rindo.
***
Naquele sábado Sam despediu-se das colegas de baralho e foi para sua cela tirar um cochilo após o almoço. Ao chegar na cela encontrou a já conhecida cabaninha de cobertores na cama de Svetlana.
Estranhou num primeiro momento, porque a cabaninha do amor, como Svetlana se referia, só era armada à noite, depois que todos já estavam dormindo. Se aproximou e antes de puxar o cobertor para o lado se deu conta do que acontecia, ao ouvir os suspiros e gemidos que vinham do interior.
Voltou para o refeitório, ostentando um sorriso vitorioso pelo corredor, vibrava por dentro.
– Você não ia dormir? – Sophia perguntou.
– Mudei de ideia, estão fazendo sexo no meu beliche. – Disse ainda ostentando um sorriso.
– Deu certo?
– Certíssimo. – Comemorava.
– Isso significa que você está livre? – Nira perguntou, e Sam sentou à mesa.
– Espero que sim, foi o que combinamos.
– Agora você já pode contar para Theo.
– Não, de jeito nenhum, ela nunca vai saber. Eu vou enterrar esse acontecimento no meu passado.
– E os boatos?
– Continuarão sendo boatos, até morrerem.
– Vocês continuarão amigas?
– Acredito que sim, Svetlana sem a companhia das amigas é uma garota legal.
– Está feliz, não é? – Sophia disse, percebendo a alegria de Sam.
– Muito. E amanhã verei minha garota, depois de duas semanas sem vê-la. Quero que seja uma dia tranquilo, não vou iniciar assuntos pesados e tristes, quero só curtir um pouco amanhã, passar 50 minutos tendo uma conversa agradável enquanto seguro sua mão quentinha. A mão dela é sempre quentinha, mesmo na Sibéria, é incrível. – Dizia contente.
– Você é tão bobona, Samantha. – Nira ria.
***
– Viviane, em primeiro lugar saiba que todas as brincadeiras que fiz no decorrer do dia…
– E foram muitas.
– Ok, todas as muitas brincadeiras que fiz durante o dia foram apenas brincadeiras, espero que não tenha chateado você.
– Theodora, em primeiro lugar meu nome é Virginia.
– Eu vou começar a chamar você de Vi.
As duas mulheres conversavam em cima da cama de Theo, enquanto Stefan trabalhava na sala.
– E em segundo lugar, não me chateei, eu ri com você, lembra?
– É tão divertido sacanear com Stefan, eu não resisto, ele fica vermelho e sem jeito.
– Ele já está se acostumando com você, não se preocupe.
Estavam recostadas na cabeceira da cama, assistindo um programa de culinária e devorando empadinhas.
– Você vai começar a dormir no quarto dele?
– Pretendo. Tudo bem?
– Claro, vocês são adultos e responsáveis, eu dou minha benção. Você não tem ninguém lá no Rio?
– Não, me divorciei há dois anos.
– Não tem filhos, não é?
– Eu sei que vocês levantaram toda minha ficha, então você sabe que não tenho.
– Foi por precaução, estávamos acolhendo uma estranha em nosso ninho de amor. Eu conheço Stefan desde que nasci, mas você foi a advogada loira misteriosa que bateu na nossa porta, estava muito parecido com filme de terror ou filme erótico, tivemos que fazer essa pesquisa, e agora eu sei um bocado de coisas sobre você.
– Eu também sei um bocado de coisas sobre você.
Theo não mordeu a empadinha que levava à boca. A olhou com curiosidade.
– Leu nos tabloides?
– Theo, eu sei quem é você.
– Sabia que é a segunda vez que ouço essa frase nessa semana?
– E a outra pessoa que disse isso realmente sabia quem era você?
– Sim, aquela pirralha loira sabe que fui amante da mãe dela na Zona Morta.
– A filha de Michelle?
– Sim, Catherine. Menina esperta.
– Querida, eu sei que você é um clone. – Virginia disse calmamente.
Theo parou novamente o movimento de levar a empadinha até a boca, apavorada com o que ouviu.
– De onde você tirou essa loucura? Algum filme que assistiu com Stefan?
– São 14 clones, você foi um deles.
Theo perdeu a ação, virou-se na cama a fitando perplexa com a revelação.
– Não sei de onde você tirou isso, foi da imprensa marrom?
– Sua reação demonstra que você está assustada por eu saber sobre isso, Theo. – Virginia continuava falando num tom calmo.
– Mas isso é invenção!
– Não irei contar a ninguém, se quisesse tirar algum proveito disso ou ter prejudicado você, eu já teria feito. Só acho que você deveria saber, assim você pode ficar mais à vontade com esse assunto, pode conversar comigo quando quiser.
Theo desistiu da negação.
– Foi Stef que te contou, não foi?
– Stefan sabe?? – Foi a vez de Virginia arregalar os olhos com a revelação.
– Você não sabe que Stefan sabe?
– Eu nem tinha certeza se você sabia que era um clone, muito menos Stefan.
– Mas Stefan não é um clone.
Virginia riu.
– Desculpe, deu um nó no meu cérebro. – Theo murmurou. – Ok, eu sou um clone. O que você pretende fazer com essa informação? Me denunciar? Se você veio para conseguir algo em troca do seu silêncio, saiba que tudo que tenho de valor é um boné azul e branco com marcas de suor. Mas é valor sentimental.
– Não vim chantagear você, eu já contei porque estou aqui.
– Espera, está faltando algo, mas não consigo entender o que é. – Theo fechou os olhos com força, tentando organizar as sinapses.
– O que?
– Lembrei. Quem é você?
– Você sabe quem sou, você levantou minha ficha corrida.
– Como você sabe sobre os clones?
– Isso eu não posso contar.
– Eu preciso saber, Victoria.
– Virginia.
– Quem contou a você sobre isso?
– Eu realmente não posso falar sobre isso.
Theo explodiu se dando conta.
– Meu pai? Foi meu pai que te contou? Você trabalhou na Archer, teve contato com ele.
– Não. Theo, entenda uma coisa: seu segredo está a salvo comigo, não quero seu mal, pelo contrário, eu vim até aqui porque desejo seu melhor.
– Me deixe ver o quanto você sabe. Foram 14 clones, eu sou um deles. O que mais você sabe?
– Só você sobreviveu, e foi criada como se fosse a Theo original.
– Eu odeio esse termo, sabia? Eu odeio essa coisa de Theo original, eu sou a Theo de verdade, não existe outra. – Vociferou.
– Eu concordo.
– O que mais?
– Só isso.
– Não sabe nada sobre esse projeto? Quem fez, com qual interesse, nada?
– Seu pai fez. Com o interesse de repor a filha falecida.
Theo a encarou duramente.
– Quem diabos é você, Virginia??
– Acertou meu nome, isso é bom.
– Também posso acertar essa empadinha em você.
– Coma, antes que esfrie.
– Você trabalhou com Claire? – Theo tentava eliminar possibilidades.
– Não, ela entrou na Archer anos depois de eu ter saído. Eu não a conheço pessoalmente.
– Você foi uma das amantes do meu pai safado?
– Não, nunca tive nada com Benjamin.
– Quem te contou dos clones?
– Eu não vou falar, Theodora.
– Me fala, vai.
– Não, eu não vou contar.
– Você era alguma cientista que trabalhou no projeto?
– Realmente acha que fui cientista? Você sabe todas as minhas formações e trabalhos.
– Não, você não foi cientista.
– Meu objetivo te contando não foi para te deixar ansiosa nem nada do tipo, foi para deixar claro o que eu sei a respeito, e agora você pode falar sobre esse assunto comigo sem reservas. Inclusive na frente de Stefan, que também sabe. Você contou para ele?
– Contei, Sam não sabe deixar aquela boca fechada, tive que contar.
– Ótimo, está tudo resolvido. Coma a empadinha, querida.
***
Sam jantava com o grupo de Sophia quando viu Svetlana e Flávia surgirem no refeitório, faltando vinte minutos para encerrar a janta.
– Deus é grande. – Sam disse ao ver a cena.
– Você vai perder o posto de namorada e a proteção das mafiosas, Sam. Vai precisar se cuidar melhor.
– Eu serei prudente, vou tentar ficar invisível nessa prisão, dentro de menos de dois meses será meu julgamento, e se minhas preces forem ouvidas, sairei do tribunal diretamente para San Paolo.
Svetlana montou seu prato e seguiu para a mesa das Bratva, dando uma olhada rápida e insegura na direção de Sam.
– E se essa menina da máfia estiver gostando de verdade de você? Ela não vai querer te largar. – Sophia ponderou.
– Flávia gosta dela, gosta muito. E cá entre nós, é muito melhor estar nos braços de alguém que goste verdadeiramente de você, não é?
– É outra coisa, muito melhor. – Nira concordou.
– Seu namorado vem amanhã, meu anjo? – Sam a indagou.
– Vem. As 15:10.
– Theo também vem nesse horário, então estarei lá na sala com você, conhecerei o famoso Gustav.
– Ele é o ser humano mais fofo da face da terra. – A menina dizia contente. – E é tão lindo.
– Você não enxerga, Nira, não sabe como ele é. – Samira disse.
– Não precisa enxergar, Samira. – Sam rebateu. – A visão às vezes é uma distração.
– Ele pode ser mais feio que o Sirkis, e se ninguém te contar a verdade, você pode acreditar a vida inteira que o cara é bonito. – A mulher na cadeira de rodas insistia.
– Você não sabe do que está falando. – Sam continuava a rebatendo. – Mas tudo bem, não quero convencer você de nada, só estou tentando abrir sua mente, a beleza real não é somente vista.
– Se você se candidatar a qualquer coisa eu voto em você. – Nira brincou.
– Eu também. – Sophia entrou na brincadeira. – Você é uma exceção aqui, Samantha. Sentiremos sua falta quando nos deixar, mas ficaremos felizes por você poder estar novamente com sua garota e em liberdade.
– Quero que vocês me visitem na Nova Capital, quando saírem também.
– Pretendo ir ao seu casamento. – Sophia disse.
***
– Ela quer conversar comigo. – Stefan encontrou Virginia na sala mais tarde naquela noite.
– Eu sei, vá lá conversar. Eu vou comer alguma coisinha e vou dormir. – Virginia respondeu com as mãos na cintura dele.
– Você vai continuar dormindo no quarto, não vai? – Disse com os rostos próximos.
– Vou sim. – O beijou e seguiu para a cozinha.
Stefan sentou-se numa cadeira acolchoada no canto do quarto, Theo estava sentada em sua cama, com um semblante sereno.
– Solte a bomba, Theo.
– Que direto, você. Sua cara de menino apaixonado é muito bonitinha.
– Solte a bomba. – Disse sílaba por sílaba.
– Certo. Tomei uma decisão.
– Espero que seja alguma decisão sensata, senão não apoiarei.
– Sensata eu não tenho certeza se realmente é. Mas sei que é necessária. Eu resolvi dar o que Claire quer, porque é a única forma de interromper essa merda toda. Não vou pagar para ver, não quero tentar adivinhar quem será a próxima pessoa que amo que ela vai tirar de mim.
– Com certeza essa é uma decisão sensata, extremamente sensata. Espero que permitam visitas aos tubos de laboratório, quero te visitar quando estiver com saudades.
– Ela não vai parar, ela tem certeza que eu tenho a informação. Porque eu tenho a informação, a fonte dela é quente.
– Me avise quando mandar a mensagem para ela contando que você é o que ela procura, para deixar a porta do apartamento aberta.
– Eu não contarei a ela.
– Não? Me deixe adivinhar: eu contarei?
– Ela saberá através da imprensa.
Stefan retesou-se na cadeira, segurando firmemente os apoios de braço, em madeira.
– A imprensa saberá de tudo? Tudo?
– Quase tudo.
– Esse é o momento da conversa em que você me conta tudo minunciosamente antes que eu tenha uma síncope.
– Acompanhe meu raciocínio: se eu contar para ela, já era, ela me busca e minha vida pode ser dada como encerrada. Mas se eu contar para o mundo, eu terei o mundo como testemunha.
– Prossiga.
– Eu terei o mundo inteiro me vigiando, e por mais esdrúxulo que isso possa parecer, terei o mundo me protegendo.
– Ok, agora desenvolva as consequências disso.
– Eu vou destruir a Archer.
– A Archer também é minha, você vai destruir o que levei anos para conquistar?
– Fofinho, a Archer é da Claire.
– É nossa, por direito.
– Você esteve recentemente no Brasil, acompanhou o processo de reconquista dos nossos bens. Me refresque a memória, o que você me disse quando chegou aqui?
– Que o processo ainda não andou.
– A porcaria do nosso processo nem saiu da mesa do estagiário. Claire pagou o judiciário para que nada disso avance. Sabe quando recuperaremos nossos bens? No dia em que eu descobrir como se liga o aquecimento do maldito vaso sanitário. Ou seja, nunca. Nunca teremos a Archer de volta, nunca terei minha bunda quentinha na Sibéria.
– Tem um botão prateado atrás do vaso, nunca viu?
Theo o fitou em silêncio, pensativa.
– Não. Ok, esqueça minha bunda. Ouça meu plano.
– Seu plano tem tantos furos, tente me convencer que pode dar certo.
– Só vou contar se mudar essa postura, quero você mais receptivo, otimista.
– Você quer destruir meu sonho de ter meu 1% da Archer de volta.
– A Archer é de Claire, e é a fonte de poder daquela rameira. Derrubando a fonte de poder dela, aumentamos a chance de acabar com a raça dela.
– Essa parte faz sentido. Continue.
– Eu sei por onde começar. Janet, a filha do dono da rede WCK, me deve um favor. Ela vai ser o vetor da desgraça, ela vai espalhar para os quatro ventos que o governo está injetando uma droga em toda a população que a deixa passiva, suscetível. E faz isso através da vacinação obrigatória, todos estão sendo manipulados facilmente porque o governo está causando essa passividade toda.
– É nessa parte que entra a destruição da Archer?
– Exato. Eu quero que toda alma viva da face da terra saiba que a Archer é a fabricante e fornecedora desta substância, o Beta-E, e que enfia nas vacinas e despacha para todo o continente.
– Isso causaria uma crise no governo sem precedentes.
– Eu quero derrubar esse filho da… Esse presidente, o Hover. Aí entra nossa amiga senadora, Michelle. Ela vai fazer a pressão necessária para um levante nacional, e vai colocar o candidato do partido no poder.
– Acho que você não tem ideia da dimensão disso. É quase megalomaníaco.
– É lindo, não é? – Theo dizia com um sorriso sádico.
– Tem mais? Ou já posso ter o infarto agora?
– Tem mais. Eu contarei, e quando digo contarei, quero dizer que eu provarei que o que mantém o Beta-E em funcionamento é um projeto genético sinistro.
– As clones?
– Sim, o mundo conhecerá minhas irmãzinhas.
– Você é uma das irmãzinhas, você está cansada de saber o que vai acontecer quando souberem que você não é uma pessoa.
– Porra, Stef, já pedi para você não se referir a mim dessa forma. Isso magoa, viu?
– Theo, isso vai te prejudicar, e muito. Você perderá seus privilégios de cidadã. – Stefan disse já inclinado para frente.
– Ninguém precisa saber que sou um clone, como vão provar? Não tem como provar que não sou a original, o corpo dela foi eliminado por Sam e Letícia, não há mais restos mortais.
– Você vai dizer que é a original, e aquelas no laboratório são clones suas?
– Viu como não é algo absurdo? Nós iremos ceder a verdade para a imprensa, e a verdade pode ser um pouquinho manipulada pela fonte.
– E a sexta matriz?
– Vou dizer que era um dos clones nos tubos, mas a pobrezinha faleceu dia desses. Uma pena, uma Theo a menos no mundo.
– O que pretende fazer com suas irmãzinhas? Já que depois de destruir a Archer, elas não terão mais utilidade.
– Vou puxar a tomada.
– Vai matar suas semelhantes?
– Elas não têm consciência, são material orgânico, merecem o descanso eterno.
– Me dê um tempo. – Stefan disse com o rosto entre as mãos.
– Tome o tempo que precisar, mas saiba que com o seu aval, eu irei falar com Janet na próxima semana.
– E por que ela te deve um favor?
– Porque ela me traiu com um menina de 17 anos, ela me deve um favorzão.
– Que ótimo…
– Stef, dói muito tomar chifre da primeira namorada, tenho trauma até hoje.
– Não podemos entregar achismos para ela, nós precisamos de provas.
– Pela primeira vez nessa noite vejo uma inclinação positiva da sua parte, muito obrigada. E você voltou a usar o pronome nós.
– Você esteve no laboratório onde as clones estão?
– Estive sim.
– Você me disse que nunca viu as clones, você mentiu para mim.
– Eu era cega, espertão. Eu estive lá, mas não vi nada.
– Sam viu?
– Viu, quase fez xixi nas calças quando viu aquele monte de Theo nuas em tubos. Eu queria tanto ter visto a cara dela…
– Nossa testemunha ocular está presa, isso não ajuda muito.
– O coração azul! – Theo disse em êxtase.
– Que?
Theo saiu da cama aos tropeços e pegou uma caixa de dentro do armário. Voltou a sentar-se na cama, e tirou de dentro o coração artificial de Sam.
– Que raios é isso? – Stefan perguntou.
– O coração mecânico que Sam usava quando me conheceu.
– Isso é prova de algo?
– O coração não. – Theo sacudiu o coração de cabeça para baixo.
– Você sabe que o exército quer isso de volta, não sabe?
– Mas você já disse que jogamos fora, não disse?
– Você me fez mentir, muito bom saber disso.
– É meu souvenir da Sam Borg. – Theo parou de sacudir o coração e o encarou. – Esse coração já me amou, isso não é poético?
– Por que você está sacudindo isso?
– Caiu. Scanneie esse flash drive e jogue o conteúdo para a tela aí em frente, vamos fuçar.
– O que tem aqui dentro?
– Faça o que eu pedi.
Stefan fez o solicitado, e uma janela repleta de arquivos e planilhas foi listada.
– O que estamos procurando?
– Eu não sei, mas talvez tenha algo que nos sirva, esses são arquivos secretos do meu papai, esse flash estava no mesmo cofre onde Sam removeu o corpo da Theo original.
– Precisamos achar outro termo para essa menina, eu também odeio o termo Theo original. – Stefan disse.
– Vamos rebatizá-la, o que acha?
– Theo zero, pode ser? – Stefan sugeriu.
– Theo zero… E eu sou a Theo 13, sabia? Nós fomos numeradas, eram 14 bebês, eu fui chamada de 13.
– Posso te chamar de Theo 13?
– Ninguém vai entender.
– Theo zero, Theo 13, pronto, ambas rebatizadas. Você viu o número das sobreviventes?
– Claro, eu enxerguei essa informação no dia que estive lá, com a visão do meu terceiro olho.
– Mas Sam deve saber.
– Ela estava nervosa demais para lembrar disso. E nem é relevante, você está fugindo do foco.
– Ok, vamos abrir esses arquivos.
Megalomania: s.f.: Perturbação mental que se caracteriza por ideias delirantes de grandeza (força física, poder, riqueza, etc.); tendência patológica para sobrevalorizar as próprias qualidades. Mania das grandezas.