2121 – Capítulos 4 e 5

– Ler primeiros capítulos

 Capítulo 4 – Subserviência

 

13 de fevereiro de 2118

– Já tocou a sirene das seis? – Sam resmungou ao acordar, estava num dos quartos destinado aos casais reconhecidos pelo exército, deitada sobre o peito de Mike, que afagava seu braço.

– Tocou sim, há cinco minutos, e se você continuar nessa preguiça vai nos atrasar, você sabe que temos missão hoje. – Mike respondeu.

– Num lugar longe e frio… – Sam bocejava.

– Vamos, meus soldados contam comigo, preciso dar o exemplo. Saia de cima de mim e se vista. – Mike disse, incisivo.

Sam levantou-se com movimentos lentos, sentando-se na beira da cama e vestindo sua jaqueta verde. Uma vez por semana era permitido que os casais dormissem juntos em quartos reservados no quartel, eles haviam dormido mais tarde que o habitual naquela noite. Seguiriam ainda de manhã para o Alasca numa missão de reconhecimento, Mike havia recrutado Sam para aquela missão, contra a vontade dela.

– Vou para meu alojamento e te vejo no refeitório em meia hora. – Sam disse.

– Não, esteja lá em vinte minutos.

– Ok. – Sam sorriu e entrelaçou seu pescoço, com o intento de beijar seu noivo.

– Sam, não. Não temos tempo para isso, vá se trocar. – Ele disse, tirando os braços dela.

– Como se um minuto fizesse diferença… A missão partirá as oito. – Sam o largou, com desconforto.

– Você não entende as obrigações que um major tem aqui dentro porque você é apenas 1º sargento, não tem as responsabilidades que tenho. Você acha que minhas obrigações começam as oito? Meus deveres comandando o pelotão iniciam mais cedo. – Mike exasperou. – Você entende, não entende?

– Entendo sim. Vejo você no refeitório.

***

No começo daquela tarde gelada no Alasca, o pelotão comandado por Mike caminhava numa floresta aberta, eram árvores com poucas folhas e um chão com uma camada de neve espessa o suficiente para afundarem seus pés, enquanto andavam empunhando suas metralhadoras, distribuídos em grupos.

– Sargento Cooper e cabo Oliver, preciso que vocês duas deem a volta por fora, pela esquerda, e retornem me informando se viram alguma movimentação suspeita. – Mike deu a ordem à Sam e a outra oficial, que foi prontamente atendida.

– Ele nos manda para essas tarefas sem sentido porque acha que mulheres só servem para isso. – Cabo Oliver, que se chamava Maritza, reclamava com Sam, enquanto caminhavam na neve fofa, por fora do espectro de buscas do pelotão.

– Não é verdade, Mike confia em nós do mesmo jeito que confia nos outros soldados. – Sam o defendeu.

– Que missão idiota, uma caminhada no bosque congelado.

– Não nos mandariam para cá se não tivessem indícios de atividade inimiga.

– O que esperam que nós encontremos neste local ermo? – Maritza tremia de frio e olhava ao redor, a passos lentos. Era uma mulher alta, com grandes olhos verdes.

– Sua língua, se você não parar de…

Antes que ela terminasse a frase, uma granada abandonada explodiu sob seu pé, arremessando Sam na direção de sua colega militar.

– Sam! Sam! Meu Deus!

Estilhaços haviam a atingido, um em especial lhe fizera um corte profundo na lateral do pescoço, de onde vertia sangue abundantemente, apavorando Maritza.

– Socorro! Soldado ferido! – Ela gritava, com Sam nos braços.

– Maritza, eu fui atingida, me ajude por favor. Estou perdendo sangue, me ajude. – Sam balbuciava, em pânico, com a mão no pescoço.

– Socorro! Aqui! – Continuava gritando. – Sam, eles virão resgatá-la, acalme-se, vai ficar tudo bem, ok? Vai ficar tudo bem. – Maritza pousava a mão sobre o corte em seu pescoço, mas de nada adiantava.

Em vinte minutos Sam já estava no caminhão do exército, voltando para a base, distante 120 quilômetros dali, sendo amparada por Maritza e Mike, numa maca no chão.

– Você vai ficar bem, vão cuidar de você. – Mike a tranquilizava.

Sam morreu durante a viagem.

Ao chegar no quartel, Mike orientou que levassem a maca ao conjunto médico auxiliar, para onde raramente os soldados feridos seguiam. Mandou chamar o General Jones, um militar de alta patente, que estava em serviço há quatro décadas.

– General! – Bateu continência. – Ela é a candidata ideal para o programa. – Mike se movia de forma afoita.

– É sua noiva?

– Sim, acidente com granada ou mina terrestre no Alasca.

O general, trajando seu paletó verde repleto de condecorações, deu uma boa olhada na maca onde Sam jazia, e coçou o queixo.

– Há quanto tempo ela morreu?

– Pouco tempo, alguns minutos, coloque ela no programa, ela será uma soldado exemplar, eu garanto. – Mike insistia com fervor.

O general balançou a cabeça lentamente, e bradou para os que estavam ao redor.

– Levem-na para a sala três!

Após quase vinte horas de procedimentos cirúrgicos e implantes, Samantha era mais uma soldado Borg, um experimento secreto do governo europeu, que transformava soldados mortos em super soldados. Ela era agora propriedade do governo, e acordou achando apenas que havia ganhado uma segunda chance.

– Boa noite, sargento Cooper. – O General Jones a saudava em seu quarto, na noite seguinte.

Sam olhava para os lados confusa, havia acabado de acordar e estranhou fios saindo do meio do seu peito.

– O que aconteceu? – Murmurou, sonolenta.

– Não se recorda, minha jovem? – Ele andava pelo quarto, com seu porte exemplar e um sorriso falso nos lábios.

– Acho que pisei numa mina, foi isso? – Sam colocou a mão na cabeça, onde haviam ataduras.

– Pisou numa granada, mas nós já cuidamos muito bem de você, fizemos algumas intervenções cirúrgicas, finalmente você está de volta e logo voltará ao campo.

– Que intervenções? – Ela tocava os fios em seu peito.

– Não se preocupe com isso agora, descanse. Em cinco dias você se apresentará à mim, na minha sala, ok? Teremos missões especiais para uma pessoa especial como você. – Novamente ele lançou um sorriso sem credibilidade.

Sam tinha grande estima por ele, General Jones havia servido com seu pai por anos e frequentava sua casa, era como um pai no exército para ela, alguém em quem ela confiava cegamente.

No dia seguinte, ainda se recuperando das cirurgias, Sam recebeu a visita rápida de Mike, ele tinha outra missão para comandar.

– Você terá alta amanhã, querida. – Mike sorriu, a fitando. – É bom vê-la bem, eu sabia que tudo daria certo, nosso pelotão sente sua falta.

– Sinto tonturas e dores de cabeça, não sei se está tudo certo, tem algo estranho. – Sam disse.

– É normal, General Jones me falou que você teria algum mal estar nos dias seguintes, irá passar, ok? – Mike segurava e acariciava sua mão.

Algo havia mudado, Sam olhava para Mike e não o sentia como uma presença iluminada, como ela costumava enxergá-lo. São os sedativos. Pensou.

De fato algo havia mudado, mas não era apenas a forma como ela enxergava seu relacionamento amoroso de cinco anos, algo havia mudado nela, fisicamente.

Durante as missões em campo, sua visão parecia aguçada e treinada para enxergar o inimigo em situações adversas. Haviam implantado um dispositivo visual em seu cérebro, que implementava sua visão normal com dados adicionais, era como óculos inteligentes, porém dentro de sua cabeça, que lhe davam dados como mapas, pontos de interesse, informações de clima e uma gama de outras funcionalidades que agiam em conjunto com um comunicador. Tinha maior facilidade em ter raciocínios complexos, efetuar cálculos, se sentia com mais energia, e dormia menos.

***

Quase três anos se passaram desde o dia em que havia morrido em nome do exército e do pelotão liderado por seu noivo. Havia galgado a patente de 1ª tenente, era uma oficial agora, e a vida no exército nunca estivera tão prolífera, com desempenhos gloriosos em batalha e condecorações.

– Laurent faleceu esta noite. Voltem para suas tarefas! – Comunicou naquela manhã o comandante de seu pelotão, Major Andrews. Mike havia sido designado para outras funções.

– Como? – Sam ousou perguntar, ainda surpresa com a morte de seu colega.

– Teve um mal súbito enquanto dormia. Dispensados!

– É o quarto soldado que morre de mal súbito este ano, enquanto dormia. – Comentou em voz baixa Maritza, que estava ao lado de Sam.

– O que você quer dizer?

– Nada, só acho estranho.

O corpo do soldado Laurent passou por elas, carregado numa maca, enquanto fechavam o saco plástico que o embalava. Sam o olhou com curiosidade, mas a curiosidade transformou-se em espanto. Ele estava sem camisa, e ela conseguiu enxergar uma cicatriz extensa no meio do seu peito, exatamente igual à dela. A intriga estava plantada em seus pensamentos.

Nos dias que se seguiram, Sam dividia seu tempo livre entre dar atenção para Mike e pesquisar de forma discreta sobre os outros soldados que haviam morrido desta forma.

Todos eles haviam passado por situação de fatalidade, seguida por cirurgias significativas. E todos haviam morrido exatamente três anos após o ocorrido. Exatamente no último minuto do dia em que completariam três anos de cirurgia.

Pesquisou outros cinco casos. Todos tiveram o mesmo triste fim, a sobrevida deles durara três anos, descobriu que ela e estes soldados haviam feito parte de um projeto chamado Borg, e ela seria a próxima a morrer, seu aniversário de três anos de morte se daria em três meses.

Aquele assunto à atormentava dia e noite, atrapalhando as funções dentro do quartel, até mesmo durante suas orações se dispersava, seu comportamento acabou chamando a atenção de Mike.

– O que está acontecendo com você? – Mike perguntou, após terem feito sexo e Sam ter ficado mais distante do que nunca durante o ato.

– Nada. – Ela deitou, virando para o outro lado, na cama.

– Seu superior reclamou de você para mim, seu rendimento caiu, tem algo a incomodando? – Mike perguntou, pousando a mão em seu ombro.

– Reclamou? Como?

– Sam, você parece estar no mundo da lua.

Ela virou-se, ficando frente a frente com ele.

– Mike, fizeram algo comigo.

– O que?

– Depois daquele dia no Alasca, quando fui atingida pela bomba, fizeram algum experimento no meu corpo, algumas coisas mudaram, e pelo que tudo indica, eu não tenho muito tempo de vida, meu coração vai parar logo.

– Que sandice! De onde tirou isso?

– Eu pesquisei, outros soldados também passaram por isso, e todos morrem exatamente três anos após a cirurgia. Acho que transplantaram meu coração, e ele vai parar.

Mike suspirou de forma pesada e irritada, virando-se para cima.

– A parte do coração é verdade, eles transplantaram o seu por um artificial, porque você morreu com aquela bomba, morreu com uma grande hemorragia, e te trouxeram de volta, eles te salvaram.

– Você sempre soube disso? – Sam ergueu-se, cobrindo-se com o lençol e apoiando-se com o cotovelo.

– Sim, mas nunca vi necessidade em te contar, bastava te ver recuperada para saber que foi a decisão correta.

– Então por que estes soldados, que também fizeram parte do experimento Borg, morreram nesta data específica?

Mike trincou a mandíbula, não tinha uma resposta para ela.

– Coincidência talvez.

– O que você sabe sobre isso?

– Eu ouvi algo sobre esse projeto, e quando você morreu a caminho do quartel fiquei desesperado, isso seria a única chance de te trazer de volta. Fizeram algumas intervenções cirúrgicas, mas você apenas ficou com alguns sentidos aguçados, não sei nada sobre morrer três anos depois, General Jones nunca mencionou nada disso.

– O general sabe? – Sam perguntou, perplexa.

– Sim, ele é o responsável por esse projeto.

Sam assimilava as informações, Mike nunca havia comentando absolutamente nada sobre esse assunto até então.

– O que eu devo fazer? – Sam perguntou.

– Nada, aproveite o fato de ser um super soldado.

– Mike, meu coração vai parar dentro de três meses.

– Besteira! O general teria me contado se isso fosse verdade. Nada vai te acontecer, ok? Você está sob a proteção da nossa grande nação, nossa pátria nunca faria mal a você.

– E se for verdade? Se estiver com meus dias contados?

– Alguém está enchendo sua cabeça com essas besteiras? Me diga, tem algum cara conversando com você?

– Não, eu estou pesquisando por conta própria.

– Pois pare de pesquisar, apenas agradeça à Deus por ele ser bondoso e te dar esta segunda chance.

Sam demorou para dormir naquela noite, assim como nas noites seguintes.

Durante o mês que se seguiu, Sam invadiu algumas vezes escritórios e salas de tecnologia, e cada vez mais se convencia que sua vida corria sério risco se nada fizesse. Planejou uma fuga, e chegara o dia de conversar sobre isto com Mike.

– Amor, eu preciso sair daqui. – Ela disse, deitada sobre seu peito, ele havia adormecido sem que ela percebesse.

– Mike?

– Ãhn?

– Eu preciso sair daqui.

– Desta cama? Vá para sua cama então.

– Não, preciso sair do quartel, eu descobri que meu coração vai se desligar no dia 13 de fevereiro, preciso fazer algo.

– Eu já falei para você parar com essas bobagens, nada vai se desligar.

– Mike. – Sam ergueu-se, o fitando. – Vem comigo.

– Você está ficando louca? Você quer que eu largue minha carreira no exército para te acompanhar numa fuga, de algo que você está especulando e tirando conclusões absurdas?

– Não é absurdo, os outros já morreram, todos eles eram Borgs como eu, meu tempo está se esgotando também. – Sam diminuiu o tom da voz. – Eu soube de um laboratório clandestino na costa leste onde eu posso conseguir um novo coração artificial.

– Onde você ouviu isso?

– Lembra do cabo Kampman?

– Eu sabia que você estava de conversinha com aquele alemão folgado!

– Não, não é nada disso, lembra do incidente com uma granada que matou quatro soldados no início do ano? Ele foi a quinta vítima. Assim como eu, ele se tornou um Borg também.

– E vocês dois estão planejando fugir juntos? – Mike falou jocosamente.

– Não, ele ainda tem tempo, vai investigar mais antes de planejar a fuga, mas ele também vai procurar esse laboratório que ouviu falar.

Mike levantou-se, vestiu sua calça e fitou Sam, com as mãos na cintura.

– Você quer desertar, é isso? – Ele falou, com ares de impaciência.

– Sim, eu não quero esperar para ver se eu estava certa ou não, eu quero correr atrás de um novo coração. Mas não sei se consigo sozinha, fuja comigo.

– Isso é loucura, esse alemão está enfiando estas ideias de merda na sua cabeça.

– Eu investiguei sozinha! – Sam exaltou-se, sentando-se na cama.

– Por Cristo, Sam! Cubra-se logo, se dê ao respeito! – Mike disse, virando o rosto.

Sam cobriu-se, e ergueu o lençol, segurando-o abaixo do queixo.

– Achei que você ficaria do meu lado. – Sam falou, cabisbaixa.

– Estarei te apoiando e ao seu lado para sempre, você será minha esposa em breve e é meu dever te proteger. Mas se você insistir nisso, não conte comigo. – Mike jogou as roupas para ela. – Não vou embarcar nesse devaneio seu e jogar no lixo tudo que já conquistei aqui, você não está enxergando o meu lado.

– Não posso ficar de braços cruzados…

–  Você já parou para pensar em seu pai? O que o Tenente-General Cooper acharia de uma filha desertora? Ele morreria de vergonha. – Mike dirigiu-se ao banheiro.

Sam vestia-se enquanto Mike estava no banheiro. Silenciosamente tomava a decisão: fugiria no dia seguinte, durante a missa dominical, tudo já estava arquitetado e planejado há alguns dias. Mas iria sozinha.

– Vamos dormir, amanhã tenho que ir mais cedo para a capela, farei uma das leituras do evangelho. – Mike falou, orgulhoso.

***

Na manhã seguinte, despediu-se de Mike, tentando não transparecer que aquele último beijo era uma despedida. Durante a missa, ele estava tão envolvido com sua função ecumênica que não percebeu quando Sam abandonou a capela.

Antes de fugir pelo ponto cego que encontrara na fortaleza, Sam resolveu ir em busca da confirmação do seu pouco tempo de vida. Invadiu o quarto do General Jones.

– Jovem, você sabe que esta invasão aos meus aposentos pode lhe render um mês de reclusão? – O General bradava, trajando apenas a calça verde oliva e uma camiseta branca, estava surpreso com a presença de Samantha.

– General, o senhor sabe do meu apreço e respeito por sua pessoa, o tenho como um pai dentro de nossa corporação, mas eu vim em busca de respostas e não encontrei outra forma de fazer tais inquisições.

– Quanta petulância de uma simples 1ª tenente! Saia do meu quarto!

– Por favor, apenas me responda sobre o projeto Borg.

O general mudou de feições, parecia agora preocupado, endireitou sua postura e falou de forma incisiva.

– Vou chamar a segurança militar para levá-la para a reclusão. – Ele disse, sua mão foi na direção do seu comunicador, mas foi interrompida pela mão de Sam, que rapidamente lhe apontou uma arma.

– Vamos manter esta conversa entre nós dois. É verdade que meu coração vai se desligar em breve?

– Não sei do que você está falando, e seu pai saberá sobre essa insubordinação. – Ele voltou a fitá-la de forma ereta.

– Você é o responsável pelo projeto Borg, que tipo de coisas fizeram comigo? Que coração é este que carrego? – Sam segurava a arma com as duas mãos, nervosamente.

Agora o general relaxava a postura, um quase sorriso irônico surgiu, irritando Sam.

– Responda minha pergunta! – Sam vociferou.

– O que você pretende fazer com a verdade, minha criança? Você é propriedade do exército agora, é nosso rato de laboratório, um pequeno rato confuso com os dias contados.

Finalmente ela havia conseguido a confirmação de seu infeliz destino, a verdade lhe trouxe um arrepio forte e ruim, as pernas fraquejaram. Sam corria os olhos pelo chão, assimilando a informação.

– Por que três anos?

– Você não entende o que é uma cobaia? Você já viu cobaias sendo devolvidas para uma vida normal? Elas precisam ser eliminadas. No caso dos Borgs, julgamos três anos de serviços prestados suficiente para nosso intento, depois disso fica arriscado. Um Borg pode se achar no direito de saber o que fizeram com ele, ter a audácia de questionar as práticas da nossa nação. E pior: pode desenvolver novos sentimentos e todas essas besteiras pessoais que você não tem mais direito. – Ele começou a andar pelo quarto. –  Sempre fui contra colocar mulheres nestes experimentos…

– Novos sentimentos? – Sam já estava com a arma abaixada.

– Vai dizer que não percebeu?

– Vocês me desprogramaram?

– Completamente. Removemos toda a programação neuroquímica que você havia feito com seu noivo. Como chamam mesmo? A programação do amor eterno. Desfizemos a sua.

– Pois saiba que eu ainda amo Mike, com ou sem a programação química que nós dois fizemos.

– Do que adianta? Daqui dois meses você deixará de existir, e removeremos a programação dele também. Se bem que… Com essa sua atitude impensada e irresponsável, você decretou seu fim para antes.

Sam voltou a erguer a arma, tinha agora uma expressão de raiva, deixaria para assimilar aquilo tudo depois.

– Talvez eu realmente morra em dois meses, mas não será aqui dentro, será lá fora, lutando para sobreviver. – Sam tirou uma pistola paralisadora do coldre em sua perna. – Nunca tive o intento de atirar contra o senhor nem em nenhum de meus companheiros militares, mas não posso correr o risco de ser impedida de alguma forma.

– Você se arrependerá amargamente se fizer isto, sua cobaia estúpida.

Sam ergueu a arma, e fez o disparo, um raio que causava uma dor intensa no local atingido, e paralisava a musculatura dos membros da vítima por algumas horas.

A missa terminaria em dez minutos, este era o tempo que ela tinha para pegar suas coisas que já estavam separadas e escondidas, e continuar com seu plano de fuga. Quase todos os militares estavam nas capelas de seus batalhões naquele horário, era o momento em que a fortaleza ficava desprotegida.

Além de coisas de uso pessoal, Sam carregava alguns equipamentos militares, que venderia no mercado negro para bancar sua viagem em busca do novo coração, e uma pequena quantia em dinheiro, que guardara nos últimos meses.

***

A vida fora da corporação corria mais difícil do que o imaginado, aprendeu na prática que não poderia confiar nas pessoas ali fora, levando alguns golpes e roubos. Dormia em lugares abandonados, fugia da polícia e dos sentinelas robóticos, que a esta altura tinham seu nome como procurado, bastaria um simples escaneamento visual e ela seria descoberta e presa. Após vender tudo, conseguiu comprar um velho carro, que serviria para deslocar-se até a costa leste, em busca do laboratório.

O homem que lhe vendeu o carro indicou um rapaz que poderia servir de guia na costa leste, a ajudando a encontrar o laboratório clandestino, em troca de uma pequena quantia. Era um jovem de poucas palavras e baixa estatura, com uma deficiência no braço, por conta da radioatividade. Na primeira noite da viagem, pararam para dormir num galpão industrial abandonado, ela num colchão ao lado do carro, ele dentro.

Sam acordou de madrugada com o rapaz dando partida em seu carro, intentando fugir com seus pertences. Com o carro já em movimento, Sam o alcançou e conseguiu retirá-lo de dentro, através da janela, iniciando uma luta.

Naquela noite Sam descobriu que teria que matar para sobreviver.

 

Subserviência: s.f. Qualidade ou estado da pessoa que cumpre regras ou ordens de modo humilhante; característica de quem se dispõe a atender as vontades de outrem.

 

Capítulo 5 – Heterocromia

 

– Já anoiteceu. – Theo comentou, ao perceber que havia escurecido.

– Sim. – Sam dirigia compenetrada.

– E o plano para passarmos pela fronteira? Você continua sem documentação. Já estamos perto, não?

– Tentarei achar algum caminho alternativo ilegal. Se não encontrar, tenho um plano B.

– Qual é o plano B?

– Não posso contar, você não toparia. – Sam sorriu.

– E não é me assustando que você vai conseguir minha colaboração.

Andavam por uma rodovia larga, com umas doze vias, no acostamento haviam moitas de capim e placas perfuradas por tiros e lasers. Já era visível a estrutura do policiamento da fronteira, as guaritas da aduana bem iluminadas. Havia um grande painel eletrônico no alto que dizia ‘Bem-vindo à Nova Capital, terra de prosperidade e oportunidades’, e logo abaixo alguém pichou ‘mentirosos’, em vermelho.

O carro andava agora numa velocidade reduzida, Sam observava ao redor, tentava achar algo visualmente, já que pelo localizador no carro nenhuma outra via fora encontrada, elas teriam que realmente passar por aquelas guaritas.

– Não há alternativas, Theo… – Sam falou com desalento.

– Use minha documentação.

– E as fotos? Você não se parece comigo.

– Não?

– Nem um pouco. Tem também o reconhecimento de íris. – Sam parou o carro no acostamento, praticamente dentro de um pequeno matagal.

– Podemos tentar passar a pé, por algum buraco na cerca. – Theo sugeria.

– Não tem cerca, toda a fronteira tem sensores de movimento, que atiram no que tentar ultrapassar.

– Que radical.

Sam batia com os polegares no volante, nervosamente.

– Plano B. – Sam soltou o cinto de segurança, abriu a porta e saiu.

– Onde você vai? – Theo mexia a cabeça de um lado para outro, tentando entender.

A porta do passageiro se abriu.

– Assuma o volante. – Sam disse, a empurrando para o lado.

– Quê?

– Anda, vá para o lado. – Sam a empurrou pelo ombro novamente.

– Você não acredita quando eu digo que não enxergo?

– Acredito, uma pessoa que enxerga não bateria com a cabeça no box daquele jeito, nem de propósito. Nem sairia com a camisa do avesso.

– Você me deixou sair com a camisa do avesso?

– Ok, não é hora para isso, vá para o volante, daqui até a guarita são trezentos metros em linha reta.

– Você acha que eles não perceberão que a motorista é cega?

– Seja uma boa atriz, quando entregar os documentos permaneça com a mão estendida, para que eles devolvam na sua mão, ao invés de ficar caçando no ar.

Theo hesitou, mas acabou correndo no banco, assumindo o volante.

– Ótimo. – Sam fechou a porta e entrou no carro por trás.

– Onde você vai ficar?

– Aqui no fundo do carro, embaixo dos cobertores. Se quiserem inspecionar, diga que é roupa hospitalar suja.

– Isso não vai dar certo, eles vão achar alguma discrepância.

Sam já se escondia embaixo dos cobertores e outros objetos.

– Já dirigiu antes?

– Já.

– Então acelere, vá com velocidade reduzida até a guarita, eu vou avisar quando for para frear e parar.

– E depois? Acelero novamente e ando em linha reta?

– Eu não consigo ver a estrada daqui, vamos torcer para continuar sendo uma reta.

– O carro está no acostamento agora, não está?

– Sim, dê a partida e o recoloque na estrada. Tome seus documentos, mantenha no colo até entregar para eles. Tome isto também, vista.

– Um casaco? Mas está calor.

– Para esconder as tatuagens.

– Mas…

– Vista.

Theo coçava a cabeça com as duas mãos, o coração disparava.

– Você consegue, você é uma garota esperta e também quer sair da zona morta. – Sam continuou.

– Ok, mas fique sabendo que isso é uma loucura. – Ligou o carro.

– Se você tiver uma ideia melhor, sou toda ouvidos.

– E se não der certo?

Sam pensou por um instante.

– Foi um prazer te conhecer.

– Você precisa melhorar seus argumentos motivacionais.

E deu a partida, vagarosamente manobrando de volta à estrada.

– Você está indo bem, siga reto nesta via.

– Como você sabe que estou indo bem?

– Estou acompanhando as câmeras externas do carro através do meu comunicador, aqui embaixo.

– Agora sim, isso é algo motivacional para se falar.

– Acelere um pouco.

– Ok.

– Nem tanto!

– Ok, ok.

– Guarita número oito em cinquenta metros, desvie só um pouquinho para a direita. Dois agentes, uma de cada lado. O agente do seu lado é um homem alto, então levante os documentos quando for entregar. O da direta está com cara de poucos amigos, talvez ele seja encrenca.

– Você está me deixando nervosa com esse monte de informações.

– Vá diminuindo a velocidade.

– Esse carro é antigo demais, as coisas não estão onde deveriam estar.

– Depois conversamos sobre automobilismo. Reduz, freia!

– Boa noite, senhora. – O homem alto que usava um óculos com armação vermelha a cumprimentou.

– Boa noite. – Theo disse, segurando firmemente os documentos em seu colo.

– Identificação e passaporte, por gentileza.

– Aqui.

– Ai!

Theo ergueu os documentos para fora da janela, acertando o queixo do agente.

– Desculpe, senhor.

Ele conferia minuciosamente os cartões de identificação e passaporte antes de checá-los no leitor. Escaneou rapidamente a íris dela.

– Faz uma agradável noite hoje, não? – O agente perguntou, enquanto lia os dados que apareciam na tela à sua frente.

O outro agente saiu para ir ao banheiro.

– Sim, uma bela lua.

– Lua? Bom, o tempo está nublado, por isso não faz calor hoje. – Ele respondeu, confuso.

– O tempo estava aberto na cidade em que eu estava. – Theo tentou remendar.

– E de onde você está vindo?

– Ãhn… Tampa.

– Flórida? Você está dirigindo da costa leste até a oeste, sem parar?

– Não, fiz algumas paradas.

– Espero que tenha dormido o suficiente, senão terei que detê-la para que faça o descanso mínimo exigido.

– Dormi no carro todas as noites, estou ótima.

Ele deu uma olhada para dentro do carro, ficou algum tempo olhando para a parte de trás, com um pequeno refletor.

Sam não conseguia enxergar nada, apenas suava e percebia que havia uma luz sendo direcionada para ela, já havia feito várias orações.

– Não parece confortável. O que tem atrás dos bancos, uma pilha de cobertores?

– Ãhn… Não, roupa hospitalar contaminada.

– Contaminada?? Senhora, tenho que pedir para que desça e se afaste do carro.

– Suja, eu quis dizer suja! Não está contaminada! – Theo agora também transpirava e tentava não tremer as mãos.

– Saia do carro, por favor.

– Ok. – Tateou o botão que abria a porta, mas não estava onde acreditava estar.

– Senhora, saia do carro agora.

Finalmente achou o botão, abrindo a porta. Saiu lentamente, recostando-se na porta traseira.

– Para onde está levando esta roupa? – O agente estava de joelhos no banco do motorista, percorrendo o feixe de luz pelo carro, principalmente no monte de cobertores, mas não tinha coragem de colocar as mãos.

– Uma lavanderia em Ensenada.

– Minha cidade natal! Você mora lá?

– Não, moro em Tijuana mesmo, mas trabalho para uma empresa de lá.

– Conhece a taqueria Los Panchos? Ao lado do supermercado Redondo, é do meu pai.

– Já estive neste supermercado, mas não me recordo da taqueria, fica dentro ou ao lado?

– Do lado esquerdo, tem uma placa vermelha com um sombrero do lado, não tem como você errar. – O agente estava agora entretido, esquecia a busca.

– Então da próxima vez que for ao supermercado com certeza farei uma boquinha na taqueria do seu pai, qual prato recomenda?

– Taco Real, peça com bastante chili.

– Adoro chili, vou adorar o Taco Real, eles fazem para viagem também?

– Sim, sim. Tome. – Ele já estava fora do carro, e ergueu a mão com seus documentos.

Theo estendeu a mão para um cumprimento, ele a cumprimentou e ela tomou os documentos, com firmeza.

– Desculpe o incômodo. – Ele abriu passagem para que ela entrasse no carro. – Quando for na taqueria diga que foi indicação do Carlitos, filho do Carlos.

– Carlitos, farei de questão de falar pessoalmente com seu pai.

– Você o reconhecerá fácil, por causa do lance do bigode que nós temos.

– Ele tem um bigode igual ao seu.

– Eu não tenho bigode, apenas a barba, assim como meu pai. – Ele disse, confuso.

– Claro, a ausência do bigode. – Theo deu a partida no carro.

– Boa viagem, não exagere no chili, hein?

Ela apenas acenou e partiu, mais rápido do que deveria.

– Esquerda, esquerda! – Sam falava ainda debaixo da pilha, mas já parcialmente descoberta.

– Tem curva?

– Tem! A esquerda! – O carro sobressaltou para o acostamento.

– Esquerda! Não, menos, menos, volte! Direita, direita!

– Ok. – Theo dirigia segurando firmemente o volante, tensa.

– Você está dirigindo em zigue-zague depois de passar por uma aduana!

– Desculpe, talvez seja pelo fato de que eu não estou vendo a estrada!

– Continue nesse sentido.

– Posso parar o carro?

– Ainda não, eles veriam, ande mais um pouco. Curva leve à direita. – A estrada estreitava para apenas duas vias ali, e ficava mais escuro à medida que prosseguiam.

– Ok, vamos encostar o carro. Direita.

– Até que enfim. – Theo ainda tremia, e o carro ia para a esquerda.

– Direita!

– Desculpe. Já estou no acostamento?

– Está, pare o carro e vá para seu banco.

Sam levantou-se, olhou para trás e não enxergou ninguém as observando, pulou para frente.

– Conseguimos. – Theo exasperou.

– Vamos embora. – Sam estava tensa, saiu dirigindo cautelosamente.

– Posso tirar o casaco?

– Pode. Acho que conseguimos. – Finalmente Sam relaxava.

– Enganamos a aduana! – Theo vibrava.

Sirenes começaram a ser ouvidas.

– Oh não. – Sam resmungou.

– Estão atrás de nós?

– Acho que sim, ainda não vejo.

– Então acelera!

A ordem foi atendida, e Sam dirigia como se estivesse numa corrida de rua, Theo segurava-se no banco.

– Não ouço mais sirenes. – Theo constatou.

– Ficaram para trás, peguei uma estrada adjacente.

– Estou impressionada com sua habilidade em pilotagem.

– Nem eu sabia que conseguia dirigir assim. Nos desviamos do nosso curso, mas não podemos voltar por onde viemos.

– Continue por aqui até achar uma rota para nosso curso.

– Está longe, tem uma pequena cidade adiante, acho que vamos passar a noite lá.

– O que importa é que conseguimos. – Theo fez um afago de dois segundos na mão de Sam, a chamando atenção.

– Eu falei que conseguiríamos, você duvidou da minha ideia. – Sam finalmente tirou a tensão dos ombros, sorriu a fitando.

– Fui uma boa atriz.

– Houveram furos no seu script, mas seu trabalho como um todo foi bom.

– A do bigode foi péssima, reconheço.

***

Uma hora depois chegaram no centro de uma cidade de pequeno porte, haviam uns poucos prédios, alguns pareciam desabitados, mas estavam invadidos por moradores sem teto. Apesar de ser quase nove da noite, as ruas centrais estavam movimentadas, Sam deu uma boa olhada ao redor, procurando policiais, agentes ou sentinelas, mas parecia uma cidade esquecida no tempo, com pessoas simples circulando.

– O comércio local ainda está funcionando, preciso de algumas coisas, me acompanha? – Sam disse, estacionando o carro numa praça.

– Adoro compras.

– Não vamos fazer compras.

– Mesmo assim eu gosto.

Sam foi até o outro lado do carro, Theo saiu e ergueu o braço, para ser levada por Sam, mas ao invés de conduzi-la pelo braço, pegou em sua mão.

– Mais humano. – Sam murmurou, a mão de Theo atrelada à dela lhe transmitiu uma sensação de conforto.

Entraram numa loja de roupas e bugigangas, havia um pouco de tudo e estava abarrotada de caixas pelo chão. Sam foi direto ao último balcão.

– O que é aqui? – Theo perguntou, esbarrando numa caixa.

– Uma loja. Vou providenciar uma muda de roupas limpas para você.

– Tudo isso porque eu consegui nos passar pela fronteira? Você é de fato uma pessoa benevolente.

– Não quero me arrepender, ok?

– Ok. Aqui tem boné?

– Para que você quer um boné?

– Para proteger meus olhos do sol.

Sam suspirou.

– Moça, você tem boné? – Sam perguntou.

– No balcão ao lado.

– Ok, ali na parede tem alguns, escolha um.

Theo virou a cabeça na direção de Sam.

– Você acha isso engraçado?

Sam riu.

– Aquele último. – Ela disse, indicando para vendedora com a mão.

Sam lhe entregou, prontamente Theo o colocou virado para trás.

– Está virado para o lado errado. – Sam disse.

– Eu sei, tá vendo algum sol dentro da loja?

Sam tirou o boné da cabeça dela, colocando sobre o balcão.

– Moça, mudei de ideia, não quero o boné. – Sam falou.

– Hey.

– Tome. – Recolocou o boné em Theo. – Como se diz?

– Obrigada.

– Apenas obrigada?

– Obrigada, Sam.

– Não, o correto é ‘muito obrigada, Sra. Samantha’.

– Eu não vou agradecer de novo.

– Ok, vamos pegar o que falta. – Sam a puxou para outro balcão.

– Moça, roupas femininas é aqui? – Sam indagou a vendedora.

– Que cor é o boné? – Theo perguntou.

– É sim, o que deseja?

– É verde com a frente rosa.

O boné era azul com a frente branca.

– Nossa, que discreto.

– Tá reclamando?

Theo engoliu em seco, resignada.

– Não, adoro rosa.

Após terminarem a compra, Sam a deixou no carro e seguiu para um mercado ali próximo.

– Tem certeza que quer ficar aqui? – Sam perguntou.

– Sim.

– Ok, se alguém te abordar seu nome é Maria Conchita González e mora em Chihuahua.

– É isso que diz meu documento?

– É sim. Comporte-se, Maria Conchita, eu não demoro.

Vinte minutos depois Sam retornou ao carro e não encontrou Theo, nem ao redor.

– Merda, onde ela se meteu. – Falou para si, olhando para todos os lados.

Colocou as compras no banco de trás e deu algumas voltas pela rua, ia e voltava mas nem sinal de Theo. Colocou as mãos na cintura, o coração queria saltar pela boca, mas não fazia ideia de onde começar a procurá-la, quando finalmente a viu despontando na esquina, vinha tateando as paredes, devagar.

– Onde você foi? Quer me matar do coração? – Sam disse com irritação, quando ela chegou até o carro.

– Tome, conte. – Theo tirou um montante de notas do bolso, e a entregou.

– Onde conseguiu esse dinheiro? – Sam pegou o dinheiro, com a testa franzida.

– Pode contar para mim? Ele disse que tinha 350.

– Primeiro você vai me falar que dinheiro é esse. Você roubou?

– Vendi aquela corrente.

– Onde?

– Eu encontrei uma casa de penhores há três quarteirões daqui. O localizador do seu carro tem uma função de áudio e voz, sabia?

Sam ainda a fitou surpresa por um instante, e contou o dinheiro.

– Tem 350 sim, pegue.

– Não, é seu.

– Claro que não, é seu. – Sam colocou o dinheiro na mão dela.

– Ok, é nosso. – Theo o enfiou no bolso da calça de Sam. – Use para nós, quando estivermos exaustas e quisermos uma noite decente numa hospedaria, por exemplo.

– Entre no carro. – Sam balançou a cabeça, concordando. – O dinheiro vai ficar comigo, mas se quiser usar para alguma coisa, me avise. – Sam falou, já dando a partida.

– Eu quero sim, hoje.

– O que?

– Vamos comemorar nossa passagem pela fronteira. E o réveillon.

– Comemorar como?

Após deixarem suas coisas numa hospedagem barata e tomarem um banho, elas foram caminhando num bar no quarteirão ao lado de onde estavam hospedadas, Sam agora a conduzia sempre pela mão.

O bar era bem iluminado para um comércio com estas finalidades, fazia um L e tinha um balcão ao centro, com prateleiras de garrafas coloridas adornando as paredes.

– Aquela sua conversa sobre a taqueria do pai do agente foi ótima, de onde tirou aquilo? – Sam perguntou.

– Improvisei na hora, eu precisava desviar a atenção dele do carro. E odeio chili.

– Foi bem convincente, e parabéns por conhecer o mapa do México.

– O que vão beber? – A garçonete virtual apareceu na tela da mesa.

– Para mim tequila. – Theo disse. – Para você também?

– Eu não deveria beber.

– Mas vai. Duas tequilas, por gentileza. – Theo decretou.

– Nunca bebi tequila.

– Já bebeu alguma coisa alcoólica?

– Claro, mas não é algo que uma mulher deva fazer com frequência, nem exagerar.

– Pfff. Você vai adorar.

– Apenas uma dose. – Sam olhava para os lados, alerta. – Não é bom ficarmos muito tempo aqui, expostas.

– Hey, garota. Escute.

– O que foi?

– Não vai acontecer nada essa noite, você tem o direito de se divertir um pouco.

Sam deu um sorriso encabulado, cabisbaixa.

– Quer ouvir as opções do cardápio? – Sam perguntou.

– Tem bife com batatas fritas?

– Hum… Tem.

– Maravilha. Você gosta?

– Gosto.

– Vamos pedir então.

Terminavam de comer as batatas, finalizavam também a terceira dose de tequila, Sam estava à vontade e bem humorada até algum tempo atrás, mas isso foi mudando aos poucos.

– Não acredito que você amarrou todos os cadarços da sua companheira de quarto! – Theo ria.

– Tomei uma advertência por conta disso.

Sam olhava insistentemente na direção do balcão, desconfortável.

– Ok, mais uma dose para cada. – Theo disse, fazendo o pedido na tela, já havia decorado o caminho.

– Não acho que deveríamos continuar aqui.

– Por que? Viu policiais? Já está tarde?

– Não, não muito.

– Eu estou gostando da noite, você não?

– Mais ou menos. – Sam mantinha as sobrancelhas baixadas, incomodada.

– Está se sentindo culpada por ter bebido um pouco? Hoje podemos, e você é dona de si, pode fazer o que bem entender, que se dane a opinião alheia.

– Não estou me sentindo culpada, já bebi mais que isso. – Ela respondeu séria.

Theo ficou em silêncio por um instante.

– Eu falei algo que te incomodou? – Perguntou com a voz baixa.

– Não, não aconteceu nada, só não estou mais no clima de comemoração.

Ficaram em silêncio, até que Sam interrompeu, de forma insegura.

– Tem uma garota no balcão do bar, ela não para de olhar para você.

– Você acha que pode ser alguém me procurando?

– Não do jeito que você está imaginando. – Ironizou, virando o último gole do seu copo.

– Hum… Mas acho que não entendi.

– Já faz algum tempo que percebi, ela está lançando olhares e sorrisinhos para você, discretamente.

Theo entendeu, e riu.

– Sério? Mas isso é bom.

– Bom? Ela está dando em cima de você!

– Como ela é? É bonita? Tenho chances? – Theo falava, animada.

– E o que import… Espera aí. – Caiu a ficha de Sam. – Você é…

– Gay? Totalmente. – Theo continuava com um sorriso sacana nos lábios.

– Você está me devolvendo as brincadeiras que fiz com você, não é?

– De forma alguma, eu realmente gosto de garotas.

Sam agora parecia transtornada com a notícia.

– Mas você não se parece…

– Ah não, esse papo de novo? – Theo a interrompeu. – Não existe isso, a sexualidade das pessoas não está atrelada à aparência ou comportamento.

– Eu não suspeitei, você disfarça bem. – Sam apoiou a testa em sua mão, fitando Theo de forma estupefata.

– Eu não estava disfarçando.

– Por que não me contou antes?

– E por que eu deveria contar antes? Isso faria diferença em algum ponto? Você teria me deixado pelo caminho se soubesse?

– Claro que não, não faria diferença, não tenho nada contra vocês. – Nem Sam acreditou em sua própria resposta.

– Eu não vou dar em cima de você, se este é seu receio.

– Homossexualidade é um pecado grave, você sabe disso, não sabe?

– Digamos que algumas pessoas já tentaram me convencer disso, mas o que importa é que sei que não estou fazendo mal a ninguém por ser como sou, eu estou em paz.

– O mal é a você mesma, você precisa procurar formas de resistir, talvez se você procurasse os ensinamentos bíblicos, encontrasse alguma luz para essa sua vida errante. Não sou eu que estou te julgando, Deus está, e você prestará contas um dia. Que fique claro que não abomino vocês, abomino o pecado que vocês praticam, é uma vida suja.

Theo tirou o restante de sorriso dos lábios.

– Você está me julgando, e muito.

Sam recuou, baixando a guarda.

– Quando você se tornou lésbica?

– Não sei, quando você se tornou hetero?

– É diferente.

– Por que?

– Porque ser heterossexual é o normal, todos nascem assim, apenas alguns desviam sua conduta e se tornam homossexuais, por conta de traumas ou uma educação falha. Ninguém nasce gay.

– E se eu te disser… Que nasci assim?

– Acho que não, algo falhou na sua infância, faltou orientação de pessoas normais, talvez tenha faltado uma vivência religiosa, você acabou se desviando da vida correta e ninguém te corrigiu.

– Meu pai era católico fervoroso, devo ter frequentado a igreja na minha infância tanto quanto você.

– Onde estão seus pais?

– Já morreram. – Falou com rispidez, vagueava seus olhos baixos sem focar em nada.

Sam ainda a fitava, a analisando e assimilando, usava e abusava do fato de Theo nunca saber que estava sendo observada.

– Ok, não estou aqui para julgar o comportamento de ninguém, sei que cada um tem suas próprias razões e seus próprios demônios. Me desculpe se você se ofendeu com algo que eu tenha falado. – Sam falou, com uma voz suave. – Tentarei não impor minhas convicções.

– Eu não quero mudar suas crenças, que fique claro. Você me respeita, eu respeito você, e tudo vai continuar correndo bem, como tem sido. Nós temos uma boa convivência e eu gosto disso. Porém se você se sentir desconfortável em continuar do meu lado, por eu ser quem eu sou, é um direito seu não querer mais contato comigo.

– Eu te respeito, eu não sou uma pessoa ignorante, eu nunca me afastaria de você por conta do que você faz entre quatro paredes.

– Ronco. – Theo sorriu.

– É, isso eu descobri por conta própria. – Sam também sorriu. – E também me joga para fora da cama.

As tequilas chegaram, Theo ergueu o copo pedindo um brinde.

– Pelas diferenças.

– Quais?

– As que nos une. – E brindaram.

Theo deu um gole, e retomou o assunto.

– E então, você não vai me descrever a garota que está dando em cima de mim? Ou ela parou de olhar?

– Está olhando mais do que nunca.

– Hum, está realmente interessada.

– Você quer ficar com ela? – Sam perguntou, cheia de dedos.

– Se você não descrevê-la não poderei te responder.

– Ok. – Sam decidiu entrar na brincadeira. – Ela é loira, um pouco mais baixa que você, tem a boca grande e vermelha.

– Você está indo bem, continue.

– Tem sobrancelhas escuras e grossas, os olhos estranhos, um olhar por baixo.

– Estranhos como?

Sam riu.

– Olhos juntos, e o nariz para baixo, não sei explicar, tem algo estranho no posicionamento dos elementos faciais dela. – Ela arrancou uma risada de Theo.

– Estava bom demais para ser verdade…

– Ela não é uma garota feia, só tem o rosto um pouco… Exótico.

– Tem peitos?

– Os seus são bem maiores.

– Obrigada. Continue.

– Tem os cabelos compridos, um pouco ondulados, como o meu.

– Seus cabelos são um pouco ondulados?

– Sim.

– De qual cor?

– Castanho escuro.

– Como o meu? – Theo estava mais interessada.

– Não, mais escuro, o meu é mais escuro que o seu.

– Continue.

– Ela não é gorda nem magra.

– Não, não. Me refiro a você, continue a se descrever para mim.

Sam sorriu de lado.

– O que você quer saber? Não sei me descrever.

– Você estava fazendo um bom trabalho com a garota do balcão.

Pensou por um momento.

– Hum… Sou um pouquinho mais baixa que você.

– Quatro centímetros, isso eu já sei.

– Não me interrompa.

– Ok, prossiga.

– Cabelos castanhos escuros, compridos, rosto meio quadrado.

– O meu é redondo.

– Você tem o rosto de uma menininha.

– Que cor são seus olhos? – Theo perguntou, cheia de curiosidade.

– Ãhn… É um pouco difícil explicar. – Sam estava contente por ser agora o foco da atenção dela, e não mais a loira no balcão.

– Como assim? Não existem mais do que… Quatro ou cinco cores de olhos. É alguma cor exótica?

– Não.

– Num formulário, como você preencheria, sucintamente?

– Castanhos esverdeados.

– É um bom começo.

– É castanho claro mais ao centro, e depois se torna verde.

Theo fez um semblante surpreso.

– Você tem heterocromia!

– Já me disseram isso, não sei exatamente o que é.

– É quando uma pessoa tem duas cores nos olhos ao mesmo tempo. Heterocromia completa é quando cada íris é de uma cor, tem também os casos onde um olho tem alguma mancha de outra cor, é a parcial. E no seu caso os dois olhos tem duas cores, partindo da pupila, você tem heterocromia central.

– Mas isso não interfere na visão, interfere?

– Você nasceu assim?

– Sim.

– Então não. É apenas uma característica estética, e eu acho lindo.

– Sério?

– Eu gosto do diferente.

– É, então você gostaria de mim.

– Eu adoraria um dia poder ver seus olhos. – Theo disse, pesarosa.

– Tenho certeza que um dia você me enxergará. Um dia colocaremos esse azul todo para funcionar novamente. – Sam falou, de forma descontraída.

– Algo mais sobre você que eu deveria saber?

– Fisicamente?

– Sim.

Sam hesitou. Lembrou-se de todas as vezes que Mike sentiu-se desconfortável por vê-la nua, mandando cobrir-se, ela sabia porque ele sempre fazia isso, não era apenas pudor. Sentiu-se mal, inferior.

– Acho que não.

– Algum sinal de nascença?

– Tenho um sinal no rosto.

– Onde?

– Próximo ao nariz.

– Posso ver?

– Ver?

Theo ergueu a mão aberta.

– Com a mão, eu vejo com as mãos.

Sam sorriu, pegando a mão dela no ar, Theo sentiu a pequena pinta com seus dois dedos, rapidamente.

– Já consigo montar uma imagem mental sua. – Theo disse, se esparramando na cadeira.

– Ah é? Espero que seja boa.

– Já ouviu falar em Frankenstein?

Sam riu.

– Fico lisonjeada com sua visão de mim.

– Estou brincando. Mais uma? – Theo ergueu o pequeno copo vazio.

– A última dose.

– Ok, faça o pedido. – Theo ficou um instante pensativa, preparando a pergunta. – Você tem um noivo, não tem?

– Como sabe? – Sam olhou surpresa para ela.

– Senti a aliança na sua mão.

– Tenho, tenho sim, se chama Mike.

– Deixa eu adivinhar: é militar também, um belo e forte soldado.

– Major do 14º regimento do exército da Europa, em missão na América do Norte. – Sam disse, com orgulho.

– Trabalhava com você?

– Sim, este ano ele foi realocado para outro pelotão, porém ainda dentro do mesmo regimento.

– E é belo e forte, como previ? Um grande loiro de olhos verdes?

– Quase, ele é um cara grande, musculoso, tem olhos verdes, mas o cabelo é castanho médio, curto.

– Também já criei o protótipo visual dele aqui na minha mente, agora já posso unir vocês dois e… É, combinam. Terão belos filhos que aprenderão a cantar o hino da Europa antes mesmo de dizerem papai e mamãe.

– Provavelmente. Uns cinco.

– E a pergunta que não quer calar é: Por que seu noivo não está aqui nesta cadeira desocupada ao nosso lado?

Sam voltou a ficar séria, quase encabulada.

– Ele ainda não pode vir.

– Mas ele sabe de sua corrida contra o tempo, para sobreviver?

– Sabe, nós nos falamos de vez em quando.

– O que o impede de vir?

– Ele ainda não conseguiu uma licença no quartel, quando conseguir virá ao meu encontro, vai me acompanhar e ajudar.

Theo acabou abrindo um sorriso, incrédula com o que ouvia.

– É a sua vida! A vida da mulher que ele pretende casar e construir uma família, isso não deveria estar acima do emprego? Quais as prioridades de vida desse cara?

– Não é simplesmente um emprego, e agora você o está julgando.

– Desculpe, é que… achei… egoísta. Estou acompanhando sua luta há apenas alguns dias e sei o quanto as coisas seriam mais fáceis se você tivesse um major grande e forte ao seu lado.

– Eu entendo o lado dele, e sei que ele virá em breve. Tenho me virado muito bem sozinha.

– E eu não duvido disso, você me parece uma mulher incrivelmente inteligente, valente e determinada, essa terra não é para os fracos, já sou sua fã. Porém também acho que toda ajuda é bem-vinda.

– Ok, vamos guardar nossos julgamentos e pedir a conta? – Sam disse, desconfortável com a verdade que Theo jogara em sua cara.

– Vamos.

Ao saírem do bar, Sam a conduzia pela mão direita, a porta fechou-se automaticamente, prensando a mão esquerda de Theo, a mão que fora baleada.

– Minha mão! – Theo disse se contorcendo, segurando a mão.

– Desculpe, não lembrei da porta. A mão não cicatrizou até agora?

– Se você trocasse meu curativo saberia que não cicatrizou muita coisa!

– Ok, eu troco seu curativo quando chegarmos. Vamos.

– Que merda, essa porra dói… – Theo permanecia curvada, o curativo manchava-se de vermelho.

– Theo, pare de drama, você apanhou muito mais que isso dos seus clientes e não deve ter reclamado nem metade.

Imediatamente Theo ficou com uma expressão irada, foi como se a dor na mão se convertesse em raiva, respirou fundo e ergueu-se.

Sam percebeu, se arrependeu do que dissera, ficou com um semblante consternado.

– Desculpe, eu não quis dizer isso, venha, vamos para o hotel. – Sam pegou em seu braço.

– Não encoste em mim. – Theo desvencilhou de forma abrupta de sua mão e começou a caminhar.

– Você vai sozinha?

– Vou.

Heterocromia: s.f.: Coloração diferente de partes que devem ter igual cor, como a íris dos dois olhos.

 

– Ler capítulo 6

21 comentários Adicione o seu
  1. Adoro suas histórias, são sempre diferentes das que já li. Espero ansiosa para os próximos capítulos. Já amo as duas, Sam e Theo.

    1. Olá Bandim! (é sobrenome?)
      Sabe qual a motivação por trás das minhas histórias? Porque eu queria ler algo diferente, que ainda não havia lido, e como não achei comecei a fazer as minhas próprias. Ok, é um resumo bem simplista das motivações para escrever, mas é por aí… 😉
      Compreendo se tiver vontade de dar uns tapas na Sam de vez em quando, mas tb já me apeguei à elas.
      Muito obrigada pela leitura e por comentar.
      Beijos!

  2. Esse foi o que você escreveu pro concurso? Uau!
    A história é criativa, ágil, envolvente tem essa propensão ao desastre e essas duas que ja se amam e de um jeito nada clichê!
    Ja estou reservando lugar nos próximos capítulos!

  3. Apenas posso dizer que, agora terei mais uma razão para querer muito chegar a sexta feira….se bem que no meu caso, tenho de pesquisar sobre a diferença horária. Acho que vou pedir à Sam que durante as suas orações, peça para a autora colocar três ou quatro capítulos em vez de dois, acho que seria bem mais útil do que rezar pelos pecados graves do mundo. Rsss
    Continuo completamente presa à história, e correndo o risco de ser considerada chata e repetitiva vou continuar dizendo, parabéns por este dom maravilhoso.

  4. Oie Luana!
    Sim, essa é a história que comecei naquela maratona literária, as 50 mil primeiras palavras (13 capítulos) foram escritas num ritmo insano! E eu fico super aliviada em saber que aquela correria se transformou em algo que está agradando.
    Adorei suas ponderações, muito mesmo. É inevitável fugir dos clichês, mas é minha eterna luta, tentar contar uma história que ainda não foi contada.
    Obrigada pelo retorno, grande beijo!

  5. Chegayyy!!Vc divando por aqui hein??! Sucesso de bilheteria. .amooooo muito tudo isso! !
    Sei q ficou ansiosa esperando minha mini bíblia vom comentários loucos, divagações insanas e metendo o pau em alguém!! (No bom sentindo ..always)
    Dois capítulos merecem dois comentários!
    Esse Mike me irrita e sei q vc criou ele pra ser irritável e criar polêmica. .rs. Soberbiose acha, machista, arrogante, autoritário e aposto q ele enviou Sam pra perto das minas pq qr q ela entrasse no projeto, mas como ele n pensou bem, n sabia q os Bong bong tinha validade..no mais bem a ama..eé só esse bioquímica alguma coisa . Se nao pra q usar isso..rraiai. Vou detonar vc Mike!! E n tô afim de botar Desculpas pq ele cresceu nesse meio bla bla..ttemq existir um personagem assim e é vc!!
    Mas veja..ttd q Sam dizia ele vinha c historia q ela tava c outro..vvc q tava eu hein rsrs.Prsrs.Pessoa insegura. .percebeu q tenho ódio ppr Mike? ?HHahahahaha.
    Subserviência. ..eessa palavra n me traz boas lembranças …
    Sam fez bem em sair de lá. .agora verá o mundo real…
    Mike é gay reprimido ou me parece q n gosta de ver Sam nua por algo…kkkkkk (risada de lado. .)
    Vou me embora pra Bahia..ja volto. .

    1. Lai, você deu seu jeito de fazer o comentário 2×1, não foi? Por isso que vc é meu orgulho hauhauhauhau
      Eu tava botando fé nesse trabalho novo, estava adorando escrever e o jeito como a história estava tomando vida própria, mas sabe que sempre rola aquela insegurança, mas o retorno tem sido tão positivo, estou mais empolgada do que nunca. E vc faz parte disso.
      Sim, o que gosto dos seus comentários é que nunca sei o que esperar, então aguardava ansiosamente.
      Bom, vc já leu mais sobre Mike do que foi postado, então sabe bem que ele só tem olhos para seu umbigo. Mas preciso me manter imparcial, sem amar nem odiar nenhum personagem. Foi uma boa bola que você levantou, sobre Mike ter mandando ela pra missão de propósito, mas preciso te dizer que não, ele não sabia que teria uma granada perdida lá.
      E relaxa, subserviência aqui foi usada no sentido militar mesmo.
      Vc sabe pq Mike não gosta de ver Sam nua, mas não conte para ninguém, viu dona laila?

  6. Segunda parte do cometário!
    Esse capítulo é demais, diz muita coisa!! Acho q é o capítulo onde Sam começa ase dar conta do q lhe passa.EEla é um pouco grossa né. .mmas td bem…
    Sobre Mike..aa verdade dói, mas tb acho q seria egoísmos de Sam se ele deixasse td ppr ela..ainda q jngoste dele rs.Isso n é prova de amor..seria se ele apoiasse. .desdr onde epe estivesse e facilitasse as coisas pra ela desde onde ta..
    Agora Theo se chateou e foi mt paciente com a forma de pensar de Sam , mas ela pegou pesado..ccomo vai falar isso…eela é meio impaciente pra confortar aa pessoas..no exército é assim..ttem q aguentar e acha q tpdos tem q se fazer de durona feito ela..qq guardar td pra si, mas é cheia de conflitos internos. .
    Bom, próximo capítulo vai ser foda!!;).Sam, n reze, , melhor cer oq fará pra amansar a fera! rs.
    Beijossss

    1. Segunda parte da resposta do comentário.
      Sam é um POUCO grossa? Ela é mais grossa que cintura de sapo hauhauhauha
      Bom, acho que é como Theo disse, é questão de prioridade, Mike coloca o serviço militar acima da vida da noiva, simples assim.
      Vc sabe como Sam vai amansar a fera, é com uma dos meus elementos preferidos. Percebeu que minhas 3 histórias dão sempre importância para esse elemento fumegante?
      Besos e gracias!

  7. Gostei dos capítulos…de conhecer um pouco mais sobre o passado de Sam no exército, de como ela morreu, e finalmente Mike. Ainda não tenho uma opinião conclusiva sobre ele (até porque ainda é cedo para isso), mas digamos que a minha primeira impressão é de que ele é um tanto quanto frio. Quanto a Sam, já tá caidinha pela Theo… tá até sentindo uma pontinha de ciúmes…até é atenciosa as vezes, mas o lado grosseiro dela fala mais alto rsrs…E Theo…bom, sem comentários, ela é uma fofa né. Adoro ela *-*
    Agora é só esperar pela sexta e ver o que vai rolar.
    Até lá…Bjs!

    1. Oie Glenda!
      A história vai ter vários flashbacks, justamente para conhecermos mais o passado de Sam e entender quem ela é agora, suas atitudes. Conheceremos mais sobre Mike também, daí você montará uma imagem mais ampla dele.
      Sam nem perecebe ainda que algo está acontecendo dentro dela, mas está.
      Postarei novo capítulo hoje. 😉
      Obrigada por comentar, esse tipo de feedback é muito bom.
      Bjão!

  8. Ola! Este e o meu primeiro comentario em um conto. ACHO PROVAVEL Q O MIKE E UMA BICHONA SE ESCONDENDO NA FARDA E NA RELIGIAO. BJOS. LELA

Deixe um comentário para Schwinden Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *