Capítulo 19 – Lassitude
Por um momento Sam ficou sem ação, tinha certeza que Theo sabia tudo que havia acontecido com ela, que lembrava do tiro auto infligido. Tentava entender a situação, se era um lapso momentâneo, ou se ela vivera na ignorância o tempo todo. Lançou o olhar nas pessoas ao redor, que não entendiam o que acontecia, não queria expor o que de fato era o acidente.
– Pessoal, vocês podem dar uma saidinha da academia, por gentileza? – Sam pediu.
Todos saíram, e Theo ainda aguardava uma resposta.
– Sam?
– Estou aqui. – Colocou a mão em seu ombro. – Quer conversar sobre o que aconteceu com você? É uma longa história.
– Desculpe o susto, eu lembro, eu sei que tentei me matar, meu cérebro acabou de ter um apagão.
Sam respirou aliviada, e sentou-se no colo de Theo, virada para ela.
– Você me deu um susto sim, já estava me preparando para dar a surpreendente notícia de quem deu o tiro.
Theo cruzou seus braços ao redor do pescoço de Sam.
– Eu terei esses problemas para sempre.
– Imagina se um dia você acorda e “Samantha? Não conheço nenhuma Samantha, tirem essa mulher da minha casa.” – Sam brincou, e lhe roubou um beijo.
– Você criou um dispositivo para evitar que isso aconteça.
– Criei?
– Não foi de propósito?
– O que eu criei?
– Tem seu nome gravado do lado de dentro da minha pulseira, em baixo relevo. Se um dia eu acordar sem lembrar de você, basta você falar “deixe de besteira, passe o dedo dentro da sua pulseira”.
– Mas não foi com essa intenção, tem seu nome dentro na minha pulseira também. – Sam disse.
– Tem?
– Sim, tem os nomes de todas dentro da minha pulseira, inclusive o seu.
– Todas quem?
Sam se dava conta que os problemas iam além de lapsos de memória, às vezes Theo não percebia as brincadeiras e ironias óbvias.
– Só tem seu nome, estou brincando. – Sam a abraçou. – Você preenche meu coração por inteiro.
***
Dois dias depois, Sam havia acabado de ir para a Archer, no início da tarde. Theo resolvera almoçar na cozinha, mas queria ir andando com o exoesqueleto, Meg atendeu seu pedido, colocando o equipamento. Circulou pela casa antes de ir almoçar, depois sentou-se exausta e suando na mesa. Após a refeição, quis voltar também andando até seu quarto, mas resolveu dar uma volta pela sala antes, Meg a esperava já na UTI.
Alguns minutos depois, Meg estranhou o silêncio e o não retorno de Theo ao quarto.
– Theo? Volte para o quarto, você está abusando desse exoesqueleto, não pode usar tanto assim.
Nenhuma resposta.
– Theo?
Meg foi até a sala, e a encontrou caída de bruços, gemendo.
– Menina, o que aconteceu? – Meg tocou suas costas, recebendo um gemido mais alto, de dor.
– Não mexa em mim. – Theo balbuciou, chorando.
– O que foi? Você caiu?
– Acho que foi uma distensão muscular, na perna direita.
– Eu avisei que você estava abusando disso!
– Meg, sermões não ajudam.
– Eu vou chamar alguém para te levar para a cama.
– Não! Não mexa em mim, está doendo agora, mas daqui a pouco melhora e eu vou para o quarto.
– Você precisa ir para o hospital.
– De jeito nenhum, apenas me traga uma boa dose de Tramal.
– Não vou te medicar, você precisa ir para um hospital, você acha que é uma distensão, mas talvez seja algo pior.
– Eu não vou, não me tire daqui. – Theo resmungava emburrada.
– Então me deixe tirar o exo, e te levar para a cama, vou chamar Lucian.
– Não! Não faça nada comigo, só quero analgésico.
– Quanta teimosia. – Meg fitava com as mãos na cintura. – Vou ligar para Sam.
– Não ligue para ela, também vou ouvir uma ladainha por ter abusado do exoesqueleto, ela vai me encher de bronca.
– Então você quer que eu te deixe largada aí no chão?
– Quero.
– Que coisa, garota! Vou buscar um analgésico, mas um dos leves, já volto.
Ao chegar no quarto, Meg ligou para Sam, que saiu correndo da Archer e chegou na mansão em vinte minutos, Meg a instruiu a deixar as broncas para depois.
– Posso participar dessa brincadeira? É caça ao tesouro? – Sam disse ao encontrá-la ainda no chão da sala, na mesma posição.
– Eu disse para não te chamarem. – Theo resmungou com o rosto colado no chão, não se movia um milímetro.
– Dói muito? – Sam agachou-se ao seu lado.
– Dói, Meg me deu remédio de criança, não melhorou em nada.
– Quanto tempo você está aí?
– Dez minutos.
– Meia hora. – Meg a corrigiu.
– Acha que foi uma distensão na coxa direita? – Sam sentou ao seu lado, pousou sua mão por cima da mão dela, tentava deixá-la menos nervosa.
– Acho. Daqui a pouco melhora e eu levanto.
– Quer um travesseiro?
– Não, não mexa em mim.
– Por que você não quer ir para o hospital?
– Porque não foi nada sério
– Tem medo de ficar internada?
– Tenho.
– Não acho que te internariam por conta de uma distensão, vão fazer um exame, dar analgésicos, e mandar embora.
– Foi isso que a Meg disse da outra vez, e eu fiquei até a noite do dia seguinte.
– Tarde. – Meg corrigiu.
– Tardinha.
– Se você ficar internada eu durmo contigo, na mesma cama, a noite toda.
– Não quero…
– Da outra vez eu estava longe, mas agora ficarei o tempo todo te dando certeza física.
– A noite toda?
– Sim, até você ter alta.
Silêncio.
– Traga a cadeira de rodas.
Theo não ficou internada, voltou para casa no início da noite, com uma tala na perna direita, e ordens expressas de não usar o exoesqueleto por tempo indeterminado, o que a deixou um tanto frustrada.
Com o passar dos dias, a frustração aumentava, dependia somente da cadeira de rodas, perdera sua pouca liberdade que o exoesqueleto oferecia. Naquela tarde havia tirado a tala, uns dias antes do prazo dado pelo médico. Voltou da fisioterapia desolada com a falta de evolução, Meg deu seu banho, e jantou em silêncio com Sam, Maritza e John em sua UTI.
Por volta da meia-noite, Meg dormia ao seu lado, mas Theo não tinha conseguido dormir ainda. Sentou na cama, com as pernas para fora, acordando Meg.
– Insônia? – A enfermeira perguntou.
– Eu não vou andar nunca mais, Meg.
– Desculpe discordar, mas eu acho que é questão de semanas para você circular por aí com ajuda de muletas.
– Eu não aguento mais ser tratada como uma doente incapaz.
– Você está temporariamente incapacitada de algumas coisas.
– Eu não quero mais morar numa UTI.
– Quer mudar de quarto?
– Eu vou voltar para o meu quarto.
– Quando?
– Agora.
– Sam sabe disso?
– Ainda não, avisarei quando chegar.
– Vamos amanhã, terei tempo de preparar o quarto dela para você dormir lá, você precisa de um apoio mínimo e coisas emergenciais.
– Não, Meg, se algo acontecer eu te chamo, combinado? Traga a cadeira.
– Você que sabe, mas se você sentir algo ou perceber que a respiração está ficando pesada, me chame, ou peça para Sam me chamar.
Theo pulou para a cadeira, e Meg a levou para o quarto de Sam, que dormia.
– O que foi? – Sam acordou no susto.
– Posso dormir aqui?
Sam ergueu-se nos cotovelos, sem entender.
– Aqui nessa cama?
– Você trocou, não trocou?
– Troquei, mas… – Sam fitou Meg. – Acha uma boa ideia? Aqui não tem estrutura.
– Se acontecer alguma emergência, vocês me chamam. – Meg respondeu.
– E então, posso?
– Claro. – Sam levantou-se rapidamente, e ajudou a deitá-la.
– Eu volto de madrugada para aplicar os remédios, e me chame se quiser ir no banheiro.
– O banheiro você pode deixar comigo, Meg.
– Juízo, garota. – Meg disse, já saindo.
– Quer outro travesseiro? – Sam perguntou, solicitamente.
– Não, este está bom.
– Ficou com saudades de mim ou do quarto? – Sam brincou, deitada de lado, a observando.
– Acho que de ter uma vida normal com você.
– Você vai passar a dormir aqui?
– Não sei.
– Fique aqui, eu orei tanto para que você viesse para cá, eu vou tomar conta de você tão bem quanto Meg.
– Essa noite será um teste.
– Deita aqui comigo? Estou aqui. – Sam tomou sua mão, a orientando, Theo deitou em seu peito.
– Sam, você fez sexo? – Theo perguntou desconfiada.
– Que?
– O jeito como você está falando, é o mesmo de quando fazíamos amor. Você fez sexo agora a noite?
– Ãhn… Não, não é bem sexo. Nossa, você daria uma ótima detetive.
– Fez com quem?
– Comigo. – Sam respondeu envergonhada.
– Você?
– Desculpe, eu estava subindo pelas paredes, tive que encontrar uma forma de aliviar isso.
– Desde quando você se masturba?
– Pouco tempo, Letícia me ensinou.
– Ensinou na prática? – Theo arregalou os olhos, havia saído de cima de Sam.
– Sim, não, não, não foi assim. Eu liguei para ela, pedi ajuda, ela me explicou como fazer.
– Eu também sei fazer, porque não perguntou para mim?
– Eu achei que talvez você ficasse chateada se soubesse, me desculpe, eu estou me sentindo péssima. – Sam puxou o edredom para cima, como na época em que se sentia envergonhada ao lado de Mike.
– Eu não me chatearia, isso é saudável, eu pensei em sugerir a você, mas você já tinha me falado que não praticava.
– Eu nunca imaginei que faria algum dia, mas eu não estava sabendo mais o que fazer, e não queria te pressionar a nada.
– Tentou banho frio?
– Tentei. Piscina também.
– E como é? Consegue chegar lá?
– Consigo sim. – O clima estava estranho.
– Quer que eu volte para a UTI?
– Não, por favor, fique.
Silêncio.
– Eu estou tentando, Sam, mas são vários fatores, tem os remédios que me anulam, tem um monte de coisas ruins na minha cabeça, tem insegurança. Eu tenho conversado com o psiquiatra, mas ainda é complicado.
– Eu já falei que vou esperar o tempo que for preciso.
Ambas estavam se sentindo mal e culpadas.
– Eu sei.
– Vamos dormir? – Sam convidou.
Theo virou para o lado de fora.
– Me abraça?
Sam não respondeu, apenas correu para as costas de Theo, a abraçando e dando um beijo demorado em seu pescoço.
***
– Como foi a primeira noite de volta ao seu quarto? – Meg perguntou, enquanto a levava para o terceiro andar, para a fisioterapia matinal.
– Mais tranquila que o imaginado, só acordei Sam quatro vezes.
– Foi ao banheiro?
– Uma vez.
– Vai morar lá?
– Só a noite, eu passarei o dia no quarto UTI.
– Bom dia, Theo! – Eron a cumprimentou. – Que acha de fazermos pernas hoje? Quero te colocar no andador.
Theo suspirou com desânimo.
– Não vejo melhoras.
– É um caminho longo, e às vezes vamos estacionar no acostamento, faz parte dessa viagem rumo à sua vida ativa.
– Está tudo em inatividade, Eron. Não consigo fazer nada que gosto, nenhum hobbie, atividade, esporte, nem sexo eu faço.
– Se continuar negativa, vai demorar mais.
Ao final da sessão, Meg a retornou ao quarto. Após um banho, a levou até o deque da piscina, para almoçar lá.
– Sam não vai almoçar com a gente? – Meg perguntou.
– Não, ela saiu mais cedo, ia comprar umas roupas, algo assim.
– Para você?
– Sei lá.
– Você precisa de roupas novas, menos hospitalares, com mais vida.
– Meu pai jogou tudo fora.
– Por que não aproveita que Letícia vem passar a tarde com você, e diz quais roupas você gostaria que ela comprasse para você?
– Ou então eu posso ir com ela comprar.
– Na rua?
– Algum shopping ou algo do tipo.
– Hum… Não sei, mas vou ver se Lucian pode levar vocês.
Após a refeição, as duas continuaram no deque, Meg buscou suco para ambas, Theo estava deitada numa espreguiçadeira, pensativa.
– O que impede que o casal real faça sexo? – Meg perguntou.
– Eu.
– Sam já te procurou?
– Algumas vezes, mas eu não deixo prosseguir.
– Você tem receio de se machucar, ou sentir dor?
– Eu não sei.
– Você tem condições físicas de fazer, você sabe disso, não sabe? Não tem nenhuma ressalva médica.
– Não é físico.
– Você acha que perdeu a intimidade com Sam? – Meg ajeitava sua viseira, sentada numa cadeira reclinável.
Theo não respondeu logo.
– Se eu deixar prosseguir, vai ser pior, vou acabar parando mais adiante, vai ser ainda mais desolador para ambas.
– Sam é uma pessoa compreensiva e paciente, ela não se chatearia se você parasse mais adiante. Claro que se frustraria, mas ela sabe dos seus problemas, não é como ir para cama com alguém que não imagina o que se passa aí dentro. Ela te olha como se você fosse um milagre da natureza, ela comemora cada pequena evolução sua, desde quando quase te declararam morta, até agora, onde você está na beira de uma piscina, segurando seu copo com a mão mecânica, e escondendo uma barrinha de chocolate com a outra mão, achando que eu não reparei quando você pegou do meu bolso.
– Você nunca me deixa comer chocolate, e eu já posso comer.
– Talvez porque você não se contente com o limite de vinte gramas, faz birra e não come o que pode.
– Me recuso a comer um pedacinho minúsculo.
– Talvez um mundo de novas possibilidades se abra a sua frente se você começar devagar.
Letícia chegou logo em seguida, Theo fez o pedido para que fossem às compras.
– Lucian nos leva de helicóptero, prometo não demorar. – Theo pediu.
– Eu tive uma ideia melhor.
Meia hora depois, Letícia sacou seu comunicador, e ligou para Sam.
– Tá na Archer, mulher?
– Sim, e você está de plantão?
– Não, estou de folga, e na frente da Archer.
– Fazendo o que?
– Esperando você descer para tomar um café comigo, pode vir aqui?
– Posso, você está no saguão de entrada ou já está no café do prédio?
– Estou do lado de fora, procurando onde estacionar.
– Estou descendo.
Sam descia as escadas frontais do prédio da Archer, vestindo seu casaco, quando avistou Letícia e Theo recostadas na scooter vermelha e branca, com os capacetes em mãos, abriu um sorriso surpreso.
– O que você pensa que está fazendo? Quer matar minha namorada? – Sam brincou, Theo sorriu ao ouvi-la.
– É muito bom, você já andou? – Theo perguntou, animada.
– Não, nunca andei. Me dê um beijo, motoqueira selvagem. – Sam a segurou pela cintura, e a beijou.
– Estamos de passagem, vamos fazer compras.
– Vocês vão fazer compras agora?
– Sim, preciso de roupas novas. – Theo respondeu.
– Não sei se é prudente você circular por aí em lugares públicos. E você está sem suporte emergencial algum.
– Dê um tchauzinho para o carro ali. – Letícia gesticulou para um carro negro logo atrás, onde estavam Lucian e Meg. – Tem também um carro com seguranças ali.
– Aceitam mais um carro na comitiva?
– Você também vai?
– Posso?
– Pode. – Theo respondeu.
Minutos depois Letícia empurrava a cadeira de rodas com Theo para dentro de um shopping, com Sam e Meg por perto.
– Quer começar por onde? Sex shop? – Letícia brincou.
– Tem muita gente aqui. – Theo parecia cada vez mais tensa.
– Não, é um shopping afastado, não está cheio.
Theo ouvia as vozes das outras pessoas que circulavam pelos corredores, estava entrando em pânico por perceber aquelas pessoas todas ao redor, e sem conseguir enxergá-las.
– Está cheio, eu quero ir embora. – Já respirava rápido.
– Ok, operação abortada, vamos voltar. – Sam assumiu a cadeira, e a conduziu com pressa na direção do estacionamento.
– Tem muita gente aqui, eu não sei quem são essas pessoas. – Theo falava com agitação.
– São só os clientes das lojas, está tudo bem, já estamos chegando no carro.
Teve uma convulsão a caminho de casa, e naquela noite dormiu em seu quarto hospitalar.
Duas noites depois, e finalmente voltara para sua suíte, para alegria de Sam.
– Eu trouxe um monte de coisas para cima, para que você fique tranquila em caso de emergência, inclusive eu cuidarei pessoalmente dos remédios, eu quero que você se sinta confortável e amparada, mas também que se sinta normal, como mais uma noite numa casa abandonada comigo. – Sam disse, ao deitar ao seu lado.
– Você pensa em tudo. – Theo respondeu, e deitou-se em seu peito.
– Theodora, Theodora, se você tivesse ideia do quanto eu quero ver você bem e feliz. – Sam estava preocupada com o crescente desânimo de Theo, tentava melhorar sua estima com os pequenos gestos.
– Eu quero melhorar. – Sua voz soava abatida.
– Theo, você tem pensado na possibilidade de fazer aquela cirurgia para tentar reativar seu nervo ótico?
– É cedo para isso, posso ter complicações.
– Mas você quer, não quer?
– Sim, claro que quero voltar a enxergar.
– Quem sabe dentro de algumas semanas possamos consultar com Doutor Franco, saber o que ele acha.
– Ele vai proibir.
– Talvez libere, e seria ótimo.
– Incomoda você? – Theo perguntou de forma um tanto ríspida.
– O que? Você não enxergar? Claro que não, só acho que faria um bem danado na sua recuperação.
– E se eu nunca voltar a ver? Isso seria decepcionante, não seria?
– Se for vontade de Deus, então vamos tocar nossas vidas assim, a falta de visão não nos impedirá de termos uma vida normal e feliz.
– Normal para você, talvez.
– Não fale dessa forma. – Sam a abraçou mais forte.
– Desculpe.
Silêncio.
– Já imaginou como seria se você me visse pela primeira vez? – Sam perguntou num tom animado.
– Já. – Theo também abriu um sorrisinho.
– Você tomaria um susto.
– Eu tenho uma boa ideia de como você é.
– Mas seria divertido. – Sam disse. – Você continua com a mesma visão de mim? Ou mudou?
– Acho que você está mais saudável e bonita agora.
– Então você acha que sou bonita? E se você se decepcionar?
– Eu largo você no quarto de hospital e fujo com a enfermeira.
– Você partiria meu coração.
Theo ergueu-se por cima de Sam, ficando com seu rosto próximo ao dela.
– Sam, quando você me beija eu fecho os olhos, e é no beijo o momento em que mais amo você, isso nunca vai mudar, enxergando ou não.
Sam não conseguiu impedir que um sorriso largo surgisse, era tão raro ouvir Theo falando sobre seus sentimentos.
– Ganhei meu dia. – Sam respondeu, contente.
Theo ergueu sua mão com insegurança, pousando alguns dedos nos lábios de Sam. Por um instante pareceu decidir algo, talvez não fosse o momento, nunca saberia, mas a beijou.
Sam pensou em questioná-la, interromper o beijo lascivo e infindável para perguntar se ela tinha certeza, mas poderia ser o suficiente para estragar a noite. Teve certeza que Theo iria além quando tirou a camisa, ainda sobre seu quadril.
Depois que Sam a girou, ficando por cima, Theo procurou sua mão, e a guiou para entre suas pernas, o que seria um sonho para Sam em outra ocasião, não havia a sensação total de segurança.
– Faça em mim. – Sam tentou adiar.
– Depois.
Sam obedeceu, mas tudo foi interrompido de forma abrupta logo em seguida.
– Desculpe, não consigo. – Theo disse, e virou para o outro lado.
– Ok, pelo menos hoje fomos mais longe, não fique chateada. – Sam disse de forma ponderada, a abraçando por trás.
– Não sei se conseguirei algum dia, Sam, não é só a minha cabeça, eu tentei passar por cima de tudo, mas é incômodo, fisicamente também.
– Você sentiu desconforto?
– Mais do que isso.
– Dor?
– Também.
– Pode ser por causa do uso prolongado da sonda, mas deve ser temporário.
– Eu não sei… – Theo fechou os olhos, estava mais decepcionada do que nunca.
– É pior ficar pensando nisso, foque em outras conquistas. E você pode ir tentando sozinha, sem a pressão de me ter ao seu lado.
– Acho que vou ligar para Letícia. – Theo deu um meio sorriso irônico.
***
O inverno havia dado as caras, fazia um pouco de frio no grande salão de fisioterapia, Theo finalizava sua sessão vespertina, aos tombos e tropeços na esteira onde ela tentava caminhar com os suportes.
Suava, estava incomodada com os tombos e o casaco que Magda a obrigara a vestir. Parou a caminhada para tirar o casaco, teve dificuldade, caiu de joelhos ainda com uma manga engatada no braço.
– Ok, chega de andar, vamos fazer algo para os braços e encerramos por hoje. – Eron a ajudou.
– Não quero mais porcaria nenhuma hoje. – Theo resmungou irritada, atirando o casaco para longe.
– Venha, só um pouquinho de braço na máquina leve. – Eron a conduzia para outro equipamento.
– Não quero! É tudo inútil! – Gesticulou derrubando um suporte com anilhas.
– Machucou? – Magda perguntou se aproximando.
– Pegue a cadeira, quero ir para o quarto.
Na noite seguinte, Theo acordou de madrugada, querendo ir ao banheiro.
– Sam? – Chamou, mas sua namorada dormia profundamente.
– Sam, eu quero fazer xixi – Ouvia apenas o barulho da respiração forte de Sam dormindo.
– Deixa pra lá, vou sozinha… – Resmungou, e sentou na cama, atirando as cobertas para o lado.
Saiu da cama caindo de joelhos, o banheiro ficava do outro lado, rastejava-se apoiando os braços na cama, acordando Sam.
– O que aconteceu?
– Estou indo ao banheiro.
Sam levantou-se rapidamente, tentando ajudá-la.
– Não me ajude.
– Você vai se machucar assim, eu te ajudo a ir ao banheiro, se apoie em mim.
– Não precisa, eu quero poder ir na porcaria de um banheiro sozinha. – Seguia agora aos trancos e barrancos o caminho até o banheiro.
– Por que essa teimosia?
– Eu só quero ser independente, me deixe fazer as coisas sozinha, e não entre no banheiro.
Momentos depois chegou ao banheiro, já exausta e suando, seus joelhos estavam vermelhos, principalmente o direito, já que a perna esquerda estava debilitada.
Apoiou-se com dificuldade com ambos os braços na borda do vaso, erguendo-se do chão. As mãos escorregaram, a fazendo desabar sobre o vaso, seu queixo chocou-se contra a cerâmica, abrindo um corte que sangrou de imediato.
– Que merda… – Resmungou sentada ao lado do vaso, sentindo o sangue molhando sua camiseta cinza.
Lassitude: s.f.: Cansaço, fadiga, tédio, prostração de forças.
Primeiro adorei o seu retorno seja bem vinda estava com saudades dessa dupla agora esse capitulo deu dor no coração triste coitada da Theo e da Sam tb difícil para as duas terem uma vida minimamente normal nessa situação eu sugiro para o capitulo um nome em forma de pedido ”FENECIMENTO” – um fim para esse sofrimento da Theo desse período sinistro da vida delas e mais alegria e leveza para nossa guerreira xau bjs e Cris vc sempre me arrebata com sua escrita você escreve bem demais mulher
Olá Maria Tereza!
Obrigada pelas re-boas-vindas 🙂
Eu adorei sua sugestão de título, acho que vai se encaixar num capítulo futuro, brigada!
Bjos e uma ótima semana!
Ufa, voltou…
Que dor que dá de ver a Theo sofrendo tanto. Não vejo a hora dela voltar a ter uma vida normal, ou quase normal, pelo menos, porque assim tá difícil pra ela/nós.
As suas histórias nos envolve tanto, que às vezes é como se as personagens realmente existissem e que posso encontrar elas na esquina de casa. Te ler, ou apenas ler qualquer coisa boba por aí, é como um bálsamo. A leitura é extremamente importante pra mim, só eu sei a falta que senti de 2121, mas agora voltou e eu to beeeem feliz.
Desculpa pelo comentário grande, mas depois de tanto tempo te acompanhando e nunca ter comentado, agora você vai ter que me aguentar por aqui jdksjdk
Beijos Cris.
Oi gata…
Primeiramente feliz aniversário, né?! Amei o retorno, estava com saudades dessas duas.
Poxa, acho que já chega de tanto sofrimento… faz essa menina melhorar logo. Tadinha…