Capítulo 22 – Destinesia

Capítulo 22 – Destinesia

 

– Meg, importa de fazer companhia para Theo? Eu perdi a noção de tempo, já anoiteceu, preciso ir. – Michelle, disse já de pé.

– Por que não fica para o jantar? – Theo convidou, estava deitada com certo cansaço.

– Aprecio o convite, mas já extrapolei em muito minha hora, e você parece exausta.

– Minha energia acaba rapidinho.

– Obrigada por me receber, nada mudou, eu continuo esquecendo do mundo quando estou ao seu lado, sua companhia sempre me faz bem.

– Terei sua companhia novamente? – Theo perguntou.

– Você gostaria?

– Sim, eu gosto de conversar com você, e da próxima vez te receberei num lugar melhor do que na cama do quarto.

– Se você tiver condições, pode me visitar também, não moro longe daqui.

– Você deve ter uma agenda bem cheia, senadora.

– Tenho, mas sempre terei espaço reservado para você, perdi você uma vez, não quero perder de novo.

– Então nos veremos em breve. – Theo estendeu os braços, a convidando para um abraço, que foi atendido demoradamente.

– Cuide-se, quero te ver ainda melhor da próxima vez.

– Quem sabe de pé.

– Você pode contar comigo para qualquer coisa, ok?

– Preciso que você ajude Sam com a invasão ao Circus.

– Eu ajudarei, prometo.

– Meg, você pode acompanhá-la?

Dois minutos depois, Meg retornou ao quarto, mas Theo a dispensou, preferindo ficar sozinha, e acabou adormecendo.

Acordou pouco depois, com um ruído no quarto, estava assustada e sentou-se rapidamente. Mexia a cabeça de um lado para outro, tentando enxergar.

– Marli?

– Não, sou eu. – Sam respondeu.

Theo correu a mão pela cama.

– Eu não estou na cama, estou na poltrona.

– Que cama? Estou na minha cama? – Theo franzia a testa em confusão, parecia totalmente perdida.

– Está sim.

– Michelle já foi… Eu desci?

– Ela já foi. Desceu de onde?

– Que quarto é esse? Eu já deveria ter descido, Marli vai me matar. – Theo saiu abruptamente da cama, caindo de joelhos.

– Hey, hey, você não vai a lugar algum. – Sam a amparou, e a colocou de volta na cama.

– Sam? – Theo perguntou ainda confusa.

– Sim, sou eu.

– Sam? A minha Sam?

– Sua Sam.

– Graças a Deus… – Theo a agarrou, a prendendo num abraço.

– Está tudo bem, você está na sua casa, na sua cama. – Sam sentou ao seu lado, afagando seu rosto.

– Fica um pouco.

– Fico sim. Achou que tinha acordado no Circus? – Sam perguntou, depois que Theo a soltou.

– Isso sempre acontece… – Theo suspirou tristemente, cobrindo os olhos com as mãos espalmadas.

– Você está bem?

– Ainda não. Posso deitar em você?

Sam a ajeitou em seu peito, lhe afagando carinhosamente.

– Mas Michelle esteve aqui hoje, ou sonhei?

– Esteve sim, a tarde inteira, e parte da noite também, parecia que nunca ia embora.

– Onde você estava?

– Aqui.

– Meg disse que você saiu à tarde.

– Fui resolver algumas coisas.

– Que coisas?

– Não banque a curiosa.

Silêncio.

– Quem é Marli? – Sam perguntou.

– A gerente do Circus. Por que?

– Você me chamou de Marli quando acordou.

– Ela nos acordava todos os dias, e achei que havia acordado lá, desculpe, eu acordei confusa.

– Era a mulher que cuidava de vocês? – Sam perguntou de mansinho, continuava afagando os cabelos de sua namorada na penumbra do quarto.

– Cuidava? – Theo deu um riso fungado. – Ela era nossa carrasca particular, a pessoa que estava lá para garantir que nossa vida fosse um inferno, ela conseguia piorar ainda mais nossos dias.

– O que ela fazia? Obedecia as ordens de Elias?

– É, era uma aprendiz de Elias. Marli parecia sentir prazer em nos ver mal, em nos privar das coisas, ela sentia um ódio gratuito de nós, acho que desejava nossa morte.

– Mas você a venceu, está viva e longe daquele lugar.

– Apenas eu. Tem umas doze lá ainda trabalhando, tomando surras no quarto branco, passando frio e fome, elas continuam no inferno enquanto eu estou no paraíso.

– Isso vai acabar semana que vem.

Theo ficou um instante pensativa.

– Quinta-feira, vocês devem ir na quinta, é o dia de folga de Marli.

– Mas você não gostaria que pegássemos Marli também? Fazer algo com ela?

– Ah, eu adoraria colocar minhas próprias nessa mulher, bater o suficiente para que ela possa sentir a dor de ter costelas perfurando o pulmão, deixá-la se retorcendo numa cama dura por dois dias cuspindo sangue de minuto em minuto enquanto tenta respirar, e depois obrigá-la a fazer sexo, nessas condições. – Theo falava com raiva, parou quando percebeu que estava falando mais do que o de costume sobre suas experiências no Circus, alterou o tom da voz após a rápida pausa, e voltou a falar. – É melhor na folga dela porque os seguranças assumem suas funções, deixando alguns postos de vigilância desprotegidos.

– Ok. – Sam voltou a afagar seus cabelos, silenciosamente. – É por isso que você tem problemas respiratórios, não é?

– É sim.

– Eu gostaria de poder ter uma conversinha a sós com essa Marli, mas você tem razão, quanto mais fraca a vigilância, melhor. Vou voltar meus esforços para capturar Elias, e dar a ele tudo que merece.

– O que você vai fazer com ele?

– Tenho algumas coisinhas em mente, mas prefiro não falar agora.

Silêncio.

– Vai matá-lo?

– Também.

***

O dia seguinte foi um típico domingo na piscina, Theo sentia-se melhor e estava radiante por conseguir andar sozinha dentro da água.

Além dos moradores da mansão, Letícia, Daniela, Claire e os filhos de doze e quinze anos de Meg também se divertiam. Sam e Claire não entraram na piscina, passaram boa parte da tarde bebendo drinques coloridos, e conversando nas espreguiçadeiras, principalmente sobre a Archer.

Sam havia abandonado o posto de mera observadora do grande grupo de biotecnologia, já fazia parte das reuniões do conselho de forma ativa, e passava as tardes no escritório de Claire trabalhando em conjunto com a conselheira minoritária, inclusive tomando decisões de baixo impacto. Alguns meses haviam se passado desde que Theo acordara do coma, e Sam esperava que Theo algum dia demonstrasse curiosidade ou interesse nos negócios da família, mas ela seguia apática com relação a Archer, sem paciência para ouvir as notícias que Sam trazia quase todos os dias do escritório.

Havia um acordo naquele dia ensolarado de descanso e lazer, nada de falar sobre a investida contra o Circus, que aconteceria em quatro dias. No dia seguinte se reuniriam no gabinete de Michelle, para delinear a invasão. O objetivo maior era resgatar as garotas em segurança, mas Sam também tinha uma fome de vingança contra Elias que a motivava ainda mais.

– Vamos lá, Sam! Pule na piscina! – Letícia a puxou pelo braço, sem resultados.

– Hoje não, estou bem aqui, sequinha e sem exibir meus atributos físicos.

– Não seja tímida, mostre sua perna ultra moderna e nos mate de inveja. – Theo juntou-se ao coro, de dentro da água.

– É justamente isso que não quero exibir. – Sam respondeu sem jeito.

– Você deve estar com um biquíni por baixo dessa roupa, vá lá, nos mostre seus atributos físicos. – Claire incentivou.

– Vocês podem por gentileza me deixar quieta aqui? Não tem nada para ver, circulem.

Desistiram de levar Sam para a piscina, e Claire voltou a falar, agora de forma confidente para Sam, ao seu lado.

– Theo não enxerga, mas ele deve ter gostado do que tocou, por isso a curiosidade de todos. – Claire deu um risinho.

– Não tem nada de mais, não acho que Theo tenha se importado com minha aparência.

– Ela viu você com as mãos?

– Basicamente.

– Então temos sorte por enxergar você de verdade, quem sabe um dia ela também tenha essa sorte.

– Eu que tenho sorte em enxergá-la. E em tê-la, tanta gente menos problemática no mundo, e ela me escolheu.

– Theo não vive mais sem você, seu mundo desabaria se ela te perdesse, ela não liga mais para nada, a única coisa que lhe importa é se você está por perto.

– Ela gosta da minha presença, mas não acho que seja de uma forma dependente, ela gosta da sensação de segurança da minha presença, porque não enxerga.

– Você acha que com o tempo ela pode ganhar confiança e se sentir segura sem você? Eu acho que não.

– Eu torço que sim, quero ver Theo cada vez mais independente.

– Eu também. – Claire virou mais um drinque colorido.

Quando o sol caiu, restava apenas o casal real na área da piscina, Sam retornava da porta, onde se despedira dos convidados, e Theo estava sentada na borda da piscina.

– Vamos entrar, pequena sereia? – Sam convidou, vinha a passos lentos em sua direção.

– Mais um mergulho. – Theo disse e pulou na piscina.

– Você realmente estava com saudades da piscina, hein? – Sam a fitava de braços cruzados.

– E saudades de andar, aqui eu posso ir de um lado para o outro.

– Não está cansada?

– Morta. E feliz.

Theo deu alguns passos para trás, recostando-se na parede de quartzo azul da piscina.

– Quer ajuda para sair?

– Quer ajuda para entrar? – Theo brincou.

– Eu não vou entrar.

– Estamos sozinhas, Sam. Venha.

– Não estou com roupas apropriadas.

– Entre de roupas, ou sem.

– Outro dia, prometo.

– Vem.

– Não quero.

– Ninguém vai ver sua perna, eu prometo fechar os olhos.

– Não.

– Vem, eu quero namorar um pouquinho com você.

– Aí dentro? Não, venha comigo, te dou um banho e te coloco na cama, e depois te dou todos os beijos que você quiser, numa cama quentinha e confortável.

– Quem disse que quero conforto? Eu quero você. – Theo disse maliciosamente.

Sam não respondeu, dirigiu-se até o final da piscina, e desceu os degraus metálicos, devagar, ainda vestida com uma calça leve e clara, e uma blusa idem, que se tornavam transparentes à medida que molhavam.

Theo ouviu o leve barulho das águas se movendo e andou na direção do ruído, com a mão estendida à frente.

– Aqui. – Sam tomou sua mão, e lhe roubou um beijo, a pegando de surpresa.

– Não queria entrar e já vem roubando beijo? – Theo disse com falsa revolta.

– Me dê logo meia dúzia de beijos para sairmos dessa piscina. – Sam disse com falsa rispidez.

– De jeito nenhum. – Theo começou a se afastar de costas, seguida por Sam, até tocar as costas na parede.

– Fim de linha, pequena sereia. – Sam a cercou, com os dois braços ao redor de sua cabeça, mãos postas na borda.

Theo estendeu as mãos e tateou Sam.

– Ainda vestida? – Disse e tirou a camisa dela.

– Vai tirar minha calça também?

– Tire você, não tenho fôlego suficiente.

Sam mergulhou para tirar sua calça, Theo aproveitou para sair de seu domínio, nadando devagar na direção da outra borda. Sam a alcançou rapidamente, a puxando pela cintura.

– É melhor não resistir, assim ninguém se machuca. – Sam brincou.

– Amor, não diga essas coisas. – Theo falou de forma séria, um gatilho havia se disparado.

Sam levou dois segundos para entender a situação, a fitando confusa.

– Ah, claro, desculpe. – A soltou.

Theo colocou as mãos espalmadas no ombro de Sam, a empurrando na direção da borda, a emparedando.

– Agora é você que está sob meu domínio, oficial.

– E o que pretende fazer? Me dar um caldo?

– Não, algo pior. – Estendeu a mão, pousando em seus lábios, e a beijou de forma intensa em seguida.

Sam aumentava a lascividade do beijo, mas mantinha os braços entrelaçando o pescoço de sua namorada, de forma respeitosa.

– Tire meu biquíni. – Theo pediu, sua respiração estava intensa.

– Tudo?

– Tudo.

Sam desatou o nó em suas costas, soltando a parte de cima do biquíni, o atirando para fora. Os seios nus foram um convite informal para que Sam os tivesse em sua boca e mãos, para deleite de Theo. Pouco tempo depois Sam subiu para um beijo com gosto de piscina.

– Tudo. – Theo a relembrou, Sam o fez sem hesitar.

Sam voltou a subir, recostando os lábios na orelha molhada de Theo, e com as mãos abertas e firmes em seus glúteos.

– Como veio ao mundo. – Sam murmurou num tom desejoso, voltando a eriçar todos os poros de Theo, como há muito não acontecia.

– E você?

– Veja com suas próprias mãos. – Sam afastou-se o suficiente para que Theo a tocasse, que abriu um sorrisinho malicioso ao abarcar suas mãos nos seios dela.

A água dissolvera mais que reservas, desmanchara sólidos bloqueios, como um torrão de açúcar submergido.

Algum tempo depois, Theo jazia em êxtase com seus braços coloridos ao redor do pescoço de uma Sam aliviada, seus dedos a abandonaram, arrancando o derradeiro suspiro de Theo.

– Vamos sair da água? – Theo convidou, ainda retomando o ritmo correto de sua respiração.

– Uhum, vou buscar seu roupão e cadeira.

– Não precisa, eu quero ir para a espreguiçadeira. Com você.

– Descansar?

– Essa é a última coisa que quero fazer agora.

Demorou, mas Sam entendeu as pretensões. A tirou da água e a conduziu para uma larga espreguiçadeira, novamente a tinha sob seus domínios, entre seus joelhos.

– Era isso que você queria? – Sam perguntou após um longo beijo, astutamente Theo roçava seu joelho levemente erguido.

– Não, eu vou deixar as coisas mais claras. – Theo girou para cima de Sam, sem agilidade, os braços fraquejavam o tempo todo, parecia usar sua última fagulha de energia.

– Onde você vai?

– Ainda lembra o caminho?

– Que caminho?

– Da viagem.

Oito minutos depois Theo subiu e largou seu corpo exausto sobre Sam, que ainda vibrava com leves espasmos.

– Sim, lembro muito bem dessa viagem. – Sam brincou, mas sem resposta.

Deu uma olhadela com atenção em Theo, que parecia dormir, com a boca entreaberta sobre seu peito.

– Theo? Você dormiu? Theo? – Sacudiu seu ombro.

Sem resposta, Sam olhou para os lados, verificando se realmente estavam totalmente sozinhas.

– Vamos lá, Theo, não é hora nem local para dormir.

E nada aconteceu.

– Ok, vamos dar um jeito. – Sam a largou na espreguiçadeira e juntou dois roupões que estavam atirados sobre as cadeiras. Enquanto a erguia e a vestia, ela acordou.

– O que aconteceu? – Theo perguntou sonolenta.

– Você apagou.

– Estou nua? – Tateou seu próprio peito.

– Estou te vestindo para subirmos.

– Subirmos?

– Para nosso quarto. – Sam terminava de vesti-la.

– Ah, estamos na piscina. – Se dava conta.

– Sim. Venha, a cadeira está aqui do lado.

Sam ajudou a erguê-la e sentar na cadeira, Theo parecia esgotada fisicamente.

– Você já tinha feito amor ao ar livre? – Theo perguntou com um sorrisinho sacana.

– Não. – Sam respondeu timidamente. – Feche seu roupão.

Atravessavam a sala quando foram interceptadas por Meg.

– Até agora brincando na piscina? Haja energia.

– Mas agora a minha bateria acabou. – Theo respondeu sorridente.

– E você cedeu aos apelos e entrou também? Que pena que não vi essa cena. – Meg se dirigiu a Sam.

– Entrei um pouquinho. – Sam respondeu, tentando se livrar logo da enfermeira.

– Para tirar Theo da água?

– Não.

– Ah, que inocência a minha. – Meg deu um risinho. – Bom, precisam de algo? Algum remédio?

– Não, não, vamos tomar um banho e jantar.

– Boa noite, Meg. – Theo despediu-se, e a dupla entrou no elevador.

– O que acabou de acontecer? Não entendi. – Theo perguntou, confusa.

– Ela viu seu roupão aberto.

– E o que tem?

– Você está sem biquíni, ela deduziu o que fizemos.

– Ah. – Theo riu. – Nunca gostei de roupões por causa disso.

***

Na segunda-feira houve uma reunião no gabinete de Michelle que ocupou toda a tarde e parte da noite. Sam, Maritza, dois soldados amigos de quartel da Zona Morta, três seguranças cedidos pela senadora, e George, um segurança particular de Theo, esta era a equipe que tentaria acabar com aquela casa de exploração do sofrimento alheio, uma de tantas, mas tão significativa para os envolvidos.

Voaram para Winnipeg na quarta-feira pela manhã, se estabelecendo num hotel de luxo moderado, onde outros quartos haviam sido reservados para receber as reféns.

À noite, após uma última reunião no quarto, Sam ligou para Theo ao ficar sozinha em seus aposentos.

– Encontramos o Circus, Michelle confirmou, enviei imagens a ela. – Sam disse contente.

– Como parece?

– Parece um prédio comercial velho, cinza e abandonado, no final de um labirinto de ruelas. Sabe o quanto você correu naquela noite? Seis quilômetros, no mínimo.

– Eu não fazia ideia.

– Não, não tinha como você ter alguma ideia.

– Já está tudo acertado? – Theo perguntou com um leve tom apreensivo.

– Sim, tivemos uma última conversa, está tudo bem planejado, não se preocupe, o pelotão é de primeira. – Brincou.

– Apenas se mantenha viva, ok?

– Sexta pela manhã estarei por aí, e com suas amigas.

– Já está tudo certo no abrigo da instituição, dei um pulo lá hoje à tarde.

– Você foi lá sozinha?

– Não, com todas as minhas babás, e Claire, sua babá.

– Claire não é minha babá.

– Ela não sabe disfarçar, toca no seu nome de cinco em cinco minutos.

– É por causa da Archer, ela é viciada em trabalho.

– Tudo bem, não é sua culpa esse seu charme europeu borg, eu sei que é irresistível, eu também não resisti, na primeira grosseria me apaixonei.

– Achei que tinha sido amor à primeira vista. – Sam debochou.

– Viu? Esse é seu charme, me apaixonei de novo.

– Vá dormir, pirralha.

– Eu sou mais velha que você.

– Não é não, já esqueceu?

– Eu sou seis meses mais velha que você.

– Não, você é quase um ano mais nova do que eu.

– Do que você está falando? – Theo perguntou perdida.

– 980417

– A senha.

– Isso é mais que uma senha, Theo, vamos lá, puxe da memória.

Silêncio.

– Theo?

– Eu havia esquecido essa história da clonagem.

– Imaginei que sim, mas não é algo relevante, não muda nada na sua vida, na verdade você apenas ganhou mais uma data para comemorar o aniversário.

– Depois quero conversar sobre isso com você, mas agora vou apenas desejar que tudo corra bem amanhã, mantenha-se tranquila, e durma cedo.

– Sim, senhorita. Algo mais?

– Que horas vão invadir?

– As sete da manhã, nesse horário a casa está com apenas metade dos seguranças, e as meninas estarão dormindo, melhor todas num cômodo só.

– Pela última vez nesse lugar.

– Logo você poderá matar a saudade e estar com elas.

– Mal posso esperar.

– Saudade de alguma em especial?

– Pauline, quero saber como está essa marrenta.

– Aquela que te tratava mal e era apaixonada por você?

– Ela confundiu algumas coisas, mas se tornou minha melhor amiga depois que Sierra morreu.

– Sua amiga que morreu espancada, não é? Eu adoraria pegar o cara que fez essa crueldade.

– Esqueça isso.

– Ok, vou focar no que vim fazer, não vejo a hora de conversar com Elias, a sós.

– Ele é traiçoeiro, tenha cuidado, certifique-se de que ele não pode lhe fazer mal.

– Estarei alerta como um morcego. – Sam bocejou. – Vamos dormir?

– Irei em breve, vou descer para fazer um pouco de companhia a John, depois vou para o quarto hospital.

– Eu orientei Molly a te dar algo para que você durma melhor.

– Você orientou Molly a me dar um sossega leão, eu recusei.

– É porque você está ansiosa, tome algo.

– Mais tarde tomarei um sossega gatinho, combinado? Não gosto de ser sedada.

– Um sossega gatinha. – Sam riu.

– E você vai tomar o que? Um sossega soldadinho?

– Me respeite, criança.

– Eu poderia ter dito algo mais malcriado.

***

Faltando cinco minutos para as sete da manhã daquela quinta-feira, o esquadrão de oito pessoas observava ao longe os fundos do Circus, um silêncio carregado de apreensão preenchia o cômodo de uma casa parcialmente demolida.

– Alguma última recomendação? – Perguntou um dos homens de Michelle, ao olhar para o relógio.

– Deixem Elias para mim. – Sam respondeu de forma seca, e ergueu-se. Usava um jeans preto e blusa vermelha escura, com um colete a prova de balas negro.

A invasão foi liderada pelos dois companheiros de exército europeu, que abordavam e neutralizavam os seguranças. Sam e Maritza seguiam fazendo a cobertura, queriam correr menos riscos.

Chegaram ao salão/bar onde havia um palco cheio de pequenas luzes ao redor, mesas e cadeiras desarrumadas após mais uma noite de práticas perversas naquele antro. Um havia ficado tomando conta das escadas, um também na entrada nos fundos, outros dois foram checar o corredor e os quartos de trabalho. Três seguranças da casa foram algemados no poste de pole dance do palco, outro dois foram mortos.

Sam, Maritza e dois homens subiram para o andar administrativo, onde ficava a sala de Elias. Foram surpreendidos por um segurança que abriu fogo assim que foi avistado, atingindo um dos homens da equipe de Sam no quadril.

– Cuidado, Sam!

Maritza empurrou Sam para fora da mira do segurança, e atirou várias vezes em sua direção, o eliminando. O homem ferido no quadril estava sentado no chão, com a mão sobre o ferimento, Sam aproximou-se ainda com o coração disparado por conta da troca de tiros.

– Vai ficar tudo bem, vamos tirar você daqui. – Sam ajoelhou-se ao lado do homem, o tranquilizando.

– Invadam o escritório antes que ele fuja! – Ele respondeu com um semblante de dor.

Sam levantou-se rapidamente indo na direção da porta, sendo impedido pelo outro homem que as acompanhava.

– Nada feito, você segue atrás de mim. – Ele vociferou, e estourou a porta com um chute violento.

– Ninguém se mexe! – Maritza bradou ao invadir, os três já estavam dentro da estranha sala com cheiro de perfume doce e decoração extravagante.

– Procurem em todos os buracos! – Sam ordenou, mas ninguém foi encontrado, para decepção de Sam.

– Não tem ninguém aqui, Sam, ele deve ter fugido. – Maritza percebeu o desalento de Sam, e a consolou.

– Maldito. – Sam bravejou cerrando o punho com força, e batendo contra a mesa decorada por grandes dados a sua frente.

Tiros foram ouvidos no andar de baixo, fazendo o trio seguir para lá imediatamente. Deram de cara com um tiroteio entre um segurança da casa e dois dos seus soldados, escondiam-se atrás de mesas e do balcão de bebidas.

Maritza tomou a frente atirando contra o elemento, estava desprotegida e levou um tiro no alto do braço direito, Sam que vinha logo atrás acertou um tiro na fronte do segurança que continuava atirando detrás do balcão, o derrubando em definitivo.

– Ritz, foi de raspão, ok? Foi de raspão, está tudo bem. – Sam a deitou no chão, verificando o ferimento no braço, que havia sido certeiro, no meio do braço.

– Raspão porra nenhuma! – Maritza se contorcia com a mão apertando o braço ferido.

– Vocês irão para o hospital aqui perto, todo mundo vai ficar bem, você vai ter uma bela cicatriz de combate para mostrar para os outros. – Sam dizia com seu corpo encobrindo a visão de Maritza, abaixada ao seu lado.

– Isso dói bastante, eu não quero perder o braço. – Maritza dizia nervosamente, arfando.

– Ninguém vai perder nada, eu vou cuidar de você, aguente mais um pouco, eu vou procurar as garotas.

– Temos que resgatar as meninas logo, e talvez tenhamos mais ratos traiçoeiros por aí. – Um dos homens alertou.

– Eu sei. – Sam recarregou sua pistola. – Vá buscar seu colega ferido lá em cima. E George, você vem comigo, vamos descer para o quarto delas. – Sam puxou seu segurança particular pelo braço.

 

Destinesia: S.F. Quando chegamos a um local onde queríamos ir e nos esquecemos do que íamos lá fazer.

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  1. ‘…na primeira grosseria me apaixonei.’ Essa é a nossa Theo! Amo essa menina, de todas as histórias que já li ela é disparada a minha preferida no mundo. rsrs É tão delicioso acompanhar os diálogos delas, os assuntos cada vez mais tranquilos e a atmosfera que elas estão trazendo de paz. Adoro! Só fico pensando quem será a pessoa que não é bem aquilo que aparenta ser. Quem será? E estou agora angustiada com essa invasão. Se elas não conseguirem capturar o Elias, tenho a certeza de que ele vai atrás da Theo para se vingar. Medo total! E meu, que elas consigam salvar as meninas. Que todas possam voltar a ter uma vida digna. Torcendo exageradamente!

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