Capítulo 62 – Móvito

Capítulo 62 – Móvito

 

– Que? – Theo rebateu o médico.

– Você está grávida, são três semanas de gestação.

Todos os músculos dela se retesaram com aquela notícia, só conseguia olhar boquiaberta para o médico que desfalecia seu sorriso inadequado.

– Não, isso não pode ser verdade, deve ter um erro nesse exame. – Theo tentava abafar o desespero, mas já começava a sentir dificuldades em respirar normalmente.

– Esse exame não tem erro. – A essa altura o médico já percebia que a notícia não era tão feliz assim.

Theo inclinou-se para frente em sua cadeira, mãos nos joelhos e o olhar assustado correndo o chão.

– Não… Não é possível…

– A senhora não se recorda de ter tido relações sexuais há três semanas?

– Eu me recordo, me recordo muito bem, e esse é o problema.

– Você está com medo que o pai não queira assumir?

Theo subiu as mãos cobrindo o rosto, seu peito queimava e percebia os pensamentos entrando numa confusão já conhecida. Queria poder colocar sua raiva para fora de alguma forma, queria gritar, queria amaldiçoar seu tio, enviá-lo novamente para o inferno, queria matá-lo novamente, matá-lo mais dez vezes.

O médico não sabia direito como lidar com a reação negativa de sua paciente, a olhou por algum tempo, e voltou a falar.

– Se o problema for financeiro, nosso hospital tem um programa que ajuda gestantes de baixa renda. Não apenas com o enxoval, mas também acompanhamento psicológico e ajuda de custo para alimentação e transporte, para que você possa vir fazer todos os exames do pré-natal.

Theo ergueu-se, em seu rosto o transtorno e a raiva eram visíveis.

– Pré-natal?

– É obrigatório aqui na Europa, você poderá fazer em outro hospital, mas terá que fazer.

Ela abriu um sorriso nervoso e ainda incrédulo, aquilo não poderia ser verdade, aquilo não estava acontecendo.

– Isso deve ser alguma piada de mau gosto… – Murmurou.

– Não sabe quem é o pai? O hospital fornece exames de DNA, se for este o caso. Se você fez sexo com…

– Não foi sexo! – Theo o interrompeu, explodindo. – Foi violência!

As feições do médico se tornaram complacentes.

– Eu sinto muito, senhora, sinto mesmo. Fez o boletim de ocorrência? Se prenderem quem fez isso, pelas leis da Europa ele terá que assumir o filho, e dar uma pensão.

Theo o fitou incrédula, sentia-se sufocada, com os pulmões colapsando. Levantou da cadeira e tomou a muleta.

– Eu ainda preciso ajustar sua medicação por conta da gravidez. – O médico a chamou. – Por gentileza, sente-se e me repasse o que você está tomando no momento.

Ela o encarou com perturbação, balançou a cabeça.

– Eu preciso ir, eu não posso ficar aqui.

– Senhora Archer?

Aos tropeços com sua muleta, Theo abandonou o consultório e caminhou até o ponto de trollbus, não tinha dinheiro para um táxi.

Nevava de forma moderada, fechou o casaco e ergueu o capuz de seu pesado casaco azul escuro, emprestado de Michelle, já que o seu continuava na delegacia como evidência do sequestro. Haviam outras pessoas no ponto, seus olhos já transbordavam algumas lágrimas, que eram enxugadas afoitamente, não queria chorar.

Entrou como um furacão em seu apartamento, Virginia e Stefan trabalhavam lado a lado no sofá e assustaram-se com aquela entrada brusca.

– E então, como foi no médico? – Stefan perguntou.

Theo os ignorou e seguiu para seu quarto.

Os dois se entreolharam confusos na sala.

– Isso não é nada bom. – Stefan falou preocupado. – Eu vou lá.

– Vá lá, mas por favor, venha me dizer o que aconteceu. – Virginia respondeu.

Stefan entrou no quarto de Theo sem bater, ela estava deitada meio de lado, meio de bruços, abraçada a um travesseiro. Com as luzes apagadas, apenas um pouco da luz natural da tarde traspassava a cortina.

Ele sabia que não tinha muito jeito com essas situações, tentou se aproximar de forma delicada. Tirou os sapatos e sentou-se sobre a cama, ao seu lado. Aguardou que ela dissesse algo, mas não o fez.

– Seja qual for o resultado, vamos lutar para reverter. – O advogado disse num tom reconfortante.

Theo permanecia quieta, com o olhar perdido na parede em frente e chorando em silêncio.

Como não houve resposta, Stefan pousou sua mão em seu ombro, devagar. Fazia um afago cuidadoso.

– Vamos pedir uma segunda opinião de algum médico da Nova Capital,  podemos falar com o médico que cuidava de você lá, talvez ele tenha uma opinião diferente.

– Eu estou grávida. – Theo murmurou. – Ninguém dará um diagnóstico diferente.

– Mas… Como assim? Como isso é possível?

Theo apenas fechou os olhos e suspirou com tristeza, voltando a chorar.

– Dimitri? O irmão dele? – Stefan tentava.

– Elias.

Houve um momento de silêncio, pesado e dolorido, quase se podia ouvir corações sendo dilacerados naquele quarto.

– Meu Deus, Theo…

– Tudo pode piorar, não acha?

– Você não nos contou que ele… Você não contou a ninguém, nem no hospital.

– Não, eu não contei para ninguém.

– Por que?

– Porque… Sei lá, os olhares mudam… – A voz embargada não queria deixar sua garganta, Theo virou-se, encarando Stefan. – Eu sei que eu não deveria me sentir assim, eu não fiz nada errado, mas eu me sinto envergonhada por todas as vezes que me violentaram.

– Você não tem que se sentir assim, você não deve sentir culpa alguma, nem vergonha.

– Eu repito isso para mim o tempo todo.

– Theo, ajudaremos você a superar isso, assim como você estava avançando na superação das outras vezes, você está conseguindo, está se reerguendo.

– Estou… – Levou a mão aos olhos, os esfregando. – Estava…

– Estamos do seu lado, estaremos sempre com você.

– Mas o pesadelo continua.

– Se importa se eu for falar com Virginia sobre o que aconteceu? Ela está lá fora preocupada aguardando.

– Chame ela para cá.

– Ok.

Stefan foi até a sala e Virginia levantou-se imediatamente do sofá, indo até ele.

– E então?

– Você não vai acreditar no que está acontecendo…

– É irreversível?

– Ela está grávida, Virginia.

– Você está falando sério?

– Infelizmente sim. Bom, não sei se além disso ela está com algum problema neurológico, ela ainda não me contou.

– Stef? – Virginia o fitava arregalada. – Foi você??

– Claro que não! – Respondeu chocado. – Foi Elias.

– Ele…

– Sim. Venha, ela te chamou.

Depois de algum tempo conversando, os três permaneciam no quarto. Theo estava deitada sobre as pernas da advogada, Stefan sentado na poltrona.

– Você terá que mudar toda sua medicação, por conta do seu estado. – Stefan disse.

– Meu estado? – Theo ergueu-se, sentando na cama. – Vocês acham que vou prosseguir com essa gravidez?

– Não vai? – Virginia perguntou.

– Claro que não. Vocês estão loucos? Eu vou acabar com isso o quanto antes.

– Você vai abortar?

– Assim que conseguir os comprimidos necessários.

– Aqui na Europa aborto é totalmente proibido, é crime, como vai conseguir esses comprimidos? – Virginia disse.

– Eu vou dar um jeito. Em último caso peço para Letícia trazer, ela está vindo para cá sexta-feira.

Stefan e Virginia pareciam mais confusos com a situação do que ela própria. Theo parecia irredutível.

– Eu acredito que seja a coisa mais sensata a fazer, mas acho que você deveria tirar uns dias para pensar sobre isso, Theo. – Stefan disse.

– Eu não vou mudar de ideia.

– Você não vai conversar com Sam sobre isso?

Theo fitou Virginia em silêncio, uma angústia com ares de desespero voltou a preencher seu peito. Voltou a deitar, não mais nas pernas de Virginia. Repousou a cabeça no travesseiro com suas mãos na nuca.

– Não. – Disse com a voz falhando. – Espero já ter resolvido esse problema até domingo.

– Acredito que Sam seria contra o aborto. – Stefan falou.

Theo deu um riso fungado.

– Ela já fez um aborto, aos 17 anos.

– Ela engravidou de Mike?

– Sim. Mas eu concordo com você, Stef. Acho que Samantha seria contra, ela fez o dela contra a vontade, foi obrigada por aquele calhorda.

– Eu não fazia ideia disso.

– Mas eu não sou ela, eu já tomei minha decisão.

***

– Lê, você vem para cá amanhã? – Theo falava com sua amiga por vídeo, em seu quarto.

– Sim, mas não precisa se preocupar comigo, eu já sei seu endereço, dou um jeito de ir do aeroporto até seu prédio. Só espero que tenha algo para jantar, ouviu? Você sabe que sou esfomeada.

– Eu preciso de um favor seu. – Theo falava num tom sóbrio. – Eu não consegui os remédios aqui, preciso que você traga.

– Aqueles remédios?

– Sim, você sabe do que estou falando.

– O julgamento de Sam é dentro de uma semana, por que não aguarda até lá?

– Até você está do lado da Sam, Letícia?

– Não é questão de lados, eu compreendo sua decisão, mas não acho que seja um bom momento para você tomar decisões tão sérias, você está fragilizada pelo que aconteceu.

– Fragilizada? – Theo bufou. – Estou é puta da vida mesmo, estou angustiada com a minha situação. Eu quero estar em paz comigo para poder dar o melhor de mim nesta reta final, e não estou em paz comigo, nem um pouco, estou me sentindo invadida dia e noite, essa é a sensação, é exatamente esta, e não fragilizada.

– Desculpe… Não estou sendo uma boa amiga. Sei que você conta comigo, e poderá contar agora também. Essa decisão é sua, acho prudente, e eu vou respeitar.

– Você consegue encontrar até amanhã?

– Consigo no hospital, aqui é fácil de conseguir, você sabe disso, basta ter a receita médica. Eu vou fazer uma receita e apresentar na farmácia do hospital.

– Obrigada, Lê, serei eternamente grata.

– Querida, você sabe que não é tão simples, não sabe? Você vai ter umas cólicas tenebrosas, e sangramento por uns dias.

– Eu estou ciente, só quero resolver logo isso.

***

No domingo, os quatro viajavam para Krasnoyarsk num carro modesto alugado por Letícia. No banco de trás, a medica olhava com preocupação para Theo, que permanecia encolhida no canto, que de tempos em tempos soltava algum gemido de dor.

– Aquele analgésico que te dei no café da manhã não adiantou nadinha? – Letícia perguntou.

– Adiantou, estou bem melhor. – Theo respondeu, virando a cabeça na direção dela.

– É, estou percebendo.

– Estarei melhor daqui a pouco, quando chegarmos à prisão.

– Você deveria ter ficado em casa, eu ficaria lá com você.

– Não, é a última visita antes do julgamento, Sam precisa de uma força.

***

– Theo, pelo amor de Deus, o que está acontecendo com você? – Sam perguntou algum tempo de visita depois, assistindo sua namorada sofrendo com dores, apesar de tentar disfarçá-las.

– Eu estou bem, é só infecção intestinal, comi algo que não caiu bem. – Theo suava frio e estava pálida.

– Tem banheiro aqui na sala de visitas, quer ir?

– Não, eu vou ficar bem.

– Quer mais um analgésico? – Letícia ofereceu, estava sentada na cadeira ao seu lado.

– Não precisa.

Sam subiu sua outra mão abarcando a mão dela com ambas agora, e lhe falou com carinho.

– Por favor, me diga o que está acontecendo, eu sei que você está mentindo.

Theo a encarou hesitante, estava evitando olhar em seus olhos naquela tarde.

– Sim, eu estou mentindo, mas é um assunto para conversarmos quando você sair daqui, na quinta-feira.

– O que é?

– Não é nada que você precise se preocupar, eu vou ficar bem, essas dores é apenas efeito colateral de um procedimento que fiz, eu estou bem agora, eu juro.

– Procedimento?

– Eu estou bem, Sam, eu estou falando a verdade agora.

– Que procedimento? Lê? Do que ela está falando? Você sabe, não sabe?

Letícia percebeu a angústia com que Theo tentava evitar o assunto, pousou a mão em sua perna, lhe afagando.

– Conte, eu vou te ajudar. – Ela disse em voz baixa para a amiga.

– Theodora, por favor, só temos dezoito minutos restantes. – Sam pediu.

– Eu fiz um aborto ontem. – Por fim contou.

– Eu a ajudei, e trouxe os comprimidos. – Letícia disse na sequência, enquanto Sam ainda a olhava pasmada sem entender o que tinha ouvido.

– Você estava grávida? Que loucura é essa, Theo? – Sam dizia atônita.

– Estava. – Respondeu cabisbaixa.

– De quem? Você tem alguém lá fora?

– Realmente é isso que você acha?

Sam, que já havia largado a mão de sua namorada, gesticulou impaciente com seus punhos unidos por uma corrente de não mais que trinta centímetros.

– Ok. Como você engravidou?

– Elias queria um filho.

Sam engoliu uma bola de saliva que machucou sua garganta, a fitando com tristeza.

– Foi durante o sequestro? – Por fim gaguejou.

– Foi. – Respondeu cabisbaixa, mas em seguida subiu o olhar para analisar timidamente a reação de Samantha. Não era uma boa reação.

Os olhares se cruzaram, e Sam desviou para a mesa.

– Então ele fez de novo. – Sam murmurou com indignação.

– Pela última vez.

Sam não respondeu, apenas esfregava a testa com os dedos, cotovelo na mesa.

– Eu ia te contar depois do julgamento.

– Por que você tirou a criança?

– Era o certo a fazer. Isso era um erro que eu precisava corrigir o quanto antes.

– Erro? Meu Deus…

– É o meu corpo, Sam. A decisão era apenas minha.

– Não precisava ter sido assim. – Os olhos da soldado estavam marejados.

– Precisava, você não estava dentro de mim para saber o que estava acontecendo, você não sabe o inferno que estava dentro da minha cabeça, você não pode me julgar.

– Ainda temos um relacionamento? Minha opinião não importa? Achei que existisse algo entre nós.

– O que você queria que eu fizesse? Esperasse mais? Esperasse até ser necessário ir para uma clínica?

– Eu só queria que você tivesse conversado comigo. – Sam diminuiu o tom.

– Não, não seria bom.

– Não pensou em nenhum momento em conversar comigo antes?

– Pensei sim, várias vezes.

– E?

– Se eu conversasse com você provavelmente seria convencida a não fazer.

– Ah, agora eu tenho algum poder?

– Sempre teve.

Sam cruzou as mãos sobre a mesa, observando seus dedos que se mexiam nervosamente.

– Eu teria criado a criança com você… – Derrubou algumas lágrimas e enxugou rapidamente. – Você não estaria sozinha, seria nosso filho.

– Não, não romantize isso, não humanize a violência que gerou essa situação. Não era nosso filho, Sam, não era.

– Poderia ser.

– Foi o fruto de um estupro, não sei exatamente qual deles… Foi a última marca deixada por um homem que me fez muito mal. – Esfregou a mão no nariz, fungando. –  Foi uma piada de mau gosto do homem que desgraçou minha vida. Pense bem antes de humanizar isso, você está ajudando a me destruir, a me destroçar. – Theo já não ligava para as lágrimas que derramava.

– Além do mais, existia a chance de ter algum problema genético, por causa do incesto. – Completou Letícia.

Sam voltou a fitá-la, estava confusa demais para lidar de forma racional com aquela situação.

– Está feito… – Sam disse.

Theo tentou se recompor e falar sem que sua voz falhasse.

– Teremos nossos filhos, Sam. Eles virão no momento certo, serão frutos de um processo cheio de amor e carinho, serão desejados. E não haverá nenhuma nuvem negra sobre a origem deles, serão planejados por nós, com todo amor em nossos corações. – Theo buscou a mão de Sam sobre a mesa, a cobrindo. – E sabe qual a melhor parte disso? Eles serão parecidos com você, eles serão parecidos com a mulher que eu amo.

Sam esboçou um sorriso, voltando a encará-la.

– Um dia eu entenderei o que você fez.

– Um dia, quando você tiver nosso filho nos braços, você entenderá o que eu fiz.

Theo segurou de forma mais firme a mão dela, atraindo seu olhar.

– Nosso próximo encontro é na quinta, no tribunal. – Theo disse, com um pequeno sorriso otimista. – E não ouse sair de lá por outra porta que não seja a da frente, de mãos dadas comigo.

– Sexta é o seu aniversário, não comprei nenhum presente ainda.

– Um abraço e um beijo, e terei o melhor presente de todos os aniversários.

Sam a observou por um instante, seu coração aquiescia.

– Eu sinto muito… Sinto por você ter passado por tudo isso novamente. E sinto por não poder estar com você, te dando amparo, cuidando de você.

– Eu sinto sua falta…

– Lembra quando eu voltava de alguma viagem e te abraçava forte, daqueles abraços longos e apertados?

– Lembro.

– Eu queria te dar um desses agora, tente lembrar da sensação.

– Eu lembro, seu abraço é o melhor lugar do mundo.

A sirene ecoou finalizando o encontro. Apesar do clima menos pesado ao final, ainda havia uma tristeza pairando no ar.

***

Ainda naquele domingo à tarde, o Coronel Phillips assistia a um jogo de futebol na tela em sua casa na vila militar de Krasnoyarsk, ao lado de seu filho.

– Pai, eu quero falar sobre aquele assunto novamente, e dessa vez precisamos resolver, porque Samantha poderá sair daqui na quinta, tenho pouco tempo. – Mike disse, segurando sua garrafa de cerveja.

– Você sabe que minha resposta é não, isso é tão estapafúrdio que não irei mais discutir com você.

– É a única chance que tenho de ficar com ela.

– Crie vergonha nessa cara e encontre outra garota, tem milhares de mulheres por aí muito melhores que essa meretriz lésbica.

– Eu quero a Sam, eu quero fazer a reprogramação bioquímica nela, isso resolverá tudo.

– Pelo amor de Deus, Michael, desista dessa garota!

– É questão de honra! Honra, orgulho, força… Foi o senhor que me ensinou esses valores, se ela não for minha, não será de outra pessoa, muito menos daquela prostituta aleijada.

– Esqueça, não vou deixar que você a tire da prisão e leve para uma dessas clínicas clandestinas.

– Mas o senhor consegue fazer isso, é o vice-diretor de lá, basta forjar uma emergência médica, mande colocar no prontuário que ela precisou de tratamento hospitalar avançado, eu prometo que ela estará de volta no dia seguinte, já reprogramada.

– Você não enxerga que o problema maior é o fato de você estar correndo atrás de uma mulher de baixo nível? Uma presidiária sem classe, sem valores morais, que abandonou a criação católica que meu grande amigo Elliot lhe deu, que trocou você por uma mulher rica por interesse, o que você ainda quer com ela? Eu não admito que você volte a se relacionar com essa mulherzinha.

Mike balançou a cabeça contrariado, bebeu de uma só vez o restante da garrafa.

– Samantha voltará a ser a garota religiosa e casta de antes, eu lhe prometo, ela voltará a estar sob meu domínio, eu a manterei na linha com rédeas curtas, e ela me obedecerá porque estará apaixonada por mim. – Mike virou-se na direção dele. – Pai, eu prometo, o senhor terá uma nora de valor, por favor deixe que eu a tire da prisão esta semana, só preciso de doze horas com ela fora de lá, e resolvo tudo.

– Você está me aborrecendo, filho.

– Eu só tenho até quinta-feira.

– Martha! Traga mais duas cervejas!

***

Próximo da meia-noite, a residência dos Phillips estava em silêncio, todos haviam ido dormir. Aidan Phillips foi até a sala silenciosamente e fez uma ligação para seu imediato na prisão.

– Sirkis, preciso que você faça algo para mim hoje. Mas tem que ser de forma discreta, que ninguém veja ou fique sabendo.

– Pois não, senhor.

– Preciso que você busque a interna Samantha Cooper em sua cela, sem fazer alvoroço, com alguma desculpa qualquer. E em seguida a jogue no jardim de inverno, mas coloque em sua ficha que ela está numa solitária comum.

– No jardim de inverno? Mas o senhor sabe o que acontece com quem jogamos lá, elas…

– Elas morrem de frio em no máximo dois ou três dias. É exatamente isso que eu quero.

Minutos depois Sam foi acordada por Sirkis e uma guarda, que a tiraram de lá pacificamente, com a alegação de que havia uma ligação urgente para ela. Andaram por todo o andar e seguiram para o térreo, onde a conduziram para o final de um corredor escuro e desconhecido.

Abriram uma porta de ferro e arrastaram Sam para dentro, a segurando pelos braços.

– Que lugar é esse?? – Sam desesperou ao perceber estar numa espécie de cela com paredes de pedra escurecidas por limo e fungos. Não havia teto.

– Tente fazer sua ligação com as estrelas. – Sirkis disse rindo e apontando para o alto.

– Que brincadeira é essa?

– É sua nova cela.

Sam o encarou perplexa por um momento, e foi para cima dele.

– Eu quero sair daqui!

O guarda a derrubou no chão de concreto, onde havia algumas ervas daninhas nas ranhuras. Chutou sua cabeça até que Sam desfalecesse, saíram e trancaram a pesada porta.

 

Móvito: s.m.: parto prematuro; aborto.

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