2121 – Capítulo 31

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*** Esse capítulo possui descrições de cenas violentas, se você for sensível ao assunto violência sexual, recomendo que não leia ***

Capítulo 31 – Violação

 

19 de março de 2119

– Acho que só vai acordar amanhã.

– O que deram para ela?

– Algo forte, ela está apagada desde San Paolo.

– Quanto mais dormir, melhor, vai acordar nesse inferno mesmo…

– Ela veio de San Paolo?

– Foi o que Marli disse.

– Se acordar dando chilique eu a coloco no lugar.

Theo acordou com dificuldades para manter os olhos abertos, que pesavam. Estava deitada de lado numa pequena cama de colchão fino, não reconheceu o lugar, virando-se confusa. Encontrou os olhares curiosos de quatro garotas, que a observavam como um novo animal no zoológico.

– Eu estou num albergue? – Theo perguntou, sentando-se na cama.

Todas sorriram, se acotovelando.

– Não, isso aqui está bem longe de ser um albergue. – Pauline respondeu. Era uma garota alta, robusta, de longos cabelos castanhos escuros.

Theo tateou seus bolsos, ainda com confusão.

– Alguém viu meu comunicador?

– Ninguém pode usar comunicador aqui. – Sierra disse, era a menor de todas, uma loirinha com aparência frágil.

– Aqui? O que é aqui?

– Seu novo lar, vá se acostumando. – Pauline respondeu jocosamente.

– É o Circus. – Claudia completou.

– Circus?

– Uma casa de prostituição na Zona Morta. – Pauline esclareceu.

– Casa… – Theo demorava para compreender o que estava acontecendo.

– Você veio de San Paolo? – Sierra perguntou.

– Sim, mas… Não pode ser, eu estava saindo de casa para ir para a aula e agora estou na Zona Morta? – Theo sentou-se na borda da cama.

Estava num quarto grande e comprido, com paredes irregulares, formando uma grande figura geométrica disforme. Haviam umas quinze camas espalhadas pelo quarto, em algumas delas, garotas dormiam, em outras, contemplavam o vazio, com olhares mortos, recostadas na cabeceira. As paredes eram brancas e manchadas, o local era abafado, o odor era uma mistura desagradável de naftalina com perfume doce.

– Bem-vinda ao inferno, com o tempo você se acostuma. – Pauline falou.

– Eu nunca vou me acostumar. – Sierra resmungou.

– Com o tempo? Não, eu não posso ficar aqui, tenho aula. Preciso falar com meu pai, ele precisa me buscar. Como posso fazer uma ligação? Alguma de vocês pode me emprestar o comunicador?

– Você é surda? Aqui ninguém pode usar comunicador nem nada do tipo, se te pegarem perto de algum você vai para o buraco na hora.

– Buraco?

– Não queira conhecer o buraco. – Claudia disse, enquanto ajeitava suas longas trancinhas. A outra garota era Simone, uma jovem morena de poucas palavras.

– É tipo uma solitária, mas não tem comida. – Sierra completou.

Theo levantou-se da cama, zonza do forte tranquilizante que haviam aplicado de manhã, ainda no Brasil.

– Desculpe, não estou entendendo o que vocês estão falando, mas eu realmente preciso ir, já devo ter perdido as primeiras aulas.

Pauline a segurou pelo ombro, de forma abrupta.

– Onde pensa que vai, fofa?

– Embora. – Theo a encarou assustada.

– Não tem como sair daqui, você não entendeu isso ainda? Algum sacana te vendeu para o Elias, e agora você faz parte do catálogo.

– O que meu tio tem a ver com isso?

– Elias é seu tio? – Pauline ergueu as sobrancelhas.

– Não sei, eu tenho um tio Elias que mora na Zona Morta.

– Sempre soube que ele era um porco nojento, vai fazer isso com a própria sobrinha… – Sierra murmurou ao fundo.

– Tio Elias está aqui?

– Não ache que vai ter privilégios por ser sobrinha desse filho da mãe.

Theo esfregou o rosto, com impaciência.

– Como faço para falar com ele? Deve haver algum mal-entendido.

– A princesinha acordou? – Todas olharam na direção da porta da escada, ao ouvirem Marli, a gerente da casa, surgir. Era uma mulher grande de aproximadamente cinquenta anos, de fortes olheiras e cabelo encaracolado.

– Ela quer falar com o Tio Elias… – Pauline debochou.

Marli aproximou-se de Theo, a medindo dos pés à cabeça.

– Elias é ocupado, é comigo que você vai falar se precisar de alguma coisa.

– Senhora, eu acredito que houve algum equívoco, eu não sei como vim parar aqui, mas com certeza isso pode ser resolvido de forma tranquila, gostaria de fazer uma ligação para minha casa.

– Marli, ao seu dispor.

– Marli, eu preciso falar com meu pai, ou com meu tio.

– Elias, certo? Você é sobrinha dele.

– Sou, se for o mesmo Elias…

– Bom, eu vou tentar explicar de uma forma que você não faça perguntas, porque eu odeio perguntas idiotas. Esse é seu novo lar, então pare de tentar sair, falar com alguém, voltar para casa, apenas aceite sua nova condição.

– Que condição?

– Aqui é um lugar onde as meninas prestam serviços sexuais aos clientes, e alguém vendeu você para nós, portanto agora você é nossa propriedade. Nosso turno de trabalho é das seis da noite às seis da manhã, se você fizer menos de doze homens na noite não come no dia seguinte.

– Dormir, dormir com doze homens? – Theo falou gaguejando.

– Dormir é a última coisa que você vai fazer com eles, a não ser que eles paguem para isso. – Marli deu um sorrisinho torto. – Mas se algum deles quiser a noite inteira, também escapa da punição do dia seguinte.

Theo olhou atordoada para o lado, onde agora apenas duas das garotas acompanhavam a conversa, se dando conta que elas eram prostitutas, e finalmente entendia onde estava.

– Sim, todas estas garotas aqui estão na mesma condição que você. – Marli comentou, como se lendo seus pensamentos. – E todas elas comem no dia seguinte, então é bom seguir o exemplo delas e ficar na linha.

– Não, isso é um engano, ninguém me vendeu, eu não posso ficar aqui, eu não faço esse tipo de trabalho.

– Pois vai começar sua linda carreira na prostituição hoje.

– Me deixe falar com meu tio.

– Garotinha, já estou começando a perder a paciência, e acredite, você não quer me ver possessa. Elias sabe que você está aqui e o que você irá fazer, então esqueça, ele não vai te devolver, pelo contrário, ele quer você dando lucro ainda essa noite.

– Mas eu não sou prostituta, isso é um equívoco.

– Essas meninas também não eram antes de chegar aqui.

– Eu não vou fazer isso.

– Ah, vai sim. Por isso trate de tomar um banho e se preparar para a noitada, vocês sobem dentro de duas horas.

– Eu não vou fazer isso, por favor, me deixe fazer uma ligação.

– Está avisada. – Marli disse e virou as costas.

Theo foi atrás dela, e assim que Marli abriu a porta, Theo foi na direção das escadas. Tomou um empurrão violento, caindo de costas no chão, tentou levantar rapidamente, mas foi impedida por Sierra, que a segurou pelo ombro.

– Melhor não, você vai se machucar. – Ela disse com sua voz doce.

– Eu preciso sair daqui. – Theo disse com pânico.

***

– Chefe, sua sobrinha é osso duro de roer. – Marli disse, ao entrar no grande escritório de Elias, que era decorado com temática de jogatina, haviam dois bancos com pés em formato de dados vermelhos.

– Nada ainda? – Elias, um homem alto de rosto magro e olhos azuis, exasperou atrás de sua mesa coberta com uma toalha de feltro verde, que combinava com seu grande sofá de veludo também verde.

– Ela está no buraco há três dias, se recusa a trabalhar.

– Alguém pode estar a alimentando sem que você veja?

– Não, impossível, apenas eu tenho a chave daquele lugar.

– É… Ela é meio teimosa mesmo. – Disse jogando o cabelo acobreado para trás.

– Ela vai acabar morrendo lá, e como é sua sobrinha…

Elias inclinou-se para frente, pousando o queixo em suas mãos unidas.

– Eu sabia que ela ia dar trabalho. – Elias bufou. – Tire ela do buraco, dê comida e um bom banho, depois traga aqui para conversar comigo.

Aproximadamente uma hora depois, Marli reapareceu no escritório, que tinha cheiro de perfume barato, como todo o restante do lugar. Segurava Theo pelo braço, que parecia ansiosa por finalmente falar com seu tio.

Ela correu até a mesa dele, que a impediu de continuar, a repreendendo.

– Hey! Não se aproxime. Sente-se aí.

– Tio, o que está acontecendo? Houve algum engano! – Theo sentou-se à sua frente.

– Não sei do que você está falando. – Elias esticou-se para trás em sua grande cadeira giratória.

– O que estou fazendo aqui? Por que me trouxe para cá?

– Você veio trabalhar.

– Mas eu não quero trabalhar aqui, eu tenho minha vida em San Paolo, acho que alguém deu a você informação errada, eu não quero ficar aqui, quero voltar para casa.

Marli continuava de pé, de guarda em frente à porta, de braços cruzados.

– Esqueça, você não vai voltar para casa, eu comprei você, então agora você pertence a mim e aos meus negócios. – Elias falava calmamente, quando sorria várias rugas formavam-se em seu rosto magro.

Theo movia a cabeça com confusão, era seu quarto dia no Circus, mas ainda não entendia o que estava acontecendo.

– Meu pai sabe que estou aqui? Me deixe falar com ele, só uma ligação.

– Seu pai sabe. Não apenas sabe, como foi ele que te colocou aqui. – Ele sorriu com deboche.

– Não… Ele… – Theo tentou balbuciar algo, mas não conseguiu.

– Acho que ele estava precisando de dinheiro, e como você daria uma ótima funcionária, aceitei. Vou cobrar mais caro por causa das tatuagens, é exótico, eles adoram.

– Me tire daqui, tio. Por favor, me deixe ir embora, eu não direi ao meu pai que você permitiu.

– Seu expediente começa dentro de quatro horas, eu não aceitarei frescuras nem desacatos, você vai obedecer a mim e a Marli, e vai ser uma garota comportada, cumprido a cota noturna sem reclamações. – Elias havia mudado de tom, estava sério agora, falando de forma incisiva.

Theo percebia que tudo aquilo de fato era real, e que não sairia dali, estava presa naquele bordel.

– Não farei isso. – Theo murmurou, perturbada.

– Marli já deve ter explicado as regras, mas vou repetir: você não pode recusar cliente, nem pode encerrar o horário contratado antes da hora. Não pode se negar a fazer qualquer procedimento ou prática que o cliente desejar, se algum deles colocar sua vida em risco, aperte o botão azul embaixo da cama, os seguranças irão entrar. A cota é de doze programas por noite, ou algum que compre o período completo, o que acontece geralmente quando é um programa grupal. Eles não podem entrar nos quartos com comunicadores ou qualquer equipamento eletrônico, mas caso desrespeitem essa regra, se você chegar perto de um comunicador, vai para o buraco, que você já conhece, não é? – Elias sorriu.

– Mas… Eu não faço essas coisas, eu sequer durmo com homens! – Theo dizia com desespero.

– Viu? Até que o Circus tem suas vantagens, você vai virar mulher de verdade aqui.

– Não, eu não farei isso, podem me jogar no buraco de novo, mas eu não vou fazer isso. – Theo disse, se levantando.

Elias levantou-se também, e foi na direção dela, a segurando pelo braço.

– Marli, pode sair. – Elias ordenou.

Theo soltou seu braço, tentou ir na direção da porta, Elias a segurou por ambos os braços, com violência.

– Você vai sim, todas as noites, e sem reclamar, sem dar um pio. – Ele disse, com um olhar duro.

– Não vou! – Theo tentava se soltar.

– Vai, e eu vou te dar um bom motivo para ir para o bar todas as noites.

Elias a atirou no sofá verde, antes que ela conseguisse se levantar, já estava em cima dela, segurando seus braços.

– Melhor que seja inaugurada por um ente querido, não acha? – Elias disse, descendo a calça de Theo com uma das mãos.

– Me solte! Seu animal!

– Dizem que se você colaborar dói menos, foi o que ouvi falar.

Elias a violentou por vinte minutos, os mais longos minutos de sua vida. Ao final, Theo não esperneava mais, apenas chorava em silêncio.

– Pronto, você está inaugurada, e vai estar pronta para trabalhar daqui a pouco, sem frescuras, aqui não tem lugar para frescura, ouviu?

Theo não respondeu.

– Você entendeu? Você tem duas opções a partir de hoje, ou sobe para o bar e trabalha, ou sobe para meu escritório. Entendeu?

– Entendi. – Theo respondeu, esfregando o rosto com raiva.

Elias já ia saindo de cima dela, subindo sua calça, quando mudou de ideia.

– E agora você vai aprender a fazer o que os clientes sempre querem, eles vêm aqui em busca do que as mulheres deles não fazem em casa, querem comer um bom rabo.

Theo apenas o fitou assustada.

– Não entendeu? Vire de bruços, sobrinha.

***

– Theo aproximou-se de Sierra de forma retraída, segurando os braços, os cabelos ainda molhados após o banho.

– Você sabe como consigo um absorvente? – Perguntou com a voz trêmula.

– Não tenho coletores, você pode bater na porta e pedir um para Marli.

– Não, coletor não serve, preciso de um daqueles antigos, externo.

– Acho que ainda tenho um.

Ela mexeu numa caixa embaixo da cama, e lhe entregou o pequeno pacote.

– Visitinha mensal, não é? – Sierra sorriu.

– Não. – Theo respondeu quase num murmúrio.

A garota desfez o sorrisinho.

– Ah… Foi mal. Bom, isso acontece aqui com mais frequência do que você imagina. Tem uns caras que pegam pesado, vá se acostumando.

Theo a encarou assustada, agradeceu e foi ao banheiro. Passou o restante da tarde deitada de forma encolhida em sua cama, coberta até o pescoço, encarando a parede. Parecia em estado catatônico, sequer se movia.

As seis Marli buscou as garotas, como fazia rotineiramente, que subiam em silêncio para o bar, Theo não levantou da cama. Marli foi até ela, e a ergueu pelo braço, a assustando.

– Você sabe suas opções, é bar ou escritório, você decide.

Theo não respondeu, apenas a fitou arregalada, por fim subiu também as escadas.

O bar ainda estava vazio, tinha um balcão ondulado vermelho de ponta a ponta, com garrafas e copos pendurados acima. Haviam luzes pontuais e suaves espalhadas pelo teto, mas o ambiente era relativamente escuro. As paredes eram aveludadas e vermelhas; os sofás compridos e marrons. Havia ao final um palco com a frente arredondada, com quatro mastros de pole dance, e luzes o contornando. Espalhadas pelo centro, pequenas mesas redondas, com duas cadeiras cada.

Nem todas as garotas que trabalhavam ali eram escravas sexuais, algumas iam até o Circus a noite trabalhar por vontade própria, mas faziam seu próprio horário.

Theo estava parada na entrada, olhando ao redor terrificada, suas mãos tremiam. Assustou-se quando Sierra a tomou pela mão, a levando até o balcão do bar.

– Sente aqui enquanto eles não chegam.

– Eu não posso fazer isso.

– Não temos escolha, docinho. Antes eu rezava para algum cliente bondoso me ajudar a sair daqui, ou para que alguém viesse me resgatar. Hoje eu rezo apenas para estar viva no dia seguinte. – Sierra respondeu num tom reconfortante e pesaroso.

– Há quanto tempo está aqui?

– Quase um ano. Não vou dizer que você se acostuma, mas se torna mais mecânico com o passar do tempo. Você se sente menos humana, e acredite, isso é bom.

– O que fazemos agora?

– Bom. – Sierra ergueu a mão para o barman, com dois dedos levantados. – Esperamos a noite começar com um empurrãozinho alcóolico. Beba umas três doses para relaxar, mas não beba mais que isso, os homens percebem que você está bêbada e fazem crueldades.

– Eu não quero beber, quero voltar lá para baixo.

Sierra tomou uma taça e entregou à Theo.

– Só depois que o sol nasce. Então se eu fosse você virava essa dose sem pensar duas vezes, a noite será longa.

– E se nenhum homem me escolher, posso apenas ficar aqui no bar, desviando deles?

– Eles te escolhem, tem mais clientes do que meninas.

Theo olhou para a taça em sua mão, começava a aceitar seu destino, por mais aterrorizada que estivesse. Virou o copo de uma vez só, trazendo um sorriso da pequena Sierra.

Uma hora depois e a música ambiente se tornou música alta, três garotas com fantasias sensuais surgiram no palco, dançavam ao redor dos mastros. Aos poucos tiravam as peças de suas roupas, num show de strip tease apreciado por quase todos os homens no recinto.

Uma mão segurou o ombro de Theo, por trás. Ela virou-se assustada, dando de cara com um homem alto, acima do peso, com vasta barba.

– Paguei sua hora. – Ele disse, fazendo um gesto convidativo com a cabeça.

Theo hesitou, sabia que não podia negar, mas também não conseguia sair dali, estava paralisada de medo.

– Escolha outra, não estou disponível agora. – Theo arriscou.

– De jeito nenhum, paguei pela menina dos braços coloridos. Vamos. – Ele disse a levando pelo braço.

– Não, eu vou depois, ok?

Ele gesticulou na direção da porta, em instantes um segurança de longo bigode castanho apareceu.

– A puta está paga e não quer ir, se ela não for quero meu dinheiro de volta em dobro. – Ele reclamou.

O segurança olhou irado para Theo, que soltara-se da mão do cliente. Aproximou-se e falou em seu ouvido.

– Você tem o rostinho muito bonito para estragar com minhas mãos lá no quartinho, mas se você não for com ele agora, vai ficar uma semana sem conseguir abrir os olhos.

– E então? – O cliente disse, de forma impaciente.

– Ela vai, não vai, meu amor? – O segurança disse, com deboche.

Theo apenas confirmou com a cabeça, o cliente a tomou novamente pelo alto do braço, a levando para um dos quartos de trabalho. O pequeno quarto de paredes amarelas tinha uma cama de casal, uma pequena pia, e um velho criado mudo, com três preservativos e lubrificante na gaveta de cima, haviam acessórios na de baixo. A luz também era amarela, fraca, deixando o clima nauseante.

A regra era que os três preservativos durassem todo o expediente, sendo reutilizados. Havia uma toalha cinza imunda pendurada num gancho ao lado, caso precisassem se limpar após o ato, já que elas eram obrigadas a trabalhar mesmo menstruadas ou doentes.

– Vamos lá, gatinha, vá direto ao ponto. – O homem ficou de pé em frente a cama, abriu sua calça colocando seu membro para fora. Theo apenas olhou horrorizada.

Ele mexeu a mão com impaciência, a chamando.

– Ande, venha logo.

– Fazer o quê?

– Chupar, lógico. Você é burra ou o que? Estou com meu pau para fora esperando uma mamada e você pergunta o que deve fazer?

– Não vou fazer isso. – Theo disse, dando passos para trás.

– Fui pegar justamente a puta mais difícil do Circus? Meu tempo tá correndo! – O homem de barba marrom foi para o canto, deixando suas calças caírem aos pés, colocou rapidamente o preservativo. Tomou Theo pelo braço, a atirando na cama, arrancando sua calça e calcinha.

Já na cama, ele levou poucos minutos para consumar o ato, mesmo com os empurrões e gritos de Theo, que deixavam arranhões nos ombros dele.

Ele saiu de cima dela, a olhou com desprezo por alguns segundos, coçando a barba.

– Não pense que não reclamarei para Elias, ele me fez acreditar que o valor a mais compensaria, mas foi uma foda de merda. – Subiu a calça e saiu do quarto.

Theo alcançou sua calça e calcinha no final da cama, se vestindo. Sentou-se na beira da cama, fitando o chão, com uma estátua, não percebeu o sangue que sujava sua calça. Depois de alguns minutos naquele estado, começou a chorar, imaginando que aquilo era só o começo de algo que não teria fim.

Em seguida o segurança de bigode comprido entrou pela porta, parando a sua frente.

– Anda piranha, já deu seu tempo.

– Eu quero ficar aqui mais um pouco.

Ele aplicou um tapa com as costas da mão no rosto dela, a deixando apavorada, o fitando.

– Vocês têm dez minutos para sair depois que o cliente vaza, seu tempo já esgotou, volte para o bar agora ou te levo para o quartinho branco.

– Eu preciso de outras roupas. – Theo falou envergonhada.

– Não, não precisa não, os clientes estão pouco se fodendo se você está sangrando ou não, eles só querem meter e sair.

Theo enxugou as lágrimas e levantou-se, seguindo o segurança até o bar. Procurou por Sierra, mas ela não estava por lá.

Não teve tempo de chegar até o balcão, um homem de aproximadamente trinta anos e cabelos bem penteados a segurou pelo braço.

– Até que enfim, venha.

Theo estava de volta ao mesmo quarto número treze, o colchão tinha uma capa laranja e tinha manchas escuras, havia um lençol dobrado aos pés. Este parecia não ter tanta pressa, tirou toda a roupa, pendurando ao lado da toalha, Theo aguardava ao lado do criado muda, cabisbaixa.

– Por que ainda não tirou sua roupa?

– Não precisa.

– Precisa sim, tire tudo e deite.

Theo começou a tirar sua roupa, com as mãos trêmulas.

– Anda logo, não tenho a noite toda, minha mulher está esperando que eu chegue em uma hora.

Quando Theo terminou de tirar a roupa, o homem ajeitou o cabelo para o lado, e observou de perto.

– Carne nova, parece produto de qualidade. – Ele riu, e tentou beijá-la, Theo virou o rosto.

Aproximou-se ainda mais, tomou a mão de Theo, a colocando em seu membro.

– Só pare quando estiver em ponto de bala.

Após masturbá-lo, ele a conduziu para a cama, pelos ombros. Theo deitou-se, mas ele a virou.

– Você acha mesmo que eu viria aqui para comer boceta? Isso eu tenho em casa.

Ele vestiu o preservativo e tentou penetrá-la, sem sucesso. Usou o lubrificante, mas também não conseguiu. Tentava forçar cada vez com mais violência, para agonia de Theo, que acabou apertando o botão azul, num momento de completo desespero.

Rapidamente o segurança entrou no quarto, tirando o homem de cima dela.

– Não se aproxime dela, senhor. – O segurança falou firme.

– Que porra é essa? Eu quero comer a garota, pode me dar licença?

– Ela chamou porque você estava fazendo algo que não é permitido. O que ele estava fazendo? – Ele perguntou a Theo.

– Ele.. Ele estava usando violência. – Theo gaguejou.

– Violência?? Eu só estou tentando comer o rabo dessa vadia!

– É só isso?

– Claro! Você vai reembolsar esse tempo perdido?

– Não.

– Então saia daqui!

Ele olhou para Theo de forma irada, e esbravejou.

– Não aperte a porcaria do botão de novo, a próxima vez não serei esse amor de pessoa. – O segurança disse e saiu.

– Vamos lá, de quatro!

Finalmente o homem enfurecido conseguiu seu objetivo, deixando o quarto minutos depois. Theo voltou ao bar, com passos trôpegos. Sua alma sendo despedaçada, programa a programa, completando nove no total.

No dia seguinte voltou para o quarto e não teve forças de ir até o banheiro tomar um banho, apenas atirou-se em sua cama, estarrecida. Passou as horas seguintes vomitando num balde ao lado de sua cama, trazido por Sierra. Era seu único movimento, o ato de debruçar-se e vomitar.

Havia adormecido um pouco antes do meio-dia, mas a uma da tarde Marli entrou no recinto, chamando para o almoço, que era realizado num pequeno refeitório, a entrada ficava no final do quarto e a porta se abria apenas para as refeições e depois, para que limpassem o local.

– Vamos lá, preguiçosas, a comida está esfriando. – Marli chamava.

– Theo acordou, sentia-se mal, fraca. Sentou devagar na cama, Sierra foi até ela, a ajudando a levantar dali.

– Não, todas menos aquela novata ali, ela não cumpriu a cota, fez apenas nove.

– Foi o primeiro dia dela! E ela está passando mal, está vomitando. – Sierra disse, com revolta.

– Estou morrendo de peninha dela.

– Ela precisa se alimentar.

– Se está tão preocupada com sua nova amiguinha então fique aí tomando conta. Você também não vai comer hoje. – Marli disse e virou as costas, indo para a cozinha.

Pauline passou por Sierra e Theo, zombando.

– Deixe morrer, não vai fazer falta.

As duas, agora solitárias no quarto, estavam sentadas lado a lado na cama. Theo com o olhar cabisbaixo, sem forças, e Sierra a fitando.

– Depois eu tentarei conseguir alguma comida que as meninas contrabandeiam da cozinha.

– Você não deveria ter feito isso, vai deixar de comer por minha causa. – Theo resmungou baixinho.

– Você não está legal.

– Não preciso ficar legal, só preciso continuar viva e acordada. Não é isso que dizem lá em cima?

Sierra pousou sua mão nas costas de Theo, lhe fazendo um afago.

– Não perca as esperanças. Eu não perdi.

Theo a olhou, tentou dar um sorriso, mas não conseguiu.

– Obrigada por me defender.

***

No terceiro dia de trabalho, completando uma semana naquele matadouro de garotas, finalmente Theo conheceu o quarto branco.

– Mas porque raios você apertou esse botão de novo? – O segurança bradou ao entrar no quarto treze.

– Ele estava me espancando! – Theo desesperada falou entre lágrimas, seu nariz sangrava.

– Espancando o caralho! Eu estava dando uns tapinhas, isso é permitido!

– Eu imaginei. – O segurança bufou com impaciência. – Termine seu horário, depois conversamos.

Minutos depois e o homem saio do quarto, entrando o segurança imediatamente, a erguendo pelo braço.

– Venha comigo.

– Para onde?

Ele não respondeu, no caminho para uma pequena porta no final do corredor, chamou outro segurança para ajudá-lo, o de longos bigodes.

– Apertou o botão de novo?

– Ahan Venha.

Os três entraram num quarto estreito, de paredes brancas com rajas de sangue por todos os lados, havia apenas uma cadeira de madeira e uma toalha ensanguentada no local.

– Não estrague o rosto, ela é sobrinha do chefe. – O segurança orientou seu comparsa.

Após alguns minutos levando chutes na parte interna da coxa e nas costelas, ela foi devolvida ao bar, tinha dificuldade em respirar e caminhou devagar até Sierra, que estava no bar.

– O que aconteceu, docinho?

– Conheci o quartinho branco.

– Meus pêsames… Pelo menos pouparam seu rosto, só machucaram seu nariz.

– Foi o cliente, por isso apertei o botão.

– Não aperte, é pior.

– Clientes podem nos espancar?

– Eles podem tudo, menos nos matar.

Theo sentou-se curvada sobre o balcão, com a mão sobre as costelas.

– Eu não vou aguentar isso por muito tempo.

Sierra olhou atentamente para os lados, tirou um pequeno embrulho do bolso do short.

– Tome. – Tomou as mãos de Theo e entregou.

– O que é isso?

– Hidrometa, tem 2 ml aí dentro, é o suficiente para aguentar uma noite pesada.

– Hidrometa? – Theo a fitava confusa.

– Aplique em alguma veia, não é tão difícil.

– Loirinha? Nossa hora chegou. – Um homem magro e alto colocou o braço pelos ombros de Sierra, a tirando dali.

– Só um instante. – Ela se desvencilhou.

– Não, já está correndo o tempo, e hoje quero serviço completo.

Sierra olhou hesitante para Theo, lhe dando uma última orientação.

– Braço, antebraço, atrás do joelho, ou no pé, esses são os melhores lugares. Cuidado para não pegar uma artéria, elas são mais profundas e jorram. Em cinco minutos já estará fazendo efeito, não beba mais nada hoje.

– Venha logo. – O homem a puxou rispidamente.

Theo foi até o banheiro, trancou-se numa cabine e abriu o embrulho num pano preto, havia uma ampola e uma seringa. Sentou-se no vaso com feições de dor, preencheu a seringa com os 2 ml, esfregou o antebraço esquerdo, e aplicou a injeção sem titubear.

Fechou os olhos ao sentir uma onda quente e forte subir por seu corpo, em minutos sentiu-se transportada para outro lugar, quente e ameno, parecia que seu corpo pesava menos agora, uma dormência incômoda e enjoativa mascarou a dor que sentia do recém espancamento.

Ouviu batidas fortes na porta do banheiro, era algum segurança reclamando do tempo em que estava trancada ali dentro. Suspirou fundo e se pôs de pé, caminhou com tonturas até o bar.

Alcançou a cota do dia, desceu as seis da manhã com Sierra, e adormeceu assim que o sol despontou, já com as dores de volta.

Mais tarde naquele dia, acordaram para o almoço, Theo já estava sentada na comprida mesa do refeitório, aguardando sua vez de buscar sua comida. Estava com o cotovelo sobre a mesa, esfregando os olhos com os dedos. Levou um susto com um soco moderado em suas costelas, bradando um gemido de dor.

– Que porra foi essa?? – Indagou olhando para Pauline, que se sentara ao seu lado.

– Soube que alguém conheceu o quartinho branco ontem. O que achou? – Perguntou já mexendo em seu prato cheio a frente.

– Por que não vai bater na sua vó? Me deixe em paz.

A grandalhona lançou um olhar enfurecido para ela, largando o garfo.

– Mas respeito comigo, vadiazinha da capital.

– Levei porrada a noite inteira e você vem me dando mais porrada? Ah, vá se catar.

Pauline levantou-se, ficando ao seu lado com semblante enfurecido.

– O que você disse?

Ouviu-se a cozinheira chamando o nome de Theo, para buscar sua comida. Prontamente ela levantou-se com seu prato vazio em mãos, a ignorando.

– Onde pensa que vai?

– Por que não se revolta com as pessoas que te fodem? Me deixe pegar minha comida, não te fiz nada.

Pauline a empurrou, desequilibrando Theo, que agora também tinha ares enfurecidos.

– Qual seu problema comigo? – Theo largou o prato na mesa.

– Você acha que tem o rei na barriga só porque é sobrinha do Elias? Comigo você não se cria, baixe sua bola.

– Canalize essa raiva gratuita que você tem de mim para coisas mais úteis. Você é grande e forte, enfrente os seguranças, tente fazer algo por si.

– Agora você passou dos limites. – Pauline foi para cima de Theo, mas Simone, a menina calada, a segurou, a tirando dali. Marli por fim a tirou da cozinha e Theo pode se servir.

– Essa foi por pouco. – Sierra disse, sentada ao lado de Theo.

– Essa menina é louca, só pode. – Theo comia enquanto esfregava a outra mão sobre as costelas doloridas.

– Não estou justificando nada, mas também não precisava provocar, ela ainda não superou aquilo.

Theo franziu a testa, sem entender.

– Aquilo o que?

Sierra deu um meio sorriso com confusão.

– Você falou sem saber?

– Saber do que?

– Ela enfrentou os seguranças uma vez, tentou fugir, e já na porta de saída eles a pegaram e levaram para o quarto branco. A coisa foi tão feia que ela teve hemorragia interna, tiveram que levar num destes médicos clandestinos, ela perdeu o baço e parte do rim.

– Nossa Senhora… Eu não sabia. – Theo disse, impressionada.

– Hey, vocês duas. – Marli apontou para a dupla que conversava. – A louça é de vocês hoje.

– Adeus cochilo da tarde. – Sierra suspirou.

– Mas ela se recuperou? Está bem agora? – Theo voltou ao assunto.

– Ela ficou mal por um tempo, mas acho que agora está bem.

– Você sabe se ela teve acesso a remédios?

– Acho que sim, senão teria morrido.

– Eu preciso dos meus remédios, mas Marli não me ouve.

– Que remédios?

– Eu tomo alguns desde que nasci, preciso de pelo menos dois, senão vou sangrar até morrer aqui, ou com alguma infecção.

Todas as meninas já haviam deixado o refeitório, Theo e Sierra recolhiam os pratos e talheres para a pia.

– Não quero parecer pessimista, mas uma vez chegou aqui uma menina que tinha diabetes, ela pedia insulina mas nunca deram.

– Ela conseguiu controlar a doença?

– Morreu meses depois.

– Que ótimo…

Lavavam grandes panelões, quando Theo retornou o assunto.

– Pauline foi a primeira a tentar fugir?

– Não, outras já tentaram.

– Alguma conseguiu?

– Assim que eu cheguei aqui, uma garota tentou fugir e apareceu morta por overdose no dia seguinte, dizem que mataram ela, eu soube que várias morreram assim. Existe uma lenda que uma garota fugiu, mas talvez seja apenas lenda, foi bem antes de mim.

Theo deu uma olhada no recinto, estavam sozinhas.

– Eu vou fugir daqui. – Confidenciou baixinho.

– Planejou alguma coisa? – Sierra perguntou com interesse.

– Tenho algumas ideias, preciso estudar melhor o local, a rotina, os pontos vulneráveis. Mas eu vou sair daqui, eu preciso sair daqui.

– Eu já pensei em várias possibilidades, confesso que já tentei pelo banheiro uma vez, mas não consegui ir adiante, dei de cara com uma parede.

– Eu vou sair, eu quero minha vida de volta. – Theo havia parado de esfregar a panela.

– Você mora em San Paolo, não é?

– Sim, e voltarei para lá em breve.

– Eu queria morar em San Paolo, era nosso sonho. – Sierra falava com um sorriso tímido.

– Nosso?

– Eu e Fael, meu namorado.

– De onde você é?

– Do interior do Paraná, uma cidadezinha rural. O Fael também queria começar uma vida comigo em San Paolo, estávamos guardando dinheiro para ir e procurar emprego, para termos como nos manter no início, sabe?

– Sim, é a terra dos sonhos, não é?

– Minha mãe sempre diz que eu nasci para morar em cidade grande, e eu estava tão perto de conseguir…

– Como parou aqui? – Theo estava absorta pela conversa, com espumas nas mãos.

– Um casal apareceu no restaurante onde eu trabalhava, me ofereceram emprego em San Paolo, num bar, preparando drinques. Disseram que eu deveria ir com eles até o bar para fazer uma entrevista, que me pagariam a passagem de ida e volta.

– Hum… E você foi. – Theo previu o final da história.

– Fui. E acabei aqui. Sequer pisei em San Paolo.

– É assim que fazem… Eles aliciam as garotas com propostas de emprego tentadoras, se aproveitam da boa fé delas.

– Eu fui burra, eu sei, deveria ter desconfiado, mas estava tão feliz de ter conseguido um emprego antes mesmo de procurar.

– Eu imagino, eles são bons de lábia.

Sierra voltou a sorrir.

– Mas um dia irei para San Paolo, um dia terei minha casinha lá, eu e o Fael. Quem sabe com o tempo tenhamos uma casa maior, e eu possa levar minha mãe e meus irmãos também.

Theo também sorriu.

– Quando eu sair daqui não poderei voltar para minha casa, mas eu voltarei para minha vida lá, também quero ter meu cantinho. E nos visitaremos, que acha?

– Você pode ficar com a gente, se quiser.

– Não vou querer incomodar vocês, mas eu tenho alguns amigos que podem ajudar a conseguir empregos para você e Fael.

Sierra estendeu a mão molhada, para um cumprimento.

– Fechado. – Theo apertou sua mão.

***

Theo completava um mês de Circus, naquela noite pela primeira vez teve um horário completo, um grupo de cinco pessoas havia comprado sua noite inteira.

Conversara com todas as meninas em busca de um pouco de hidrometa, sabia de antemão que a noite seria pesada, mas não conseguiu nada.

Um segurança tocou em seu ombro, a chamando.

– Onde você pensa que vai?

– Estava procurando uma coisa.

– Por que ainda não está no quarto?

– Eu devo ir para lá?

– Os clientes já estão esperando no treze, vaze logo.

Theo tomou o rumo do corredor amarelo, parou em frente a porta e suspirou pesadamente, teria que passar de cara limpa a noite com cinco homens.

Ao abrir a porta não pronunciou palavra alguma, apenas olhou perplexa para o interior, sem entender o que acontecia ali. Haviam cinco mulheres a aguardando.

– Até que enfim! Entre, bonitinha. – Uma delas disse, era a mais velha do grupo, aparentava quarenta e tantos anos e tinha os cabelos dourados.

Estavam vestidas com boas roupas, conversando displicentemente, duas delas recostadas na parede segurando taças de champanhe.

– Você sempre é tímida assim? – Outra perguntou, estava sentada na beirada da frente da cama e vestia uma bela camisa de seda pérola, parecia ter trinta anos.

– Desculpe, é que… Eu nunca…

– Nunca foi para a cama com uma mulher? Não tem problema, posso te ensinar. – Ela respondeu, erguendo sua taça para Theo.

– Não, não é isso. É a primeira vez que atendo mulheres aqui, por isso estranhei quando abri a porta.

– Então já fez programas com mulheres, mas não aqui?

Theo parecia encabulada, respondendo timidamente.

– Não, nunca fiz com mulheres. Quer dizer… Já namorei mulheres, mas nunca fiz programas. Entenderam?

– Agora sim. Venha aqui, sente conosco, temos a noite inteira e Sissy está apreensiva, nos ajude a deixa-la à vontade. – A mulher da camisa de seda apontou para uma garota de uns vinte e cinco anos recostada na cabeceira da cama, com ares tímidos.

– Você é nosso presentinho para ela, essa a despedida de solteira da Sissy, ela está apavorada achando que está traindo Ramon estando aqui.

– Que besteira, Ramon está se esbaldando com alguma garota nesse momento, do outro lado do continente, então relaxe e aproveite nosso presente. – A mais velha brincou.

– Ouvimos falar da coloridinha, viemos conhecê-la. – Todas riram, Theo acabou dando um riso fungado.

– Mostre suas tatuagens. – Uma das garotas mais atrás pediu.

Theo hesitou um instante, por fim tirou a camiseta, ouvindo assobios e gracejos.

A mais velha levantou da cama e entregou a taça para Theo, que bebeu todo o conteúdo.

– Eu sou a Michelle, sou a única entendida aqui, mas a Samla pega mulheres de vez em quando. – Ela apontou para a moça de blusa de seda. – Sissy nunca nem beijou garotas, então seja legal com ela.

– Ok.

– Quer mais champanhe?

– Quero. – Theo estendeu a taça.

Após encher a taça de Theo, Michelle aproximou de sua orelha.

– Quer brincar um pouco comigo ou prefere começar com a noivinha assustada? – Sussurrou.

– Ãhn… Tanto faz.

– Colorida, quer dar um tiro? – Uma das garotas a chamou, havia arrumado algumas carreiras de cocaína sobre o criado mudo.

– Quero. – Theo foi até lá, olhou hesitante para a garota ao lado.

– Vá em frente.

E rapidamente duas carreiras desapareceram sob seu rosto.

A noite foi a mais leve de todas até então, mas a sensação do contínuo abuso esteve sempre presente naquele quarto. No final da noite apenas Michelle permanecia no quarto, havia acabado de fazer sexo oral em Theo e deitava ao seu lado tragando um cigarro eletrônico.

– Gosta de pó? – Ela perguntou.

– Não, já usei algumas vezes, mas não me agrada.

– Mas vocês aqui usam drogas o tempo todo, não?

– Prefiro hidrometa, não dá fissura.

– Entendo… – Deu uma baforada. – E é mais relaxante do que alucinógena, não é?

– Isso.

– Já tive minha época de cristal, mas meu cardiologista mandou voltar para o champanhe. – Disse rindo.

– Prefiro ácido, o efeito do cristal é assustador, é como se o mundo acelerasse ao seu redor. – Theo comentou.

– Você acha? Para mim é como se eu acelerasse e o mundo não me acompanhasse.

– Por isso fico na hidrometa, é a única que entorpece a alma.

***

Pouco mais de dois meses haviam se passado, Theo acordou com o choro de uma das meninas, Claudia chorava em sua cama, Sierra e Iana a consolavam. Theo sentou-se, fazendo menção de ir até elas, mas Sierra gesticulou para que ficasse por ali.

Alguns minutos depois as meninas conseguiram colocar Claudia para dormir, Sierra foi até a cama de Theo, que ainda acompanhava tudo.

– Claudia se machucou? – Theo perguntou, em voz baixa.

– Não, descobriu que está grávida.

– Nossa… Sério? Como isso?

– Você sabe como funcionam as coisas, três camisinhas por noite é um risco.

– Mas tomamos as injeções contraceptivas, tem validade de um ano.

– Ela tomou depois do prazo, Marli não é boa com essas coisas.

Theo sentou-se na cama, ficando ao lado de Sierra.

– E agora? – Theo perguntou.

– Agora nada, ela vai continuar trabalhando até o bebê nascer, não será o primeiro caso aqui.

– Não? – Theo arregalou os olhos.

– Você precisa conversar mais com as garotas que estão há mais tempo aqui, ouvir as histórias.

– Acho melhor permanecer na ignorância… Sinto muito por Claudia, temos que achar formas de poupá-la.

– É complicado…

– Eu sei… – Theo esfregou o rosto. – Tenho uma coisa para você.

– O que?

Theo abaixou-se, pegando algo de uma caixa de papelão embaixo da sua cama.

– Use com moderação. – Theo disse, entregando um embrulho de papel, dentro haviam sete ampolas de hidrometa.

– Como conseguiu?

– Lembra daquela cliente que te falei, Michelle?

– A da despedida de solteira.

– Ela voltou ontem, disse quer virá todo mês, me deu quinze ampolas.

– Por que não tenho essa sorte? – Sierra sorriu olhando para os frascos em sua mão.

– Ela me trouxe pó também, mas não gosto, vou trocar por mais hidro com as meninas. Me trouxe dois livros também.

– Noite produtiva, hein?

– Quase uma noite de folga, ela fez em mim e depois conversamos, consegui dormir e tudo.

– Ela trouxe as amigas?

– Não. Ela me parece uma mulher meio solitária. Acho que é rica, ela viaja bastante, mas não sei no que trabalha. – Theo concluía.

– Por que não pede ajuda a ela? Para sair daqui.

– Eu pedi ontem, ela disse que não podia, ficou brava, falou que se eu tocasse nesse assunto de novo não voltaria mais.

– Bom, é um fio de esperança para o futuro. – Sierra finalizou.

Michelle de fato tornara-se uma cliente rotineira no Circus, uma vez por mês passava a noite com Theo, lhe trazendo drogas e livros.

***

O sol mal havia se posto e Theo já atendia o primeiro cliente em seu quarto número treze, assim que entrou no recinto reparou que em cima do criado mudo havia uma corda marrom.

O cliente, um homem corpulento com barba por fazer parecia saber com antecedência da existência da corda, indo diretamente até ela, desenrolando com calma. Ainda sem entender o que acontecia, percebeu também que a cabeceira da cama estava diferente, com argolas presas por toda extensão.

– Vamos lá garota das cordas, tire a roupa e deite.

– Garota das cordas?

– Estou pagando quase o dobro para usar isso, espero que tenha experiência em shibari.

– Não, tem algum engano, eu nunca usei cordas antes.

– Então vamos improvisar. – Ele terminou de falar já dando voltas com a corda ao redor dos pulsos de Theo.

– O que você vai fazer?

– Primeiro vou te imobilizar, você vai ficar igual um frango assado. Ou seria um salame? – Ele riu. – Bom, depois me divertirei com acessórios.

Theo ganhara mais um motivo para ficar em pânico naquela noite, dos doze homens atendidos, quatro usaram as cordas, pareciam ter recebido orientações e pagaram mais por isso. Nestas ocasiões a sensação de terror era constante, estava indefesa, não teria como se defender, nem como apertar o botão azul.

– Tire o resto sozinha. – O último cliente empurrou Theo sobre a cama, ainda presa pelos braços. – Propaganda enganosa, vou pedir meu dinheiro de volta à Elias.

Theo o fitava assustada, tentando soltar seus pulsos.

– O que Elias prometeu? – Ela ousou perguntar.

– Muito mais do que você fez, ele disse que agora tinha uma puta que adorava que a amarrassem, e foi só essa porcaria de foda. – Ele subiu as calças e saiu do quarto.

A corda passou a ser um item fixo naquele quarto, alguns a usavam, inclusive aqueles que não tinham a menor intimidade com o artefato, por vezes deixando queimaduras em sua pele, ou a asfixiando.

Alguns dias depois, Theo teve sua primeira experiência grupal com homens, algo que ela temia, e agora seu temor tomara forma, sendo justificado. Após uma das noites mais violentas de sua vida, desceu para o quarto mas não dormiu, chorava copiosamente abraçada às pernas, no canto de sua cama. Sierra acordou, sentando-se ao seu lado.

– Noite difícil?

Theo apenas balançou a cabeça, assentindo.

– Foi você que atendeu aqueles sete homens ontem?

– Foi. – Theo respondeu soluçando. – Eu não aguento mais, Sierra. Eu não aguento mais…

– Não temos escolha, docinho.

Theo desenterrou a cabeça, falava com desespero para sua amiga ao lado.

– Isso é brutal demais, nenhum ser humano poderia passar por isso. As coisas que fiz ontem, que me obrigaram a fazer, isso não está certo, ninguém deveria passar por isso. – Theo enxugou o rosto com ambas as mãos.

– Eu poderia dizer que fica mais fácil, mas você já está aqui há seis meses, então…

– E ainda por cima Elias inventou essa merda das cordas, olhe o estado dos meus pulsos, olhe isso. – Theo estendeu seus braços.

– Poderia ser pior.

– Como?

Sierra apontou com a cabeça para a última cama do quarto.

– Você poderia estar grávida.

Claudia estava sentada em sua cama, com a cabeça para baixo e suas trancinhas pendendo para frente, vomitando num balde, Simone a ajudava, silenciosamente.

Theo a observou por algum tempo, continuava desolada.

– Por que isso está acontecendo com a gente? Por que eu? Por que você? Por que a pobre da Claudia e ainda por cima com um bebê?

– Acho que Deus esqueceu de nós.

– Sierra, você tem ideia do que fazem com ela? Eles a violentam a segurando pela barriga! Como se fosse um suporte, um apoio. Ela pede para que tenham piedade, para que poupem o bebê, mas eles riem e a colocam de quatro. – Theo voltou a chorar. – Isso não está certo… Isso não é vida.

– Você não está pensando em…

– Não, eu nunca faria isso, prefiro morrer tentando fugir.

– Como andam seus planos?

– Eu tenho um bom, depois te explico em detalhes, eu vou tentar semana que vem.

– Você sabe o que acontece quando eles pegam, não tem nem três semanas que quebraram o braço de Iana, só por ela ter corrido escada abaixo para a porta de saída.

– Eu sei, tenho planejado dia e noite, acho que tenho chances.

Cinco dias depois, Theo teve sua primeira tentativa de fuga, por um duto de ventilação para a gordura, na cozinha. A saída era alta e lisa, não conseguiu subir, foi retirada de lá minutos depois. Perdeu um dente no quartinho branco e ganhou alguns novos hematomas.

A surra não desestimulou seu instinto fugitivo, estava sempre planejando novas fugas, quarenta dias depois tentou sua segunda fuga, coagindo um cliente magricela com um objeto contundente. Os seguranças desconfiaram assim que saíram do quarto, e seu destino foi parecido com o anterior.

Numa das noites, entrou em seu quarto para atender o primeiro cliente, e reparou que a corda não estava sobre o criado mudo, para seu alívio. Mas o cliente reclamou, queria usar a corda, pagara a mais por isso.

– Onde você escondeu a porra da corda?

– Eu não escondi, talvez tenha caído aí atrás, já olhou nas gavetas?

– Não está aqui, quem você acha que está enganando? Cadê a corda?

– Eu não peguei, eu juro que não peguei. Talvez tenham mudado a política do local, e proibiram cordas.

O cliente aproximou-se enfurecido, lhe golpeando no rosto.

– Eu vou pedir minha grana de volta, mas antes você vai pagar por isso.

Assim que terminou o décimo segundo naquela noite, um pouco antes da seis, Theo arrastou-se para o porão, a ausência da corda não facilitou seus programas, os que costumavam usar ficaram violentos por não ter esta opção.

Caminhava devagar para o banheiro, tinha olheiras e semblante exausto. Suas roupas, mesmo depois de lavadas, continuavam com marcas avermelhadas. O quarto ainda estava vazio, era a primeira a descer, tomou a toalha e uma muda de roupa e entrou no banheiro.

Assim que abriu a porta, deixou suas coisas caírem ao chão, soltando um grito de pânico.

Simone pendia no alto do teto, enforcada com a corda marrom de Theo, a cabeça virada de lado e um semblante aterrorizado de seu último suspiro.

Theo correu e subiu no vaso, tentando soltá-la da corda, conseguiu tirar de seu pescoço e a deitou no chão, ela não respirava mais, seus lábios estavam levemente arroxeados, mas Theo tentava uma massagem cardíaca com desespero. Não houve reação, e ela só parou os movimentos de ressuscitação quando duas garotas a puxaram dali, arrastando para trás.

– Ela está morta, não adianta. – Pauline a segurava pelos ombros.

– Não!

Theo fitava o corpo no chão, estava sentada e ainda ofegante, aquele foi o primeiro suicídio testemunhado por ela, outros dois vieram no decorrer dos meses, inclusive de uma novata que enforcou-se com cadarços três semanas após começar a trabalhar no local.

No dia seguinte da morte de Simone, a corda voltou ao criado mudo de Theo.

Completou um ano de Circus com sua sexta tentativa de fuga, pelo duto de ventilação que havia no quarto treze, mas os seguranças estranharam ela não ter saído do quarto dez minutos após o cliente deixá-lo, como mandavam as regras, e a tiraram dos dutos.

Desta vez não pouparam seu rosto, a largaram desacordada e sangrando em sua cama horas depois. Acordou a tarde, com Sierra e Iana ao seu lado, colocando panos molhados em seu rosto, tinha febre e cuspia sangue de tempos em tempos.

– Acho que aconteceu alguma coisa aqui dentro. – Theo murmurou com dificuldade, com a mão na lateral.

– Você deve ter quebrado costelas. – Sierra disse.

– Meu Deus, você está sangrando desde cedo. – Iana dizia com pavor, vendo que seu nariz e cortes ainda sangravam.

– Eu tenho problema de coagulação.

– É, dá para perceber.

– Eu vou chamar Marli. Ou Elias, ele não vai deixar a sobrinha morrer. – Sierra levantou-se.

– Não vai adiantar, não vá. – Theo pediu.

– Você está perdendo sangue, e com febre.

– Eles não irão fazer nada.

– Pauline foi para uma clínica quando ficou mal, talvez também te levem.

– Ouvi meu nome? – Pauline aproximou-se.

– Só estava lembrando quando você precisou de atendimento médico, Theo precisa também. – Sierra explicou.

– Viu? Quem mandou zombar de mim, vai sangrar até morrer nesse inferno. – Pauline disse e sentou-se na cama em frente.

Sierra foi até a porta no início e bateu com vigor, Marli apareceu em seguida, de mau humor.

– Espero que tenha alguém morrendo nesse quarto. – Marli disse, com grosseria.

– Tem, a sobrinha do seu chefe está morrendo naquela cama, e a culpa será sua se não fizer nada.

Marli ergueu a cabeça, olhando com preocupação na direção de Theo.

– Vou ver o que posso fazer.

Nada aconteceu naquele dia, Theo foi obrigada a subir para o bar as seis, escorada por Iana. No segundo cliente não resistiu e acabou desmaiando, ardia de febre. Os seguranças a levaram para o escritório de Elias, a largando no sofá. Minutos depois ela acordou ainda zonza, sem entender o que acontecia, com seu tio a fitando de perto.

– Eu sabia que você não morreria, vaso ruim não quebra, isso é de família. – Mostrou todos seus dentes com um sorriso aberto.

Theo moveu a cabeça devagar, olhando para o lado, entendeu onde estava. Viu um homem com um paletó branco mexendo em algo numa mesa.

– Por que não me mata de uma vez? – Theo balbuciou.

– Você é rentável, e o lance das cordas vai muito bem, parabéns.

O homem de paletó aproximou-se com uma seringa em riste, aplicando em seu braço.

– Eu sou um bom tio, estou te dando remédios, você vai ficar bem logo.

– Você é um monstro.

– Acho que seu pai venceu essa disputa. – Elias ajeitou o cabelo para trás.

– Você, você e ele… Dois ratos. Vocês vão pagar por isso. – Theo resmungou, fechando os olhos com o efeito do que aplicavam nela.

Elias levantou-se, e ordenou que a levassem para sua cama quando finalizasse.

– Ah, só para sua alegria, saiba que ele nunca perguntou por você. – Elias disse com um sorriso de lado.

***

Quatro meses passaram-se, as coisas não haviam mudado muito e o panorama desolador continuava o mesmo. Claudia deu à luz a um bebê prematuro, que morreu horas depois. Em dois dias já estava de volta ao trabalho.

A vida parecia extinguir-se lentamente em todas as garotas, Theo chorava cada vez menos, passava horas com um olhar vazio para a parede, nos últimos dias se dava conta que não restava muito dela dentro daquele corpo, tudo estava estraçalhado ali.

Os desentendimentos com Pauline eram as únicas coisas que evoluíam, por meia dúzia de vezes as garotas tiveram que apartá-las, chegaram às vias de fato e Pauline agora a ameaçava sem pudores.

Numa tarde, após o almoço, Theo e Sierra lavavam a louça de forma descontraída, estavam quase terminando quando Theo mandou Sierra tirar seu sagrado cochilo, finalizaria sozinha. Pouco tempo depois Pauline entrou na cozinha, em silêncio, Theo assustou-se com sua presença, virando se rapidamente na sua direção, sem fechar a torneira.

– O que você quer? – Theo perguntou. Apesar de alta, ela tinha menor porte que Pauline.

– Acertar nossas contas. – Pauline caminhava em sua direção, com calma.

– Estou ocupada agora, Marli não vai gostar de te ver aqui. – Theo fechou a torneira e recostou-se na pia.

– Hoje é o dia de folga dela, esqueceu?

– Ãhn… Os seguranças assumem as funções dela.

Pauline sorriu de leve, e olhou para o lado. Theo logo percebeu o que ela olhava: uma pequena faca de descascar batatas, esquecida em cima do fogão pela cozinheira.

– Você é daquelas garotas da capital que acha que o mundo gira ao redor do seu umbigo, não é? – Pauline provocava, parou ao lado do fogão, a menos de dois metros de Theo.

– Não, não sou assim.

– Se acha melhor que os outros.

– Eu não sei de onde você tira essas coisas, não faço ideia do que se passa na sua cabeça. – Theo continuava apavorada com a proximidade de Pauline e a faca.

– Garota, você realmente não imagina o que se passa comigo, porque se prestasse mais atenção, me trataria diferente.

– Por que esse ódio por mim?

– Você não sabe o que é ódio. – Pauline sorriu e olhou novamente para a faca.

– Pauline… Eu nunca tive intenção de zombar de você por causa daquela sua fuga malsucedida, durante todo esse tempo eu sempre deixei você no seu canto, nunca mexi com você, nunca te procurei.

– Esse foi seu erro. – Pauline deu dois passos rápidos na direção de Theo, partindo para cima dela, a deixando em pânico.

Mas Pauline não a atacou com uma faca nem de forma violenta, Pauline tentou beijar Theo.

– Hey! – Theo bradou assustada, virando o rosto.

Pauline a encarava de perto, ambas com olhares transtornados.

– O que você está fazendo?? – Theo a indagou, com surpresa e confusão.

– Eu quero ficar com você. – Pauline respondeu como se esta fosse uma informação óbvia.

– Mas… Você é louca? Desde o dia que cheguei aqui parece que você quer comer meu rim, e agora tenta me beijar?

– Eu não sabia que gostava de você, agora sei.

– Agora quando? Porque anteontem você tentou me derrubar da escada.

– Eu percebi que estava apaixonada por você tem menos de um ano.

Theo arregalava ainda mais os olhos com as confissões dissimuladas de Pauline.

– Ãhn?

– Eu não sei canalizar isso, ok? Não estava sabendo lidar com sua rejeição, por isso te tratava assim.

– Eu nunca te rejeitei, você que me repeliu desde o começo.

– Eu sou assim, eu gosto de você, não estava te repelindo, eu só sou meio… mal-humorada.

– Meio?

– Não conte isso a ninguém, se você contar o que eu te falei e tentei eu juro que quebrarei o restante das suas costelas.

Theo coçou a cabeça com as duas mãos, ainda assimilando a situação.

– O que eu devo fazer?

– Você não sente nada por mim? – Pauline tentou, com uma voz misericordiosa.

– Medo?

– Só?

Theo olhou para baixo, pensativa.

– Inveja.

– Por que inveja?

– Porque você sente algo bom por mim, você ainda consegue sentir algo bom por alguém. – Theo disse com uma voz sóbria.

– Você também pode, se tentar.

Theo lançou um sorriso pesaroso.

– Não tem mais nada aqui. – Theo apontou para o próprio peito.

– Claro que tem, só está meio morto por estarmos nesse lugar, mas você ainda está viva.

– Eu perdi essa capacidade, acredite.

– Isso é uma desculpa para dizer que não quer nada comigo?

– Eu queria que fosse. Escute, seria perfeito me envolver com alguém daqui de dentro, isso me daria conforto, esperanças, mas eu sei que não consigo mais.

Pauline recostou-se também na pia, aquela sua postura dominadora havia sumido.

– Você não quer sair daqui? Recomeçar sua vida? – Pauline perguntou.

– Quero, sozinha.

– E se você conhecer alguém legal?

– Isso não vai acontecer, eu não… Eu não conseguiria confiar em ninguém, eu não quero me envolver porque sei que não teria como retribuir, não tenho nada de bom para oferecer. Secou, entendeu? – Theo voltou a colocar a mão espalmada sobre o peito. – Secou, acabou.

– Eu ainda tenho… – Pauline se dava conta. – Eu ainda tenho algo de bom, eu me sinto bem quando te vejo voltando viva as seis da manhã, sempre dou um jeito de ver se você está bem, se não te machucaram. Eu sinto meu coração quente quando estou perto de você, é um bom sinal, não é?

– Mantenha tudo aí dentro, mantenha vivo, um dia você vai sair daqui e vai poder dar tudo isso para alguém que mereça. Não deixe isso secar, ok?

Ambas ficaram em silêncio por alguns segundos, cabisbaixas.

– E se você se apaixonar por alguém? – Pauline insistiu.

– Seria ainda pior, porque eu estaria com alguém que amo e não confio, seria um pesadelo, eu a decepcionaria. – Theo falava com um olhar vazio. – Eu só quero fugir, acertar algumas contas e ir para bem longe, encontrar um canto onde eu possa tocar minha vida sozinha.

– Com o tempo você pode reaprender a confiar, se você se entregar.

– Depois de tudo que fizeram comigo, você acha que eu permitiria que alguém me tocasse? Pauline, eu mal consigo me olhar no espelho, eu odeio ver meu corpo, eu tenho asco de mim, eu nunca deixaria alguém tocar em mim por vontade própria, e seria ainda pior se fosse alguém por quem eu sentisse algo, porque eu nunca vou confiar em alguém de novo.

– Talvez você esteja enganada, as pessoas lá fora são diferentes.

– Tarde demais, aqueles caras lá em cima tiraram minha humanidade faz tempo, não tenho mais um nome, sou a garota das cordas, sou braços, pernas e buracos, não me enxergo mais como mulher.

– Eu me sinto assim as vezes também… – Pauline murmurou.

Theo correu pela lateral da pia, a abraçando pela cintura.

– Desculpe, não queria fazer você se sentir mal, eu não deveria ter falado essas coisas, acabei desabafando.

– Tudo bem, pelo menos agora sei como você se sente.

– Se você tivesse realmente olhado nos meus olhos algum dia, só teria visto escuridão. Mas eu vejo algo acesso aí dentro de você, não deixe apagar.

– O que fazemos agora? – Foi a vez de Pauline perguntar.

– Podemos selar um pacto de paz, que acha?

– Preciso manter minha fama de mal-humorada.

– Tudo bem, pelo menos nos próximos dias eu deixo você me empurrar quando passar para ir ao banheiro. – Theo sorriu.

Pauline riu, ficando à frente de Theo.

– Não vou mais te encher, tá bom? Eu realmente não sabia que você se sentia assim, eu achava que você me odiava. Se quiser um ombro de vez em quando, claro, quando todas estiverem dormindo, pode contar comigo. – Pauline sorriu.

– Eu também não imaginava que você tinha esses sentimentos por mim, você foi muito boa em camuflar e parecer me odiar do fundo do seu âmago, parabéns. – Theo brincou.

– Quer ajuda na louça?

– Não, estou terminando. E quando puder devolva os livros que eu sei que você pegou da minha caixa.

Pauline sorriu e saiu andando.

– Pensarei no seu caso.

Theo se virou, apoiou-se na pia com as duas mãos nas bordas, processando tudo, principalmente o que havia contado a Pauline, pela primeira vez havia externado como de fato se sentia.

Tomou a faca de cima do fogão e guardou no cós da calça, levando para debaixo do seu colchão.

***

Um ano e meio de Circus e a noite começava de forma lenta e descontraída no bar, Sierra brindava sorridente com Theo, ainda não haviam clientes no recinto.

– Brindamos à que? – Theo perguntou.

– Meu aniversário é amanhã. – Sierra contava animada.

– Sério? Temos que comemorar. Você gosta de bolos? Quer um?

– Gosto, mas acho difícil Michelle trazer um bolo de aniversário na bolsa.

– Podemos fazer um. – Theo se animava.

– Com os restos do almoço e hidrometa?

– Não, eu sei onde as coisas são guardadas na cozinha, podemos entrar lá depois do almoço e fazer um bolo, basta não fazermos barulho e colocarmos Iana vigiando a porta.

– Não sei, seria muito arriscado, vão jogar nós duas no buraco se nos pegarem.

– Bom, pelo menos eu teria companhia no buraco.

– Não quero ver você no buraco por minha causa.

– Você quer ou não quer o bolo? – Theo a incitava.

– Quero, eu adoro bolo.

– Sabe fazer? – Theo riu.

– Sei, sei sim, eu fazia bolos com minha mãe.

– Perfeito, serei sua auxiliar de cozinha amanhã. – Theo estendeu a mão.

– Fechado.

A noite correu sem percalços para Theo, desceu com as meninas para dormir, ficou algum tempo na cama acordada planejando os passos para invadir a cozinha e os armários naquela tarde.

Ia dar seis e meia e Sierra ainda não havia descido, Theo estranhou sua ausência, perguntou por ela para as outras meninas, que já dormiam, mas ninguém sabia de nada. Minutos depois foi até a porta e bateu, chamando por alguém, com preocupação.

– O que você quer? – O segurança de longos bigodes abriu a porta e indagou impaciente.

– Onde está Sierra?

– Não te interessa.

– Por que ela ainda não voltou?

– Ela não vai voltar.

– Para onde ela foi?

– A vadia morreu, volte para sua cama e não encha mais meu saco.

A porta bateu a sua frente com violência, sacudindo seus cabelos. Deu alguns passos para trás, com semblante mortificado, não queria acreditar no que ouvira.

– O que aconteceu com ela? – Pauline apareceu ao seu lado, também boquiaberta e incrédula.

– Sierra morreu. – Theo balbuciou, em choque.

– Como? Como assim?

– Sierra morreu. – Repetiu. – Mataram ela, mataram…

Theo ajoelhou-se devagar, pousando as mãos no primeiro degrau da escada a sua frente, começou a chorar, amparada por Pauline e Iana, que também já estavam aos prantos.

Levantou-se num rompante e batia com as mãos na porta, gritando.

– Assassinos! Assassinos!

Pauline a tirou dali, contra sua vontade, arrastando até o canto.

– Vão voltar e bater em você, não faça isso!

– Mataram Sierra, alguém matou ela. – Theo a encarava chorando.

– Ela era frágil.

– Ela parecia frágil, mas era a garota mais forte desse lugar. Não podiam fazer isso, não com ela… Era seu aniversário, faríamos um bolo… – Soluçava.

Pauline a abraçou, para estranhamento de todas as outras garotas, que nunca haviam visto nada parecido vindo dela.

Theo parecia viver no automático agora, no dia seguinte a morte de Sierra descobrira o que havia acontecido, foi espancada até a morte por um cliente conhecidamente violento, que já havia tido o mesmo comportamento com outras garotas antes.

Uma semana depois e Theo estava no banheiro se preparando para subir para mais uma noite de violência física e mental, os olhos vermelhos por ter chorado nas horas anteriores. Enquanto olhava-se no espelho sentiu uma fisgada forte no peito, era angústia se tornando dor física, não aguentava mais ser aquilo, o que ela via em sua frente agora.

Mudou de semblante e lavou o rosto, voltou a fitar-se no espelho, sua fisionomia havia mudado radicalmente.

– Eu não vou mais chorar. – Sussurrou para si. – Eu nunca mais vou chorar.

Prometeu a si mesma, matou o restante de pranto que havia dentro de si, e cumpriu. Sabia que estava matando muito mais do que simples lágrimas, estava matando a si própria.

– Sai logo daí, patricinha. – Pauline bateu na porta do banheiro, a tirando dali.

Três semanas depois, Theo estava no bar no meio do expediente, conversava com Claudia no banheiro, enquanto tomavam suas doses de hidrometa, ao redor do vaso.

– Você viu quem está aí hoje? – Claudia disse, jogando as trancinhas para trás.

– Sei lá, Satanás? Seria um bom dia para o apocalipse. – Theo resmungou, movendo os dedos após injetar a droga em seu braço.

– O cara que matou Sierra.

Theo não falou nada, apenas a encarou com semblante duro.

– Vou me esquivar dele a noite inteira… – Claudia continuou.

– Eu não. – Theo disse com ira nos olhos.

– Ficou louca?

– Preciso ir.

– Se ele te pegar, não deixe que te amarre.

Theo saiu cambaleante do efeito da hidro, mas com passos rápidos. Chegou ao lado do palco e viu o indivíduo sentado mais ao fundo, apreciando o show de strip tease. Claudia apareceu ao seu lado.

– Claudia, me dê cobertura por um minuto. – Theo pediu a ela.

Sumiu por alguns instantes, reapareceu e foi até o balcão. Tomou uma dose de gim, respirou fundo e foi até ele, sentando-se em seu colo de forma provocativa, com os braços ao redor do seu pescoço.

– Já achou diversão para a noite? – Theo o incitou, arrancando um sorriso malicioso dele, um homem calvo e truculento.

– Talvez tenha acabado de cair no meu colo. Está livre, garota tatuada?

– Venha. – Theo o conduziu para seu quarto amarelo.

Theo mantinha uma postura dominadora com o cliente, discretamente havia derrubado a corda atrás do criado mudo, antes que ele percebesse sua existência.

Já estavam na cama, iniciando o ato, Theo montou por cima dele e aguardava atentamente que ele chegasse ao clímax, sentada em seu quadril. Quando ele finalmente chegou ao coito, ela correu a mão para debaixo do travesseiro e sacou a faca roubada da cozinha, sem titubear e com um olhar visceral, Theo rasgou sua garganta de lado a lado.

O sangue jorrava com abundância da jugular do homem, que segurava seu pescoço com ambas as mãos, de forma ineficiente. Theo a esta altura já estava coberta de vermelho, e saiu de cima dele. Acompanhou sua morte lenta em silêncio, ainda com a faca nas mãos.

Aproximou-se do corpo inerte certificando-se que já estava sem vida, e cuspiu em seu rosto. Abriu a porta e estendeu os braços, chamando os seguranças, que correram ao vê-la ensanguentada.

– O que foi isso??

– Retirem o lixo, preciso trabalhar. – Theo falou calmamente, limpando o sangue em seu rosto.

Um deles verificou o que havia acontecido dentro do quarto, dando a ordem para que levassem Theo para o quartinho branco.

***

Theo completava seu terceiro dia no buraco, era uma pequena sala gelada e úmida, com piso verde claro e paredes escuras. Não haviam janelas nem móveis, apenas um balde para as necessidades. Havia uma programação automática que acendia as luzes e emitia sirenes de hora em hora, não permitindo que o recluso dormisse. No final do dia entravam na sala para verificar se ainda tinha vida, ela estava nua e tinha ferimentos antigos e novos, lhe jogavam um balde de água e davam mais alguns chutes.

Ao final daquele dia, o próprio Elias foi até o buraco, fazer a verificação.

– Admiro sua determinação, principalmente em fazer coisas erradas. – Ele disse agachado ao seu lado.

– Vá a merda. – Theo resmungou, e arrastou-se para o canto.

– Ele pagava bem, perdi um bom cliente por sua causa. Por sorte a polícia não chega nem perto desse lugar, senão você estaria encrencada.

– Terminou? Estava no meio de um cochilo, se puder se retirar…

– A mesma petulância do pai. – Elias voltou a ficar de pé, ao seu lado. – Você me obriga a dificultar sua vida aqui.

– Fique à vontade.

– Aumentei sua cota, quero quatorze por noite agora. E você me fará algumas visitinhas no escritório durante a tarde.

– Como quiser.

Elias saiu, Marli o aguardava na porta.

– Limpe e coloque de volta ao trabalho. – Ele ordenou.

Ao contrário do que Theo imaginava, o inferno poderia ter níveis ainda mais inferiores. As tentativas de fuga se tornaram mais frequentes, irritando Elias e os seguranças, que percebiam que os espancamentos não serviam mais como punição.

Theo completava um ano e nove meses de Circus, naquela manhã, após cessarem as atividades, Theo partiu para cima de um dos seguranças, quebrando uma garrafa em sua cabeça. Desceu as escadas que davam para a porta de entrada e entrou em luta corporal com outro segurança, lhe cortando o rosto com um caco de vidro. Assim que colocou as mãos na porta, outros dois a tomaram pelas costas, impedindo sua fuga.

A levaram para o escritório de Elias, que a recebeu com irritação.

– Chega, chega para você, acabou a brincadeira! – Ele disse tomando o comunicador.

– Finalmente vai me matar? – Theo provocava, estava sendo fortemente presa por dois seguranças.

– Duvido que você consiga fugir depois disso.

Minutos depois Theo estava amarrada em cima de uma mesa no escritório de Elias, o homem de paletó branco havia chegado com uma bolsa marrom e mexia em algumas coisas ao lado. Lhe aplicou algo que a sedou, mas Theo não adormeceu, continuava acompanhando a movimentação ao redor como em câmera lenta, sonolenta.

A última coisa que viu foi o homem se aproximando de seu rosto com uma injeção em mãos. E seria a última coisa que veria em sua vida.

Quando acordou, horas depois, não entendia porque o quarto estava escuro, sentou-se tonta em sua cama, sentia uma forte dor na parte da frente cabeça, percebeu uma atadura ao redor dos seus olhos.

Tentou coçar os olhos, que doíam, ergueu a atadura e a luz do quarto feriu seus olhos como lanças, tentou enxergar algo, sem sucesso, baixou a atadura.

– Tem alguém aqui? – Perguntou assustada. – Tem alguém aqui? – Insistiu.

– Estou aqui. – Claudia sentou-se ao seu lado. – O que aconteceu com você ontem?

– Claudia? Que luz forte é essa?

– É a luz de sempre, quer que eu apague?

– Quero.

Claudia apagou as luzes, mesmo sob reclamação das outras meninas no quarto.

Theo ergueu novamente a atadura, movia as mãos em frente ao rosto, mas não via nada.

– Não estou enxergando nada. – Theo começava a se desesperar.

– O que aconteceu? – Pauline se aproximou, a olhando de perto.

– Não sei, acho que fizeram alguma coisa com meus olhos ontem.

Pauline e Claudia se entreolharam, se dando conta do que havia acontecido.

– Descanse os olhos, quem sabe volte ao normal. – Claudia disse.

A visão de Theo não voltou ao normal, a sensibilidade à luz a obrigava a cobrir os olhos, e quatro dias depois ela voltou ao trabalho, o que deixava tudo ainda mais aterrorizante.

Sua vida agora havia subido na escala de dificuldade, tomar banho, vestir-se, comer, cada tarefa simples tornara-se difícil.

Sentada na mesa comprida do refeitório, almoçava reaprendendo a utilizar os talheres, os derrubando com frequência. Por fim derrubara também seu copo com água, cortando os dedos.

– Vem, eu cuido do seu dedo. – Pauline disse, lhe tocando o ombro.

Theo não se moveu, continuou com as mãos sobre a mesa, cabisbaixa, como se estivesse desconectada do mundo ao redor.

– Theo? Venha, sua mão está sangrando, e você sangra horrores por qualquer coisa. – Pauline insistiu.

Ela continuou naquela posição desolada, sem forças para sair dali.

– O que foi? – Pauline indagou.

– Eu não vou conseguir. – Theo murmurou.

– Você tem se virado bem.

– Isso é um pesadelo, não é?

– Sempre foi.

– Talvez eu tenha entrado num pesadelo e não esteja conseguindo acordar no mundo real. – Theo devaneava.

– Você precisa parar de ler esses livros de ficção científica. Se bem que agora nem isso pode fazer… Enfim.

– Isso não pode ser de verdade.

– Fofa, venha logo.

– Hey tatuada, daqui a pouco você vai subir para o escritório, seu tio quer uma visitinha, então dê um jeito nesse sangue na mão. – Marli passou ao seu lado, a avisando.

– É, definitivamente é um pesadelo. – Pauline resmungou.

– Isso deve ser uma realidade paralela, eu não aguento mais essa vida. – Theo continuava sem conseguir levantar.

Três semanas depois, Pauline sentou-se ao seu lado em sua cama no final da tarde, estava quase na hora de subir para o bar.

– Você está estranha. – Pauline comentou.

– Impressão sua.

– Está quieta há alguns dias, eu já vi isso acontecer com outras garotas, espero que você não esteja pensando em fazer besteira.

– Depende do que você considera besteira.

– Apenas se mantenha viva, ok?

– É meu objetivo. – Theo falava sem emoção na voz.

– Pare de apertar o botão azul, eu vi eles te arrastando para o quarto branco ontem.

– Não, não apertarei mais. Chega de azul.

– O que você está tramando?

Theo não respondeu, apenas ajeitou sua atadura ao redor dos olhos e deu um longo suspiro.

– Elias vai encontrar jeitos de piorar sua vida aqui dentro, você vai acabar apanhando cada vez mais.

Theo recostou a cabeça na parede atrás de si.

– Nunca mais deixarei um homem bater em mim.

– Nunca mais nas próximas horas… – Pauline riu.

– Eu decido quando acabar, não eles. É o meu jogo.

– Estou começando a ficar com medo de você. – Pauline colocou a mão sobre a testa de Theo.

– Braços, pernas e buracos. Braços… pernas… buracos… e um cérebro. Braços…

– Sério, você parece uma psicopata, eu vou tomar um banho porque Marli coração de dragão vai nos chamar em meia hora.

Onze em ponto e Theo atendia seu quinto cliente naquela noite, em seu quarto amarelo.

– O que vai ser hoje? – Theo perguntou para o homem loiro que já tirava sua roupa.

– Comece com uma chupada, tenho meia hora.

– Meia hora? Podemos usar as cordas, o que acha?

– Sabe usar?

– Claro, sou profissional com uma corda na mão. – Theo disse com malícia.

– Vá em frente, belezinha.

– Deite-se. – Theo apanhou a corda marrom de cima do criado mudo, e subiu já nua sobre o cliente.

– Vamos lá, gostosa, me surpreenda.

Theo se aproximou de seu ouvido, lhe dando uma ordem.

– Vire-se.

– Por que?

– Faz parte da técnica, vire-se de bruços e não irá se arrepender.

O homem virou-se hesitante, Theo voltou a ficar sobre ele, em suas costas, ajeitou a atadura nos olhos.

– O que vai rolar agora?

– Primeiro vou prender suas mãos, depois vou masturbá-lo.

– Ótimo, ótimo. – O homem se animava.

Theo prendeu os pulsos do homem na cabeceira da cama, que se excitava.

– E agora? Quero ação, vamos lá, quero meter logo. – Ele pedia.

– Agora vem a ação. – Theo disse sem mudar o tom da voz, tomou o restante da corda e enrolou ao redor do pescoço do homem, puxou com força com ambas as mãos em sua nuca, o estrangulando.

Continuava sobre ele, puxando as cordas com raiva, ele se debatia e tentava alcançar a corda do pescoço, soltando grunhidos abafados. Mesmo após o fim da agonia, Theo continuou segurando firmemente a corda, com a respiração forte.

Certificou-se que estava morto, saiu de cima dele e vestiu-se. Conferiu com a mão a corrente com o crucifixo no bolso, subiu na cama e tirou a grade do duto de ventilação. O labirinto de dutos era longo, sujo e por vezes estreito. Já havia tentado fugir por ali quatro vezes, sempre sendo pega ao final.

Não conhecia bem todos os caminhos, haviam encruzilhadas e agora sem enxergar, o labirinto parecia ainda maior. Mas desta vez tinha tempo, os seguranças não dariam pela falta dela pela próxima meia hora, o desafio seria chegar ao lado de fora, onde ela sabia que também haveria segurança.

Depois de quase quinze minutos de uma corrida desesperada por aqueles cilindros de lata, grades e sujeira, finalmente encontrou a tampa que dava para um porão do Circus, uma espécie de garagem cheia de entulhos e ferramentas.

Despencou do alto do duto, em cima de uma bancada, fazendo barulho. Ouviu uma porta se abrindo e o segurança de longos bigodes gritando para que não saísse dali.

Theo tateava as bancadas e pilhas em busca de algo para se defender, encontrou um martelo e desferia golpes no ar, afastando o segurança.

– Largue isso, sua vadia cega.

– Eu vou fugir daqui, eu não volto para lá.

– Você sempre me dando trabalho, hein? Vou quebrar suas pernas, já que cegar não foi o suficiente.

– Não se aproxime!

O segurança partiu para cima dela, que tentava o acertar com o martelo, ele tentava a imobilizar prendendo seus braços. Theo acertou com o martelo na lateral da sua cabeça, fazendo com que ele bradasse um urro e soltasse seus braços. Ela levantou-se rapidamente e correu na direção de onde julgava estar a porta.

Mas a porta não estava ali, apenas outra bancada cheia de ferramentas. Tateava com desespero, suando e com as mãos trêmulas. Encontrou algo grande e reconheceu o que era, uma serra elétrica. Puxou a alavanca a ligando.

– Largue essa merda! – O segurança bradou.

– Venha, venha agora. – Theo balançava a serra em movimento.

– Largue logo essa porcaria, não tenho tempo a perder, vou te arrastar para o quarto branco e acabar com a sua raça!

– Então tire da minha mão.

Ele foi para cima de Theo, que ergueu a serra para frente, o acertando. Ela sentiu as gotas de sangue sujando sua camisa negra e ouviu o grito desesperado dele. Investiu novamente com mais vigor, não sabia onde havia o acertado mas foi até o fim, sabia que estava rasgando o corpo do segurança, que gritava em desespero. Por fim escutou ele caindo no chão.

– Sua puta! Meu braço!

Theo saiu correndo tateando as paredes, até encontrar a porta, logo na saída tropeçou num batente caindo de bruços. Ergueu-se rapidamente e correu pelo pátio cheio de poças de lama.

Corria sem medo de esbarrar ou tropeçar, ainda ouvia ao longe os berros do segurança.

– Peguem ela! Peguem a vadia cega! Me ajudem! Meu braço! Ela arrancou meu braço!

Tropeçou mais algumas vezes, caiu outras, mas levantava e se colocava numa corrida frenética e aterrorizante por ruas e becos molhados da chuva fina que caia naquela noite de réveillon.

Dezenas de ruas e esquinas depois, ouviu passos no final de uma rua estreita, finalmente alguém surgia no meio daquela longa fuga desesperada.

​- Socorro! Alguém! – Theo gritou, pedindo ajuda. Fazia uma noite fria e usava apenas uma camisa de mangas compridas, sequer percebeu a chuva.

​- Alguém! Alguém me ajude!

Pediu por ajuda outra vez, mesmo sem enxergar sabia que havia alguém parado logo à frente.

– Hey! Pare aí! – Uma voz feminina respondeu.

Theo não imaginava quem era aquela mulher à sua frente, mas foi o melhor som que já ouvira em toda sua vida.

A maior parte das informações e menções de violência desse capítulo foram baseadas em fatos reais, em relatos de brasileiras que foram vítimas de tráfico sexual na Turquia, Espanha, Israel e Suriname.

A ONU estima que atualmente cerca de 2.5 milhões das mulheres são escravas sexuais ao redor do mundo (dados de 2014).

Ligue 100 para denúncias de crimes contra os direitos humanos, ou quando houver suspeita de mulheres em situação de risco de tráfico. Quando suspeitar que alguma mulher pode estar sendo aliciada ou enganada para esta finalidade, faça sua denúncia de forma anônima, se preferir.

Dentro do Brasil, os maiores índices são de violência doméstica contra a mulher, praticada por maridos, namorados, parceiros, ou outros conhecidos. Para denunciar qualquer tipo de violência, ligue 180, funciona 24 horas por dia, de segunda à domingo, inclusive feriados. A ligação é gratuita e o atendimento é de âmbito nacional.

 

Violação: s.f.: 1 Ato ou efeito de violar. 2 Ofensa ao direito alheio. 3 Atentado. 4 Infração da norma legal ou contratual. 5 Profanação. Violência da mulher: estupro.

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23 comentários Adicione o seu
  1. PQP !! que capítulo foda ! Eu não sou muito de me impressionar com as coisas, mas nossa, esse capítulo me deu um misto de agonia, desespero e nojo, pior ainda foi ver ao final q é baseado em fatos reais :/ .. Lamentável… mas serviu para sabermos um pouco mais da Theo, apesar de ainda existirem algumas lacunas do passado (pelo menos sabemos o porque dela sempre passar a mão nos pulsos, que ela tem um problema sério de coagulação e que realmente, ela sofreu demais e é forte o bastante para superar ) ..
    Novamente parabéns pela escrita, ficou realmente ótimo, você conseguiu escrever um capítulo que faz parte da história, mas escrito de uma maneira diferente, pelo fato dele destoar do clima e da história em si, ficou muito bom.
    E que venha o 32 🙂

  2. Caramba… So respirei ao final. To chocada e aliviada por ter acabado… Theo é fodastica. So temo agora pela Sam, pois receio que ainda irá se magoar com Theo pela falta de confiança… Conheço o sentimento de amar e nao conseguir confiar… É horrivel.
    Parabens…
    Um dos melhores capitulos ate agora.
    Beijos Cris.

    1. Eu imagino que tenha sido tão difícil ler quanto foi escrevê-lo, precisei fazer várias pausas, não via a hora de terminá-lo.
      Obrigada!

  3. O que dizer pensar que esse relato foi baseado em fatos reais choca como a maldade humana chega a níveis que por vezes supera ate a ficção foi difícil ler esse capitulo ate o final interrompi a leitura três vezes, imagino o que não deve ter realmente complicado de escreve-lo parabéns um relato cru e deveras impactante

    1. Oi Te, foi sim, eu levei três dias escrevendo, fazendo várias pausas para tomar ar, “desanuviar” a cabeça, e mesmo assim ia dormir com uma sensação ruim, ainda mais por estar escrevendo algo baseado em relatos reais. Mas eu sabia que precisava escrever algo impactante, não poderia brincar com esse assunto.
      Obrigada 😉

  4. Caramba, velho! Não sei nem por onde começar.
    Bom, vou dizer que já imaginava o motivo da relutância de Theo em ser tocada, mas não imaginei que ficaria tão chocada com os requintes de crueldade, porém imagina que não fuja nada da realidade e só de pensar nas atitudes dessas pessoas horriveis vem aquela sensação horrível de i raiva e impotência ao mesmo tempo seguida de uma vontade de chorar.
    Acredito que Sam tenha o poder de curar todas as feridas da nossa cega fugitiva <3
    Meus parabéns pelos detalhes de cena. Eu sou uma pessoa mt visual, e gosto quando os escritores conseguem detalhar ao ponto de criar ótimas imagens da cena em minha cabeça, muito embora, devo confessar que não li alguns trechos, pois não tenho estômago pra violência contra mulher.

    De qualquer forma, que grande história. Elas superam de longe as duas anteriores, Lince e amigos de aluguel, que já são incríveis, mas a sua evolução é notável, apesar das semelhanças entre as personagens, é tudo muito original. É tão bom, que já consigo vislumbrar um projeto audiovisual. Já pensou eu tendo a oportunidade de participar disso?

    Já me estendi muito, sem mais delongas, bye.

    1. Eu não tive como preparar vocês para este capítulo porque Theo nunca teve oportunidade de contar as coisas pelas quais passou. Quando esse assunto vinha a tona, Sam nunca tinha interesse, beirando a incredulidade. Então acho que isso foi o que mais assustou na leitura, a dimensão da violência, estampando nessas 13 mil palavras as coisas que ninguém imaginava.
      Acho até que até o momento, o leitor tinha um posicionamento involuntário meio Sam, de “ah, não deve ter sido tão ruim assim”. Mas foi bem ruim, porque nesses casos, de tráfico sexual, não teria como ser menos que aquilo tudo, infelizmente.
      Eu queria que fosse dolorosamente visual e impactante, mas tomei o cuidado de não fazer tudo de forma explícita, algumas coisas eu percebi que poderiam também ser fortes mesmo apenas fazendo uma menção subjetiva, sem narrar (como quando Theo reclama do estado dos pulsos dela).
      Obrigada pelos elogios e pelo incentivo, quando virar filme de Hollywood eu vou pagar uma passagem para a premiere em LA para todas as leitoras comentadoras do blog. 😀
      Ah, e fico muito feliz em saber que é possível ver evolução na minha escrita, é disso que estou em busca constante.

  5. Foi doloroso ler esse capítulo… Mas foi muito bem escrito. Foi com alívio que percebi que vc não se estendeu nas descrições da violencia. Depois de tudo, a admiração por Theo só aumenta, de fato ela é uma guerreira e verdadeira heroína. Amo a Theodora. Fiquei com ódio mortal do Elias e do pai dela. Espero Cris, que vc tenha reservado uma morte bem lenta e dolorosa para eles. Depois de saber dos dois o Mike ficou até mais decente. Foi um cap. que explica parte do passado dela, mas muita coisa precisa ser revelada.

  6. Bom….
    Fico me perguntando, como Theo ainda tem humor pra viver???
    Com esse capitulo, muitas coisas ficaram mas claras no comportamento de Theo…
    Incrível, cegaram pra não fugir, e foi ai que ela conseguiu, e um super herói mesmo….
    Parabéns pela sua escrita, um dos melhores capítulos… Bastante esclarecendor…

    1. Acho que quando a pessoa tem menos a perder, tem mais valentia, sabe? Provavelmente antes de ficar cega, Theo não cogitava matar alguém para tentar uma fuga, depois de perder a visão (e a vida se tornar ainda mais miserável), ela foi além, pois no ritmo que as coisas iam, a morte estava próxima.
      Obrigada, Mel 😉

  7. nossa acho que li o cap quase sem respirar, a Theo tem todos os motivos do mundo para se vingar desse Elias e ajudar essas meninas que não conseguiram fugir. Espero sinceramente que ela volte a enxergar….

  8. Sei que pedi para satisfazer a minha curiosidade sobre a Theo, mas agora só consigo pensar naquela frase que alguém disse “felizes os ignorantes e os fracos de espírito porque será deles o reino dos céus “. Não ė que eu queira chegar ao reino dos céus tão cedo, mas definitivamente, estava bem mais confortável quando desconhecia o seu passado. Este capítulo está terrivelmente bem escrito, está pesado e assustadoramente real…em nenhum momento consegui fazer como faço em algumas cenas de filmes que me angustiam, respiro fundo e tenho uma conversa comigo do tipo ” hei, relaxa, isto é filme, nada disto ė real…”. Aqui não deu para fazer isso, porque mesmo sem ler os seus comentários finais ,eu sei que aquele inferno existe de verdade. Para o bem do meu equilíbrio emocional, sempre fugi de aprofundar este tema e confesso, envergonhada, que parei a meio da leitura ponderando seriamente em terminá la por ali… Em profunda reflexão, apercebi me que sou terrivelmente hipócrita, vivo neste meu mundo aparentemente perfeito fingindo que estas atrocidades não existem, porque nada deve perturbar esta paz que eu tanto aprecio…. Não consigo colocar em palavras o turbilhão de sentimentos que me dominaram…li, palavra por palavra ,até ao final , achei que era o mínimo que podia fazer. Você foi perfeita! Nunca poderia ter abordado este tema de forma diferente, não poderia existir paninhos quentes para a brutalidade ali vivida, menos do que aquilo que foi escrito seria uma afronta a todas as mulheres que sofreram e ainda sofrem aqueles atentando violentos à dignidade humana. Se já a admirava, agora então, fiquei sem palavras, imagino o quanto tenha ficado fragilizada ao descrever aquele inferno, se fosse eu, provavelmente, passaria pelo menos uma semana a chorar e eu não sou babosa ….imagine se fosse… Quanto à Theo, acho que foi demais para uma pessoa só, já não bastava ter acordado naquele pesadelo, descobrir que o seu pai, aquele que devia amá la e protegê la, forma incondicional, era o responsável por isso, é tão mau que nem consigo imaginar os danos irreparáveis que isso faz num ser humano. Já chega por hoje, outro dia falo da minha outra tristeza, apercebi me, que a Sam não tem maturidade nem estofo para ser a pessoa que a Theo precisa para curar tanta dor ( se é que isso é possível). Definitivamente, devia ter tomando a caixa inteira dos calmantes da minha mãe. Desculpe a extensão destes desabafos e mais uma vez parabéns. Beijinhos e um bom domingo.

    Ana Sofia Gomes

    1. Você tocou no ponto certo, não dá para relaxar e pensar “é de mentirinha”, porque não é de mentirinha, quase nada desse capítulo é de mentirinha, e isso é o mais angustiante.
      Era exatamente isso que eu queria, tirar você da zona de conforto, tirar todo mundo da zona de conforto, inclusive a mim. Vivo meu mundinho tranquilo, achando que violência contra a mulher é algo de filmes ou de um mundo distante, mas não é.
      Obrigada por ler até o fim, e por vir aqui dar sua sincera opinião, prometo não pegar assim tão pesado de novo tão cedo, nem teria estômago para isso.
      Sobre Sam ter maturidade para juntar os pedacinhos de Theo, nem eu sei se ela tem, mas precisará.
      Bjos!

  9. O capitulo me abalou tanto…. Que não consigo descansar minha mente, estou com tanta raiva dentro de mim, que acho que vou explodir… Me desculpe….

  10. Boa noite,
    Finalmente li!!! Foi fodasticamente fodastico esse capítulo. Muito bem escrito! Adorei.
    Diferente das demais leitoras, eu n me senti bem…acho q tem algp errado comigo. E eu desfrutei do momemomento”Theo psicopatinha”.
    Ja desconfiava qur Elias era p tio e q o pai q tinha deixado ela ali.Pq na sua outra versão, Theo usava Sam pra matar o pai….
    Vemos um lado de Theo q luta pra sobreviver, pra isso teve que mudar certas condutas pra n enlouquecer. O contexto pediu isso,maas sei q ela n matou a essência, na verdade ela protegeu pra poder recuperar dps…
    Ela era ninja sempre. .ppensei q tivessem dado algo pra ela, mas nao.Era osso duro ela!!!
    Agora ke pergunto. .Marli sendo mulher tratava as mesmas de forma brutal. .ccerteza ela ja foi prostituta ou algp tem pra n ajudar e nem sequer Theo….jJesus. .ccomo ela pode disassociar ela das outras?
    Bom, tnho mt a falar…mas Parabéns pela pesquisa e q vc ppde transcrever.
    Vou beijar suas mãos kkkkk.
    Se cuida,
    beijo
    ps:Sobre a violência de gênero, falamos nisso hj na faculdade. ..e é um tema complicado pra pedir ajuda….as x um n pode, a maiora é dependente pq todo abusador é machista e te faz ficar numa situação assim pra evitar q vc va embora. …tte drixa sem recursos q vc temusarm q fazer coisas q em outro contexto seria nal visto…mmas cada um faz o q ppde pra sobreviver. Mas isso n define quem vc é. Cmo n definiu quem Theo é. .ffpi a lei de darwin aí q ganhou!!

    1. É, foi um capítulo pesado mesmo, acompanhamos os dois anos de luta para sobreviver e fugir daquele inferno. O que tentei mostrar nesse capítulo é que Theo nem sempre foi “ninja”, ela era uma garota normal, com sua vida normal, foi lá dentro que ela desenvolveu essa força.
      Sobre Marli também ser mulher, pelo que pesquisei, quem “cuida” das meninas nos bordéis geralmente é mulher.
      Bjos e obrigada!

  11. Eu tentei equilibrar as descrições de violência com as menções, para não deixar tão pesado, tem coisas que não "estampei" com todas as letras, mas que mesmo assim ficaram fortes, porque nosso imaginário trabalhou criando as cenas não narradas.
    As coisas sobre Theo serão quase todas reveladas na primeira fase 😉

  12. Sem palaras para mensurar a raiva que a situação retratada por Theo desperta em mim. Todavia, não posso deixar de admirar a autora pela brilhante narrativa e criatividade.

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