Capítulo 29 – Perfídia
– O que foi, Lê? – Theo perguntou assustada, sem entender o que acontecia.
– Isadora está na sua cama, com Sam. – Letícia disse incrédula.
Sam havia acordado assustada, sentou-se rapidamente cobrindo-se com o edredom. Isadora apenas virou-se, continuando deitada, e cobriu seus seios.
– Isa?? – Sam olhou para o lado arregalada.
– Sam, o que essa vagabunda está fazendo na minha cama? – Theo indagou.
– Olha como fala comigo.
– Eu não faço ideia! – Sam respondeu com nervosismo e bochechas vermelhas.
– Isa, pelo amor de Deus, saia daí e se vista. – Letícia ordenou com impaciência.
– Eu não acredito que você fez isso, Sam… – Theo resmungou.
– Eu não fiz nada, eu não sei como essa mulher veio parar aqui, achei que era você!
Theo deu um sorriso triste de lado, sem acreditar.
– Mesmo que você fosse cega, acho que você perceberia se fizesse sexo com a mulher errada, não acha?
– Eu não fiz sexo com ninguém, eu estava dormindo, eu não fiz nada depois que você saiu.
– E qual a explicação para ambas estarem nuas? – Letícia perguntou.
– Theo, eu adormeci sem roupas hoje depois de… Depois que fizemos amor, lembra disso? Eu continuei dormindo, eu não me vesti, estava morrendo de sono.
– E ela?
– Eu não faço ideia!
– Bom, eu sei o que aconteceu, mas melhor deixar a sua versão. – Isadora disse, já com seu vestido vermelho justo.
– Eu percebi essa mulher aqui no mesmo momento em que vocês perceberam, eu juro, eu estou falando a verdade, eu não fiz nada com ela – Sam já estava chorando, segurando com força o edredom abaixo do queixo.
– Samantha, você quer que eu acredite que você não percebeu que tinha uma mulher nua grudada nas suas costas? – Theo perguntou.
– Eu achei que você havia voltado para a cama.
Isadora riu, com deboche.
– Essa não está colando, Sam, tente outra desculpa.
– Que merda você pensa que está fazendo?? – Sam se dirigiu à Isa, com raiva.
– Você não se preocupou com isso antes. – Isa ironizou.
– Isadora, saia do quarto. – Letícia rosnou.
– O que está acontecendo? – Daniela entrou no quarto.
– Dani, tire essa mulher daqui, depois conversamos. – Letícia disse apontando para Isadora.
– Não preciso de ninguém para sair. – Isadora disse erguendo os braços, e saiu do quarto, Dani a acompanhou.
– Theo, me ouça… – Sam tentou.
– Estou ouvindo.
– Eu não fiz sexo com ela, eu não sabia que ela estava aqui na cama, muito menos nua.
– Desculpe, mas sua versão é absurda demais, Sam. – Theo estava respirando rápido, com raiva.
– Eu não faria isso com você! Theo, mesmo se eu tivesse coragem, você acha que eu faria isso na sua casa, na sua cama?
– Você já fez uma vez.
– A situação era bem diferente, você sabe disso.
– Você estava louca para pegar a Isadora, há dias!
– Theo, acho melhor você se sentar. – Letícia murmurou.
– Estou bem. Lê, você pode nos deixar a sós?
– Tem certeza?
– E estou bem, juro.
– Ok, estarei no meu quarto.
Theo aguardou Letícia abandonar o recinto, e sentou-se no final da cama.
– Você vai me ouvir? – Sam tentou.
– Vista-se.
– Ok.
Sam saltou da cama, recolheu nervosamente suas roupas e vestiu.
– Eu não sabia, eu estou…
– Cale a boca e sente-se aqui. – Theo a interrompeu, colocando a mão sobre seu lado na cama.
– Ok.
As duas estavam agora em silêncio, sentadas lado a lado no final da cama, cabisbaixas. Theo estava séria, Sam transtornada.
– Me conte tudo que aconteceu, não apenas hoje, mas tudo que vem acontecendo desde que chegamos nessa casa. – Theo pediu de forma sisuda.
– Com Isa?
– Sim, entre você e Isadora.
– Nada, não aconteceu absolutamente nada.
– Eu já sei que você estava se sentindo atraída por ela e a comia com os olhos, então te darei apenas mais uma chance de ser honesta comigo, não desperdice, se continuar mentindo você não vai chegar a ver a luz do dia nessa casa.
– Eu não… – Sam fechou os olhos com força antes de voltar a falar. – Eu a olhei algumas vezes, mas foi sem querer, eu não me sinto de fato atraída por ela, só a considero uma mulher bonita, sensual.
– Continue, e não esqueça da sinceridade.
– Um dia ela me cercou na cozinha, colocou a mão na minha cintura, me fez alguns convites indecentes, mas eu não fiz nada, eu a mandei embora.
– O que mais?
– Ela me provocou algumas vezes, mas nunca foi retribuído, nunca permiti nada, ou dei a entender que poderia rolar algo. Apenas quis te poupar dessas besteiras dela, não queria correr o risco de estragar o feriado.
– Continue.
Sam fechou os olhos, e disse num tom culpado.
– Me senti excitada por ela algumas vezes, quando ela provocava.
Theo ergueu as sobrancelhas.
– Você está indo muito bem. E hoje à noite?
– Eu não fiz sexo com ela.
– O que vocês fizeram?
– Eu não sei o que ela fez, mas eu não fiz nada.
– Mas sabia que ela estava na cama, não sabia?
– Não, eu não sabia. Eu estava dormindo e percebi alguém deitando na cama, eu estava virada para fora, nem abri os olhos, não havia acordado totalmente. Senti um braço passar por cima de mim, achei que era você, que você havia voltado para a cama.
– Vocês não trocaram nenhuma palavra?
– Eu não sei se ela falou algo, eu só perguntei se estava tudo bem com você, acho que ela não respondeu, ou só fez uhum, eu não lembro de ter escutado alguma voz.
– Você não desconfiou em momento algum que não era eu que estava te abraçando? Você não é tão tapada assim, você estava nua, Sam.
– Não, não desconfiei, eu queria continuar dormindo, só isso, você sabe porque eu estava exausta.
– O que ela fez com você enquanto isso?
– Não sei, espero que nada.
– Não lembra de nada?
– Ela subiu e desceu a mão algumas vezes, por um instante achei que era você querendo fazer amor de novo, mas acabei apagando.
Theo trincou os dentes com raiva.
– Que merda descomunal tudo isso… – Resmungou.
Sam aguardou Theo falar algo, mas nada aconteceu. Levantou da cama e ajoelhou entre as pernas dela, em desespero.
– Theodora, por favor acredite em mim, eu não fiz isso que ela disse, nem o que pareceu. – Sam segurou firmemente as pernas dela. – Eu juro, em nome de Deus, eu juro que não fizemos sexo, você precisa acreditar na minha palavra, eu te peço… – Sam soluçou.
– Você está chorando? – Theo procurou o rosto dela.
Sam não respondeu, apenas baixou a cabeça, envergonhada.
– Não chore, não chore, ok? – Theo ergueu seu queixo, e enxugou seu rosto.
– Ok.
– Levante-se, sente aqui de novo.
Sam atendeu prontamente, sentando ao seu lado. Theo tateou procurando a perna e a mão dela, quando encontrou, entrelaçou seus dedos e segurou firme.
– Eu acredito em você, em quase tudo que você disse.
Sam suspirou com alívio.
– Não é o tipo de coisa que espero de você, seus vacilos seguem outro padrão. – Theo continuou.
– Eu admito que a olhei de um jeito que não deveria, mas não cedi em nenhum momento. Eu já pisei na bola algumas vezes, estou aprendendo, eu respeito você e nossa relação.
– Mas ela não.
– Não, ela não respeita ninguém. – Sam disse.
– Eu sei, ela quer nos dividir, nos jogar uma contra a outra.
– Sim! Desde o primeiro dia ela tem nos provocado, ela deve ter falado coisas para você também, não falou? Ela faz intrigas!
Theo virou-se na direção dela, soltando sua mão.
– Acalme aqui e aqui. – Theo disse já com uma voz acolhedora, colocando a mão em sua cabeça e no alto do seu peito em seguida. – Está resolvido, pode aquietar o coração.
Sam a encarou com um sorriso juvenil, e a beijou. Theo não permitiu que o beijo se estendesse.
– Eu preciso de algumas coisas, com certa urgência. – Theo disse, tentando parecer calma.
– Do que?
– Eu vou ter uma convulsão dentro de alguns segundos, pegue os remédios anti convulsivantes e ligue o oxigênio.
Sam saiu correndo, abrindo afoitamente a gaveta onde ficavam alguns dos remédios separados metodicamente. Voltou na mesma velocidade e a deitou em seu lado na cama, baixou sua calça e aplicou uma injeção em sua coxa.
– A máscara. – Theo pediu já com a respiração descontrolada.
A fez engolir mais alguns remédios antes de colocar a máscara em seu rosto.
– Esqueci alguma coisa? – Sam perguntou de forma apreensiva.
– Não, segure minha mão.
Em instantes Theo fechou os olhos com força, enquanto apertava a mão da namorada, que estava sentada na cama, em posição de lótus de frente para ela, acompanhando apreensivamente.
Segundos depois, Theo abriu os olhos devagar.
– Conseguimos evitar? – Sam perguntou.
– Conseguimos. – Theo respondeu baixinho, ofegante.
– Quer que aumente o oxigênio?
Theo apenas balançou a cabeça positivamente.
Sam aguardou de forma atenciosa as coisas voltarem a normalidade, ainda sentada a observando.
– Os remédios farão efeito, você vai pegar no sono rapidinho.
Theo balançou a cabeça, concordando.
– Agora que você está sob controle, eu vou lá expulsar aquela intrusa.
– Não, chega disso por hoje.
– Não vai expulsá-la?
– Amanhã de manhã, amanhã resolvemos. Estamos no meio da madrugada, venha dormir, deite aqui comigo. – Theo falava por trás de sua máscara. – Mas tome um banho antes.
– Você que manda.
Sam enfiou-se depois debaixo da coberta, enquanto se ajeitava Theo aninhou-se lentamente em seu ombro, fazendo uma bagunça de tubos.
– Espera, assim acordaremos enforcadas. – Sam ajeitou a máscara e o tubo, por fim a abraçou.
O único barulho no quarto agora era o leve soprar do oxigênio, a paz voltara, Sam apagou a última luz ainda acesa.
Theo falou algo que Sam não compreendeu.
– O que?
– Feliz aniversário. – Theo disse com os olhos baixos de sono.
– Ah. Obrigada. – Sorriu e beijou sua testa.
Não demorou muito para que finalmente fechasse os olhos, Sam fez o mesmo.
– Ela pegou nos seus peitos? – Theo voltou a abrir os olhos e perguntar.
Sam suspirou antes de responder.
– Pegou.
Theo balançou a cabeça de leve, em desaprovação.
– Não quero que ninguém pegue nos seus peitos.
– Eu sei, eu entendo sua chateação, também não gostaria que pegassem nos seus.
Um minuto depois, Theo subiu sua mão maliciosamente, acariciando devagar os seios de Sam, por dentro da camiseta vermelha.
– Você está verificando se eles ainda estão no mesmo lugar?
– Estou.
– Ok. Não tenha pressa.
Theo finalmente apagou, com a mão dentro da camisa.
***
O comunicador de Sam tocou as oito da manhã, horário de mais remédios. Theo engoliu sem sequer abrir os olhos, tamanho o sono que ainda ostentava. Sam não conseguiu voltar a dormir, resolveu ir para cozinha preparar o café para todos, encontrou Letícia por lá, havia tido a mesma ideia, e juntou-se a ela.
Poucos minutos depois Isadora surgiu no corredor do piso superior, com passos lentos e observadores, sentiu o cheiro do café e dos alimentos sendo preparados, desceu o elevador e espiou rapidamente para dentro da cozinha, avistando Sam e Letícia. Abriu um sorrisinho e subiu novamente pelo elevador, não retornou ao seu quarto, tomou a direção da suíte principal.
Abriu as persianas de uma parede de vidro do quarto, que tinha vista para o deque e o mar, abriu também a janela, o barulho acordou Theo.
– Sam? – Theo perguntou de sobrancelhas baixadas, tateando ao seu lado, usava ainda a máscara.
– Não, ela está fazendo o café para nós. – Isa respondeu, permanecendo de pé próximo à janela.
– Isa. – Constatou, com um arrepio na espinha.
– Eu vim me despedir, e pedir desculpas por ontem.
– Se você tivesse vergonha na cara já teria ido embora há muito tempo. – Theo rebateu irritada.
– Que falta de educação é essa, Theodora? Onde aprendeu isso?
– Como você vem como convidada para uma casa, e faz essas merdas todas? E ainda vem falar em falta de educação? – Theo ficava cada vez mais alterada e nervosa.
– Pelo visto acreditou em todas as desculpas da sua namoradinha insaciável, não é? Bom, não vou mais me meter nesse relacionamento estranho de vocês, de um lado ela finge que está tudo bem, enquanto olha a bunda de outras mulheres por aí, e você não enxerga e não percebe. De outro lado, você a prende ao seu lado se fazendo de coitada. Vocês se merecem, duas fingidoras.
– Isadora, eu não quero mais perder meu tempo nem minha paz, você tem uma carência desesperada por atenção, e quando não a obtém por bem, apela para essas coisas baixas. Não preciso disso, não preciso de pessoas como você por perto, me faça o favor de sair logo da minha casa.
– Não acha que está exagerando na reação? Achei que você fosse uma pessoa mais civilizada.
– Eu estava civilizada enquanto você apenas me incomodava e perturbava, mas você cometeu o erro de mexer com a Sam, e isso eu não admito, você a fez mal, a fez chorar, eu não vou deixar isso barato. – Theo virou-se, tateando a parede em busca da válvula para aumentar o volume de oxigênio.
– Quer ajuda?
– Não, eu quero que vá embora.
– Aposto que você não tem a menor necessidade de estar com essa máscara, mas está usando apenas para que Sam tenha pena de você. – O ruído de seus saltos no piso, se aproximando da cama, estavam deixando Theo em pânico e ainda mais ofegante.
– Eu não devo satisfações a você. – Finalmente conseguiu aumentar o oxigênio.
– Não se preocupe, não vou contar para Sam que é tudo de mentira, no fundo ela também sabe.
– Não se aproxime de mim. – Theo percebia ela ao seu lado.
Isadora parou por um instante, observando os aparatos de emergência acima e ao lado da cama, olhou os tubos, de onde vinham e saiam.
– Quer ver como é fácil desmascarar você? – Isa soltou os tubos que saíam da máquina acoplada aos cilindros, cortando o fornecimento de oxigênio.
– O que você fez?
– Eu sei que você consegue se virar sozinha. – Isa deu um risinho e foi na direção da porta.
– Isa? Isa? Você desligou? Isa, o que você fez? – Theo sentou-se na cama, afoita.
– Até logo, Theo. – E fechou a porta.
– Isa?? – Estava com falta de ar, respirando rápido. – Sam? Saaaam??
Ergueu-se na cama e abriu ainda mais a válvula, mas não adiantaria com os tubos soltos. Saiu da cama e tateou os tubos e equipamentos, tentando entender o que ela havia feito. Esbarrou no criado mudo, caindo por cima do móvel, sua máscara soltou-se, saindo do rosto.
– Saaaam!
Quanto mais o nervosismo aumentava, menos ar conseguia colocar para dentro dos pulmões. Tomou as muletas e saiu aos trancos e barrancos pelo corredor, esquecera novamente que havia um elevador, e desceu as escadas, de pés descalços e respirando com dificuldade.
Faltando metade dos degraus, apoiou a muleta em falso, despencando até o chão da sala, esbarrando no caminho no corrimão de mármore. Ficou alguns segundos em choque deitada de costas no piso, assimilando o que acontecera, a respiração continuava difícil, e no momento respirar era tudo que importava.
Virou-se e ajoelhou, tateou ao redor em busca das muletas, não as encontrando. Ergueu-se de pé, deu três passos cambaleantes e mancando do pé direito, caiu de bruços no chão.
– O que foi isso? – Daniela surgiu no alto da escada, atraída pelo barulho da queda.
– Dani… – Theo virou-se, e a chamou com a voz quase inexistente.
– Estou indo! – Dani voou escada abaixo, indo em socorro.
Letícia e Sam também surgiram da cozinha, não sabiam a origem do barulho, mas logo entenderam ao ver Theo no chão.
– Theo, o que aconteceu com você? – Sam perguntou apavorada, já de joelhos ao seu lado.
– Oxigênio… – Murmurou.
– George!! – Sam chamou o segurança. – Geoooorge!!
O homem de aparência forte surgiu correndo na sala.
– Leva ela para cima.
George a tomou nos braços e subiu a passos afoitos para o quarto, onde a deixou na cama.
Sam tomou a máscara no chão e colocou no rosto dela, aumentou o oxigênio na válvula.
– Não está saindo, Sam, não está saindo nada. – Letícia subiu na cama, se aproximando do rosto de Theo.
– Acabou todo o oxigênio? É impossível! – Sam a fitava em pânico.
Letícia olhou pela parede e cabeceira, encontrando o problema.
– Ali, está tudo solto, ali, Sam, engate os tubos de volta.
– Já vi. – Sam voltou a prender tudo em seu devido lugar, e aos poucos Theo voltava a colocar ar nos pulmões.
– Respirando? – Sam perguntou, sentada na beirada da cama, ao seu lado, enquanto segurava sua mão.
Theo apenas ergueu o polegar e mostrou um leve sorriso.
– Alguém sabe que raios aconteceu aqui?
– Eu já encontrei ela caída naquele local. – Dani respondeu.
– Deve ter rolado da escada. – Letícia disse.
– Mas ela não estava embaixo da escada. – Dani rebateu.
Theo ergueu a mão, pedindo para falar.
– Você quer nos explicar o que aconteceu? – Sam perguntou.
– Eu caí da escada. – Theo disse por baixo da máscara.
– E porque te encontramos longe de lá?
– Eu tentei andar até a cozinha, mas caí de novo.
– Agora que você já voltou a respirar vamos para o hospital em San Paolo, ok? – Sam comunicou.
– Não, não, eu estou bem.
– Você caiu da escada, sabe-se lá o que machucou.
– Só o pé.
Sam foi até seus pés verificar.
– Acho que torci o pé direito. – Theo informou.
– Parece mesmo, mas pode ter quebrado.
– Não, não foi nada, estou ótima.
– Então quem sabe um hospital daqui da cidade mesmo? – Letícia sugeriu.
– Nada de hospital, não precisa.
– Só para examinar, não vão te internar.
– Me examine, você é médica.
– Eu não tenho um raio-x, Theodora. – Letícia rebateu.
– Depois você dá uma geral em mim, ok?
– Theo, o que você estava fazendo de muletas e sem máscara descendo as escadas? Que loucura foi essa? – Sam questionou.
– Estava com dificuldades para respirar, fui chamar você.
– Por que você soltou os tubos?
– Eu não soltei.
– Então o que aconteceu? Esses tubos não soltam sozinhos, tem travas.
Theo baixou as sobrancelhas, confusa.
– Eu não sei.
– Não lembra o que aconteceu?
– Não, eu só… Não sei, eu não conseguia respirar e desci as escadas correndo.
– E antes disso?
– Eu não lembro.
– Você teve um lapso? Não lembra de nada?
– Não, eu não lembro, desculpe, eu só me recordo da escada em diante. – Theo dizia com agitação.
– Ok, isso não importa. – Sam disse acariciando seus cabelos. – Foi só um grande susto, está tudo bem agora, fique tranquila.
– Eu vou te examinar daqui pouco, combinado? – Letícia disse.
– Tudo bem, eu oriento você. – Theo brincou.
Sam parou de afagar os cabelos ao perceber seus dedos sujos de sangue, olhando assustada para eles. Em seguida os exibiu em silêncio para Letícia, que também mudou seu semblante e a encarou com preocupação.
– Theo, está sentindo dor de cabeça? – Letícia perguntou calmamente.
– Estou, acabei de praticar mergulho em escada.
– Posso examinar?
– Pode.
Letícia debruçou-se sobre a amiga, e encontrou um corte no topo.
– Você lembra de ter batido a cabeça?
– Por que? – Theo levou os dedos à cabeça, procurando algum ferimento.
– Não, não coloque sua mão. – Sam segurou sua mão, a baixando. – Tem um corte aí.
– Tem? – Ignorou Sam e tentou colocar novamente a mão no corte.
– Tire sua mão, mas que coisa. – Sam segurou novamente.
– Eu só quero ver o tamanho do corte.
– É pequeno, uns três centímetros. – Letícia respondeu. – Mas é sinal que você bateu em algum lugar.
– No corrimão, eu bati a cabeça na queda, é uma besteira, Letícia pode suturar.
– Você acha mesmo que ainda escapará do hospital depois dessa descoberta? – Sam levantou da cama, foi até os armários pegar uma muda de roupa.
– Sam… Samizinha, vem cá conversar… – Theo pediu manhosa. – Amorzinho, vamos negociar, eu tenho uma contraproposta.
– Não tem Samizinha nem amorzinho, sua única escolha é se quer ir assim de pijama ou quer trocar de roupas.
– Meu Deus, que mulher difícil. – Theo fechou os olhos e suspirou chateada.
– Desculpe, eu concordo com ela, você tem que ver essa cabeça num hospital, ela já levou um tiro, lembra? – Letícia corroborou.
– Vai com roupa de dormir então? Eu já me troquei.
– Me dê uma camiseta limpa e uma calça jeans. – Bufou.
Foram ao hospital da cidade, onde passaram algumas longas horas de exames e espera. Theo foi liberada no final da tarde, já com a cabeça suturada e uma bota imobilizando seu pé direito.
Retornaram para casa com o sol baixando, encontrando Letícia, Daniela e Maritza jogando cartas no chão da sala, em cima de um largo tapete felpudo, Theo pulou da cadeira de rodas e juntou-se a elas.
– E então? Você vai sobreviver? – Letícia a questionou enquanto a colocava na posição para jogar.
– Estou gozando de ótima saúde. – Theo respondeu, rindo.
– E o pé?
– Vai ficar bom em uma semana.
– Não quer subir e deitar? – Sam perguntou, agachada ao seu lado.
– Quero ficar por aqui, se estiver cansada descanse um pouco, depois volte.
– Não quer nem tomar um banho?
– Mais tarde.
– Eu pensei em sairmos para jantar, o que acha?
Theo paralisou, ficou em silêncio por um instante se dando conta.
– É seu aniversário.
– É sim.
Theo a abraçou, a derrubando sobre o tapete, aproveitou para montar em sua cintura.
– Feliz aniversário!
– Por um momento achei que você queria me matar, mas obrigada. – Sam disse rindo.
Theo debruçou-se sobre ela e a beijou.
– A gente pode sair da sala para deixar vocês mais à vontade. – Letícia zombou quando finalizaram o beijo, minutos depois.
– Estamos apenas comemorando, não as convido para juntar-se a nós porque Sam não gosta dessas coisas.
– Fale por você. – Sam rebateu.
– Você gosta de sexo grupal? – Theo perguntou assustada.
– Não, claro que não, achei que você estava falando de outra coisa.
– Que outra coisa?
– Sei lá, algum jogo de cartas.
Theo riu.
– Essa é a minha garotinha, completando 24 anos hoje.
Perfídia: s.f. Ação ou qualidade do que é pérfido, enganador ou traiçoeiro; deslealdade, traição, infidelidade.
Cretina essa Isa, mas pudemos observar que em relação a Sam a Theo não da mole é poderosa….kkkkkkkkk Isa se livrou por enquanto de levar uns tapas da Sam.
Não estava enganada quando no capítulo anterior mencionei que essa Isadora me lembra o Mike… Totalmente sem escrúpulos e um nojo de ser humano. E olha, não concordo mais que a Sam não mereça a Theo… Ela está fazendo bastante por nossa menina, e está mais que provado que ela ama a Theo. Aliás, a Sam é tão ingênua que acaba sendo engraçado… ‘Jogo de Cartas’! Sério Sam?! kkkkkkkk Ansiosa para a Theo ter mais sorte, somente o que é ruim acontece com ela e não vejo a hora de tudo se a normalizar, se possível. rsrs
Louca para a Sam pegar essa ISadora e dar um “trato” nela bem no mal sentido mesmo! Socar a cara dela até umas horas e botar ela para correr de lá! Ô encosto