Capítulo 11 – Lenitivo
– Mike?? Fora daqui! – Sam tentava se cobrir com os braços.
– Eu sei que você quer de novo… – Ele caminhava devagar até Sam, estava nu e excitado.
– Não! Eu não quero nada, saia agora do banheiro! – Sam dizia, irada.
– Largue aquela menina mimada, fique comigo, eu sou seu homem.
– Se você não sair eu vou chamar os seguranças!
– Pensa que não sei que esse quarto tem isolamento acústico? – Ele dizia com um sorrisinho.
– Eu vou ter que bater em você, se não sair daqui agora.
– Sam… É tudo que você sempre quis, lembra? Você pediu para tomar banho comigo, eu sei que você morre de vontade de fazer sexo debaixo do chuveiro comigo. – Mike foi para cima de Sam.
– Saia! Me largue!
Sam debateu-se o quanto pode, seus chutes não surtiam efeito, o acertou algumas vezes, mas Mike era mais forte que ela, prendia seus pulsos contra o azulejo.
– Amor, facilite as coisas… – Mike disse enquanto beijava seu pescoço.
Finalmente Sam soltou-se e conseguiu empurrá-lo com violência, Mike caiu batendo com a nuca na borda da jacuzzi. Um filete de sangue descia ao lado de sua cabeça.
– Olha o que você fez! – Mike mostrava a mão suja de sangue.
– Eu me defendi, você pediu por isso!
– Você me agrediu!
– Mike, se você não sair daqui agora, eu vou chamar a segurança, eu estou avisando. – Sam voltou a tentar se cobrir com os braços.
– Isso não vai ficar assim. – Mike ergueu-se, fez um rápido semblante de dor, vestiu-se e saiu.
Escutou a porta do quarto batendo, Sam estava paralisada embaixo da ducha que continuava correndo, assimilando o que havia acontecido. Sentiu o gosto do sangue invadindo a boca novamente, o corte sangrava em profusão.
Escorregou, sentando-se no piso branco da grande jacuzzi, segurando as pernas contra o peito. Não queria acreditar em quais termos as coisas haviam chegado com seu ex-noivo, a pessoa em que confiou cegamente por oito anos, só conseguia sentir repulsa agora por esse homem.
A dor em sua alma era tamanha que não conseguia sequer chorar ou expressá-la. Pensou em pedir ajuda a alguém, ou em ir correndo para o hospital contar para Theo, na esperança de ganhar um colo. Não, não eram ideias plausíveis, ela teria que lidar com todas as desgraças do dia sozinha.
Após um longo período encarando os pequenos azulejos à sua frente, ergueu-se do chão. Terminou o banho, enxugou o sangue em sua boca o quanto pode. Vestiu um roupão e tratou de cuidar da queimadura em sua mão, que parecia pulsar.
Percebeu que o estado era pior do que o imaginado, enrolou a mão com uma atadura molhada, vestiu-se, e saiu de casa. No caminho, ligou para Letícia com o comunicador de Theo, era quase meia-noite.
– Você está no hospital? Theo está bem? – Sam perguntou.
– Sim, está tudo bem aqui, vim no corredor falar com você, Theo está dormindo. Como você está?
– Lê, eu preciso que você me diga o nome de algo para colocar numa queimadura, possivelmente de segundo grau.
– Quem se queimou?
– Eu queimei minha mão, não é nada de mais, só preciso passar algo para aliviar a dor.
– Venha para o hospital ver isso.
– Não, só quero algum medicamento, estou chegando numa farmácia.
– Sam, venha aqui agora, eu vou olhar isso.
– Se você não pode ajudar, tudo bem, eu vou perguntar para alguém na farmácia.
– Ok, ok. Sulfadiazina de Prata. Como se machucou?
– Descuido. Obrigada, te ligo amanhã. E obrigada por estar aí.
– Sam, hidrate, passe a pomada abundantemente, cubra e enfaixe, mas troque isso de…
A ligação foi finalizada por Sam.
Já em casa, fez o curativo na mão, tomou analgésicos, guardou a caixa de primeiros socorros, e olhou para os lados, como se acordando para tudo que havia acontecido.
Sentou numa poltrona colorida que havia no outro ambiente do quarto, lançando um olhar sem vida ao longe. Em poucos minutos, finalmente o pranto incontrolável surgiu.
A madrugada foi longa, sentia-se estranha, deslocada, tomou outro banho, outros analgésicos, acabou adormecendo já com o sol nascido, num tapete felpudo em frente à poltrona.
– Hey, Sam?
Daniela sacudia o ombro de Sam no chão, que acordou confusa.
– Eu bati na porta, mas você não atendeu, fiquei preocupada e entrei. – Daniela se explicava.
– Já amanheceu? – Sam levantou-se devagar, com trejeitos de dor nas costas, e sentou-se na poltrona colorida, Daniela sentou na beira da cama.
– São quase dez da manhã, Letícia pediu para ver como você estava, porque você não atendia seu comunicador, nem o de Theo.
– Foi um incidente bobo, está tudo bem. – Sam ergueu a mão enfaixada. – E perdi meu comunicador, depois arranjo outro.
– O que aconteceu com seu lábio? Você parece péssima, quer sair para tomar um café? Conversar às vezes ajuda.
– Dani, desculpe a franqueza, mas tudo que eu quero é ficar sozinha. – Sam passou o dedo na boca, sentindo o ferimento que estava um pouco inchado.
– Querida, todo mundo erra, não fique se culpando, logo Theo te perdoa e tudo vai ficar bem.
– Pelo visto eu vou pagar pelo meu erro por muito tempo… – Sam resmungou.
– Theo tem o coração enorme, amanhã você aparece no hospital, conversa francamente, e tenho certeza que se acertarão. Ou então espera ela vir para casa, depois de amanhã, e conversam aqui.
Sam apenas baixou a cabeça, desanimada, curvando-se para frente na poltrona.
– Acho que eu deveria ir embora.
– Para onde?
– Não sei, alugar um quarto em algum lugar na cidade, deixar Theo em paz por um tempo.
– Não faça isso, não se afaste, distância não resolve nada.
– Eu queria poder ficar longe de mim. – Sam embargava a voz.
Daniela levantou-se, postou-se de joelhos em frente a poltrona.
– Isso vai passar. – Daniela a chamou para um abraço. – Às vezes tudo parece conspirar contra nós, por mais que nos esforcemos para dar certo, mas quando você olha para trás e vê o quanto cresceu e está mais forte, você se dá conta que valeu a pena, mesmo as escolhas ruins, tudo isso faz parte da nossa evolução. Seja fiel a você, fica menos doloroso.
Sam não conseguiu responder, mas não queria chorar na frente de Daniela, por isso saiu do abraço.
– Tem certeza que não quer dar uma volta? Estou com a scooter de Letícia, pode fazer bem tomar um vento.
– Obrigada, Dani, obrigada mesmo, mas quero ficar sozinha aqui, preciso repensar algumas coisas.
– Estou indo trabalhar, mas posso sair e vir aqui quando você quiser, ok?
– Ok. Letícia ainda está no hospital?
– Não, ela foi agora há pouco para o plantão, fique tranquila, está tudo bem com Theo.
Sam estava novamente sozinha, mas não por muito tempo, minutos depois sua porta abriu-se lentamente, e Mike entrou, a encontrando na sacada.
– Saia de perto de mim. – Sam levantou-se do banco abruptamente, sentiu um calafrio ruim.
– Calma, eu vim pedir desculpas por ontem.
– O que você fez não tem perdão.
– Todos merecem o perdão divino e o perdão dos homens. Você nunca pediu desculpas a ninguém?
– Você ultrapassou todos os limites, você não tinha o direito. – Sam começava a chorar com raiva.
– Amor, quantas vezes fizemos sexo? Você sempre gostou, até pedia mais.
– Mike, suma da minha frente antes que eu faça uma besteira.
– Escute, eu errei, e vim pedir perdão. Eu estava um pouco alterado, e animado, sei que não justifica, mas você foi minha mulher por tanto tempo, eu sinto falta de fazer amor com você. Prometo que nunca mais farei nada contra sua vontade, ok? Eu estou me sentindo péssimo, nem fui trabalhar hoje, mal dormi.
– Eu quero que você saia dessa casa.
– Depois de tudo que fiz para você? Perdi a utilidade? Quando você estava operada e frágil minha presença era bem-vinda, não era?
– Eu perdi o restante do carinho que eu tinha por você depois de ontem, só quero que você desapareça.
– Eu entendo que você esteja chateada, mas não foi nada de mais, não faça uma tempestade num copo d’água, eu só tentei ficar com você, se você tivesse colaborado poderia ter sido bom.
Sam lembrava da época em que tentava deslegitimar a mágoa de Theo após o incidente com a mão, sentiu-se ainda pior.
– Você precisa aprender o que significa consentimento.
– Sam, você me consentiu por cinco anos. – Mike deu um sorrisinho.
– Eu quero que você saia dessa casa antes de Theo chegar.
– Pois eu não irei, não sou um cachorro sarnento que você pode expulsar quando quer. Você me quis por perto quando precisou, agora aguente, vou ficar aqui até quando eu resolver sair.
Sam encheu seus pulmões de ar, antes de falar de forma firme e enérgica.
– Saia agora dessa casa, senão vou tirar você a força.
– Se eu fosse você não faria isso. – Mike foi até o parapeito, apoiando com as mãos no metal.
– Eu não estou brincando, nem que eu tenha que chamar todos os vinte seguranças, eu vou tirar você dessa casa.
Mike virou-se, recostando-se na grade, ostentava um sorrisinho prepotente.
– Eu não queria ter que usar isso, mas se você me expulsar daqui eu irei imediatamente até a imprensa e contarei o que Theo fez nos últimos anos, a vida nada honrada que ela tinha naquele puteiro.
Sam o fitou sem palavras, mal podia acreditar na chantagem que Mike fizera.
– Não, você não desceria a esse nível.
– Você pode experimentar, mas algo me diz que você vai querer proteger sua namoradinha.
– Seu… – Sam enchia-se de raiva. – Você não tem o direito de fazer isso, Theo não tem nada a ver com nossas desavenças.
– Não tem? Foi ela que encheu sua cabeça de ideias erradas e pecaminosas, ela não tirou você apenas do caminho de Deus, ela tirou você de mim, o homem que você escolheu para formar sua família. Eu não me sentiria nada culpado em jogar a honra dela na lama.
– Saia dessa casa por bem, até amanhã, e quem sabe poderemos manter algum contato, não prejudique quem tanto te ajudou.
– Ajudou uma ova, aquele vegetal me odeia. – Mike desencostou-se do parapeito, ficando próximo do rosto de Sam. – Eu saio quando eu quiser, quando eu achar que é um bom momento. Enquanto isso ficarei aqui, desfrutando um pouco do conforto, até conseguir me estabelecer em outro lugar. Estamos conversados?
Sam balançou a cabeça cansada.
– Mike, saia da minha frente, por favor.
– Depois conversaremos melhor, quando você esfriar a cabeça e fizer as pazes com nossa galinha dos ovos de ouro.
A cabeça rodava, o choro pesava, o peito acelerado parecia dilacerado. Após algum tempo recostada na sacada, com as mãos no parapeito, tomou uma decisão.
Foi até o banheiro, onde havia escondido a arma tomada do assassino sádico de ontem, e colocou no cós de trás da calça. Lavou o rosto demoradamente, e saiu do quarto, próximo do meio-dia.
– Alguém viu para onde Mike foi? – Sam perguntou a Lucian, que passava pela sala.
– Disse que ia trabalhar.
Tudo estava nebuloso demais para tomar as decisões corretas, teve outro rompante e saiu de casa.
Minutos depois adentrou na UTI, Theo estava acordada, ouvindo a tela a frente.
– Sam?
– Sim, sou eu. – Sua voz estava fria, triste.
– Você veio conversar?
Sam não respondeu, apenas se aproximava devagar do leito.
– Eu não queria conversar agora, ainda estou meio estranha, tive uma convulsão. – Theo continuou, parecia sonolenta.
Mas Sam continuava em silêncio.
– Sam, você está no meu lado?
– Estou.
Theo aguardou que algo acontecesse, ou que Sam dissesse algo, mas nada aconteceu. Sam a fitava com as mãos sobre a proteção lateral da cama, de forma angustiada.
– O que você está fazendo? – O tom de voz de Theo não era de curiosidade, era quase temor.
Não houve resposta, Sam apenas se segurava para não chorar.
– Você vai fazer algo?
– Como o que?
– Não sei.
Sam baixou os dois suportes protetores que haviam ao lado da cama, Theo ouviu os ruídos e ficou ainda mais tensa.
– Me desculpe se falei algo ontem que te ofendeu. – Theo falava nervosamente, na defensiva. – Eu estava brava, mas não quis levantar a voz com você, me desculpe, ok?
Sam franziu as sobrancelhas.
– Você acha que eu faria algum mal a você?
– Não, claro que não. Você não seria capaz, seria? – Theo estava segurando seu pânico.
– Como machucar sua mão de novo?
Imediatamente Theo trouxe sua mão direita para junto do peito.
– Eu só tenho essa, não faça nada com ela, só me restou essa mão.
Sam voltou a chorar, ao entender que Theo estava com medo dela.
– Você está com medo de mim?
– Não, não estou.
Sam a deslizou delicadamente para o lado, descalçou-se, e deitou no leito. Ajeitou os fios, bolsas e sondas, ergueu o braço de Theo para o lado, e aconchegou-se no peito dela.
Theo ainda estava tentando entender o que estava acontecendo, com a mão direita suspensa no ar.
– Por favor, me deixe ficar aqui um pouco. – Sam implorou, às lagrimas.
– Ãhn… Ok. – Theo hesitou antes de prosseguir. – Fique o tempo que quiser. –Lhe sussurrou, beijando sua testa.
A abraçou fortemente com seus braços coloridos, inclusive com o esquerdo que ainda não tinha muita mobilidade.
– Me desculpe… Me desculpe, Theo… – Sam disse, aos soluços.
– Shhhh… Vai ficar tudo bem, ok?
Sam se permitiu chorar tudo que estava guardando, mas dessa vez sentia-se reconfortada pelo som do coração de Theo abaixo de si, e o calor da respiração no alto de sua testa.
– Me ajude… – Sam acabou falando.
Theo baixou as sobrancelhas.
– O que aconteceu?
– Nada.
– Sam, aconteceu algo com você?
– Não.
Theo continuou lhe dando um consolo silencioso, percebia Sam se acalmando.
– Eu juro que não quis te magoar. – Sam voltou a falar, agora já mais tranquila.
– Se você prometer esquecer isso, eu prometo esquecer também. – Theo corria sua mão pelos cabelos de Sam.
– Eu não quero mais lembrar disso, não quero me lembrar de mais nada com Mike.
– Então vamos enterrar essa coisa toda.
– E isso… – Sam estava cheia de dedos. – Então isso significa que ainda temos algo, não temos? Eu não quero ficar com outras pessoas, eu só quero ficar com você, eu me sinto completa quando estou do seu lado, você me acalma, me alivia, todas as dores somem.
– Sam, temos algo, mas ainda indefinido. E se você dormir novamente com Mike, saiba que arrancarei seu novo coração com minhas próprias mãos, inclusive com a mão mecânica, e jogarei aos mesmos peixes que devoraram minha ex. Ah, e sem anestésico para cavalos.
Sam acabou dando um riso fungado.
– Ficou claro? – Theo insistiu.
– QSL.
– O que é QSL?
– É a expressão de rádio comunicação para “entendido”.
– Hum. E sobre o que você falou, você me chamou de lenitiva.
– O que é isso?
– Lenitivo é o que abranda a dor, que suaviza. É usado na medicina também.
– Eu preciso começar a anotar essas palavras que você me ensina.
– Comece por nostomania.
– O que é?
– Desejo extremo de voltar para casa.
– Depois de amanhã você vai saciar sua nostomania.
– Vou sim. – Theo sorriu torto. – Dois anos depois.
Após de um silêncio confortável, Theo voltou a falar.
– Sam?
– Hum?
– Quando eu melhorar, vou querer meu quarto de volta.
– Eu sei.
– Mas só se você estiver lá.
Sam abriu um sorriso lento.
– Ele passará a ser nosso quarto. – Sam disse, correndo sua mão pelo rosto dela.
– Você machucou a mão? – Theo sentiu a atadura.
– Sim, mas não foi nada.
– Machucou como?
– Eu queimei, mas foi de leve, já estou cuidando.
– Queimou como?
Sam suspirou.
– É uma longa história.
– Tudo bem, pode continuar.
– Não, deixa para depois.
– Faça um resumo, tipo, “queimei no fogão”.
– Não foi no fogão.
– Me conte.
– Ok… Quando eu estava saindo da Archer ontem, e abrindo o carro no estacionamento, fui abordada por um…
– Você foi para a Archer ontem? – Theo interrompeu.
– Fui, tive que ir, Claire me ligou pedindo uma reunião emergencial com todo o conselho, eles queriam explicações do porquê eu e Letícia termos ido para o laboratório na Ilha das Peças e…
– Você e Letícia foram para a Ilha das Peças? – Theo interrompeu.
– Sim, há alguns dias, nós fomos de helicóptero, levamos uma tarde apenas, para ir e voltar, foi coisa rá…
– O que vocês foram fazer lá? – Theo interrompeu.
– Viu como é uma longa história? Você me interrompe o tempo todo.
– Ok, o que vocês foram fazer lá?
– Buscar o genoma da Theodora original, para reprogramar os nanobots que seriam inseridos em você, já que na primeira cirurgia deu tudo errado, os médicos não sabiam que você é um… Você sabe.
– A primeira cirurgia deu errado?
– Sim, não lembra de nada desse período?
– Eu lembro de ter dias bem confusos recentemente, pareciam falar vários idiomas estranhos dentro da minha cabeça, uma viagem bem chata de ácido.
– Bom, deu tudo certo agora, mas os conselheiros queriam saber o que eu sabia sobre o Beta-E, eu falei que eu e você descobrimos que o Beta-E é um medicamento vendido ao governo, só falei isso.
– E eles?
– Não devem ter acreditado. E eu acho que foi algum deles que mandou aquele cara me matar.
– Que cara?
– O que me incendiou viva.
– O que??
– Voltamos à mão. Como eu ia dizendo, não queimei no fogão, um homem bem vestido me abordou no estacionamento, me algemou na porta, e dirigiu até um lugar relativamente ermo. Ele ateou fogo no carro, eu estava ainda algemada dentro, ele queria me matar. Eu consegui quebrar o suporte e sair, mas queimei minha mão.
– Nossa… Foi feio?
– Mais ou menos, estou cuidando, mas dói bastante.
– E o que aconteceu depois?
– Eu dei uma surra, como sempre. – Disse convencida. – Depois dei fim no elemento, com a arma dele.
– Essa nas suas costas?
– Sim, vou andar armada a partir de agora, eu não sei quem armou isso, mas eu quase bati as botas.
– Não faz ideia de quem era?
– Não, não encontrei nada que identificasse ele ou o autor, eu aposto em algum conselheiro, mas pode ser Elias também.
Sam percebeu o corpo tenso de Theo abaixo de si.
– Hey. – Sam ergueu-se um pouco, ficando acima de Theo. – Não vai acontecer nada comigo, nem com você, ok? Uma cuida da outra, como fizemos tantas vezes.
– Você precisa se cuidar quando estiver aí fora, podem te abordar de novo, acho que é uma boa ideia você ter segurança particular.
– Por enquanto não, tá bom? Vou ficar mais alerta, por mim e por você. – Sam correu seus dedos pelos lábios de Theo, e a beijou.
– Ai! Minha boca está machucada e você mordeu bem em cima! – Sam reclamou, passando o dedo no corte, instantes depois.
– Se soubesse que estava machucada teria mordido ainda mais forte.
– Eu machuquei de verdade. – Sam olhou o sangue nos seus dedos.
– Desculpe. Posso ver? – Theo correu seus dedos levemente por seus lábios, e a beijou de mansinho. Algum tempo depois, Sam se deu conta de algo.
– Esqueci um detalhe.
– Qual?
– O carro incinerado, foi o seu. Sinto muito.
– O meu? Têm oito carros na garagem, e você toca fogo no meu?
– Era o mais bonito.
– Tudo bem, sei que você não irá se importar de andar de transporte público a partir de hoje.
– Eu vim com outro hoje, uma caminhonete vermelha.
– É meu também!
Sam acabou adormecendo ainda no peito de Theo, havia dormido menos de duas horas naquela manhã. No meio da tarde uma enfermeira apareceu no quarto, Theo gesticulou e sussurrou para que ela não a acordasse. Estendeu devagar o braço, para receber os medicamentos.
– Tem fisio agora. – A enfermeira falou baixinho.
– Cancele.
Aguardou a enfermeira sair, e voltou a lhe fazer um cafuné suave, agora com um sorrisinho satisfeito, até mesmo sentir sua gola da camiseta molhada de baba a fez sorrir.
***
O dia da alta chegou, e com ele uma pneumonia nem um pouco bem-vinda, que estava prestes a estragar os planos de ir para casa.
– Eu posso continuar o tratamento em casa. – Theo falava com dificuldade, e com uma máscara de oxigênio.
– No hospital é melhor, tem mais recursos. – Sam e Letícia tentavam convencê-la.
– Não, eu ganhei alta do Doutor Franco, me deixem ir para casa. – Fazia drama.
– Mas você está piorando, ele vai cancelar a alta.
– Nããããão, nãããããão…
– Espere mais um ou dois dias, você já esperou dois meses.
Theo ficou pensativa por um instante.
– Hoje é meu aniversário, não é?
– Seu aniversário foi em fevereiro. – Letícia disse.
– Espera, que dia é hoje? 17 de abril, certo? – Sam se dava conta.
– Hoje é meu aniversário de verdade. – Theo disse enfática, por trás de sua máscara.
– Como você sabe?
– A senha do laboratório é minha data de nascimento.
– Garota, você é esperta mesmo. – Letícia brincou.
– Eu estou fazendo 23 anos hoje, não estou? Pela segunda vez.
Sam foi até a cama, tomou o boné que estava pendurado, colocando na cabeça de Theo. – Feliz aniversário, vamos para casa.
– Tem certeza? – Letícia encarou Sam, preocupada.
– Ela vai passar o aniversário em casa. A propósito, Theo, você me deve respeito eterno, eu sou mais velha que você.
– É… – Theo assimilava. – E não é que é verdade?
– Isso estava entalado na minha garganta há muito tempo. – Sam riu.
***
Depois de um transporte de helicóptero um tanto delicado até a mansão, finalmente Theo estava agora em repouso num largo leito de última tecnologia, num quarto térreo. A parede havia sido derrubada para unir-se com o quarto ao lado, um espaço havia sido montado para apoio da equipe de enfermagem e demais funcionários que dariam suporte na recuperação de Theo.
– Vou pendurar seu boné aqui atrás, ok? – Sam tomou seu boné.
– Acho que preciso de mais oxigênio. – Theo estava com dificuldade para respirar.
– Meg? Você pode ver isso? – Sam chamou a enfermeira, de uma equipe de três que se revezariam no plantão de 24 horas cada.
Uma jovem senhora com ares atenciosos aproximou-se, tomando as providências para abrandar os sintomas da pneumonia.
– Vou aumentar também a dose de antitérmico. – Ela disse, e saiu para preparar a medicação.
– E então, o que achou da enfermeira? – Sam tentava dispersar a tensão pela dificuldade em respirar.
– Gostei. Como ela é?
– Hum… Sabe aquelas tias fofinhas e rechonchudas, que parecem nunca ficar de mau-humor? Algo assim.
– Não sei, só tenho dois tios, um que não sabe nem o próprio nome, e um maníaco.
– Se você quiser te empresto meus tios e tias, tenho 27.
– Sério?
– Juro, posso recitar o nome de todos, se quiser.
– Em outro momento. – Theo parecia incomodada, se mexendo o tempo todo no leito.
– Theo, tem algo além da dificuldade em respirar?
– Não sei, acho que ainda estou me adaptando ao meu novo habitat, me sinto estranha.
– É sua casa, meu anjo. Aos poucos você vai se dando conta que está de volta à sua zona de conforto, matando a saudade do pessoal que trabalha aqui, das suas coisas, do Theozinho.
– Quem é o Theozinho?
– Eu nunca lembro o nome do cachorro.
– Levon. Ele ainda mora aqui?
– Mora sim, quando você estiver melhor vou trazê-lo para te dar um oi.
No decorrer das horas seguintes, Theo piorou, e teve uma convulsão a noitinha. Sam havia colocado um sofá confortável à direita da cama, já pensando nas noites em que iria querer passar ali, como aquela. No outro ambiente do quarto, havia uma cama para a enfermagem, onde Meg também dormia.
Theo acordou com o sol ainda nascendo, e os primeiros sons de passarinhos que haviam na área arborizada da propriedade.
– Tem alguém aqui?
Meg acordou e foi até ela.
– Estou aqui, precisa de algo?
– Água. E algo para minha cabeça, parece que vai explodir.
– Já vou providenciar.
Sam acordou devagar, ainda morria de sono, os olhos ardiam.
– Tudo bem, Theo?
– Estou com dor de cabeça.
– Meg já está preparando algo para você. – Viu ao longe a enfermeira.
– Mas estou respirando melhor. Eu tive uma convulsão ou apenas dormi profundamente?
– Convulsão. E você mordeu a língua de novo.
– Ah… Esse gosto de sangue é disso então…
– Acho que é sua vontade de comer bifes que faz você morder a língua. – Sam brincou.
– Quando vou poder comer bifes e batatas fritas?
– Vai demorar um pouco, mas na equipe que está cuidando de você tem uma nutricionista, ela vem nos visitar dia sim, dia não. Vou pedir dicas a ela, vou ajudar Marcy na cozinha, para fazer você recuperar os quilos perdidos.
– Com… Com… Eu.
– O que?
– Eu não me… Bife. – Theo falava com confusão, não conseguia mais articular as frases.
– Ficou confuso aí dentro? Não tente falar, fique quietinha. – Sam baixou a cabeceira da cama, e afagou sua testa. – Meg já aplicou um analgésico forte, quer a água?
Theo bebeu com dificuldade, derrubando na cama, e se agitando. A enfermeira achou melhor sedá-la levemente.
À tarde, Sam saiu para comprar algumas coisas, e quando retornou, encontrou Mike de pé ao lado de Theo, que dormia.
– O que você está fazendo aqui? – Sam sussurrou irritada, puxando Mike para fora do quarto.
– Só fui dar as boas-vindas, e não me arraste pelo braço, ok?
– E você nunca mais entre nesse quarto, entendido? Ou terei que colocar seguranças na porta?
– Você anda muito impaciente nos últimos dias, acho que precisa relaxar, tirar uma folga, sei lá. Por que não passa uns dias na Inglaterra?
– Não, obrigada, ficarei por aqui mesmo, você que precisa sair dessa casa com urgência, eu ainda estou sendo educada.
– Irei em breve.
– Me dê licença, tenho mais o que fazer.
– Tipo o que? Limpar o vômito de Theo? Ela tem enfermeiras para isso.
– Não, vou preparar um lanche para nós.
– Para mim também? Bem que você poderia fazer aquele bolo de chocolate que eu adoro, você fez tantas vezes para mim quando morávamos em Kent.
– Faça seu próprio bolo, aproveite enquanto ainda tem acesso à cozinha.
Sam saiu trotando para a cozinha, onde preparou uma salada de frutas ao lado de Marcy.
Levou duas tigelas para o quarto, percebeu Theo acordada, e sentou-se ao seu lado, expandindo a mesinha sobre a cama.
– Olá, mocinha. Como está? – Sam lhe deu um beijo rápido.
– Com sede.
– Pronto, beba. Trouxe salada de frutas para nós, quer?
Theo ficou alguns segundos pensativa, sem expressão.
– Eu ainda não posso comer frutas.
– Pode sim, você vem comendo frutas há alguns dias.
– Então não conte nada para o Doutor Franco. – Theo recostou-se cansada no travesseiro. – A propósito, quero conversar com ele.
– Tome, aqui a tigela, aqui está a colher. – Colocou ambos nas mãos de Theo. – A próxima consulta com o médico é na semana que vem, o que você quer falar com ele?
– Pedir pela milésima vez minha alta, eu quero ir para casa.
Lenitivo: adj. Diz-se de quem ou do que provoca alívio ou acalma; calmante ou bálsamo. Que alivia dores.
Olá Cristiane
Uma honra ler 2121 antes que o capitulo seja liberado ao publico.
Agora, fala sério, se não da para matar o Mike imediatamente, da um jeito dele sumir da casa da Theo pelo amor de deus.
Falando em Theo, já chega de sofrimento pra ela, ta demais Cris.
E que tentou matar a Sam? Desconfio da Claire. Sei lá muito solicita.
Achei tão fofa a cena da reconciliação, perdão sem muito drama, fora o medo descabido da Theo, tadinha da Sam.
Sou péssima em comentar, por isso quase não comento, mas sinceramente 2121 é uma das melhores estórias que já li no mundo virtual.
Parabéns
Migs.. To desde sexta feira atualizando a pagina do blog..
O capitulo foi bem tranquilo, tirando inicio.
To cada vez mais in love com Daniela, mas acho que isso tem a ver com a atriz que a inspira..
Essa reconciliaçao sem drama so mostra o quanto Theodora é areia demais para o caminhaozinho de Sam. E o quanto Samantha é uma vadia sortuda. Esse final foi meio confuso…
Theodora ta brisada… rs’
(Desculpe o vocabulario, mas passei a semana assistindo Orange Is The New Black).
Acho que é so.
Bjs.
Sério mesmo que esse lixo do Mike ameaçou a Sam? Bem feito, talvez agora ela tenha consciência do psicopata que tem em casa. Já estava na hora de providências serem tomadas e eu sinto que o Mike vai morrer pelas mãos da própria Sam. Isso seria incrível! E gente, quando o sofrimento da Theo vai acabar, hein?! Quando pensamos que ela está bem acontece algo que desestrutura tudo. Confesso que tbem tenho dó da Sam, por mais que as vezes ela seja meio sem noção, ela realmente ama a nossa menina. Torcendo exageradamente para tudo se acertar logo.
Ana, não dava pra esperar algo nobre vindo do Mike, né? Agora apelou pra chantagem, e só vai piorar com o tempo (sim, eu pretendo mantê-lo até o fim).
Mas uma coisa é certa, Sam já tem consciência do caráter duvidoso do bolha que chamava de noivo.
Sobre o sofrimento de Theo, uma hora as coisas vão se inverter.
Sim, ali tem amor mútuo sim <3