Capítulo 28 – Lampejo
– Isa? É você aqui do lado?
– Sim, vim tomar um pouco mais de sol, o dia está lindo, talvez amanhã não tenhamos essa sorte.
– Espero que a previsão esteja certa, até porque é o aniversário de Sam, eu planejei um luau.
– Sam sabe?
– Sabe, no início não gostou da ideia, mas agora já está de acordo.
– Vai fazer contra a vontade dela?
– Não é contra a vontade, ela já concordou.
– Você percebe o quanto ela se anula por sua causa e para fazer suas vontades?
– Que?
– Sam abriu mão da vida dela para fazer suas vontades, e para ser sua babá, tomar conta de você. Eu me pergunto, você não sente remorso de estar fazendo isso com ela?
Theo baixou as sobrancelhas um tanto cética do que estava ouvindo.
– Eu não obrigo Sam a nada.
– Ela é ingênua, ela tem pena de você e faz qualquer coisa para te deixar confortável, inclusive abrindo mão de ter uma personalidade e desejos próprios.
– Isa, você está falando um monte de merdas.
– Estou? Você está negligenciando uma vida normal a ela só porque a sua vida não é normal, o nome disso é egoísmo, você está anulando essa garota porque precisa de um capacho para tomar conta de você.
– Você está criando essas teorias baseada em que?
– Não são teorias, são testemunhos. Escute, eu entendo que você tenha limitações, pessoas com essas deficiências precisam se privar de algumas coisas, como por exemplo de ter uma vida sexual ativa, mas não leve outras pessoas nesse barco da morte com você, guarde seus problemas.
Theo ficava cada vez mais estarrecida com as colocações de Isadora.
– Sam reclamou com você? – Theo havia finalmente caído no jogo dela.
– Eu soube que a vida sexual de vocês é horrível, e é perceptível, basta conviver três dias com vocês.
– O que é perceptível?
– Sam está louca para ir para a cama comigo, mas continua resistindo e abrindo mão de seus próprios desejos e necessidades porque tem pena de você, não quer te magoar, vai que você tem algum piripaque.
– Você criou essa fantasia na sua cabeça.
Isadora riu abertamente, com deboche.
– Pobre criança cega, que não enxerga o que acontece debaixo do próprio nariz. Desde que cheguei aqui que ela não consegue tirar os olhos de mim, às vezes fico constrangida com os olhares demorados no meu corpo, e tenho certeza que as outras meninas já perceberam também, mas não comentam com você para que não surte ou tenha uma convulsão.
– É mentira. – Theo respondeu com nervosismo.
– Pergunte para suas amigas. Ou melhor, pergunte para Sam, quero ver se ela terá coragem de mentir descaradamente.
– Você está inventando essas coisas, ainda não sei o porquê.
– Theo, deixe de ser egoísta, Sam está desesperada para fazer sexo comigo, deixe ela livre, deixe que ela faça o que ela quiser, não a sufoque nesse relacionamento de mentirinha que vocês levam.
– As coisas não são assim…
– Oi, amor, vamos lá para cima tomar banho? – Sam chegou no deque.
Theo não respondeu, ainda estava atordoada.
– Você está bem? – Sam se aproximou da sua espreguiçadeira.
– Sim, acho que o sol não me fez bem.
– Eu percebi que ela não estava passando bem, vim aqui lhe fazer companhia até você chegar. – Isa disse.
– Acha que vai ter uma convulsão? – Sam perguntou preocupada.
– Não, eu vou ficar bem quando deitar lá em cima.
Após o banho, Theo deitou-se e ficou calada em sua cama, com um olhar vazio e fixo no chão. Algum tempo depois Sam voltou a chamando para almoçar, mas Theo recusou.
– Não se sente bem o suficiente para descer?
– Se importa se eu almoçar aqui? – Theo pediu.
– Não, claro que não, vou trazer seu almoço.
Sam retornou com uma bandeja cinco minutos depois, acomodando sobre o colo de Theo, na cama.
– Já está tudo cortado e separado.
– Obrigada. Você não vai almoçar?
– Já almocei. – Sam fazia manutenção nos tubos e cilindros.
– Agora?
– Uhum, comi rapidinho e trouxe seu almoço.
Theo ainda não havia comido, apenas mexia na comida a frente.
– Sam, isso não está certo.
– Eu trouxe alguma coisa que você não gosta? Posso ir lá buscar mais de alguma outra coisa.
– Não, não é isso. – Theo parecia incomodada. – Você não pode deixar de fazer alguma coisa por minha causa, nem comer rapidinho para me trazer o almoço.
Sam sentou na cama, de frente para ela, com semblante confuso.
– Theo, eu ainda não entendi do que você está reclamando, é do bife?
– Não estou reclamando, eu quero que você tenha uma vida normal. As outras garotas estão lá embaixo comendo sem pressa, você deveria estar fazendo o mesmo.
– Eu não quero almoçar de novo, estou de barriga cheia, eu juro, comi o suficiente.
– Ok, deixa para lá.
– Tente ser mais específica, o que está acontecendo?
– Nada, ideias desagradáveis na minha cabeça. Desculpe perturbá-la, esqueça. – Deu um suspiro e iniciou sua refeição.
Sam ficou algum tempo sentada ali, pensativa.
– Foi a Isadora que te deixou assim?
– Não, eu já pedi, esquece isso.
– Ok… – Sam não estava convencida de que não era nada, mas preferiu deixá-la comer em paz.
Theo finalizou a refeição e ergueu a bandeja, a colocando do seu lado.
– Posso tirar daqui? – Sam perguntou.
– Pode sim, depois eu levo para a cozinha na cadeira de rodas.
Sam colocou a bandeja em cima de uma cômoda, e voltou a sentar na cama, agora mais próxima de Theo.
– Você tem planos para essa tarde? – Sam indagou.
– Dormir.
– Pretende passar a tarde desse dia lindo de sol na cama?
– Pretendo.
– Não senhora. – Sam levantou e trouxe as muletas para o lado da cama.
– Não o que?
– Aqui estão suas muletas, nós duas vamos lá para o deque, eu vou ler para você, e se você acabar dormindo, tudo bem.
Theo não respondeu de imediato, analisou o pedido que se assemelhava com uma ordem. Destampou-se, jogando a coberta de lado, e sentou na lateral da cama.
– Você lê muito devagar.
– Eram contos de terror, a leitura precisa de mistério.
– Então leia outro gênero hoje.
– Vamos descer, lá você escolhe.
Pouco tempo depois ambas já estavam deitadas numa espreguiçadeira no deque, abrigadas do sol. A temperatura havia caído um pouco, o calor estava indo embora.
– Preferia ter ficado lá em cima? – Sam perguntou um tempo depois.
– Não, aqui está gostoso. – Theo ajeitou-se sobre ela.
– É porque sou gostosa. – Sam brincou.
Theo riu abertamente.
– Eu sempre soube disso.
Quando Sam via Theo finalmente relaxando e abrindo um sorriso, sentia como se o sol voltasse a surgir entre as tempestades.
– Que mentira.
– Eu peguei a mais gostosa do quartel.
– Como você disse certa vez? Que você roubou a mulher do major, lembra?
– Roubei mesmo, não me arrependo de nada. Roubaria de novo. Roubaria mais cedo, inclusive.
Foi a vez de Sam rir.
– Que nada, você estava esperando que eu desse o primeiro passo.
– Mas depois que você veio para o meu time, eu deveria ter dado logo o bote. Mas não, fiquei cheia de dedos, respeitando seu noivado. Deveria era ter jogado seu comunicador fora e fugido com você para bem longe do major.
– Você agiu dentro do tempo certo, se fosse rápida demais teria me assustado e eu que teria fugido.
– Depois de provar do outro lado do arco-íris? Duvido.
– Que pretensão, eu poderia estar apenas com minha sexualidade confusa.
– Sam, dá para perceber o quanto você gosta disso a quilômetros de distância.
– Eu gosto disso tudo com você, a culpa é sua, fui corrompida.
– Antes tarde do que nunca, não é?
– Serei eternamente grata por ter me colocado nesse caminho pecaminoso.
– Amém.
Sam lia uma ficção científica de robôs para Theo, que depois de algum tempo ajeitou-se, aconchegando-se ao seu lado, fechando os olhos. Não demorou para que Sam percebesse que ela havia adormecido, interrompendo a leitura.
Por um longo momento a soldado esqueceu dos problemas que a rodeavam, provou plenamente do momento de paz que a invadia. Estava deitada confortavelmente num pequeno pedaço de paraíso, tendo como companhia o mar, uma brisa amena, um livro, e a mulher que amava adormecida junto ao seu corpo. Era um daqueles momentos de se guardar para reviver na memória tantas outras vezes, principalmente após analisar a trajetória do caminho que a levou até ali. Sentiu-se afortunada, sentiu-se amada, sentiu a efemeridade de um momento feliz, e descobriu onde esse sentimento se escondia.
***
Após o jantar, as seis garotas passaram algum tempo do lado de fora, num local do deque onde havia redes e um grande banco, formando uma espécie de varanda. Os assuntos eram leves, bebiam vinho descontraidamente, Dani contava sobre as compras que havia feito a tarde, para a comemoração do aniversário de Sam, um luau no dia seguinte.
As onze da noite o alarme no comunicador de Sam tocou, avisando que era hora de Theo tomar alguns remédios. Resolveram subir juntas e não mais retornar, Theo estava com sono.
– Já vai? A noite nem começou ainda, Theo. – Isadora espetou.
– Depende, a minha noite ou a sua? – Theo ergueu-se nas muletas.
– Bom, a minha ainda terá algumas horas de vinho pela frente, apenas isso. – Letícia brincou, erguendo uma garrafa.
– Por que não saímos? Vamos dançar um pouco, estão parecendo velhas doentes. – Isa disse.
– Eu passo – Dani respondeu.
– Nós vamos subir para dormir, obrigada pelo convite. – Sam respondeu polidamente.
– E então, Maritza? – Isadora a questionou.
– Ãhn, não tenho planos.
– Então me acompanhe! Vamos pegar uma festa na vila, que acha?
Maritza olhou para Sam, indecisa.
– Ritz, a vida é sua, se tiver a fim vá se divertir um pouco, é bom dar uma saída. – Sam disse.
– Acho que vou. – Maritza animou-se.
Sam deu seu último gole de vinho, largando o copo uma mesinha. Pousou a mão no ombro de Theo, e despediu-se, dando boa noite.
O casal chegou à sua suíte, Sam ministrou os remédios à namorada, por fim a abraçou pela cintura, lhe dando um beijo rápido.
– Vou tomar um banho, precisa de ajuda com algo? – Sam ofereceu-se.
– Não. E então, gostou do vinho que escolhi? – Theo preparava a cama para deitar.
– É ótimo, só me doeu o coração quando Letícia disse o valor dele. – Sam respondeu já dentro do banheiro, enquanto tirava a roupa.
– Me doeu o coração quando me dei conta que não posso beber. – Theo respondeu, rindo.
Sam saiu do banho minutos depois, apagando as luzes e deitando ao lado de Theo.
– A temperatura caiu, lá se vai o pequeno verão de agosto. – Sam comentou.
– Podemos levar cobertores para o luau. – Theo brincou.
– Ficarei próxima da fogueira. – Sam terminou de se ajeitar na cama e apagou a última luz, sobre a cabeceira.
– É uma boa tática, defumar-se.
– Boa noite, amor.
– Boa noite, Sam.
– Eu escovei os dentes, pode me dar um beijo de boa noite sem receio, prometo que não sentirá o gosto do vinho de dois mil dólares.
Theo sorriu e ergueu-se sobre Sam, lhe dando um beijo rápido nos lábios.
– Boa noite, bebedora de vinho. – Theo disse ainda sobre ela.
– Boa noite, minha cara abstêmia.
Sam roubou outro beijo rápido, assustando Theo. Subiu a mão até o rosto de Sam, encontrando os lábios, e a beijou demoradamente.
– Não era beijo de boa noite? – Sam brincou.
– Depende… – Theo beijou o canto de sua boca. – Você quer uma boa noite, ou uma ótima noite?
– E qual a diferença?
Theo lhe deu outro beijo sem pressa.
– Na boa, nós vamos dormir agora. Na ótima, não dormiremos tão cedo. – Theo sussurrou com os lábios encostados na orelha de Sam.
– Eu não estou com o menor sono. – Sam sorriu com malícia, e girou para cima de Theo, mergulhando num beijo inflamado.
Sam acendia em milésimos de segundos, Theo precisava de alguns minutos, e Sam sabia disso, sabia também como encurtar esse caminho.
Após subir despretensiosamente a camiseta de Theo, sem cessar o beijo, chegou o momento de mergulhar em outro lugar, em seus seios, os pontos estratégicos que traziam os arrepios e os suspiros fortes.
Agora a cama estava igualmente inflamada, apenas o sentir era permitido. Levava algum tempo para Theo desligar-se do mundo ao redor, dos problemas, das limitações, mas ela dividia a cama com alguém que aprendera a observar. O método ação e reação já não era exclusividade de Theo e sua falta de visão, Sam havia assimilado os dados sensíveis e invisíveis, a árdua luta para deixá-la confortável estava sendo vitoriosa.
Algum tempo depois, mais uma batalha ganha, Sam já subia lentamente pelo corpo nu e espasmódico de Theo. Entre um beijo e outro em sua pele, sorria satisfeita com a visão de Theo ainda de olhos fechados, respirando forte.
Ao chegar em seu pescoço, Theo abriu os olhos e deitou seus dedos entre as mechas de cabelo de Sam, a trouxe para um beijo.
– Sam, você nasceu para isso. – Theo disse séria e ainda ofegante, segurando seu rosto com ambas as mãos.
– Não, é só uma fase. – Sam respondeu rindo.
– Então vou aproveitar ao máximo essa fase, deve ser sua fase de ouro. – Theo sorriu também, e abraçou com seus braços coloridos.
Na hora seguinte Theo retribuiu. Três vezes.
Depois de toda ação, o cansaço e o sono vieram, e Sam adormeceu, com a cabeça sobre o ombro de Theo. Quando as respirações retomavam o ritmo e a adrenalina ia embora, os monstros voltavam a invadir a mente da jovem herdeira, que não conseguia dormir.
Afagava carinhosamente os cabelos da namorada adormecida e babona, enquanto a conversa com Isadora logo cedo populava seus pensamentos. Era visível, até mesmo para Theo que não enxergava, que Sam estava em outro ritmo, repleta de energia sexual e fome de viver. Era difícil processar todas as informações, seu cérebro falhava no meio da linha de raciocínio, estava incomodada.
Theo enxugou a baba em seu ombro e no rosto de Sam, a tirou cuidadosamente de cima de seu braço, a acordando de leve.
– Ãhn?
– Continue dormindo, vou lá fazer companhia para Dani e Lê no deque.
– Quer que eu te leve?
– Não, durma. – Beijou sua cabeça e saiu da cama.
Tateou a cama procurando suas roupas, vestiu-se e desceu as escadas de mármore branco cuidadosamente, de muletas, degrau por degrau. Esquecera que havia agora um elevador ao lado.
– Aceitam companhia? – Anunciou sua presença para o casal, que continuava com seus copos e numa conversa lenta.
– Claro, venha aqui.
Letícia, que estava num banco largo cheio de almofadas, levantou-se e trouxe Theo pela mão, sentou recostada na lateral do banco, e deitou Theo em seu colo, a abraçando por trás. Dani estava se balançando lentamente na rede em frente.
– Não está com frio só com essa camiseta curta, Theo? – Dani perguntou.
– Acho que sim, esqueci que aqui fora esfriou. – Disse encolhida.
Dani colocou uma manta clara sobre as duas, Letícia esfregou os braços de Theo.
– Agora está perfeito.
– O que faz aqui, minha fugitiva? – Letícia deu um beijo carinhoso em seu rosto.
– Vim espairecer com vocês.
– Brigaram?
– Não, pelo contrário.
– Qual o contrário de brigar?
– O que você acha que é?
– Ah, entendi. – Letícia sorriu.
– Sam está dormindo?
– Está, mas eu não consigo dormir.
– Preocupada com o luau? Eu já cuidei de tudo. – Daniela disse.
– Não… Vocês me responderiam algo estranho se eu perguntasse?
– Claro, vindo de você não estranho nada. – Letícia rebateu.
– Sam parece a fim da Isadora?
– A Samantha que está lá na sua cama agora? Claro que não. – Letícia respondeu.
– Mas ela fica olhando para a Isadora, não fica? Com segundas intenções.
Letícia apressou-se em erguer a mão e gesticular negativamente para Daniela, para que ela não falasse nada.
– Acho que ela olha tanto quanto a gente, a Isadora chama a atenção, mas nada além disso, ninguém tem segundas intenções, nem Sam parece ter.
– A Isa é uma encrenca, ninguém aqui é maluco. – Dani falou rindo.
– Sam te falou alguma coisa? – Letícia perguntou cheia de dedos.
– Não. – Theo parecia reflexiva, com o olhar perdido.
– Então o que te incomoda?
– Isa deve ter falado alguma besteira, não é? – Daniela disse, já conhecendo a amiga.
– Ela me disse que Sam não tira os olhos dela.
– Isadora estava provocando você, não caia nessa. – Letícia protestou.
– Quer mais, Lê? – Dani ofereceu vinho.
– Quero sim. – Estendeu seu copo para a namorada.
– Vocês se recordam quando estavam descobrindo sua sexualidade, quando se envolveram com alguém do mesmo sexo pela primeira vez? – Theo perguntou.
– Sim, onde você quer chegar?
– Quando vocês se descobriram, qual foi a primeira pessoa com quem se relacionaram?
– Eu namorei uma amiga do 9º ano, dois meses depois ela me trocou por um amigo nosso, achei que ia morrer, parecia o fim do mundo. – Letícia contou, rindo.
– Comigo foi parecido, mas foi com uma professora do segundo ano da faculdade de Design. Só que eu que dei o fora nela, não que eu também não tenha sofrido, mas… – Dani disse.
– Em algum momento vocês acharam que seria para sempre?
– Claro, eu já tinha escolhido os nomes dos quatro filhos que teríamos, tinha certeza que ia casar com aquela menina. – Letícia disse.
– Confesso que também tinha certeza que nos casaríamos no dia da formatura… – Dani riu.
– Conseguem imaginar casadas hoje em dia com essas pessoas? – Theo continuou o questionamento.
– Deus me livre! – Dani respondeu.
– Ah, ok, eu acho que estou entendendo onde você quer chegar. – Letícia disse agora com a voz séria.
– Minha primeira namorada provavelmente vocês sabem que foi, porque o mundo todo viu nossas fotos íntimas. – Theo ia dizendo. – Eu namorei alguns meses com a Janet, estava apaixonada, achava que seria para sempre, e hoje em dia não consigo nem olhar para ela, aquilo foi apenas um lampejo.
– Theo, você é muito mais que a primeira namoradinha lésbica da Sam, não compare.
– Ela se descobriu ao meu lado, mas ela tem muito o que experimentar ainda. Sam vai conhecer várias outras camas, provavelmente ficará com outros homens também, e vai se apaixonar por tantas outras pessoas, é assim que a vida segue. – Theo dizia com tristeza.
– Por que não deixa o destino se encarregar disso e aproveita o agora? Sam quer estar com você, ela deixa isso bem claro.
– E não significa que Sam está apaixonada pela Isa só porque ela a come com os olhos. – Dani disse.
– Daniela! – Letícia a repreendeu.
– Desculpe, não foi isso que eu quis dizer, ela não faz isso, ok? – Daniela tentou consertar.
– Eu já desconfiava, Dani, relaxa. – Theo respondeu.
– Quer vinho? – Daniela estendeu a garrafa.
– Eu não posso beber, mas obrigada.
– Talvez Sam fique com você por alguns anos, por algumas décadas, ninguém sabe o que pode surgir. Inclusive você pode se apaixonar por outra pessoa e abandoná-la. – Letícia disse.
Theo ajeitou-se no colo confortável de Letícia, virando de lado.
– É…
– Como está a vida sexual de vocês? – Lê perguntou.
– Satisfatória quando tem.
– E como foi hoje?
– Foi ótimo, meu braço está todo dolorido, ela precisa de um batalhão para dar conta.
– Já sei o que dar de presente para ela de aniversário, vou a uma sexshop amanhã cedo. – Letícia brincou.
– Bem que eu queria ter encontrado minha caixa de brinquedos, mas meu pai deve ter jogado fora.
– Já procurou na garagem da última cada de visitas? Tem coisas suas lá. – Letícia disse.
– Tem?
– Sam disse que tem algumas tranqueiras suas, ela achou meus brincos de pérola lá.
– Aqueles que você me deu?
– Na-na-ni-na-não, eu te emprestei. Lembra o que eu disse quando terminamos? Pode ficar com todos os brinquedos sexuais que compramos juntas, mas os brincos eu quero de volta.
– Agora eu lembro. – Theo deu um sorrisinho.
– Theo, acho que você deveria trocar sua mão mecânica por um vibrador. – Dani disse, arrancando gargalhadas de todas.
Isadora e Maritza apareceram no deque, alegres e alcoolicamente extrovertidas.
– Só viemos dar boa noite. – Maritza disse, segurando os sapatos numa mão.
– E dizer que vocês perderam uma festa maravilhosa. – Isadora continuou.
– Ok, nós vamos na próxima, vão dormir agora. – Letícia disse.
As duas garotas subiram conversando em voz alta, fazendo uma bagunça.
– Hey, vocês vão acordar a Sam! – Theo recriminou.
– Não tem como baixar o volume da Isadora quando ela bebe, esqueça. – Dani disse.
– Estou desenvolvendo sentimentos não muito nobres por sua amiga. – Theo resmungou.
– Nunca mais a convidarei para sair com a gente, prometo. – Daniela comentou.
As três ficaram mais algum tempo na varanda, Letícia e Daniela já não bebiam, o sono ia chegando para todas.
Letícia pegou o comunicador e mandou uma mensagem para Daniela, que leu prontamente.
“Quer ver como faço ela dormir em alguns segundos?”
“Como?” – Dani respondeu.
– Se amanhã chover a gente faz uma fogueira dentro de casa. – Theo refletiu, continuava deitada de lado sobre Letícia, com os olhos pesados.
– Uma fogueira enorme, até o teto. – Dani respondeu.
Letícia começou a mexer carinhosamente na orelha dela, em um minuto Theo havia adormecido.
– Eu não te falei? – Letícia sussurrou para Daniela.
– Qual é o lance da orelha?
– Uma vez ela me contou que dormia mexendo na orelha quando era criança, já fiz isso várias vezes, sempre dá certo, ela capota.
As duas riram, Dani levantou-se com preguiça da rede, permanecendo sentada e bocejando.
– E agora como faz para levar para a cama?
– Agora a gente acorda. – Letícia sacudiu de leve seu ombro. – Psiu, vamos dormir?
– Hum?
– Vamos para nossos respectivos quartos?
– Ah, vamos. Eu apaguei, desculpe.
Letícia ajudou Theo a subir para seu quarto, com suas muletas desajeitadas, Dani também subiu, mas seguiu para o outro lado, para o quarto dela.
Ao abrir a porta do quarto, Letícia conduziu Theo até próximo da cama e parou abruptamente.
– Mas o que vocês pensam que estão fazendo?? – Letícia vociferou.
Isadora dormia abraçada por trás em Sam, ambas estavam sem roupas.
Lampejo: s.m.: 1. clarão ou brilho momentâneo. 2. faísca, centelha; cintilação. 3. Figurado: manifestação súbita e brilhante de inteligência; rasgo de sentimento que pode ser intenso mas é de curta duração.
Essa Isadora me lembra muito o Mike, ou seja, o entojo em pessoa. A Theo é tão dona de si, tão forte, não entendo como ela caiu na da Isadora, definitivamente não entendo. A última cena vai desestabilizar o casal daqui por diante? Só acho muito rápido uma ‘trepada’ entre as duas em questão de minutos, né! Acho que a Theo vai expulsar esse lixo de mulher com vários chutes por trás, eu acho. E olha, eu acredito muito na Sam inocente!!!
essa nojenta fez o que estou pensando? merece morrer porque a Theo vai cair nessa armadilha e a Sam que vai pagar o pato, espero que a isadora leve uma porradas da sam.
se a Sam traiu a theo, ela num merece mais perdão não, é theo num merece… a Sam só da mancada e logo com a Isa, que é a maior cara de pau, que coisa… as vezes da tanta vontade de dar uns murros na Sam, nem é por essa atitude, sei lá, acho que tô perdendo a fé na Sam, quando a gente pensa que amadureceu, lá vem bomba… mais, a historia e incrível, queria eu saber escrever o menos lista de compras… bjao…