Capítulo 18 – Eleuteromania

Capítulo 18 – Eleuteromania

 

Por volta do meio-dia, Sam e Maritza negociavam o aluguel de um helicóptero num aeroclube sucateado.

– Ok, você disse 1800 por três horas, e se eu te pagasse o dobro, poderia ignorar essa coisa do brevê? – Sam tentava.

– Não, moça. Só posso alugar máquina para quem tem brevê.

– Eu fui co-piloto de helicóptero por vários anos, tenho centenas de horas. – Maritza tentava.

– E eu dirigi um ultracóptero recentemente, decolei e pousei em segurança, correu tudo na maior tranquilidade, nós duas temos grande experiência na pilotagem.

O homem coçou a cabeça, as medindo.

– Não posso.

– O triplo. – Sam deu mais uma cartada.

– O triplo e não se fala mais nisso.

– O triplo? – Ele voltou a coçar a cabeça.

– Sim! Quanto é o triplo, Sam?

– 5400. 5400 agora, na sua conta. – Sam barganhava.

– Tá bom, nas não espalhem. Vou preparar o helicóptero para vocês, com combustível suficiente para irem até o Alasca e voltarem em segurança.

– Ótimo. – Sam disse.

– Coloque o máximo de combustível que puder, iremos rodar bastante pelo Alasca. – Maritza completou.

Instantes depois, começavam a sobrevoar a parte americana da Zona Morta, com Maritza no controle dos manches, era um velho helicóptero vermelho, sucata dos bombeiros.

– É verdade que você pilotou um ultracóptero recentemente? – Maritza perguntou, a viagem até o México seria de cinco horas.

– É verdade, exceto pela parte de pousar em segurança. Nós nos chocamos contra uma ribanceira.

– Que bom que eu estou pilotando. – Maritza deu uma olhadela em Sam, ambas estavam preocupadas em não serem descobertas ou abatidas.

– Temos combustível para chegar no México, certo?

– Temos sim. Por que vamos para essa cidade de nome engraçado?

– Porque Rosarito pertence ao Grupo Archer, será mais fácil pedir que nos resgatem lá.

– Grupo Archer? Aquela empresa farmacêutica? O que tem a ver?

– Pertence à Theo.

Maritza olhou arregalada para Sam, que ajeitava seus fones e microfone.

– Sam, você ganhou na loteria.

– Você não está voando alto demais? – Sam olhava com preocupação as telas a frente.

– Não, só estou um pouco acima da faixa dos helicópteros.

– Não nos derrube, por favor, eu tenho um monte de coisas para fazer ainda, não posso morrer agora, nem levei Theo à praia.

Quase cinco horas depois, já em território mexicano, iniciavam a descida, era possível avistar a cidade incrivelmente colorida de Rosarito.

– Tem um helicóptero nos seguindo. – Maritza disse apavorada, ao se dar conta.

– Merda, está na nossa cola.

– Eles vão lançar mísseis em nós, Sam!

– Ignore e desça.

– Seremos bombardeadas, Santo Deus!

– Ore, ignore, e desça.

– Eu só tenho 28 anos, eu nem casei, nunca plantei uma árvore, não tive filhos, eu nem fiz aquela…

– Ritz! Manobre para pousar em cima da delegacia, ali aquele prédio azul e verde, está vendo?

– Delegacia??

– É o lugar mais seguro para nós. Pouse ali!

Com dificuldade e transtorno, o helicóptero pousou no teto da delegacia, derrubando algumas torres e com a traseira empinada.

– Corra para dentro! – Sam corria arrastando Maritza pelas algemas, desceram uma escada dando de cara com alguns policiais.

– Eu conheço você. – Disse um simpático guarda.

– Olá, oficial Mardillo, tudo bom? – Sam tentou parecer normal, mas ambas estavam ofegantes, suadas, e nervosas, além de trajarem roupas com pequenos rasgos.

– Você! É a moça da cafeteria! Você me fez de refém, depois sua amiga cega e louca me atropelou!

– Essa época da nossa vida é um tanto nebulosa, eu não me recordo direito, usávamos drogas pesadas. Onde é a saída?

– Eu quebrei meu pé, sabia? Coloquei oito pinos.

– Eu sinto muito, mandarei bombons e um cartão para você depois, mas estamos com pressa, é por ali a saída, certo?

– Tudo bem, estou de bom humor hoje, já te perdoei. A saída é por ali, mas tem certeza que não quer dar uma volta por nossas estradas azuis? Estão ainda mais bonitas essa época do ano!

– Outra hora.

Sam novamente arrastou Maritza para fora do prédio, não via mais o helicóptero que as perseguia.

– E agora?

– Espera. – Sam olhou ao redor, com as mãos na cintura. – Ali.

Entraram numa galeria de lojas, Sam comprou um comunicador, foram até o banheiro, onde fez uma ligação.

– Claire? Preciso de ajuda.

– Sam, onde você está? Estão todos preocupados com vocês.

– Estamos no México, em Rosarito, preciso que mande um helicóptero nos buscar.

– Vocês não estavam na Zona Morta? Como chegaram em Rosarito?

– É uma longa história, você tem como providenciar? Se não for possível vou alugar um carro e dirigir até aí.

– Vocês estão bem?

– Estamos, passamos por alguns dias de aventura, mas tudo que eu quero agora é chegar em casa.

– Ok, ãhn, vou mandar então. Me passe sua localização.

– Enviada.

– São umas dez horas até o México, vocês vão aguardar aí? Depois mais dez horas para voltar.

– É o jeito, não podemos embarcar em nenhum aeroporto.

– Não acha melhor mandar um jato nosso?

– Jato?

– Temos dois aqui em San Paolo, posso mandar um, temos uma pista de pouso na cidade.

– Ãhn, ok, então mande o jato.

– Mandarei, ele deve chegar aí em cinco horas, ok?

– Cinco horas? Bem melhor, me informe depois onde ele vai pousar.

Sam desligou e Maritza a observava.

– Teremos um jato em cinco horas, cara de salsicha.

– O que faremos nesse tempo?

– Quer trocar de roupas? Podemos comprar alguma coisa, e podemos fazer uma boa refeição também, o que acha?

– Adorei as duas ideias, vamos. – Maritza saiu andando, sendo puxada de volta por Sam.

– Ai!

– Primeiro preciso ligar para uma pessoinha.

Sam ligou no comunicador de Theo, que demorou para atender.

– Sam?

– Oi, amor. – Sam disse com a voz suave.

– Que bom te ouvir, o que aconteceu?

– Imprevistos, mas está tudo bem agora.

– Com a documentação de Maritza?

– Também, mas te conto tudo pessoalmente.

– Você vem hoje, não vem?

– Devo chegar aí amanhã cedinho. Você está bem?

– Não, você não está aqui.

Sam abriu um sorriso bobo.

– Eu estou morrendo de saudades, amanhã vou te dar um abraço de meia hora.

– Você sabe que vou esquecer o que está acontecendo no meio do abraço, não sabe?

Sam riu.

– Não tem problema, eu vou ficar te recordando, entre um beijo e outro. E sabe o que eu também estou com saudades?

– O que?

– Uma coisa que não fazemos há algum tempo.

Theo levou alguns segundos para responder.

– Eu também sinto falta, mas… bom…

– Eu sei, eu vou esperar.

– São várias coisas… E… Eu também quero, mas… – Theo falava num tom culpado.

– Vai acontecer quando você quiser, combinado?

– Ok.

– Já anoiteceu aí, não é? – Sam tentou mudar de assunto.

– Acho que está anoitecendo, se bem que para mim está sempre escuro.

– Quando você acordar já estarei aí.

– Que horas você chega?

– Por volta das cinco, você estará dormindo.

– Me acorde, ok? Me acorde, não importa a hora que você chegar.

– Tá bom, vou direto para seu quarto.

Após desligar a ligação, Maritza balançou a cabeça e proferiu:

– Você é uma boba apaixonada, nunca vi você assim.

– Mais apaixonada que boba, e você não deveria ouvir conversas alheias.

– Estamos algemadas, lembra? – Maritza ergueu o braço preso.

– Bem lembrado, vamos procurar algum lugar que abra isso, antes de comer.

– Podemos trocar a ordem?

Depois de uma farta janta, de finalmente soltar as algemas, e de adquirirem algumas peças de roupas felizes e coloridas, o jato as conduziu para um aeroporto em San Paolo.

– Bem-vinda ao Brasil. – Sam disse, enquanto andavam pelo saguão.

– Vamos de táxi para casa?

– Não, Lucian está vindo nos buscar, sente aí e espere.

Maritza sentou-se numa das cadeiras enfileiradas na área de desembarque, olhava ao redor como se estivesse num espetáculo, estranhando algumas coisas.

– As mulheres se vestem de forma vulgar aqui, não sei como você consegue morar nesse país. – Soltou.

– Estava demorando para você começar a reclamar. – Sam disse, de forma cansada.

– Veja isso, olhe aquela mulher, estamos quase no inverno e ela está usando um short acima dos joelhos.

– As pessoas são mais liberais aqui, vá se acostumando, elas se vestem como bem entendem, não existem normas de vestuário.

– Você acha isso bonito? Aquela ali do lado dela, veja como anda, deve ser uma prostituta, espero que não venha sentar do meu lado.

– E se for uma prostituta, o que tem? – Sam começava a perder a paciência.

– Ah, desculpe, eu esqueci que você namora uma ex-prostituta, não quis ofender.

– Ok. – Sam esfregava os olhos, com sono, trajava uma blusa de lã com motivos natalinos, e Maritza uma jaqueta fúcsia.

– É alguma doença?

– O que? – Sam despertava de um quase cochilo.

– Por isso que sua namorada tem todos esses problemas, é por causa de alguma doença que ela contraiu no bordel? Eu não tomei todas as vacinas, estou suscetível à essas doenças exóticas.

– Não, Maritza, ela não tem nenhuma doença exótica, ela sofreu um acidente. – Sam falava sem energia.

– Você fez quarentena antes de tocá-la, certo? Por que às vezes essas coisas ficam incub…

– Lucian, graças a Deus. – Sam levantou e andou com pressa na direção dele, Maritza a seguiu.

Em alguns minutos, passando um pouco das cinco da madrugada, finalmente Sam chegou em casa, e correu para o quarto de Theo, Maritza a seguiu com insegurança.

O quarto estava na penumbra, Meg dormia na cama mais adiante, bem como Theo, que dormia de lado, abraçando um travesseiro. Sam sentou delicadamente ao seu lado, correndo os dedos por seu rosto, sem conseguir conter um sorriso satisfeito. Abaixou, lhe entregando um beijo demorado no rosto.

– Cheguei. – Sussurrou, a acordando.

– Sam? – Theo acordou um tanto confusa, ergueu os braços, dando um abraço forte nela.

– Desculpe a demora. – Sam disse, ainda enlaçada.

Theo a soltou, e Sam lhe deu um beijo delicado carregado de carinho. Maritza estranhou a cena, mas guardou seus preconceitos dessa vez.

– Você está bem? – Theo correu suas mãos por seu rosto, certificando que estava tudo bem.

– Estou sim. – Sam tomou suas duas mãos, as beijando.

– Trouxe Maritza?

– Sim, está aqui no quarto. Maritza, venha dar um oi.

Maritza aproximou-se com reservas, lhe estendendo a mão para um cumprimento.

– Prazer em conhecê-la, Theo.

O aperto não foi correspondido.

– Amor, ela está estendendo a mão para você cumprimentar.

– Ah, desculpe, cometo essas gafes. – Theo apertou sua mão.

Maritza se deu conta que ela não enxergava, apenas fitou Sam com surpresa.

– Você tem uma bela casa. – Maritza disse, polidamente.

– Sam já disse que você pode ficar aqui quanto tempo quiser?

– Eu disse sim. – Sam respondeu. – Só não banque a folgada, o último que abusou da hospitalidade foi expulso na calada da noite.

– Mike?

– Uhum.

– Eu… Eu não quero incomodar. – Maritza respondeu, sem jeito. – Ainda não tracei um plano, só quero um coração novo, depois eu toco a minha vida, não quero abusar da bondade de vocês.

– Um coração? – Theo perguntou, confusa.

– Um coração novo, colocaram um artificial em mim. – Maritza explicava.

– Amor, eu contei a você semana passada, Maritza virou Borg também.

Theo fitava o vazio, se esforçando para lembrar.

– Na cozinha, eu sujei seu rosto, isso?

– Isso, nesse dia.

– Desculpe.

Sam deu um beijo longo em sua testa, afagando seu rosto.

– Vou levar Maritza para o quarto, eu já volto, vou ficar um pouquinho aqui antes de subir para dormir, combinado?

Assim que Maritza e Sam entraram no quarto de visitas, Sam começava a indicar onde as coisas estavam, mas foi interrompida por Maritza.

– Ela é cega? – Maritza perguntou perplexa.

– Ela perdeu a visão recentemente.

– E ela tem problema de memória?

– Tem, às vezes esquece algumas coisas, tem lapsos, mas nada muito comprometedor.

– Perdeu uma mão também?

– Perdeu.

– Ok. – Maritza sentou-se na borda da cama. – Você pode ser sincera comigo, você é minha melhor amiga. Me diga, além de não andar, ela não enxerga, e tem esse passado num bordel, você está com ela por causa do dinheiro, não é?

Sam a fitou assustada, estava na porta do banheiro.

– Não repita isso.

– Mas é verdade, certo? Eu não vou contar para ninguém, fique tranquila, eu te entendo, juro, eu não estou te julgando, se eu estivesse numa situação complicada, sem ter onde dormir, sem dinheiro, eu também aproveitaria uma chance dessas, afinal é uma troca, já percebi que você cuida bem dela, e ela até que é bonitinha.

Sam deu alguns passos bruscos na direção de Maritza, e a fitou com dureza.

– Você está de favor na casa dela, você pode falar o que quiser de mim, mas eu não vou admitir que você a ofenda ou a perturbe de forma alguma, ela precisa de paz, e se eu perceber que você está colocando a paz dela em risco, não pensarei duas vezes antes de tirar você daqui, estamos entendidas?

Maritza a olhou arregalada.

– Eu não quis ofender ninguém, só perguntei.

– Sei que não devo explicações a ninguém, nem espero que você entenda, mas eu amo aquela garota desde o dia em que a conheci, eu não senti por Mike em oito anos o que eu sinto com ela em oito minutos ao seu lado. Espero que essa explicação baste para que você nunca mais questione meus motivos.

– Totalmente.

Sam voltou à porta do banheiro.

– Aqui é seu banheiro, tem toalhas limpas, roupões, e tudo que você precisar para sua higiene. Naquela cômoda tem roupas, para dormir e para o dia-a-dia, se precisar de mais alguma coisa, peça à Marcy, bem como se quiser comer algo, pode ir até a cozinha e preparar algo, ou pedir alguma coisa. Alguma pergunta?

– Sim, que horas é o toque de despertar? – Maritza perguntou em tom de brincadeira.

– Não tem, mas posso pedir para jogarem um balde de água em você as seis em ponto.

– Dispenso. – Maritza olhava ao redor, reparando todo o quarto. – Essa mansão é incrível, imagino o tamanho do quarto de vocês.

– Ainda não dormimos juntas, ela precisa de cuidados médicos. Mas a suíte dela é enorme sim, é onde eu durmo atualmente.

– Que acidente terrível foi esse que ela sofreu? Perdeu visão, movimento das pernas, memória, mão…

– A visão ela perdeu antes, a mão foi por outros motivos.

– Mas quando você a conheceu, ela ainda enxergava, certo?

– Não.

Maritza a fitou surpresa.

– Ela nunca te viu?

Sam suspirou fundo antes de responder.

– Ela me enxerga de outras formas.

– Isso é bem poético, mas não é verdade.

– Você está dentro da mente dela, por acaso?

– Bom, tomara que um dia ela volte a enxergar, ela vai ficar feliz em te ver.

Sam mudou do semblante sério para um quase sorrisinho.

– Seria legal, mesmo. – Sam falou baixinho, tentando imaginar como seria se Theo a enxergasse pela primeira vez.

– Tenha fé.

– Quem sabe algum dia… Ok, vou subir, eu estou sem dormir direito desde sábado, hoje já é quarta-feira, estou morta.

Sam voltou à UTI, Theo a aguardava lutando para não pegar no sono, a esperando.

– Que sono, hein? – Sam brincou, ao deitar ao seu lado.

– Você disse que voltaria. – Abriu um braço para receber Sam se aninhando em seu peito.

– É estranho ficar longe de você.

– Porque você acostumou comigo. – Theo falava serenamente.

– É um tanto triste também. – Sam se ajeitou, passou a correr seus dedos pelo braço de Theo. – Em alguns momentos nessa viagem, quando me via na Zona Morta, ao lado de Maritza, e sem você, me sentia naquela época do quartel, ou no tempo em que vaguei sozinha, e essa sensação me doía o peito, me dava um nó na garganta quando imaginava minha vida sem você.

– Você sobreviveria muito bem sem mim, tenente.

– Sim, mas viveria pela metade.

– Eu também prefiro ter você por perto.

Silêncio.

– Posso te fazer uma pergunta? – Sam reiniciou.

– Desde que não seja complexa.

– Em algum momento você achou que eu estava com você por causa do seu dinheiro? – Sam perguntou.

– Dinheiro não. Mas às vezes eu penso em algumas coisas não muito legais.

– Como o que?

– Que você está comigo por pena, ou por gratidão.

– Mas não é por esses motivos, nunca foi.

– Eu sei que não. É porque aqui tem piscina.

Sam deu um risinho fungado.

– Sim, piscina e essa garota espirituosa que me dá um colo as seis da manhã, com direito a cafuné.

– Talvez eu goste de você de verdade.

– Seria ótimo, porque eu também gosto.

Silêncio.

– Maritza é tão preconceituosa. – Sam voltou a falar.

– Ela é igual a você, Sam.

– Eu ainda sou assim?

– Não, só um pouco.

– Eu mudei vários conceitos do dia que te conheci até hoje, eu não penso mais como ela.

– Eu sei, ela é sua versão bruta, com o tempo ela pode ser lapidada também, abrir um pouco a mente.

– Mas eu não tenho a paciência que você teve comigo.

– Respire fundo cinco vezes quando ela falar alguma asneira, só depois responda. Eu fazia isso com você. Tem coisas que precisam de mais do que cinco, tipo “feminismo é falta de louça na pia”, e coisas desse nível de idiotice.

– Usarei sua técnica.

– Desculpe, não quis te chamar de idiota.

– Eu sei que já falei um monte de bobagens, mas eu estou melhorando.

– Está sim. – Theo beijou o alto da sua testa. – Quer dormir aqui comigo?

– Você vai acordar dentro de duas horas para a fisioterapia, eu pretendo dormir umas oito horas seguidas, então melhor eu subir.

– Ok.

Sam ergueu-se, ficando por cima dela.

– Tente dormir essas horinhas.

– Já vai?

– Vou. – Sam respondeu e a beijou. – Mas você está tão quentinha. – Voltou a beijá-la.

O beijo continuou, Sam animou-se e logo suas mãos tomaram vida pelo corpo de Theo. Como não houve negativa, Sam correu a mão direita para dentro do short.

– Sam, não, eu estou…

– Você está com sonda de novo? – Sam se dava conta, ao ter contato com a sonda.

– Estou.

Sam deu um suspiro decepcionado, de olhos fechados.

– É por pouco tempo, foi por causa da infecção. – Theo tentava explicar.

Sam afundou seu rosto no pescoço de Theo, lhe dando beijos lentos.

– Eu só quero que você fique bem. – Sam sussurrava. – O resto a gente dá um jeito.

– A gente sempre dá um jeito. – Theo a abraçou.

***

Sam acordou em sua cama às cinco da tarde, ainda se sentindo um tanto cansada. Desceu para a cozinha, encontrando John no seu interior, sentado com um prato de cereais a frente.

– John?? – Exclamou com um susto.

– Sam! – O garoto levantou-se animado, e abraçou sua ex-cunhada.

– Mas que raios você está fazendo aqui? Como entrou? – Sam disse, após o abraço.

– Eu fugi de casa.

– Fugiu? E o que veio fazer aqui?

– Vim pedir ajuda a você e ao meu irmão, mas vocês não estavam.

– E quem deixou você entrar?

– Theo, ela disse que eu posso ficar o tempo que quiser, maneiro, né?

– Ela sabe de quem você é irmão?

– Sabe. Você vai me expulsar?

Sam ainda assimilava a presença dele na casa.

– Se Theo não te expulsou, não sou eu que farei isso. – Sam finalmente abriu um sorriso, e o chamou novamente para um abraço. – Venha cá, estava com saudade de você, pirralho.

– Eu estou preparando meus lanches e lavando minha roupa, não quero abusar da boa vontade de Theo, ela foi legal comigo.

– Quando você chegou? – Sentaram nas cadeiras ao redor da mesa retangular.

– Anteontem, eu não tinha mais dinheiro, nem para onde ir, eu não queria ter que pedir algo a vocês, mas eu estava ficando desesperado e faminto.

– Não sei se Theo comentou com você, mas Mike está proibido de pisar nessa casa, na verdade ele não pode nem se aproximar de mim ou dela, tem uma ordem judicial contra ele, então nada de chamar seu irmão aqui, encontre com ele bem longe desse lugar.

– Eu não consegui falar com ele ainda, na verdade acho que não quero falar com Mike, ele só me daria broncas, e me mandaria de volta para casa, mas eu não volto para Kent de jeito nenhum, eu quero morar aqui.

– Seus pais sabem onde você está?

– Sim, Theo me obrigou a ligar para minha mãe.

– Por que fugiu de casa?

– Eu não quero ser um soldadinho bitolado, como Mike, eu quero fazer o que eu gosto.

– Você me chamou de soldadinha bitolada por tabela, mas ok. – Sam também comia da tigela dele.

– Não, você conseguiu fugir do exército, e eu te admiro por isso, você não tem a mente fechada que minha família tem, sempre te achei diferente.

– Achou?

– Você está correndo atrás do que realmente gosta, é isso que eu quero fazer, nesse país eu sei que tenho mais chances, as pessoas não são conservadoras como na Europa, eu quero estudar e trabalhar no Brasil, e também ficar e namorar quem eu quiser, assim como você.

– Ah, e você acha que eu fico com quem eu quiser? Mais respeito comigo, menino.

– Você namora uma mulher agora, você mudou muito.

Sam parou a colher no ar, o fitando.

– Quem te contou isso?

– Theo, ela disse que você está namorando uma garota.

– E ela disse quem?

– Não, só disse que a garota é incrível, e que você não poderia ter feito melhor escolha.

Sam explodiu numa risada.

– Quer conhecer essa garota?

– Agora?

– É, ela está aqui.

– Quero.

– Termine seu cereal.

Dois minutos depois, subiram no elevador até o terceiro piso.

– O que é aqui? Uma academia?

– Mais ou menos isso, tem aparelhos de musculação também, você pode usar se quiser.

– Você e Mike que são obcecados em se exercitar, eu nunca gostei.

– Tá bom, moleque resmungão, me siga.

Theo estava sentada mais ao fundo, num aparelho onde exercitava o braço esquerdo, Eron e Molly estavam por perto.

– Você não me contou que já tínhamos um hóspede. – Sam disse ao se aproximar, e lhe deu um beijo nos lábios, surpreendendo John.

– Temos? – Theo perguntou confusa.

– Sim, John.

– Que John?

– Não lembra de mim? – John perguntou, assustado.

– Ele disse que você permitiu que ele ficasse aqui, é verdade? – Sam perguntou.

– Ah, John, o irmão daquele ser imprestável. Eu esqueço algumas coisas, desculpe.

– Eu estava falando a verdade, Sam. Você me conhece, eu nunca invadiria a casa de ninguém.

– Eu sei, Mike aprontou tanto que tenho receio até da sombra dele. Bom, essa é a garota incrível que você mencionou. – Sam tomou a mão esquerda de Theo, e a beijou.

– Era você o tempo todo. – John riu.

– Sim, provavelmente uma das pessoas mais odiadas por sua família. – Theo enxugou o suor na testa.

– Eu já disse que não sou igual a eles.

– Eu já percebi. – Theo estava com o cabelo preso num rabo de cavalo, quando foi enxugar o suor na nuca percebeu as cicatrizes extensas, parando com a mão no local, com um semblante confuso.

– Tudo bem? – Sam se aproximou e perguntou baixinho.

Theo continuou pensativa, correndo os dedos pelas cicatrizes.

– Foi um tiro? – Theo perguntou.

– Sim, eu achei que você soubesse.

– Quem atirou em mim?

 

Eleuteromania: s.f. Desejo ou paixão pela liberdade.

 

>> Ler próximo capítulo

8 comentários Adicione o seu
  1. Quantas informações em apenas um capítulo! Primeiro, tenho que respirar profundamente para não demonstrar a minha
    imensa tristeza com o ‘hiato’ de 2121. Eu imagino como a sua vida está corrida, principalmente agora que vc é a nova caloura de Jornalismo. Bom, quero te desejar sucesso e que por favor, volte logo, afinal a Theo e a Sam já são parte da família Lettera. E sobre o capítulo, gente, a cada dia fico mais assustada com tudo o que rodeia nossa menina. Quem será o traidor que está próxima a elas? Eu chuto em uma das enfermeiras. Será? E esse carinho e amor delas me surpreende e me fascina. Eu amo a Theo! O dia mais feliz da minha vida de leitora será o dia em que nossa menina for completamente feliz.

    1. Eu sei que faz tempo que você comentou, mas aqui estou eu respondendo! 🙂
      Primeiramente obrigada pelo apoio e votos de sucesso, o hiato realmente foi necessário, também fez bem para a história.
      É gostoso desenvolver a relação delas, eu estou fazendo isso desde novembro de 2014, e elas ainda não me cansaram… rs
      Obrigada Ana, grande beijo.

  2. Caramba, que capitulo gostoso de ler. Elas voltaram logo pra casa. Estava preocupada, pensando que a Sam fosse ficar muito tempo sem ver a Theo. Elas são tão lindas juntas, tem um amor tão fofo.. Uma relação tão fofa. A Sam tá tão perfeita com a Theo. Vou morrer de saudades da história.. Não demore muito não, Cris. =x
    Cara, que final foi esse? Meu coração deu uma acelerada aqui. Ela não se lembra de ter atirado em si mesma!!! Que intenso!

    1. Eu demoro, mas respondo.
      O hiato foi necessário em vários sentidos, deu tempo para a história respirar também.
      Obrigada pelo carinho, abraços! 🙂

  3. Talvez a traidora seja Claire.. Desconfio que ela seja a amante do pai da Theo.
    Sam ta linda assim, so espero que ela nao traia a Theodora novamente, ja que ta subindo pelas paredes.
    Maritza é realmente uma idiota, mas bem menos que o Mike.
    John é maneirinho..
    Volta logo Cris..

    1. Anos depois, eis me aqui.
      Olha, não vou garantir que Sam nunca mais vá fazer uma samzice, mas ela tá bem mais consciente e atenciosa. Só terá problemas em gerenciar essa carência sexual… rs
      Obrigada, Diin, bjos!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *