Capítulo 53 – Afã
– John, você está dizendo que Theo foi para o Brasil porque levou um tiro no braço?? – Sam perguntou cheia de confusão, estava no horário de visitas com Maritza e John.
Maritza encaixou o rosto em sua mão, John estava se enrolando mais do que o imaginado ao contar sobre os acontecimentos.
– Tá bom, tá bom, vamos contar tudo logo. – Maritza resolveu.
– O que está acontecendo, Ritz? Foi algo grave com Theo, não foi? Não me esconda nada.
– Theo está ótima, não se preocupe, só levou alguns pontos no braço. – John disse.
– Quem atirou nela? O que Meg tem a ver com isso?
– Foi Meg que…
– John, deixa que eu falo. – Maritza o interrompeu.
– Fala logo, pelo amor de Deus. – Sam implorou.
– Na quinta-feira o apartamento deles foi alvejado de tiros, Mike atirou pela janela.
– Mike?
– Ele havia enviado uma mensagem com ameaças horas antes.
– Me desculpem pelo meu irmão… – John disse envergonhado.
– E um dos tiros atingiu o braço de Theo, foi isso?
– Sim, e um tiro atingiu o peito de Meg. Ela não resistiu e faleceu.
– Meg… – Sam repetiu com perturbação. – Meg??
– Eu sinto muito, Sammy. Theo está no Brasil, acompanhou o traslado do corpo e ontem esteve no funeral.
– Era para ter contado isso no final da visita. – John sussurrou para Maritza.
– Mas você se embananou todo. – Maritza respondeu no mesmo tom.
– Meg não tinha nada a ver com isso… Meu Deus, que horrível. – Sam cobria o rosto com as mãos unidas pela corrente, cotovelos na mesa.
– Estamos todos arrasados também… – Maritza a confortava. – Ninguém esperava que o alvo mudasse, Theo havia comprado uma arma naquela tarde, por medo que Mike invadisse o apartamento.
– Que droga tudo isso… E eu trancafiada aqui, sem poder fazer nada… – Sam derrubava as primeiras lágrimas. – Meg já era parte da família, ela fez tanto por Theo… Tem família, filhos… Mas que droga. – Esmurrou a mesa.
Maritza tomou a mão de Sam, lhe afagando carinhosamente.
– Poderia ser qualquer um de nós.
– Que droga… Que droga… Que droga… – Sam levou algum tempo assimilando e remoendo a notícia.
– E pode contato físico? – John perguntou baixinho para Maritza, após espirrar.
– Theo disse que pode. – Maritza respondeu, olhando para as guardas ao redor.
– É tudo que podemos. – Sam completou.
– Theo não tem direito a visita íntima?
– Quem dera… Só os casais heterossexuais aqui nesse fim de mundo tem esse direito. E mesmo assim só para as internas da divisão de segurança mínima.
– Você está na segurança máxima?
– Não, na média. Me disseram que aqui tinha um lugar destinado às visitas íntimas, mas desativaram porque os maridos e namorados não visitam suas mulheres, desativaram por falta de uso.
– Nem um abraço?
– Não, não permitem, Theo já tentou.
– Logo você sairá daqui, poderá fazer o que bem entender. – John disse.
– Deus te ouça…
– Desculpe trazer essa notícia para você. – Maritza disse.
– Theo sabe que vocês me contaram?
– Sabe, ela pediu para contar.
– Como ela está lidando com tudo isso?
– Ela está se envolvendo com todos os trâmites, é bom que ocupa a mente.
– Quando ela volta?
– Não sei. Virginia volta hoje, mas acho que ela vai passar mais alguns dias.
– Vai aproveitar o calor. – John brincou. – Sol quentinho.
– Vocês ficam até quando?
– Quarta-feira.
– Ele tem uma prova final da faculdade na quinta. – Maritza complementou.
Sam estendeu as mãos sobre a mesa, pedindo as mãos deles.
– Obrigada por terem vindo. – Abriu um sorriso leve. – É tão bom ver vocês, eu estava com tanta saudade.
– Desculpe não ter vindo antes, estávamos juntando a grana. – John explicou.
– Eu sei, as passagens são caras, obrigada pelo esforço, e por não terem me abandonado. – Sam voltou a chorar.
– Você nunca me abandonou, primeira tenente. – Maritza disse.
– Se fosse mais perto viríamos sempre. – John disse. – Mas aqui é longe de tudo.
– Sam, sinto falta de você me sequestrando no instituto, me levando para tomar café. – Maritza disse nostálgica.
Sam sorriu, mas logo a feição se tornou séria.
– John, seu pai sabe que você está aqui?
– Sabe, estive na sala dele agora há pouco.
– Inclusive acabei de conhecer meu sogro. – Maritza disse.
– E como foi? Como ele tratou vocês?
– Ele nos deu alguns sermões, disse que não deveríamos estar aqui, que seria bom nos afastarmos de vocês. É um homem um tanto desagradável, por vezes grosseiro. – Maritza contou.
– Mas ele gosta de Maritza. – John disse.
– Claro que gosta, sou militar e europeia, como ele. Como foi que ele disse hoje? ‘Fico feliz que você tenha colocado John no caminho certo, eu temia que ele se tornasse veado.’
– Ele não faz a menor ideia do que significa bissexualidade, não é? – Sam disse.
– Não, e nem tenho mais paciência para tentar mudar algo na cabeça do meu pai, só quero tocar minha vida do outro lado do mundo, longe dele, ao lado das pessoas que amo e que se importam comigo. – John respondeu.
– Você é tão diferente deles… – Sam resmungou.
– John parece parente de Theo. – Maritza disse o fitando com ternura, pousou sua mão em seu pescoço, lhe entregando um carinho na nuca.
– O irônico era que você era meu parente, e agora não é mais.
– Nós somos sua família, Sam. – John disse.
***
– Eu não quero abusar da sua hospitalidade, Michelle. – Theo dizia ao entrar na mansão da senadora, já à noite.
– Você pode ficar aqui o tempo que quiser, você é bem-vinda.
Theo deu uma olhada rápida ao redor, uma sala pomposa com móveis de estilo moderno, cheio de linhas retas.
– Bela casa. – Theo brincou.
– E está a sua inteira disposição, fique à vontade para usufruir de todos os cômodos e instalações. Tem sauna, piscina aquecida e fria, jardim, biblioteca, jacuzzi, tudo à sua disposição.
– Onde estão seus filhos?
– Richard está morando com a namorada, Catherine deve estar na casa de alguma amiga.
– Posso me deitar? Estou acabada.
– Venha, vou mostrar seu quarto.
O quarto de visitas era amplo e tudo nele era branco. Theo não prestou muita atenção ao local, apenas sentou-se de forma desanimada aos pés da cama, abraçando as muletas.
– Você está bem?
– Acho que minha bateria terminou…
– Você teve um dia extenuante, precisa de uma boa noite de sono.
– Na verdade minha quinta-feira não terminou ainda… Não durmo há duas noites. Eu não consigo dormir.
– Você trouxe seus remédios?
Theo apenas balançou a cabeça, confirmando.
– Não tem nenhum que ajude a dormir? – Michelle perguntou, de pé a sua frente.
– Você se importaria de dormir comigo? – Theo pediu a fitando de baixo.
– Não, claro que não. Não prefere dormir então meu quarto? É mais confortável.
Theo estendeu a mão, pedindo ajuda para erguer-se.
– Vem comigo, eu levo sua mala. – Michelle disse correndo os olhos pelo quarto em busca da mala.
– Seu quarto é lá em cima?
– Sim, você consegue subir as escadas? Posso pedir ajuda.
– Consigo.
Horas depois, num quarto grande e impecavelmente decorado, Theo não conseguia dormir, enquanto Michelle já se encontrava adormecida ao seu lado. Foi ao banheiro, acendeu a luz, e deixou a porta entreaberta, deixando um filete de luz adentrando o quarto.
– Está tudo bem? Você saiu? – Michelle perguntou sonolenta.
– Fui acender a luz do banheiro. Desculpe ter acordado você.
Michelle virou-se para cima enquanto exasperava longamente.
– Esqueci do seu medo do escuro. – Michelle a observou. – Não dormiu ainda?
– Não.
– Algo a afligindo? Alguma dor?
Theo não respondeu.
– Você pode conversar comigo. – Michelle insistiu.
Theo virou-se para o lado de Michelle, estava com semblante cansado e marcadamente angustiado.
– Eu não sei o que fazer. Levaram Meg, não sei quem levarão agora.
– Por que Mike e Claire estão fazendo isso? Já não tiraram tudo de você?
– Eles querem algo que não posso dar.
– Sam? É porque Mike quer ficar com ela?
– Não.
– O que é?
– Eu teria que me sacrificar para atender a vontade deles.
– Sacrificar… – Michelle franziu as sobrancelhas.
– Literalmente me sacrificar.
– Eles já poderiam ter matado você.
– Não é exatamente isso. É uma coisa tão complexa que é impossível. Mas eles insistem, e insistem, e… E minha cabeça não está ajudando, nem irá melhorar…
Michelle a ouvia atenciosamente.
– A defesa de Sam está bem encaminhada, você pode focar nos seus problemas agora.
– Eu não vejo mais uma luz, Michelle… Eu estou exausta, arrasada… E com medo. – Theo chorava de forma contida.
– Coloque um pouco para fora. – Michelle afagou seu rosto.
– Eu não posso.
– Pode.
– Não, eu não posso desabar.
– Hoje você pode.
Theo a encarou por uns segundos e subiu em seu peito, a abraçando. Michelle retribuiu o abraço, correndo uma das mãos lentamente por suas costas.
– Hoje você tem onde desabar… – Michelle lhe sussurrou, lhe beijando o alto da cabeça.
***
Após passar a tarde seguinte com Letícia e Daniela, que a visitaram na mansão, Theo foi até a cozinha próximo da meia-noite, não conseguia dormir. Examinava a geladeira quando ouviu alguém entrando na cozinha.
– Quem é você? – Uma garota alta e loira indagou, junto à porta.
– Theo. E você deve ser Catherine.
A garota a mediu por alguns instantes, estava bem vestida e parecia ter acabado de chegar em casa.
– Eu volto depois.
– Não, espere. A casa é sua, eu posso voltar depois, ou dividir a cozinha com você, se não for incômodo. Eu só vim beliscar algo.
– O que está fazendo aqui? – Perguntou de forma seca.
– Estou passando uns dias. Sou amiga da sua mãe, ela sabe que estou aqui, não estou assaltando a casa nem nada do tipo. – Theo tentou brincar.
– Eu sei quem você é. – Finalmente Catherine entrou na cozinha, dirigindo-se até um armário.
– Quer dividir esse pudim comigo? – Theo disse erguendo uma bandeja com um pedaço de pudim de leite.
– Não, vou fazer meu shake.
– Esses shakes tem gosto de isopor com remédio para tosse, não acha? – Theo disse apontando para o pote que a garota manuseava.
– Não, não acho.
Theo largou as muletas e sentou à mesa, já devorando o pudim na própria bandeja.
– Sobre o shake, foi uma brincadeira, não quis falar mal da sua refeição.
Catherine preferiu beber sua refeição recostada numa das bancadas, continuava a observando de forma analítica.
– Eu tinha curiosidade em conhecer a prostituta que conquistou o coração da minha mãe.
Theo acabou cuspindo parte do pudim recém abocanhado, engasgada.
– De onde você tirou isso, menina? – Theo perguntou surpresa.
– Por dois anos minha mãe visitou a Zona Morta uma ou duas vezes por mês, mesmo quando não tinha compromisso algum por lá. E agora surge você na vida dela, uma ex-prostituta da Zona Morta. Não foi difícil ligar os pontos.
– Não há nem nunca houve nada entre nós.
– Só a relação cliente-prestador de serviço, não é? Mas ela gosta de você de verdade.
– E eu adoro sua mãe.
– Não do mesmo jeito, eu sei que você tem namorada.
– Eu seria imprudente com qualquer resposta dada.
– Apenas pare de dar esperanças para ela, ano passado ela chorou mais com sua presumida morte do que com a morte do meu pai, isso está muito errado.
– Eu não dou esperanças, Catherine.
– E o que está fazendo dentro da nossa casa?
– Eu perdi minha casa, ela ofereceu um quarto por uns dias, eu aceitei.
– Escutei vozes aqui, vejo que se conheceram. – Michelle juntou-se à conversa, pegando ambas de surpresa.
– Eu já vou dormir, tenho aula amanhã cedo. – Catherine disse largando seu copo na pia.
– Onde dormiu na noite passada? Eu fiquei preocupada.
– Na casa da Tracy, eu avisei você no sábado.
– Não, você disse que talvez dormisse na casa de uma amiga, depois da festa de aniversário do seu colega da faculdade.
– É a mesma coisa.
Michelle deu um riso fungado.
– Está bem, mas não me dê sustos. – Disse em tom complacente. – Vá dormir, querida.
– Boa noite, mãe. – A garota passou por Michelle e lhe deu um beijo no rosto.
– Boa noite, Cat.
– Boa noite, Cat! – Theo disse também.
Michelle sentou-se ao lado de Theo à mesa, olhando a bandeja vazia.
– Você comeu todo o pudim?
– Só tinha um pedaço assim, pequeno.
– Ainda gosta de bife com batatas fritas?
– Muito.
– Vou pedir para prepararem amanhã. Infelizmente não poderei almoçar com você, terei um dia cheio no escritório, mas chegarei a tempo de jantar.
– Michelle, sua filha sabe quem eu sou, isso não pode trazer algum clima ruim para sua casa? Eu posso ir para o sofá de Letícia, ou o apartamento vazio de Maritza e John.
– O que ela sabe exatamente?
– Ela sabe que era a mim que você visitava na Zona Morta, e pelo visto não gosta nada disso.
– Era sobre isso que estavam conversando?
– Ela trouxe o assunto, não tive como negar.
– Não há problema algum, Theo. Fique aqui, Cat só deve estar um pouco ressentida por eu não ter contado.
– Ou por você ter traído seu marido comigo.
Michelle sorriu.
– Não estávamos juntos há mais de dez anos, ele tinha o Zack, um assessor. Eu não tinha ninguém de forma fixa, mas isso não era problema para nenhum de nós. E Catherine e Richard sabiam disso.
– Então você tinha outras além de mim?
– Não no Circus. – Michelle respondeu com um sorrisinho malicioso.
Theo hesitou algum tempo antes de entrar num caminho que talvez se arrependesse, mas percebeu que aquela poderia ser a oportunidade de colocar tudo em pratos limpos.
– O que você espera de mim agora?
– O que já tenho, sua cordial amizade.
– Minha amizade lhe basta?
– Sem sombra de dúvidas, eu aprecio sua companhia de qualquer forma.
– E se eu não namorasse com a Sam?
– Eu cortejaria você.
– Você é diplomática até nesses momentos. – Theo riu.
– Só estou fazendo o que você pediu, abrindo meu coração. – Michelle brincou.
– Prefiro assim, sem meias palavras.
– Posso lhe fazer uma pergunta um tanto delicada?
– Fique à vontade, senadora.
– Se eu tivesse te resgatado do Circus, você estaria comigo agora?
Theo refletiu alguns segundos encarando o bandeja vazia.
– Não.
– Em algum momento você imaginou que talvez a gratidão seja o maior sentimento que você tenha por Sam?
– Não é, nunca foi. É um vínculo que eu nunca teria com você, mesmo se você tivesse me resgatado com um helicóptero numa cena de cinema e me levado direto para uma ilha paradisíaca.
– Que tipo de vínculo é esse?
– Algo inexplicável. Sam me salvou, me levou com ela mesmo correndo riscos, porém ela me tratou mal várias vezes, ela me repelia, eu tive uns vinte motivos para abandoná-la. Mas desde o início eu sabia que estava acontecendo algo maior, desde os primeiros instantes da nossa coexistência eu já a amava. Eu conheço você há três anos e nunca senti nada parecido.
– Eu conheci você da forma errada, e isso nunca poderá ser alterado.
– Talvez. – Theo disse balançando a cabeça lentamente para os lados. – Desculpe se fui dura com o que disse, mas acho que hoje é um bom dia para termos essa conversa.
– Foi esclarecedora, adicionou um novo ponto de vista.
Theo tomou a mão de Michelle sobre a mesa, trazendo para perto de si.
– Eu gosto muito de você, as pessoas ao meu redor não entendem como posso sentir algo tão bom por você, mas eu sinto, é de verdade.
– Eu compreendo perfeitamente a reticência de Sam comigo, mas espero que ela já consiga me enxergar como uma aliada.
– Não posso tirar conclusões por ela, mas da minha parte você sempre terá meu respeito e minha companhia. E gratidão. – Sorriu.
– Algo mais que gostaria de esclarecer hoje, Theodora?
– Por hoje é só isso, retornarei aos meus aposentos, que por falar nisso, são aposentos bastante confortáveis, quero me casar com aquele colchão.
– Então ficará hoje no quarto de visitas?
– Hoje sim.
Michelle levantou-se e a enlaçou por trás, lhe dando um beijo em na lateral da cabeça.
– Obrigada pela conversa, se precisar de qualquer coisa, me procure.
***
Um jogo acirrado de basquete se desenrolava na quadra da prisão, chamando a atenção de outras detentas. Sam assistia do primeiro degrau da pequena arquibancada, ao lado de algumas colegas do grupo das gringas. Percebeu que Flávia, que estava sentada ao seu lado, olhava fixamente para alguém do outro lado da quadra, e que fazia isso de tempos em tempos.
Finalmente percebeu quem ela tanto olhava de forma animada, era Svetlana, que assistia ao jogo com três amigas da máfia. Uma alegria tomou seu coração ao se dar conta da oportunidade que surgia diante dos seus olhos. Além de ser uma bela morena de longos cabelos ondulados, Flávia era uma companhia agradável, entendia de vários assuntos e adorava ler. Precisava unir aquelas duas e ganhar a liberdade almejada. A liberdade dentro da prisão.
Sam resolveu ser direta.
– É a Svetlana que você está comendo com os olhos?
– Que? Eu? – Flávia respondeu num gaguejo nervoso.
– Sim, você não para de olhar naquela direção. É a Svetlana, não é?
– Eu não sei do que você está falando.
– Eu te peguei no flagra, parceira.
– Não estava olhando desse jeito que você falou, ok? Eu respeito vocês, sei que ela é sua namorada.
– Escute, ela não é minha namorada de verdade, é só sexo, é um negócio, um arranjo. Você pode olhar o quanto quiser, não me importo nem um pouco.
– As Bratva me matariam se eu mexesse com vocês.
– Não, não é bem assim. Svet está aberta para conhecer outras garotas, alguém que realmente goste dela.
– Você não gosta? – A grande morena perguntou pasmada.
– Gosto, como colega de prisão. Eu tenho alguém lá fora, alguém que eu amo de verdade. Meu lance com Svet não envolve sentimentos, na verdade só faz eu me sentir culpada.
– Por trair seu alguém lá fora?
– Também. Mas eu me sinto mal comigo mesma, eu não nasci para isso, entende? Essa coisa de sexo sem sentimentos, eu não sei lidar com isso, eu não quero mais fazer, vai contra meus princípios, minhas crenças, eu quero acabar logo com esse relacionamento de mentira.
– Então você está me dizendo que deseja que Svet arranje outra pessoa?
– E essa pessoa poderia ser você. – Sam respondeu sorridente.
– Ela nunca olharia para mim.
– Você está a fim dela?
– Isso é algum tipo de teste de honra? – Perguntou desconfiada.
– Não, eu realmente estou perguntando se você está a fim dela.
– Estou, ué.
– Ótimo. Fique aqui.
– Onde você vai?
– Fique paradinha aí.
Sam saiu da arquibancada e contornou a quadra até chegar em Svetlana, que a recebeu cheia de sorrisos e mãos bobas, a enlaçando pela cintura.
– Linda, você não vai jogar? Quero ver você jogando. – Svetlana disse ainda com Sam em seu domínio.
– Não, esse jogo aí é das veteranas, não tenho essa moral toda.
– Claro que tem, você joga melhor que todas elas, quer que eu pare o jogo e mande te colocar no time?
– Não, deixe como está, o jogo está bom assim. Não quero desequilibrar as coisas. – Disse com um sorriso convencido.
– Você arrasa com todas elas.
– Vem sentar comigo.
– Lá com as gringas? Melhor não, elas não gostam da nossa presença.
– Você está comigo, vem.
Sam colocou Svetlana sentada entre ela e Flávia, e as apresentou formalmente.
– Flávia também gosta daquele livro que você leu. – Sam tentava uni-las na conversa.
– O Poderoso Chefão?
– Não, aquele de fadas.
Svetlana riu sem jeito.
– Pega mal contar para os outros que eu leio coisa de fadinhas.
– Ela também leu, não esquenta.
– Mas eu teria feito outro final para elas. – Flávia disse.
– Que final sem pé nem cabeça, não é? – Svetlana respondeu animada. – Parece que ficou faltando as páginas finais, nem deu para saber o que aconteceu com a fada do arco-íris.
– Ela morreu.
– Morreu? Como você sabe?
– Ela virou o próprio arco-íris, não lembra dessa parte?
– Nossa, eu não tinha me dado conta. – Disse deslumbrada.
Sam assistiu o restante da partida esperançosa que algo pudesse sair daquela conversa animada ao seu lado. A liberdade estava por vir.
Afã: s.m.: trabalho muito difícil de ser realizado; lida. Empenho na realização de alguma coisa; diligência. Aflição.
Adoro a forma diferente como essa historia é apresentada, é fantástica porque as dores, angustias , os vilões, e tudo que faz parte da historia nos leva em uma montanha russa de emoções, sentimentos…haja coração!
Adorei seu comentário fofo, aqueceu meu coração escritor, muito obrigada por me ler e por vir aqui comentar!
Grande beijo