Ok, o desafio #PHPoemADay foi em junho, mas não pude continuar participando por falta de tempo, então nada melhor que neste hiatus de escrita de grandes histórias, que eu retome tardiamente aos micro contos, seguindo a temática de cada dia.
O tema do dia 6 era Azul, obviamente logo comecei a escrever algo referente ao filme “Azul é a cor mais quente”, mas não gostei do resultado e abandonei o texto naquela época, deixei para depois. O depois foi ontem, e o novo texto não tem absolutamente nada a ver com o filme (nem com a graphic novel).
Dia 6 – Azul
A vida não é uma prisão. – Arrematou a psicóloga, ao final da sessão.
Elisiana não concordara, mas não teve vontade de retrucar e defender seu ponto de vista. Pegou sua mochila no sofá e saiu, tentando enfiar a alça esquerda no braço direito, sem sucesso.
Era assim que ela definia sua breve biografia, uma sucessão de tentativas e erros, mais erros que qualquer outra coisa, uma frustração crônica.
Ao longo dos seus vinte anos, não conseguia se recordar de algum momento em que se encontrara, sempre sentiu-se deslocada, diferente. O sonho de criança, de ser veterinária, era agora abandonado, ao trancar a faculdade. Não era o que queria.
A auto estima já baixa, despencava sempre com os términos de namoro, nestes dias evitava o espelho, odiava seu corpo, se achava desproporcional, as costas largas demais, a boca pequena demais, desejava não habitar aquele corpo.
Parou em frente ao elevador, apertou o botão e aguardou. Leu outra vez no celular a mensagem que seu ex namorado havia enviado ontem.
Pare de me ligar.
Ele terminara o namoro no mês passado, também por mensagem de celular. Ela ainda o amava, mas ele amava apenas sua nova moto. Ontem Elisiana desejou ser aquela moto, ligou para ele para falar que havia visto o capacete que ele tanto queria numa loja. Ele não atendeu, e mandou aquela mensagem final.
As portas do elevador se abriram. Plim. Se fecharam. Plim. A psicóloga nunca iria entender que prisão era qualquer outra coisa que não estar confinado entre quatro paredes, ela não entrou no elevador, mas sentia-se aprisionada.
Chamou novamente o elevador, entrou e apertou o botão do 18º andar, com a mesma naturalidade de quem aperta o T de térreo. Saiu, olhou em volta, subiu dois lances de escadas, e foi até o terraço daquele prédio antigo, largando a mochila no caminho.
Como escapar de uma prisão sem paredes nem grades?
Perguntou-se enquanto se equilibrava no parapeito largo e enegrecido pelo tempo. Não olhava para baixo, olhava fixamente para cima, e via apenas azul.
Com o corpo ereto, abriu os braços e se atirou, a adrenalina da queda não permitiu que ela sentisse a dor de duas asas saindo de dentro de suas costas, rasgando sua pele. Lá pela altura do quinto andar Elisiana bateu as asas apenas uma vez, e seu corpo planou para frente. Bateu novamente, mais uma, duas, três vezes, e agora já voava por cima da cidade e seus arranha-céus.