Capítulo 75 – Arrimo

Capítulo 75 – Arrimo

 

O semblante de espanto de Theo fez Claire sorrir, mas não era apenas espanto, a jovem equilibrou-se na muleta ao sentir seu cérebro falhando, deixando a visão turva.

– Você está bem? – Claire perguntou, já entrando no apartamento.

– O que você quer? Não te convidei para entrar. – Theo usava um cachecol colorido de Virginia, fazia frio dentro do apartamento naquele dia e estava com um forte resfriado, fungando e tossindo.

Claire apenas deu passagem para que seu segurança adentrasse também, ficando ao seu lado.

– Que mudança radical de estilo de vida. – Claire comentou observando o apartamento frio e precário.

– Não estou procurando decoradora, obrigada.

– Eu sentaria para conversar com você, mas esse sofá surrado não me parece muito seguro.

– Podemos sentar na cama, é nova. – Theo debochou, levou a mão à boca para tossir.

– O que vim falar é bem previsível, espero ser a última vez que converso sobre o processo com você.

Theo abriu um sorrisinho vencedor.

– Eu não teria esse ar otimista, vencemos em primeira instância, tudo indica que vamos vencer em segunda instância também, sem caber apelações. O vento está soprando de nosso lado, amiga.

– Você esquece que eu estou manobrando as velas do barco. – Claire fechou seu sobretudo bege, com frio. – Pelo visto vocês terão uma longa estadia nesse muquifo.

– Entendi, você tem uma chantagem dentro do casaco, pode falar qual a ameaça de hoje.

– Na verdade está com o Lui. – A executiva, que estava com os cabelos loiros soltos hoje, deu uma olhada de relance no segurança, que estava com as mãos para trás.

Ele entendeu e exibiu o que trazia em mãos: uma bengala com marcas de sangue seco, envolta por um saco plástico transparente.

– Você vai me bater com isso até eu aceitar desistir do processo? – Theo perguntou, apreensiva.

– Não se recorda dela? Você não enxergava na época, mas deve lembrar do que fez com essa arma letal.

Um arrepio na espinha lhe trouxe ainda mais frio, havia identificado o objeto.

– Não faço ideia do que seja isso, é da sua avó?

– Está vendo essas marcas de sangue? São de um homem que foi brutamente assassinado num beco atrás de um bar em Puerto Escondido, na Colômbia, no ano passado. Ainda não encontraram o assassino. Ou assassina.

– Continuo não sabendo onde você quer chegar. – Theo mal conseguia olhar para a bengala que pertencera a Odín.

– Theodora, depois que você perdeu metade do cérebro se tornou uma pessoa previsível e não muito inteligente. É claro que a essa altura já contratei um perito particular para identificar o sangue e as digitais nessa bengala que encontrei no fundo do carro de fuga de vocês.

– Você plantou isso lá.

– Você sabe que não. Quando eu entregar essa bengala para a polícia, adivinhe só quais digitais eles encontrarão? E o sangue irá bater com o do homem assassinado. A polícia da Colômbia vai finalmente resolver o caso, você não escapará de pelo menos trinta anos de condenação por homicídio doloso. Com bom comportamento talvez consiga a condicional após vinte anos.

Theo sentiu as pernas enfraquecidas, sentou no apoio do sofá.

– Por que você não para de uma vez com isso? – Theo desabafou. – Deixe a justiça ser feita e eu voltar a ter o que me pertence, o que você tomou de mim.

– Nunca. Acabou o jogo, Theo.

– Eu não serei condenada por causa de uma única prova circunstancial.

– O histórico do geonavegador do carro vai ajudar também, vai provar que o carro de vocês estava no estacionamento do bar naquela noite. E o carro tem dezenas de provas de que vocês viveram nele por um bom tempo. Já mencionei a câmera de segurança do bar? Vocês estão no vídeo.

– Você não vai conseguir. – Theo disse abatida.

Claire riu.

– Já está resolvido, você decide se desiste do processo ou se passa os próximos trinta anos numa penitenciária de segurança máxima. Como você casou-se com Samantha, se recuperar sua fortuna não verá um centavo, ela assumirá tudo. E adivinhe só quem vai sequestrar Sam e fazer uma lavagem cerebral? Mike continua doidinho por ela.

– Vocês dois formam o casal mais asqueroso que já conheci.

– Já me livrei dele, inclusive fiz o mesmo que vocês, solicitei uma ordem de restrição de aproximação, não quero aquele inútil por perto. Ele está totalmente livre para Samantha agora, dormindo debaixo de algum viaduto provavelmente, fazendo planos mirabolantes de como recuperar a noiva.

– Que pena, vocês combinavam na sociopatia.

– Ele teve serventia por um tempo, fez um bom trabalho na Sibéria. – Claire respondeu com uma piscadela.

O sangue de Theo ferveu, levantou-se e seguiu furiosa na direção da executiva.

– Saia da minha casa.

– Não esqueça que o processo será julgado depois de amanhã, você tem problemas de memória, é bom anotar a data.

– Saia daqui!

– Espero que você não tenha um apagão e esqueça o que conversamos. Em todo caso mandarei uma foto dessa bengala para você e para Samantha. A propósito, adorei as cortinas. – Disse apontando para o lençol pendurado na janela e saiu com seu segurança, deixando Theo transtornada.

Olhou ao redor confusa, foi até o sofá e sentou, sem saber o que fazer.

– Amor? Que horas você vem? – Theo ligou para Sam, que estava em um trabalho interno.

– O horário de sempre, aconteceu algo?

– Claire esteve aqui, ela encontrou a bengala de Odín no carro, ela vai entregar para a polícia caso não cancelemos o processo. – Theo despejava tudo nervosamente.

– Claire esteve aí? Em nosso apartamento? Mike também?

– Eles terminaram. Sam, eu não quero passar trinta anos na cadeia.

– Você não vai. Como ela sabe o que aconteceu com essa bengala?

– Ela mandou analisar o sangue e as impressões digitais, ela sabe de tudo, ela tem mais provas. Aquela mulher conseguiu me ferrar de novo.

– Mas que ousadia!  – Bufou. – Ok, acalme-se. Tome algum calmante, eu vou sair mais cedo, acho que consigo chegar aí em meia hora, está bem? Tranque bem a porta e não abra para ninguém.

– Tá bom.

Sam voltou correndo para casa, e ouviu de Theo o que havia acontecido naquela tarde, sentadas na cama.

– Eu quero desistir do processo, mas e Stefan? É o patrimônio dele que também está em jogo. – Theo disse cabisbaixa, em posição de lótus, espirrando e fungando com um lenço na mão.

– Ele vai aceitar.

– Não é justo… Estamos lutando na justiça por algo que é nosso, não estamos fazendo nada ilegal ou de má fé, só estamos lutando, Sam.

– Vem cá. – Sam a deitou sem seu colo, afagava seus cabelos na tentativa de acalmá-la. – Você vai descansar um pouquinho aqui, vou preparar um chá para sua gripe que não passa nunca, mais tarde vamos para a casa de Virginia, vamos conversar com eles.

– Se não bastasse essa chantagem, tem ainda Mike à solta por aí, sem nada a perder. – Theo disse.

– Claire o mandou embora?

– Mandou. E deve ter sido uma briga feia, porque ela também pediu medida cautelar de aproximação.

– Que inferno…

***

A conversa no apartamento de Virginia e Stefan foi em clima de desolação, estavam encurralados por Claire.

– Quem mais sabe sobre esse assassinato? – Stefan questionou.

– Nós quatro. E Claire. – Theo respondeu.

– E o dono da bengala?

– Mataram no dia seguinte.

– Então… – Virginia ia dizendo. – Se conseguirmos anular Claire, podemos deixar o processo correr.

– Anular como? Trancá-la no banheiro? – Theo retrucou, estava sentada numa poltrona, com Sam sentada à sua frente, no chão.

– Ou encontrar algo para contrapor a ameaça dela. – Virginia pousou a mão na perna de Stefan, sentado ao seu lado. – Não temos nada contra ela, querido? Alguma informação que podemos usar para chantageá-la de volta?

– Claire é metódica, não deixa pontas soltas.

– Sinceramente? Só teremos paz quando essa mulher bater as botas. – Sam resmungou.

Um silêncio frio tomou conta da sala do apartamento. Theo voltou a falar em seguida.

– Eu sinto muito, Stef. Desculpe se estou sendo egoísta, mas não quero passar metade da minha vida atrás das grades, terei que ceder à chantagem daquela canalha.

– Não vejo outra saída, vou pedir o cancelamento do processo. – O advogado sentenciou.

– Mas espere até o prazo limite para fazer isso, quem sabe até lá surja algo que nos ajude. – Virginia disse.

– O prazo limite encerra às nove da manhã. – Stefan informou.

– De amanhã?

– Depois de amanhã.

– Então amanhã vamos procurar algum podre na vida de Claire. – Sam disse.

***

Tudo que conseguiram reunir no dia seguinte foram boatos vagos, até mesmo a possibilidade de um filho que Claire supostamente abandonou para que seus pais o criassem, mas não tinham como averiguar. Combinaram que na manhã seguinte Stefan iria ao fórum solicitar a anulação do processo, dando ganho de causa para Claire.

O tempo esgotara-se, naquela noite todos dormiram com o gosto de derrota em suas bocas.

***

– Está tomando os remédios para evitar a pneumonia? – Sam perguntou no ouvido de Theo, ainda abraçada a ela na cama cedinho, antes de sair para trabalhar.

– Uhum. – Theo respondeu de olhos fechados, com sono.

– Você tossiu bem menos essa noite.

– Queria tanto que você não precisasse ir… – Theo resmungou manhosa, a prendendo ainda mais sob as cobertas.

– E eu queria poder ficar aqui com você o dia inteiro.

– Não demora.

– Me ligue se precisar de algo, ou se sentir saudades.

– Eu sinto o tempo todo.

– Eu também… – Sam beijou demoradamente seu rosto, e saiu da cama. – Stefan vai nos ligar quando tiver resolvido lá no fórum.

– Resolvido… – Resmungou com chateação. – Resolvido a vida de Claire, isso sim.

– Paciência, amor. Batalha perdida, mas ainda estamos de pé.

***

Por volta das dez da manhã Sam já estava de volta, encontrou Theo preparando café na cozinha.

– O que aconteceu? – Theo perguntou, a estranhando em casa àquela hora.

Sam aproximou-se, lhe deu um beijo carinhoso e afastou-se.

– Claire morreu. – A soldado disse, seu semblante parecia um tanto transtornado.

– O que? – Theo largou a caneca sobre a pia, a derrubando.

– Stefan me ligou agora há pouco, ele já estava no fórum quando recebeu a notícia do pessoal da Archer.

– Meu Deus… – Theo recostou-se na bancada da pia, com confusão.

– Eu vim te dar a notícia pessoalmente, pedi umas horas de folga.

– Como foi isso?

– Stef não tinha muitos detalhes, me disse que ela foi assassinada hoje, na própria sala.

– A mataram dentro da Archer? Quem foi?

– Acho que ainda não sabem.

– Mas aquele lugar é repleto de câmeras.

– Stefan disse que tentaria obter mais informações e ligaria mais tarde, talvez a polícia já saiba quem foi.

– Ele cancelou o processo?

– Não chegou a cancelar. – Sam respondeu pensativa, com as mãos nos bolsos do seu uniforme militar marrom e bege.

– Sam?

– Hum? – Sustentou o olhar dela.

– Desculpe, mas eu tenho que te perguntar. Foi você?

– Não, não foi. E você?

– Também não. Mas se eu tivesse oportunidade teria feito. – Theo refletiu, continuava tossindo.

– Acho que eu teria coragem. Isso é horrível, não é? As coisas não deveriam ser assim.

– Ninguém deveria ter vontade de matar ninguém.

– Mas estamos numa selva. Já cruzamos com a morte algumas vezes.

– Várias vezes. Você que é cristã, acredita em justiça divina? – Theo disse, percebeu Sam abalada e foi até ela, a abraçando pela cintura.

– Deus não pune ninguém, são os homens que se castigam entre si, essa violência toda… – Sam ponderou, correspondendo ao abraço.

– Eu sei, e a justiça dos homens é falha, muito falha.

– Amor, tem um assassino por aí, eu morro de medo que aconteça algo de ruim com você, eu queria poder tomar conta de você em tempo integral, fico em pânico quando estou fora.

Theo pousou as mãos ao redor da cabeça dela.

– Nós vamos ficar bem.

***

No final da tarde o casal deixava a luxuosa capela mortuária onde a falecida executiva estava sendo velada, de lá seguiram para a casa de Virginia e Stefan.

– Ninguém merece morrer desse jeito, mesmo Claire tendo feito tanto mal a nós. Espero que a polícia encontre logo o assassino. – Sam disse no sofá da pequena sala, com Theo deitada em suas pernas.

– Eu tive acesso a uma parte do boletim de ocorrência, encontraram o taco de golfe numa lixeira próxima. – Stefan falava com uma tela projetada à sua frente. – Mas ainda não encontraram a arma.

– Ela tinha muitos desafetos, dentro e fora da Archer. – Virginia ia dizendo. – A polícia deve ter vários suspeitos.

– Nos chamaram para depor amanhã. – Theo disse. – Chamaram vocês também?

– Sim. Estamos de consciência tranquila, mas não temos bons álibis. – Stefan disse.

– Eu estava chegando de viagem do Rio, Stef estava em casa dormindo.

– Theo também estava em casa dormindo, e eu estava em trabalho solo externo, não tenho como comprovar que estava de fato trabalhando.

– Você estava na vigilância externa?

– Sim, e sozinha.

– Numa moto aérea? Elas não registram o deslocamento feito?

– Sim, mas isso não prova nada. Não sei se encontrarão imagens de câmeras de segurança dos locais pode onde andei, eu estava numa comunidade, a polícia não entra lá.

– Fica tranquila, a polícia já deve ter descoberto quem fez isso. – Theo disse olhando os dados do boletim que Stefan havia conseguido.

– Eu acho que foi algum funcionário. – Sam disse.

– Eu acredito que tenha sido uma morte encomendada, executada por um profissional. – Virginia rebateu.

– Ela foi golpeada na cabeça duas vezes com um taco de golfe. – Theo lia o relatório. – E depois levou um tiro no peito.

– Deve ter sido um dos tacos que ficam lá na sala. – Stefan disse.

– Veja aqui. – Theo mostrou para Sam. – Ela foi golpeada no lado direito da cabeça. Então os golpes vieram da esquerda do agressor.

Sam aproximou a tela e leu novamente.

– Mike é canhoto. – Sam se dava conta.

– E Mike tinha motivos. – Stefan disse.

– Você sabe se a polícia está considerando ele como suspeito? – Sam o perguntou.

– Não sei, não tive acesso à investigação.

– A polícia precisa ir atrás dele. – Sam falou com firmeza. – Foi ele, só pode ter sido.

– Tem certeza que ele é canhoto? – Theo indagou.

– Sim, eu convivi oito anos com ele.

– Temos que falar sobre isso com a polícia amanhã, todos nós. – Virginia orientou.

***

No dia seguinte a arma do crime foi encontrada num lago artificial no bairro ao lado do local onde ficava o prédio da Archer. Era uma pistola de uso exclusivo do exército europeu, manuseada apenas por oficiais. Impressões digitais de Mike foram encontradas no taco de golfe. Um mandado de prisão foi expedido para ele, que estava foragido.

Uma semana depois saiu a decisão sobre o processo de retomada dos bens: com a morte de Claire, a justiça decidiu devolver tudo aos seus respectivos donos. Theo era novamente a proprietária do império Archer, retornando para a mansão de vidro. Stefan retomara seu posto de sócio e conselheiro do grupo, além de todos os bens.

Naqueles primeiros dias de retomada dos negócios o conselho fazia longas reuniões, Theo participou de algumas, mas nunca ficando até o final. Num dia mais tranquilo e sem reuniões, conversava com Stefan na sala do conselheiro.

– Não entrarei mais naquela sala do meu pai, vou mandar demolir tudo. – Theo falava de forma despojada no sofá negro da sala de Stefan, que estava sentado relaxadamente em sua grande cadeira giratória.

– Não precisa demolir tudo, faça uma boa reforma. Transforme em outro ambiente, dê outra utilidade, sei lá.

– Sentiu saudades de sua sala? Acho a decoração tão mortinha, falta cor. – Theo disse gesticulando no ar e apontando as paredes.

– Eu gosto do jeito que ela é.

– Aqui você se sente em casa, não é?

Deu uma boa olhada ao redor antes de responder.

– Dediquei boa parte da minha vida à Archer, mas esse tempo longe de tudo me fez perceber que a vida é maior que um trabalho.

– Tirou alguma lição disso tudo?

– Acho que ainda estou tirando… Só sei que a Archer não é mais prioridade na minha vida. É bom ter o conforto de volta, mas não é apenas o dinheiro que traz qualidade de vida.

– Ter um amor ajuda bastante. – Theo disse com um sorrisinho brincalhão.

– Mês que vem vamos viajar para algum lugar quente, com praias.

– Você e Viviane?

– Virginia. Sim, vamos tirar uma semana só para nós. – Stefan dizia animado.

Sam entrou na sala, ainda com seu uniforme militar básico, seu expediente havia terminado.

– Finalmente na sua sala, hein Stef?  – Sam foi até ele e o abraçou na cadeira. – Até eu estava com saudades dessa sala, imagino você.

– Já não era sem tempo.

– Boa tarde, oficial. – Theo a cumprimentou radiante.

– Oi, meu amor. – Foi até o sofá, sentou ao seu lado e a beijou longamente.

– Hey, minha sala não é motel. – Stef ralhou.

– Não hoje. – Sam brincou.

– Pelo amor de Deus, não digam que vocês já fizeram sexo aqui.

– Não, eu estou brincando. – Sam respondeu.

– Ou talvez sim. – Theo zombou.

– Prefiro não saber. – Stefan encerrou.

Theo percebeu a insígnia de tecido no peito de Sam, estava diferente.

– Até que enfim atualizaram. – Disse correndo os dedos por ela.

– Eu passei o dia todo olhando. – Sam disse orgulhosa.

– Tem meu nome aqui, isso significa que agora você é minha?

– Sempre fui.

– Minha tenente Cooper-Archer.

– Por que vocês não fazem uma festa de casamento? – Stefan sugeriu.

***

Uma intimista festa se desenrolava na área das piscinas na mansão de vidro, numa noite de junho. Toda a área externa havia sido coberta e protegida do frio, uma exigência de Theo que se recuperava ainda de um forte resfriado e princípio de pneumonia.

– Você disse que talvez não viesse, que bom que veio! – Theo abraçou Michelle e a conduziu a um dos longos sofás brancos. – Venha, sente aqui, Sam foi lá dentro buscar meu remédio, daqui a pouco aparece.

– Achei que não conseguiria vir, você viu a última pesquisa? As eleições estão indefinidas, estão todos tecnicamente empatados, e estamos na reta final.

– Vi sim, mas hoje as eleições ficarão do lado de fora dessa casa, combinado?

– E para deixar tudo ainda mais louco, meu neto deve nascer na semana das eleições.

– Vovó Michelle vai tirar de letra, você vai ver.

– Você acha que a alcunha de avó dificulta ou facilita para encontrar um novo amor? Estou enferrujada nisso. – Michelle perguntou num tom próximo, trazendo surpresa na interlocutora.

– Um novo amor? Finalmente colocou seu coração no mercado?

– Acho que a vida fica mais doce dividida com alguém, não acha?

– Não teria como concordar mais com você. Estou adorando a vida de casada, inclusive eu culpo Sam por estar pré-diabética, por ela me tratar com tanta doçura.

Sam aproximou-se, ficando de pé a frente delas.

– Estava falando justamente de você, senta aqui comigo. – Theo a puxou para o sofá.

– Boa noite, senadora. – Sam a cumprimentou polidamente. – Obrigada por ter vindo.

– Depois de tudo que vocês passaram e sofreram, eu precisava participar dessa coroação da felicidade. Que venham tempos de paz.

– Bom, nunca terei paz por completo. – Theo disse erguendo os comprimidos e o copo de água, ingerindo em seguida. – Mas é paz o suficiente para ser feliz.

A agradável noite ia se despedindo, Sam abandonou sua taça de champanhe e envolveu sua esposa pela cintura por trás.

– Dança comigo?

– E a muleta?

– Deixe ela ali, se prenda a mim e serei seu arrimo.

Theo riu e fez o sugerido. O responsável pelas músicas estava executando uma série de músicas calmas, Sam aproveitou para ter um momento amoroso com ela.

– Eu vou pisar nos seus pés. – Theo alertou, já com os braços ao redor do pescoço dela.

– Eu não ligo, apenas siga a música, e me siga…

Theo relaxou após alguns segundos, deitando seu rosto no ombro dela.

– Gostou nas novas alianças? – Sam perguntou.

– Muito, você tem bom gosto, oficial. Mas as anteriores também eram bonitas.

– Nem eram de ouro, sabia?

– Não?

– O dinheiro estava curto demais pra alianças de ouro. – Sam riu.

Theo ergueu a cabeça, a fitando.

– Agora você pode comprar uma aliança para cada dedo.

– Já vi que minha vida com você não tem meios termos, ou estamos quase passando fome, ou milionárias.

– Viu como deixo sua vida mais animada?

– Você simplesmente dá sentido à minha vida. – Sam disse com um sorrisinho bobo, e a beijou com ternura.

– Acho que estou me apaixonando por você de novo. – Theo sussurrou após o beijo.

– Eu tenho tanto amor por você, Theodora. – Sam a abraçou forte.

– É esse amor que nos mantém vivas.

 

Arrimo: s.m.: coisa ou local em que algo ou alguém se apoia (ex.: muro de arrimo). Pessoa ou situação que auxilia, ampara ou protege.

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