Capítulo 31 – Nefasto

Capítulo 31 – Nefasto

 

As nove em ponto, a orquestra sinfônica municipal de San Paolo iniciou a primeira de três partes de um concerto clássico, no dourado Theatro Municipal e suas famosas cadeiras carmesins.

Em um dos camarotes laterais, mais ao fundo, Theo, Sam, e dois seguranças (e dois do lado de fora) apreciavam os precisos movimentos da orquestra, que interpretavam Macbeth, de Verdi. Passados alguns minutos, Sam não havia conseguido ainda relaxar a aproveitar o espetáculo sonoro, olhava para os lados e para trás de tempos em tempos.

– Nada vai acontecer, ninguém vai entrar aqui, e eu não terei nenhum surto. – Theo sussurrou tomando sua mão para seu colo, ao perceber a agitação dela.

– Eu sei. Você está à vontade cercada de tantas pessoas estranhas? Da outra vez…

– Estou, prometo não sair daqui babando hoje.

Ao final da segunda parte, Theo demonstrava sinais de desconforto, a orquestra havia tocado Schubert, a sinfonia nº3 em ré maior, estavam agora num intervalo.

– Nossa… Que coisa forte, eles são ótimos. – Sam comentou, embasbacada com o concerto.

– É lindo, não é? – Theo também estava encantada.

– É sim.

Theo voltou a se mexer incomodada.

– Tem formiga na sua poltrona? – Sam sussurrou.

– Minhas costas estão doendo.

– Quer ir embora? Ou um analgésico?

– Tem analgésico? – Perguntou com os olhos radiantes.

– Tem uma pequena maleta de socorro ao meu lado, com uns vinte tipos de remédios, só de analgésicos tenho seis especialidades.

– Que maleta é essa?

– Eu montei essa tarde, eu batizei de kit saída em público.

– O que mais tem aí dentro?

– Fraldas, babadores…

Theo arregalou os olhos.

– Estou brincando. – Sam riu. – Apenas seus medicamentos básicos de sobrevivência.

– Me dê algo forte, mas não injetável.

– Tem certeza que não quer ir embora?

– Não, isso tudo está tão fabuloso, eu não quero ir, e agora vem a terceira parte, tem piano, é Mozart, nº 24.

– Também estou achando incrível, mas se você não aguentar, tudo bem, podemos voltar outro…

– Analgésico e água.

– Ok.

Theo aguentou até o final do emocionante concerto, saia devagar com suas muletas ostentando um sorriso aberto e os olhos molhados, com Sam ao seu lado, acompanhando suas passadas pelo corredor ornamentado do teatro.

– Eu não imaginava que isso era tão bonito. – Sam comentou.

– O teatro?

– A música.

– Eles são bons nisso, não acha?

– Parecem super-heróis, com suas armas musicais.

– Eu gostei da sua comparação.

– Theo vamos parar aqui no saguão de saída, mais ao canto, esperar esse pessoal todo sair senão seremos atropeladas, e nosso carro deve demorar um pouco para chegar.

– Tudo bem, não tenho pressa, faz uma noite agradável e meu nível de pânico está baixo.

A dupla aguardava o motorista próximo a uma das largas pilastras do teatro, Sam quase foi cegada por uma luz que surgiu sobre elas. Conseguiu perceber então o que acontecia, uma equipe da imprensa se aproximava afoitamente.

– Gente, que furo! Olha quem encontramos na saída do Theatro Municipal! Vem comigo, acompanhe conosco esse furo de reportagem, pela primeira vez em quase três anos a herdeira do grupo Archer faz uma aparição pública. – A jornalista dizia frente às duas câmeras que cobriam a saída das personalidades do teatro.

– Quer que eu procure alguma sala reservada para fugirmos? – Sam perguntou no ouvido de Theo, que ouvia a repórter.

– Fugir é pior, eu encaro essa.

A simpática repórter, uma morena com um grande sorriso alvo e microfone em riste, a abordou de forma efusiva.

– Theodora! Que saudade que estamos de você!

– É, aqui estamos…

– Finalmente de volta aos holofotes? Em definitivo? Conta aí.

– Boa noite, Serena. – Deu um sorriso falso. – Sim, pretendo circular por aí por muito tempo.

– E contrariando todas as fofocas e boatos, você está ótima e gozando de boa saúde, hein?

– As fofocas fazem parte, quando ficamos um tempo sem dar as caras os boatos começam, mas é normal, é normal surgir boatos, o povo tem imaginação. – Outro sorriso artificial. – Mas está tudo bem agora.

– E o que você está fazendo da sua vida, para estar tão linda? Conta aí o segredo!

– Acho que estar cercada de gente do bem faz a diferença, não acha? Esse é o segredo.

– É verdade que você passou dois anos trancafiada na Zona Morta? Quebra esse galho, confirma esse babado aí pra gente.

– Isso eu nunca neguei, sempre que a imprensa perguntava eu soltava alguma nota confirmando a versão verdadeira, não tenho problemas em confirmar.

– E foi tentativa de férias ou foi o que espalharam, que você estava trabalhando numa casa de prostituição? Que pesado isso.

Sam bufava impaciente ao seu lado, nada do carro delas estacionar.

– Algo bem longe de férias. – Sorriu amarelo, desconversando.

– Por que você forjou a sua morte? Queria sossego, não é? – A repórter piscou sorrindo.

– Não fui eu que forjei, eu nem sabia que tinham forjado. Mas foi uma boa ideia, da próxima vez que eu quiser férias da imprensa já sei o que fazer. – Alfinetou.

– E como tá esse coraçãozinho, batendo mais forte por alguém? Qual é o nome da sortuda da vez?

– Ah, tá sempre ocupado, mas deixa em off. – Quase riu.

– Tá rolando uns boatos que a Janet terminou o casamento para voltar com você, que loucura é essa? É isso mesmo?

– Na verdade eu nem sabia que ela havia se divorciado, ainda não tivemos oportunidade de colocar o papo em dia.

– Tem chances de ter um revival? Janet tá na pista!

– Não, não tem chances, eu não estou na pista. – Riu.

– Ficou mágoa da traição dela? Continuam amigas?

– Não, não houve traição, isso inventaram na época para deixar o término mais sensacionalista, mas foi de comum acordo, ninguém traiu ninguém.

– Então ainda são próximas? Mágoa zero?

Theo começava a se irritar com a persistência.

– Não tem mágoa, nós continuamos amigas depois que terminamos, a Janet é uma ótima pessoa, sempre vou querer ter a amizade dela, a vida seguiu para ambas.

– E sabendo agora que ela tá solteira, não balança o coraçãozinho? Confessa vai!

– Mas eu não estou solteira, minha vida amorosa tá super bem resolvida.

– Diz aí pra gente, em primeira mão, o nome da gata que roubou teu coração e conquistou a herdeira mais disputada do pedaço.

– Eu prefiro resguardar a privacidade dessa pessoa, fica pra próxima.

– Theo, o carro já está aqui em frente, quando quiser ir. – Lucian a abordou.

– Minha carona chegou, foi um prazer conversar com vocês. – Theo despediu-se de forma simpática.

– Ah, diz o nome da namorada antes de ir.

– Se ela quiser falar, por mim tudo bem. – Theo respondeu, já caminhando na direção do carro, conduzida por Lucian.

– Theo, é verdade que você se envolveu com uma das suas sequestradoras?

Theo apenas riu, Sam parou o passo e se dirigiu à repórter.

– Eu ajudei no resgate, não no sequestro, já está na hora de vocês pararem de espalhar esse boato absurdo. – Sam finalmente se manifestou, de forma calma.

– É você?? – A jornalista perguntou com um sorriso enorme.

– Se isso servir para acabar as especulações, então a resposta é sim.

– Qual seu nome?

– Faça uma busca por sequestradora de Theodora Archer que você saberá meu nome.

– Tchau Serena, foi um prazer. – Theo despediu-se aos sorrisos, e entrou no carro. Sam entrou em seguida.

Lucian já guiava o carro pelas ruas do Centro da cidade, Theo suspirou e deitou a cabeça no banco.

– Como você aguentou essa gente a vida inteira? – Sam perguntou irritada. – Eles são urubus.

– Imprensa de entretenimento, eles querem sorrisos e respostas dúbias, é o suficiente para deixá-los alegres, não é tão difícil.

– Que raça… Eles inventam coisas para ganharem mais visibilidade.

– É assim quando querem sensacionalismo, acostume-se, amanhã você estará estampada em todas as telas como o meu novo affair, vão inventar um monte de coisas sobre você, e vão caçar algum momento de intimidade entre a gente.

Sam levou alguns segundos assimilando.

– Fizeram isso com sua ex, a Janet, não é? Inventaram coisas dela?

– Janet também é uma pessoa pública, nosso namoro e nosso término foram um prato cheio para eles.

– E inventaram que ela te traiu, esse pessoal é tão sujo, não se contentam com as coisas simples.

– Aquela cretina me traiu com uma garota ainda mais jovem que eu.

Sam a olhou assustada.

– Então é verdade? Ela te traiu?

– Eu flagrei as duas.

– E porque você a protege da verdade?

– Somos pessoas públicas, Sam. Na época meu pai queria me matar por causa desse escândalo, passei um mês tomando broncas e castigos. Eles limparam tudo, criaram a versão que terminamos amigavelmente, mas na verdade eu peguei as duas na cama, Janet estava com o strapon que eu havia dado de aniversário para ela. Quebrei sua coleção de vasos raros chineses com um taco de basebol, e nunca mais quis olhar na cara daquela safada.

– Nossa.

– Eu havia acabado de fazer 18 anos, não sabia lidar direito com esse tipo de coisa. Hoje em dia eu apenas quebraria coisas sem valor cultural. – Theo riu.

– Foi sua primeira namorada?

– Foi sim.

– Já havia ficado com mulheres?

– Já, umas quatro garotas na escola.

– Como a conheceu?

– Um jantar na casa do pai dela, meu pai me obrigou a ir. Não rolou nada nessa noite, mas no dia seguinte ela foi me buscar na escola.

Sam sacou seu comunicador e fez uma busca por Theodora e Janet, para conhecer a dita cuja.

– Nossa… Quantos anos essa mulher tem?

– Agora deve ter uns cinquenta, por que? Está pesquisando aí?

– Cinquenta e dois, acabei de ver. Pela imaturidade dela achei que não tinha mais que trinta.

– Janet é uma safada.

– Janet Wilcox… Wilcox? – Sam pesquisava sobre a moça. – Ela é parente do…

– É filha do Franklin Wilcox, dono da rede WCK de mídia.

– Foi a união de duas herdeiras famosas.

Theo suspirou pesadamente.

– Foi um inferno namorar com ela, tudo que fazíamos tinha uma câmera no meio.

– Então foi uma péssima experiência.

– Não, até que foi bom, Janet não vale nada, mas é divertida, tirando a traição ela me respeitou e me tratou com bastante atenção.

– Quanto tempo namoraram?

– Quase um ano.

– Ela ensinou você a namorar.

– Entre outras coisas. – Theo riu.

– Como assim?

– Isso que você está pensando.

– Ela tirou sua virgindade? – Sam a perguntou surpresa.

– Uhum.

– E como foi?

– Eu estava uma pilha de nervos, mas foi bom. Uma pena ela ter estragado tudo no final com aquela traição patética, não foi um deslize, ela estava de caso com aquela garota há meses, depois fiquei sabendo que assim que eu ia embora da casa dela, a outra ia para lá, ela nem esperava a cama esfriar. – Theo contava com aparente mágoa.

– Eu sinto muito.

– Era apenas uma oportunista, uma atriz em início de carreira. Uma semana depois essa menina roubou fotos do celular de Janet e vendeu para a imprensa, claro que atrelando o término do namoro ao nome dela, ela se autodenominava o pivô da separação. – Theo balançou a cabeça em desaprovação.

– Foi aí que seu pai ficou furioso.

– Furioso é apelido. Tivemos que armar um circo para desmentir tudo, eu tive que fazer aparições públicas com a Janet para provar que estava tudo bem entre nós, e eu só queria enfiar uma espada na garganta dela.

– E hoje em dia?

– Está perfeito assim, sem o menor contato. Mas não duvido nada que ela ligue amanhã, depois de ver a reportagem.

Ficaram em silêncio por alguns segundos, Theo voltou a falar.

– Onde estamos?

– No carro, voltando para casa.

– Ah.

– Moramos longe da civilização, numa colina. – Sam disse com um sorrisinho.

Sam moveu-se devagar, e sentou no colo dela, passando seus braços ao redor do pescoço de Theo.

– Você vem sempre aqui? – Theo perguntou adorando a situação.

Sam a beijou.

– Então eu sou uma exceção? – Sam perguntou.

– De que?

– De idade, você só namorou mulheres mais velhas.

– Hum… É, você é uma exceção em vários sentidos.

– Você nunca olharia para mim numa situação normal, não é? Se não nos conhecêssemos.

– Eu não consigo imaginar um mundo onde eu saiba da sua existência e não tenha urgência em estar ao seu lado, garotinha.

– Você é uma galanteadora. – Sam riu.

– Não, nunca fui boa nisso. – Theo trouxe seu rosto para perto e a beijou. – Mas fico feliz que tenha dado certo com você.

– Como eu consegui fisgar o coração da herdeira mais disputada do pedaço? – Sam perguntou com ironia.

– Deve ter sido o sotaque britânico, eu adoro. – Theo subiu suas mãos por baixo da camisa de Sam, e colou os lábios em seu pescoço. – Eu acho sexy, e ainda mais com essa sua voz que falha de vez em quando e fica meio rouquinha.

– É sem querer.

– Eu sei, e acho um charme.

– Eu estou adorando estar sentada em cima das suas pernas, mas chegamos. – Sam saiu de cima dela.

– Você pode sentar em cima das minhas pernas lá no quarto.

– Aqui, suas muletas. Venha, vamos subir, herdeira mais disputada do pedaço.

***

Janet realmente ligou no dia seguinte, mas Theo evitou prolongar-se.

Nos dias seguintes de setembro, Theo passou a fazer visitas esporádicas na Archer, se inteirando aos poucos dos assuntos do grupo corporativo. Agora ela sabia que a maior parte do lucro deles vinha dos contratos com o governo, quase todos referentes ao Beta-E, mas esse assunto ainda era proibido em sua presença, bem como não tocavam neste assunto com Sam.

Naquele final de semana iriam na festinha de inauguração do novo lar de John e Maritza, que haviam alugado um apartamento próximo das universidades que iniciaram. Sam resolveu passar numa farmácia na sexta a noitinha para reabastecer o kit saída em público, logo após deixar a Archer. Estacionou em frente ao estabelecimento e entrou checando a listinha em suas mãos. Antes de seguir para o balcão, parou em uma das prateleiras mais ao fundo.

– Ela disse um coletor, mas qual coletor? Tem uns trinta tipos aqui, e de vários tamanhos. – Sam disse para si mesma, procurava um coletor menstrual, mas não fazia ideia de qual levar para Theo.

– Do pequeno, o pequeno deve servir nela. – Uma voz grave surgiu ao seu lado, a assustando.

Sam olhou rapidamente para aquele homem alto de olhos azuis e rosto magro a encarando com um sorriso debochado, nunca o tinha visto, mas reconhecera a voz.

– Elias? – Deduziu logo, e um arrepio gelado subiu pela espinha.

– Finalmente estou tendo o prazer de conhecê-la pessoalmente, tenente Samantha Cooper.

Sam apenas olhou com desespero para os lados, sem saber o que fazer ou como fugir.

– Sua arma ficou no carro, tenho três amigos do lado de fora, se você tiver alguma reação indesejada terei que fazer coisas que não gostaria.

– O que você quer? – Sua voz tremulava de pânico.

– Apenas conversar, não pretendo me demorar.

– O que? Por que não nos deixa em paz?

– Não posso, tenho negócios inacabados com minha sobrinha. – Pousou sua mão no ombro de Sam. – E com você, eu confesso que estou um pouco chateado, não gostei de ver meu empreendimento favorito sendo invadido por um pelotão de mercenários, o Circus era minha menina dos olhos, onde eu podia unir prazer e trabalho. Os outros negócios são apenas negócios.

– Já foi tarde.

– Eu gostava daquelas meninas, mas tenho facilidade em me desapegar, já reabri outro, com outras garotas.

– Fez novas escravas. – Sam se dava conta, tentava controlar a respiração, o cheiro de perfume doce dele a nauseava.

– Novas funcionárias. – Sorriu, olhou para os lados, e voltou a falar, agora num tom sério. – Vamos aos negócios.

– Por favor, deixe Theo em paz.

– Por enquanto sim, mas preciso de você agora, é verdade que Theo está voltando a ativa na empresa?

– Está apenas fazendo algumas visitas rápidas.

– Você é a representante legal dela, preciso que você cancele todos os contratos com o governo que envolvam vacinas.

– Você está louco? E nem tenho poder para isso.

– Não estou pedindo, estou orientando como deve ser feito. Essa conversa não será espalhada para ninguém mais, entendido? Se quiser dividir com ela tudo bem, você quem sabe. Eu preciso que a Archer saia do meu caminho, já estou conseguindo fabricar algo bastante semelhante ao Beta-E, em breve estarei com condições de fabricar em escala industrial, e com o caminho livre o governo comprará de mim.

– O que você está falando é um absurdo, não temos poder para derrubar os contratos com o governo, e se tentarmos algo chamaríamos atenção, os conselheiros acabariam com minha raça.

– Minha instrução foi simples: rasgue alguns contratos. Depois fuja, você já fugiu uma vez.

– Eu não posso fazer isso, seria suicídio, e a Archer ruiria sem esses contratos.

– Procure formas, planeje, prepare o terreno, você tem sessenta dias.

– Não posso fazer isso!

– Shhh. – Elias pousou o dedo nos lábios de Sam. – Seja uma boa menina.

Ele olhou novamente para os lados, abaixou-se e pegou uma embalagem da prateleira.

– Leve do pequeno, vai servir perfeitamente na minha sobrinha. – Sorriu com escárnio e entregou o pacote para Sam, deixando a farmácia com passos sem pressa.

Sam acompanhou atentamente ele saindo e se dirigindo a um carro ao lado do dela. Apertou o pacote com raiva, uma ira descomunal tomou conta dela, parte pela impotência da situação.

Largou o coletor no chão e saiu para o estacionamento em frente, vendo o carro dele partindo, sem saber o que fazer.

Girou nos calcanhares, pegou o comunicador no bolso e ligou para George.

– Onde você está? – Ela indagou afoitamente.

– Iniciando a ronda noturna ao redor da casa, por que?

– Reforce a segurança, alerte o pessoal, Elias está na cidade, eu tenho medo que ele apareça por aí.

– Soube de algo? Alguma movimentação?

– Ele acabou de conversar pessoalmente comigo.

– Pessoalmente? Onde você está?

– Numa farmácia, ele me encontrou aqui dentro, mas estou bem.

– Devo alertar Theo?

– Não, depois falo com ela, estou indo para casa agora.

– Quer escolta?

– Não, ele já se foi.

***

– Acho que ela ainda está na farmácia. – Theo disse a Meg, estavam no quarto de baixo, a enfermeira aplicava algumas medicações.

– Foi o que o rastreador disse? – Meg perguntou com um sorrisinho debochado.

– Shhhh. Ninguém sabe desse rastreador.

– Nem ela.

– Ah Meg, ela insiste em sair sem os seguranças, eu precisei tomar alguma providência, esse rastreador no comunicador é apenas para a segurança dela, eu não fico monitorando seus passos, só consulto quando ela some.

– E quando ela diz que vai almoçar com Claire.

– É pela segurança dela. – Theo acabou rindo.

– Você tem ciúmes de Claire? – Meg aplicava uma injeção em seu glúteo.

– Não.

– Nada?

– Só assim… Bem pouquinho. – Theo gesticulou com os dois dedos próximos.

– Você confia totalmente na Samantha?

– 99%

– Está em busca desse 1% que falta?

– Não, ela já fez um monte de merdas, Sam é o tipo de pessoa que faz merdas.

– Todo mundo erra, a diferença é que ela pede desculpas depois, você não.

– Hey, de que lado você está?

– Do lado da sua bunda. – Meg riu e subiu sua calça.

– Ai!

– Terminamos todos os remédios das sete, quer subir para o quarto?

– Quero, vou tomar banho.

Meg a deixou dentro do box em sua suíte e desceu, Theo finalizava seu banho quando ouviu a porta batendo com força. Vestiu rapidamente o roupão, tomou as muletas e apareceu na porta do banheiro.

– Sam?

– Sim.

– Está tudo bem?

– Está tudo ótimo. Já tomou banho? Eu quero tomar. – Sam atirou sua bolsa na poltrona.

– Sim, estou saindo. Você comprou o coletor?

– Não.

– Esqueceu?

– Não.

– Não?

Sam tirou a camisa na direção do banheiro, passando ao lado dela na porta. Theo a segurou pela cintura.

– O que foi, meu anjo?

– Eu tive um dia estressante, só isso. – Sam tentava controlar sua agitação.

– Eu não vou ficar chateada se você disser que esqueceu.

– É, eu esqueci, vou pedir para alguém comprar ou entregar aqui, ok?

– Tudo bem, um banho vai te relaxar um pouco, e depois posso fazer aquela parte dois da massagem que você gosta, Meg me trouxe um óleo para essa finalidade, ela contrabandeou do fisioterapeuta.

A tensão aparente no rosto da soldado dissipou-se momentaneamente num sorriso.

– Eu vou adorar estrear esse óleo. – Sam a beijou com carinho e seguiu para o box.

***

Na semana seguinte, Sam dedicou-se a estudar os contratos entre a Archer e o governo, passava suas horas na empresa destrinchando aquele amontoado de cláusulas e tantas coisas que mal entendia. Decidira não envolver Theo nisso, parou de incentivar as visitas da namorada ao trabalho.

Mas não naquela quinta-feira, que, para fugir do tédio, Theo resolveu passar a tarde na Archer.

– Bom dia Stef! – Theo cumprimentou o sisudo e elegante conselheiro assim que ele entrou na sala de Claire, onde as três garotas trabalhavam.

– Meu nome é Stefan, eu já falei mil vezes que não quero que me chame assim. – Ele rebateu rispidamente. – E como sabia que era eu?

– Ainda reconheço seu perfume com cheiro de maçã verde.

– Não tem nada de maçã no meu perfume. – Gesticulou com a mão, impaciente. – Mas não vim aqui falar de perfumes, eu quero saber quem de vocês anda usando meu ID para entrar no sistema da Archer.

 

Nefasto: adj. Que pode trazer dano, que provoca desgraça; desfavorável, nocivo, prejudicial. De mau agouro.

  • Ler capítulo 32 – (apenas para Letteretes, para saber como se tornar Letterete: projetolettera.com.br/viewpage.php?page=doacoes)
2 comentários Adicione o seu
  1. Eu quero acreditar que a Sam não irá fazer a burrada de não compartilhar com a Theo sobre o Elias… Duas cabeças pensam melhor que uma e outra, a Theo sempre foi o braço direito da Sam em tudo e tenho certeza de que as duas juntas vão conseguir resolver estes imbróglios. Já estava com saudades da ação de 2121 e creio que agora vamos destruir este nefasto do Elias. rsrsrs

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