Capítulo 73 – Tálamo
Era visível que Sam havia ensaiado aquele diálogo com antecedência, todas as três coisas que ela tinha para falar, principalmente a última, sua cartada final.
– Pode falar. – Theo respondeu, começando a ficar apreensiva.
– Em primeiro lugar, eu quero pedir desculpas. Me desculpe por ter te magoado e ter feito você se sentir mal. Eu prometo a você que nunca mais esconderei nada, nadinha.
Theo balançou a cabeça de leve, assentindo. E Sam continuou.
– Em segundo lugar, eu queria te contar que consegui a transferência, vou trabalhar aqui em San Paolo a partir da semana que vem.
Os olhos da jovem herdeira brilharam com a notícia, não pode segurar um sorriso de leve.
– Conseguiu?
– Uhum, transferência definitiva. – Sam contava se gabando, alegre.
– E deram assim do nada?
– Não, é uma longa história, depois eu conto.
– Que bom que conseguiu voltar, aquele lugar está perigoso demais.
– Sim. – Sam respondeu e voltou a abrir um sorrisinho. – E a terceira coisa…
Theo aguardou alguns segundos até que Sam voltasse a falar.
– Qual é?
– Eu quero casar com você. – Sam disse com firmeza, mantendo a altivez em seu impecável uniforme militar.
– Casar? Quando? Hoje? – Theo perguntou perplexa.
– Agora.
– Como assim?
– Estou com o carro de Letícia emprestado, nós vamos num cartório aqui perto e pronto, casamos. O que acha?
Theo apenas a fitou de cenho franzido tentando entender a situação. Por fim desviou o olhar e disse sobriamente.
– Sam, nós precisamos ter uma boa conversa.
A oficial desfez o animado e tímido sorriso, como se tivesse recebido um balde de água fria em seus pretensiosos planos.
– Eu sei… Eu sei disso. – Sam disse com pesar, sem a olhar.
– Mas isso pode ficar para depois, temos um casamento agora. – Theo falou abrindo um lento sorriso arteiro.
– Você vai casar comigo? – Sam perguntou incrédula.
– Só se for agora.
Sam vibrava de alegria com o aceite para seu pedido, estava louca para abraçar sua noiva, mas não sabia se tinha permissão para isso. Segurou o quanto pode sua euforia apenas abrindo um sorriso enorme.
– Então vamos casar?
– Bom, eu não tenha nada melhor para fazer agora. – Theo zombou, fazendo Sam rir.
– Vamos, me dê a mochila.
Sam pendurou a mochila num ombro e saíram caminhando pela faculdade, a oficial seguia o ritmo devagar e tomou um pequeno susto quando Theo entrelaçou sua mão à dela.
Já no carro, Theo tomou o comunicador do bolso, fazendo uma busca.
– Tem alguns cartórios aqui perto. – Theo disse.
– Eu sei, estamos indo no cartório onde agendei. – Sam respondeu e abriu um sorriso, aguardando a reação dela.
– Você agendou nosso casamento? E se eu não aceitasse?
– Eles não cobram multa para remarcação. – Riu. – Amor, eu precisava estar pronta para a possibilidade de você aceitar, não é mesmo?
– O que mais você aprontou?
– Você irá descobrir.
Ao chegar no cartório apinhado de gente, Sam deixou Theo numa das cadeiras e foi num balcão acertar os detalhes do ato civil.
– Vão nos chamar em cinco minutos. – Sam disse a sentar ao seu lado. – Ela disse que é rapidinho, alguém vai ler algo e a gente assina.
Theo não respondeu, continuava fitando a cadeira da frente com um semblante confuso.
– Theo? Está tudo bem?
Ela sempre sentia-se um pouco envergonhada quando tinha esses apagões, além do mal estar de sentir um pequeno desespero por não entender o que acontecia à sua volta.
– Onde estamos? – Perguntou com a voz contida, quase inaudível.
– No cartório, nós vamos casar dentro de alguns minutos. Lembra disso?
– Casar??
Sam respirou fundo antes de falar, ela tinha toda paciência do mundo com os lapsos de sua namorada, mas agora temia que Theo mudasse de ideia. Piorava não saber se podia tocá-la.
– Qual a última coisa que você se recorda? – Sam disse pousando sua mão na perna dela.
– Eu estava trabalhando, você estava na Zona Morta. – Theo fechou os olhos com força, esfregando as têmporas, esforçava-se para recobrar a memória, que nem sempre voltava.
– Archer e Cooper! – Chamou um senhor de gravata marrom detrás de uma espécie de púlpito bege.
– Estão nos chamando, eu posso cancelar se quiser. – Sam disse nervosamente.
Theo ergueu a cabeça a fitando de forma séria.
– Eu lembrei, vamos nos casar. – Disse e levantou da cadeira com determinação, apoiando-se na muleta.
O juiz de paz fez a orientação inicial, Theo prestava atenção no juiz e Sam prestava atenção nela.
– Não trouxeram testemunhas, certo?
– Não. – Sam respondeu. – Mas já paguei a taxa de uso de vocês como testemunhas.
– Ok. – Ele chamou dois funcionários, que ficaram de pé ao seu lado, e continuou.
Fez a leitura do trecho do código civil referente aos direitos e obrigações das nubentes, chegando ao final da burocracia.
– Você deixou em branco o regime de bens. – O senhor a questionou.
– É que não chegamos a conversar sobre isso. – Sam explicou.
– O que sugere? – Theo perguntou.
– Que tal comunhão parcial de bens? Já que não temos nada. – Sam sugeriu e sorriu.
– Nessa modalidade tudo que for adquirido de agora em diante é nosso, certo?
– Isso.
– Não, se um dia eu recuperar o que é meu, você não se enquadra. Coloca comunhão universal de bens aí. – Theo instruiu o senhor.
– Tem certeza?
– Sim.
O juiz acatou o pedido, terminando de preencher na tela projetada a sua frente.
– Você também não informou se haverá mudança de nome. – Ele perguntou.
– Não. – Theo respondeu.
– Ãhn… Você permite? – Sam perguntou a fitando com certo receio.
– O que?
– Que eu incorpore o seu.
– Você quer o Archer?
– Quero. – Sam respondeu num sorriso torto.
– Não vou lhe impedir. – Theo respondeu também num sorriso.
– Senhor, adicione o Archer ao final do meu nome, por gentileza. – Sam o orientou.
– Com hífen ou espaço?
– Hífen.
– Certo. Preciso que assinem aqui. – O juiz empurrou uma pequena tela na direção delas, entregando uma caneta digital.
Ao devolverem a tela, ele conferiu os dados, fez a confirmação das identidades através de leitura de íris, e finalizou a pequena cerimônia.
– Se vocês trouxeram alianças, este é o momento de colocá-las.
– Não temos. – Theo disse.
– Temos sim. – Sam tirou de dentro de seu casaco militar duas alianças douradas e simples.
– Como conseguiu elas? – Theo perguntou curiosa.
– Depois eu te explico. Posso colocar?
– Pode. – Theo olhou as mãos e estendeu a direita. – Não consigo usar na prótese, se importa de usar na mão direita?
– Não, nem um pouco. – Sam respondeu com um sorriso afetuoso, e colocou a aliança em seu dedo. – Coloca a minha?
– Uhum.
Theo fez o mesmo, colocando o anel na mão direita de Sam, que sentiu um friozinho na espinha com o toque das mãos.
– Em nome da lei e da república da Nova Capital, eu declaro Theodora Bedford Archer e Samantha Cooper-Archer unidas pelo ato civil de número 21221507. Se quiserem trocar um beijo, esse é o momento. – Ele informou num tom simpático.
Sam olhou hesitante para Theo, torcendo para esta tomasse a iniciativa ao invés de apenas recusar a oferta do juiz. E ela tomou.
– Posso beijar a noiva? – Theo perguntou arteiramente, já com a mão em seu rosto.
Sam lhe respondeu com um beijo singelo, apenas para selar aquele rápido protocolo burocrático.
– A certidão eletrônica já está ativa no sistema e disponível em suas IDs. O recibo também já foi enviado para vocês. – O juiz informou. – Parabéns pelo enlace e desejamos toda felicidade ao novo casal. – Estendeu a mão para ambas, as cumprimentando, e já foi logo chamando o próximo casal.
Sam tomou a mochila do chão colocando em suas costas.
– Vamos?
Theo ajeitou-se na muleta e deixaram o cartório, caminhando até o elevador. Encaram-se por alguns segundos, como se reconhecendo na outra o que havia acabado de acontecer. Nada disseram, apenas um sorriso cresceu de forma sincronizada em seus semblantes. Sam aproximou-se e abraçando pela cintura e unindo seus rostos.
– Posso beijar a noiva? – Foi a vem de Sam pedir.
– Mas faça algo melhor do que você fez lá dentro.
– Eu fiquei tímida.
– Eu percebi. Mas aqui não tem ninguém nos olhando. – Theo cruzou os braços por trás da nuca dela e a beijou.
Sam sentiu-se num estado tão sublime, não apenas pelo beijo cheio de carinho e paz, mas pela certeza física do momento. Ter novamente Theo em seus braços e em seus lábios parecia impossível horas atrás, e agora a abraçava como esposa. Era um sonho se realizando, e o início de uma nova vida para ambas.
– Eu te amo muito… muito… – Sam dizia dentro do abraço.
Theo lhe deu um beijo demorado em seu pescoço, subiu e falou em seu ouvido.
– Eu te amo, oficial. – Sussurrou, trazendo um sorriso aberto de Sam, que a beijou de forma apaixonada em seguida. O plim do elevador as despertou do momento romântico.
– Poderíamos sair para jantar antes de voltar para a casa de Michelle. – Theo comentou no elevador, de mãos dadas com Sam.
– Não vamos para a casa de Michelle, reservei um hotel para nós.
– Mas não temos dinheiro.
– É um hotel bem simples, não se preocupe.
– Cartório, alianças, hotel… Tem mais alguma surpresa hoje?
– Talvez.
Minutos depois, o casal entrava num quarto modesto de um hotel já conhecido.
– É o hotel Copan, não é? Aquele onde passamos a última noite. – Theo se dava conta.
– É sim, não é o mesmo quarto onde ficamos, mas é um quarto na mesma posição, alguns andares abaixo.
Theo foi até o janelão que tomava parte da parede, do chão ao teto, olhando através da vidraça. Sam largou sua mala e a mochila em frente a cama, e a seguiu.
– Essa foi a vista que você me mostrou, mesmo sem enxergar você me apresentou a cidade. – Sam disse emparelhada ao seu lado, observando o sol se pondo no Centro de San Paolo.
Ela não respondeu, continuava com as mãos firmes no batente de alumínio, observando a vastidão de prédios e projeções enormes de publicidade entre o emaranhado de vias que se sobrepunham no ar. No rosto apenas um semblante pensativo.
– Está tudo bem? – Sam perguntou de mansinho.
– Não é lapso, só estou lembrando das coisas. – Ela respondeu num tom nostálgico. – Daquela noite, do que veio depois…
– Vem cá.
Sam correu devagar a mão pelo moletom dela, até pousar em sua cintura e trazê-la de encontro ao próprio corpo, com delicadeza. Deixou um beijo demorado em sua têmpora.
– Continua com medo que eu caia da janela? – Theo brincou.
– Medo de ficar viúva. – Retrucou. – Não faz nem uma hora que estou casada.
Theo virou na sua direção, para alívio de Sam seu semblante agora era sereno, quase alegre. A oficial virou-se também, recostando-se no batente da janela, afastou algumas mechas de cabelo do rosto dela.
– Eu sinto muito por não poder proporcionar uma lua de mel de verdade, um hotel chique, uma viagem, essas coisas… Eu recebi meu primeiro salário e não é muito, isso foi o máximo que consegui bancar. – Sam se desculpava um tanto constrangida.
– Você me trouxe ao hotel onde me entreguei a você pela primeira vez, não existe hotel mais perfeito do que esse. – Theo disse com as mãos ao redor do rosto da soldado, lhe afagando com os polegares. – Percebe um ciclo se fechando?
– E outro iniciando.
Theo escorregou a mão até alcançar sua nuca, e a conduziu aos lábios. Ela a beijou sem mágoas nem pressa, não como se aqueles últimos dez dias não tivessem existido, mas justamente por ter acontecido, pela superação de mais um obstáculo, o beijo era de regozijo e triunfo de um amor que precisava lutar todos os dias.
Findou-se num abraço silencioso e apertado, pelo barulho forte da respiração de Sam em seu pescoço, Theo já sabia o que estava acontecendo.
– Meu Deus, casamos. – Theo constatava, afagando a cabeça da soldado, que continuava enterrada em seu pescoço já molhado.
Sam apenas balançou a cabeça.
– Eu espero que você não esteja chorando de tristeza ou arrependimento. – Theo brincou.
– Você sabe o quanto sonhei com isso? – Sam disse já de cabeça erguida e rosto molhado.
– A vida inteira? – Theo respondeu serenamente. – Talvez um pouco diferente disso.
– Eu estava morrendo de medo de perder você, eu… eu…
– Não chora, amor. – Theo lhe enxugava o rosto.
– Parece que estou sonhando, estou aqui com você nos meus braços e ainda por cima casada.
– Eu nunca diria não a você.
– Tem certeza que é isso que você quer? Eu nem te dei tempo para pensar, desculpe se te pressionei ou fiz você tomar uma decisão dessas assim de repente…
Theo a silenciou com dois dedos em seus lábios.
– Eu quero sim, quero ficar com você para sempre, e essa é uma boa forma da gente confirmar isso.
– Mesmo com meus erros?
– Eu também erro, eu também piso na bola, entenda que nossos erros são diferentes, mas com paciência e respeito dá certo.
– É por isso que eu me apaixono por você o tempo todo. – Sam sorriu e a beijou.
– Se importa se eu tirar sua farda, oficial? – Theo disse já desabotoando o casaco militar dela.
– Não vamos conversar?
– Eu já ouvi o que queria, a primeira coisa que você me falou hoje.
– Que nunca mais vou esconder nada de você?
– Sim, só isso que me importava. Agora o que me importa é tirar sua roupa. – Disse com malícia.
Atirou o casaco sobre a cadeira e passou a desabotoar a camisa branca.
– Você não vai me dar bronca nem nada do tipo? Estamos bem então?
– Shhh. Menos papo, mais ação.
Sam animou-se e tirou afoitamente sua camisa branca, quando tentava tirar a gravata foi impedida por Theo.
– Não, deixe a gravata, tire todo o resto.
Sam a obedeceu rapidamente, tirou quase tudo, ficando apenas com sua calcinha branca. Abordou Theo enquanto tirava seu próprio moletom com dificuldade.
– Me ajuda. – Theo pediu aos risos.
Sam tirou o moletom e a camiseta dela, a abraçou firme e a derrubou sobre a cama, caindo por cima dela.
Algum tempo de luxúria depois, Sam tratou de tirar o restante das roupas de ambas. Seus dedos já passeavam e brincavam entre as pernas de Theo, quando pediu para que ela virasse de bruços.
– O que você vai aprontar? – Theo perguntou com um pouquinho de receio, apesar de estar bastante excitada e envolvida.
Sam deitou-se devagar sobre o corpo nu de Theo, enquanto corria as mãos por suas costelas, roçava os pelos em suas nádegas, a deixando arrepiada. Beijou e mordeu seu pescoço, subiu até seu ouvido.
– Quero algo que você nunca me deu. – Sussurrou e mordiscou sua orelha.
Theo sabia do que ela estava falando, e sentiu como naquela noite de outrora, neste mesmo lugar, quando finalmente teve segurança suficiente para permitir que Sam a tocasse.
– Mas só se você quiser, é claro. – Sam completou, ainda com os lábios correndo por seu pescoço.
Por alguns segundos que levaram horas, não houve resposta, apenas Sam prosseguindo com as carícias e beijos. Interrompeu quando Theo movimentou-se, saindo debaixo dela e se virando para cima. Sam não teve tempo de pensar no que estava acontecendo, Theo a puxou pela gravata e foi para cima dela, a consumia ferozmente.
– Assim… frente a frente. – Theo sussurrou ofegante.
E foi assim, frente a frente, que Sam dominou a situação. Percebeu o momento em que Theo ia a loucura com seus dois dedos a penetrando de forma ritmada, e suavemente penetrou um terceiro, atrás.
Theo permitiu. O clímax veio em pouco tempo, Sam estava radiante por ter ido além com sua amante, sentiu a mão dela apertando com força sua nuca, e maravilhou-se com os gemidos altos que ouviu, raridade nas relações com ela.
Ela não a soltou, continuava com o braço traspassado a segurando junto ao seu peito. Sam respeitou sua vontade, se manteve ali, deleitando-se com a respiração ainda forte de Theo em seu ouvido, o contato dos corpos, pele contra pele, o seu cheiro.
– Você é tão deliciosa… – Sam atreveu proferir, estava mais do que nunca excitada, querendo muito mais.
Theo abriu os olhos e um sorriso, delicadamente ergueu o rosto de Sam e a beijou.
Girou para cima dela, ambas pareciam ainda sedentas por mais, Theo estava tão à vontade, solta, ágil. Tirou a gravata dela, subiu percorrendo seu colo lambendo e beijando, e assim prosseguiu por sua garganta, até o queixo. Pousou os lábios entreabertos nos lábios de Sam, mordeu de leve.
– Minha mulher… – Disse num crescendo de respiração, fazendo um feixe de eletricidade correr pelo corpo da soldado, sabia que estava perto de gozar.
Theo nem precisou ir a fundo, com seus dedos estimulando o clitóris dela, um orgasmo longo fulminou aquele incêndio.
Sam caiu ao seu lado com o rosto enfiado no travesseiro. Theo aproveitou a bela visão para admirar sua nudez e correr sorrateiramente os dedos por suas costas e braços, a arrepiando.
– Você está cada dia mais ousada. – Theo constatou, virada de lado.
Sam riu e virou a cabeça na direção dela, ainda de bruços.
– E você gosta?
– Amo.
– Que bom. – Sam disse num sopro, contente. Theo continuou a observando e provocando arrepios com as pontas dos dedos.
– Senti sua falta. – Theo disse após algum tempo.
– Minha vida não faz o menor sentido sem você, sabia?
– Você não sabe.
– Tenho certeza.
– Acho que você me superaria em pouco tempo. Não, não estou duvidando do que você sente por mim, mas você não gosta de ficar sozinha, não sabe ficar sozinha. Você encontraria outra pessoa logo, por necessidade.
Sam virou-se de lado também, ficando de frente para ela, recebendo agora carícias em seu rosto e cabelos.
– Eu viveria com um buraco dentro do meu coração e me rastejaria por você por anos. Você não sabe tudo sobre mim, felizmente.
– Felizmente?
– É bom manter um pouco do mistério. – Sam disse com bom humor. – É bom errar as expectativas de vez em quando, não acha? Você esperava que seu dia terminasse assim?
– Não, nem um pouco. Já estava me preparando para encontrar uma certa soldadinha cabisbaixa amanhã e ter uma conversa pouco produtiva. Você me surpreendeu e eu adorei.
Sam esticou o braço e a trouxe para junto de seu corpo, pela cintura. A beijou com amor, ato contínuo, a abraçou com ternura. Estava aliviada por não ter sido covarde, em júbilo por si e por elas. O beijo terminou abruptamente com uma mordida em seu lábio inferior.
– Humpf. – Sam resmungou, com os dedos sobre o lábio mordido. – Quando você vai parar com isso? – Fingiu revolta.
– Quando você parar de merecer.
Sam riu e desfez o enlace apenas para subir o edredom, as cobrindo. Deitou-se e pediu para que Theo deitasse sobre ela.
– Que bom que você veio. – Theo resmungou ajeitando-se dentro do abraço. – E ainda por cima vestida de soldadinho de chumbo, tão elegante.
– Todo mundo se derrete por uma mulher fardada. – Sam disse convencida. – Eu sabia que você não resistira também.
– Esperei tanto tempo para ver você com uniforme militar, fantasiei isso várias vezes.
– Sério?
– Desde que soube que você era militar.
– Desde o começo?
– É, desde o primeiro dia.
– Eu nem era mais quando nos conhecemos.
– Mas mexeu com meus fetiches. – Theo riu. – Ok, agora me conte como conseguiu a façanha da transferência.
– Eu precisei apelar para o homem mais poderoso do exército que conheço, General Turner.
– Você pediu para ele?
– Hum… Digamos que sim. Eu fui até a Sibéria pedir esse favorzinho.
– Você foi para lá? Quando? – Theo perguntou surpresa.
– Semana passada, tive que pressioná-lo um pouco.
Theo ficou pensativa, e por fim perguntou.
– Sam, você o chantageou com o lance do Circus? – Deduziu.
– Infelizmente foi necessário, ele não estava muito receptivo para minhas demandas.
– Demandas?
– Eu pedi também o endereço do novo Circus.
– E ele deu?
– Deu sim, já repassei à polícia internacional, soube que invadiram e resgataram as meninas no início da semana. Agora acabou mesmo, chega de Circus.
Theo ergueu-se nos cotovelos, a fitando de cima.
– E se o General recusasse te ajudar? Eu teria que ir para a imprensa passar por mais um escândalo sexual?
– Eu… Ãhn… Não, eu não cumpriria minha ameaça, eu blefei. Você está brava comigo por ter usado isso contra ele?
– Não, claro que não, eu também faria isso. Mas para falar a verdade isso não passou pela minha cabeça em momento algum, você foi bastante sagaz. E pelo visto sua ousadia não está apenas na cama. – Riu, trazendo alívio em Sam.
– Quando saí do gabinete dele nem eu acreditei no que tinha acabado de fazer. – Sam falou com orgulho.
– Como se sentiu voltando para a Sibéria?
– Tentei focar meus pensamentos no lado positivo, no meu objetivo, não lembrar dos meus e dos seus dias horríveis naquele lugar. Entrei e saí de cabeça erguida.
– Como deve ser.
Minutos depois, Theo continuava nua enrolada no edredom, Sam voltava do banheiro já vestida.
– Temos que contar a novidade para o pessoal. – Sam disse alegremente.
– Qual novidade? – Theo perguntou distraída.
Sam apenas ergueu a mão direita e apontou para a aliança.
– Ninguém sabe? Dessa vez não foi um conluio coletivo pelas minhas costas? – Zombou ainda ressentida.
– Não é assim que se pratica o perdão. – Sam disse e subiu de mansinho na cama, com o comunicador em mãos. – Sente-se.
– O que você está fazendo?
– Vamos dar a notícia, apenas Letícia estava por dentro de tudo, ela me ajudou um bocado.
– Como? – Theo respondeu e sentou-se, Sam recostou-se nela.
– Vamos tirar uma foto. – Olhou de relance para trás. – Mas cubra-se, suba o edredom.
Theo fez o solicitado, e a abraçou, repousando o queixo em seu ombro.
– Aqui, junte sua mão com a minha. – Sam a orientou, entrelaçaram as mãos e as alianças sobre o peito de Sam.
Sam registrou o momento e olhou na tela, abrindo um sorriso. No momento da foto Theo beijava seu pescoço.
– Posso mandar para o grupo? – Sam mostrou a foto na tela para ela.
– Pode. – Theo continuou olhando a foto, com um ar bobo.
– O que foi?
– Você é linda de qualquer jeito, com ou sem farda.
O coração da oficial pareceu pular em seu peito, virou-se para trás e a pegou num beijo caloroso.
Tálamo: s.m.: Leito conjugal, bodas, casamento.